28.2.05

Fim de Tarde...

Dale Erickson Posted by Hello
A elegia da nossa Polícia
A nossa polícia não vive em condomínios fechados. Muitas das vezes é forçada a habitar em bairros sociais, onde convive paredes-meias com a mesma delinquência que persegue afanosamente.
Tem família, mulher e filhos, que não vestem nas melhores lojas, não frequentam as melhores escolas, não têm capacidade de aforro, e que ainda precisam de aprender a lidar com a incerteza do pai/marido, que saindo todos os dias de casa com difícil e espinhosa missão, e não estando dotado dos meios adequados e eficazes para a sua própria protecção, os pode deixar, com probabilidade crescente neste nosso País, à mercê de uma pensão que nos deveria fazer corar de vergonha, pela inconsequência que comporta no futuro do agregado familiar.
Veja-se o recente caso da Cova da Moura para se perceber todo o alcance. E todo o drama.
Uma 1ª página de sensacionalismo surreal para um jornal que se diz sério!
A ausencia de chuva, o frio prolongado, um Inverno atípico parecem ter contribuído, em conjunto ou cada um por si, para uma metamorfose complicada de explicar nos jornais portugueses, quer diários - o Público - quer semanários - Expresso. A metamorfose consiste numa falta reiterada de consideração pelo leitor, pela utilização da mentirola - o termo já é suficientemente depreciativo para ser ainda adjectivado - pela exploração de textos pouco conseguidos e nada credíveis de análise política e, por último, uma tendência para o "injornalismo" - o "palavrão" é meu - que cola os jornais "ditos sérios" aos "tabloides" de circulação de massa e de qualidade inexistente, copiando-lhes os tiques, as formas, os conteúdos.
Este último reparo vem a propósito do Expresso desta semana e da capa do mesmo.
Na capa do Expresso vem a fotografia de uma muito presumível assassina - a ausência do corpo de uma criança não invalida o crime, bem como dizer que de uma assassina se trata só aos Tribunais compete - supostamente espancada, encimada com um título deveras motivador: Tortura!
Assim, mesmo, sem qualquer dúvida.
Estamos perante um acto de tortura! Uma bondosa senhora, ainda por cima "mãe", saída de um qualquer conto de Dickens, de tão candida se nos oferece, foi brutalmente espancada, supostamente pela polícia, porque não sabe do paradeiro da sua adorada criança, menina que se encontra perdida em parte incerta e que a "pobre mãe", estremosa, chora convulsivamente noite e dia.
Assim mesmo, sem qualquer margem de especulação. A "senhora" foi espancada.
Curiosamente, não me recordo de uma única 1ª página do Expresso com a descrição do possível e horrendo desfecho desta criança, acompanhada de uma fotografia que nos mostrasse a sua beleza e ingenuidade sincera, de criança, os seus olhos brilhando perante a imagem da mãe e, assim, chocasse os nossos corações empedernidos de consumistas citadinos e nos alertasse para a imensa violencia e a sempre presente e associada miséria, que continua a fazer parte, infelizmente, de um certo Portugal excluído, ostracizado.
Mas a "senhora" sim, tem direito a 1ª página. Porquê? Não vos sei responder. Até porque a suposta explicação oficial já me parece perfeitamente satisfatória: a "senhora" caíu nas escadas, muito provávelmente pelo estado comatoso em que se encontra a sua alma, provocando-lhe desequilíbrios graves, dificuldades na percepção cognitiva. Por mim penso que só ter caído uma vez foi pura sorte. Poderia ter caído mais três ou quatro, ou mesmo mais, que não estranharia e até seria compreensível, atendendo ao seu estado. Poderia até ter morrido entretanto, de desgosto claro, que consideraria perfeitamente normal.
Pelos vistos o Expresso e a sua redacção não pensam assim. Dão cobertura a um "facies" que gostaríamos todos que estivesse escondido, mais que não seja para que ninguém se convença que ver-lhe ser imputados crimes tão hediondos poderá resultar numa publicidade imensa e ganhar o direito aos tais "quinze minutos de fama".
Efeitos do Inverno. Ou quem sabe, muito mais grave por não ser passageiro: serão efeitos da falta de ética?; de civismo, consideração, respeito pela vida humana?; da muita ganância, da perca da consciência e da moral ou da incapacidade de distinguir o bem do mal?; No fundo, fruto talvez de almas atormentadas e doentes? Serão porventura capazes de desculpar semelhantes actos, de os acolher, de defender os princípios dos direitos humanos em tais circunstâncias? E que dizer da vontade imensa de atacar agentes da lei que lidam, diáriamente, com casos e crimes que nem nos nossos piores pesadelos somos capazes de imaginar?
E porquê tudo isto? Porque uma criatura caíu das escadas? Ainda por cima só por uma única vez?
Vá-se lá saber 0 porquê!
Mas uma coisa eu sei: enquanto me recordar, o Expresso não irá fazer parte das minhas leituras!

27.2.05


A Lua, esta noite...iluminando os corpos.Posted by Hello

E à sombra regressou... Posted by Hello
A Sombra de Eurídice, I

Canção divina as cousas comovia,
E de ternura as árvores choravam...
E lembrava o luar a luz do dia
E os ribeiros, extáticos, paravam.

Era Orfeu, de inspirado, que descia
Às entranhas da terra! E se afundavam
Os seus olhos na noite, muda e fria,
Onde as pálidas sombras vagueavam.

Eurídice, o seu morto e triste amor,
Ouvindo-o, tomou forma e viva cor,
Íntima luz à face lhe subiu...

Mas Orfeu, pobre amante enlouquecido,
Quis ver aquele corpo estremecido...
E, outra vez sombra, Eurídice fugiu...

(Teixeira de Pascoaes)

25.2.05


John Arbuckle Posted by Hello
A Flor

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
(Almada Negreiros)
E assim está Lisboa...

Van Gogh, "Starry Night" Posted by Hello
"Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, toutes mes moyens. Et aprés, si ce que j´ai fait n´est pas bon, je n´en suis plus résponsable: c´est que je ne peux vraiment pas faire mieux."

(Henri Matisse)

23.2.05

Natureza morta...

John Arbuckle Posted by Hello
Início da inserção de "naturezas mortas",
género que me agrada, pelo necessário
equilíbrio e bom gosto na composição e
pela exigencia técnica.
Outra

Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo - a luz do dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!
Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- se desejo o teu corpo é porque tenho
Dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!
Se fosses água - música da terra,
Serias água pura e sempre calma!
- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu amor, que sejas alma!

(António Botto)
Bom Dia

Dale Erickson Posted by Hello

22.2.05

Agradecimentos

A TalvezTeEscreva pelas palavras simpáticas e a BlahBlahBlah pela bondade do "post".
Visita regular, reconheço a fina inteligencia e a saudável ironia do blogue, motes suficientes para constar entre os que acompanho com interesse..

Francis Bacon Posted by Hello
A Morte Tolerada
Sejam a vida ou a morte
Duas companheiras fieis,
e em ambas acrediteis,
Vos garanto: grandes penas em sorte,
Só na vida, não na morte.

A morte é a calmaria adoçada,
mesmo que dorida e profunda.
É também um estado d´ arte,
A obra acabada da parte
incompleta e fecunda,
De uma vida aproveitada.

A vida é fealdade e beleza,
traçada em linhas escondidas.
É euforia e descrença gritadas,
Na alma e mente habituadas
ao silêncio das emoções paridas,
Nos desígnios da surpresa.

Não fique então a morte retida,
Por muito que não seja amada.
Que venha, que é bem tolerada,
Que Amado foi o milagre da vida.

(João Fernandes)
Fim de Tarde...

John Constable Posted by Hello
Quando o PSD começou a perder as eleições (2)
Quando se refere que Cavaco Silva esteve mal ao investir em alcatrão, não se pretende dizer o seu contrário, ou seja, que não o deveria ter feito. O que se diz, com reiterada razão, é que investir em alcatrão só faria sentido investindo igualmente no sector secundário, apostando forte no investimento de elevado valor acrescentado, na fixaçao de postos de trabalho no interior, defendendo as diversas regiões do País dos movimentos migratórios e consequente desertificação. Só para aproximar pessoas e chegar mais depressa ao Porto ou ao Algarve, sem fundamentos económicos sólidos e sérios na sua aplicação, é que é um equívoco e altamente discutível. Porque as regiões têm as suas economias, porque os movimentos de capitais se produzem, também, internamente, porque quando uma região vê sair, na forma de despesa, parte dos seus rendimentos para outra região e não tem como os repor, fica cada vez mais pobre, aumentando as desigualdades económicas e, por arrasto, sociais e culturais entre regiões. Custa verificar que os portugueses interiorizaram, como se de uma cruz se tratasse, que há regiões que são pobres porque sim.
Nem o sector do Turismo chega para justificar tanta obra feita, porque um País, por mais que se pretenda, não pode ficar refém de um sector que é muito sensível à moda e imagem do destino nos mercados emissores. Nem, bem assim, o argumento de que sem infraestruturas também não seria possível canalizar IDE, porque as infraestruturas foram feitas e o IDE não se fixou em Portugal. A questão infraestrutural é básicamente uma moeda de troca: faz-se investindo, quando se espera retorno do investimento feito. É uma questão de "dar com uma mão e receber com a outra".
O que se afirma em relação a PSL, foi já referido em relação a PP. Portas não deveria ter renunciado de imediato no Domingo, a quente, pelas razões aduzidas para SL, mas igualmente porque: não precisava, nada o justificava e foi, inclusivé, ilógico do ponto de vista partidário, dos resultados obtidos e da falta que faz ao CDS. A menos que PP se prepare para voltar reforçado do congresso extraordinário e a demissão tenha sido uma encenação. Se assim foi espera-se que regresse. Senão, foi precipitada e espera-se que seja emendada.
Santana Lopes irá anunciar ao final da tarde, na comissão política nacional do PSD, a decisão de não apresentar a sua candidatura no congresso extraordinário que irá convocar. A atitude é duplamente inteligente:
1º. porque não apresentou a demissão no Domingo, após se conhecerem os resultados eleitorais (ao contrário de muitas opiniões que vi expressas), resultados que até foram razoáveis atendendo ao ambiente que o envolveu, garantindo um núcleo duro de votantes de 1.700.000 e uma percentagem perto dos 29%. Reconheça-se, nada mau, para eleições que decorreram em ambiente pesado, de fim de festa, a meio de uma legislatura. Mas mesmo que o resultado tivesse sido deveras adverso, nada justificaria que o líder do 2º maior partido português resignasse em directo, nos 4 canais televisivos, às suas funções, como que empurrado de imediato pelo conhecimento da tomada de decisão dos eleitores e oferecendo-se, para gáudio de uns quantos, às feras mediáticas e aos seus comentários e, à população em geral, como se de um participante num qualquer "big brother" se tratasse. Repito, não o fez e muito bem, elevando a política e a sua pessoa;
2º porque carece de um período de nojo.
Reconhece-se, assim, a inteligência no "timing" escolhido.
O Encoberto

Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz morta do Mundo
A Vida que é a Rosa.

Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa que é o Cristo.

Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

(Fernando Pessoa)
Bom Dia

Edward Hopper Posted by Hello

21.2.05


Van Gogh Posted by Hello
Quando o PSD começou a perder as eleições

O PSD começou a perder estas eleições na primeira vitória de Cavaco Silva. De lá para cá assistíu-se a um crescendo de importância da função económica, enquanto mecanismo repressor da vida nacional, ao invés de se estimular os agentes económicos.

O pseudo "milagre" de Cavaco Silva foi conseguido através da conjunção de três factores: a) fundos estruturais que nos chegavam de Bruxelas já etiquetados (facílimos de negociar, como se entende, se forem aplicados onde quem os disponibiliza muito bem quizer); b) fraca cotação do dólar; c) baixa no preço do petróleo. O milagre foi este, nada mais. Durou enquanto durou. Mas o mecanismo repressor manteve-se, criou escola no PSD. Foi assumido como dogma, levado à prática quase por fanatismo. É saudável um controlo apertado sobre a despesa pública, mas já se disse, reiteradamente, que esta despesa é uma moeda de duas faces: uma produtiva e outra consumista. A produtiva deve ser fomentada, particularmente em ciclos económicos depressivos (a política económica anti-cíclica); a segunda deve ser combatida com todas as forças.

A ruína, como ouço bastas vezes a pequenos e médios empresários, começou com a construção das auto-estradas, vias rápidas e quejandas, que nos aproximaram tanto de Espanha, de Madrid e Barcelona, que faz todo o sentido citar Nicolau Santos, embora a propósito de outro tema: "...a Castellana é uma avenida tão grande, tão grande ....que até atravessa o meu País". De facto ficámos à mercê da proximidade de um mercado espanhol imenso, de dimensão tão desigual que só poderia acontecer a Baleia comer a Sardinha, como nos aconteceu.

Aproximou-se litoral e interior, diminuíu-se o tempo necessário às diversas deslocações internas, reduziram-se os custos de transporte, aproximaram-se as populações, mas como não se investíu no referido interior, o êxodo para o litoral foi uma consequência imediata, desertificando aquele e sobrepovoando este, diminuindo drásticamente as condições de vida de todos os envolvidos - os que já estavam e os que foram chegando. Foi este o "milagre" de A. Cavaco Silva. Uma diminuição da actividade económica na classe média, um aumento da miséria. O investimento público e aplicação dos fundos comunitários foi efectuado em alcatrão, não em investigação, formação (o país tem enormes carências nas áreas científicas, nomeadamente ao nível da formação de engenheiros e economistas - somos iletrados económicamente - e uma gritante ausência de formação matemática), centros de desenvolvimento - atente-se no "flop" da auto-europa, enquanto polo aglutinador de novos investimentos na área automóvel (não houve capacidade de exponenciar as externalidades derivadas do projecto, como plataforma de angariação de novos investimentos na área da alta tecnologia), incapacidade gritante de provocar desenvolvimento sustentado em todo o território nacional, aumentando, consequentemente, as assimetrias em vez de as reduzir. Mais razões poderiam ser mencionadas como demonstrativas do falhanço do modelo económico levado à prática.

De seguida veio o Eng. Guterres. Só podia. Era fácil perante tanta inabilidade política e, sobretudo, perante uma imensa insensibilidade social e equívocos económicos transformados em dogmas ! A. Guterres não conseguíu a maioria absoluta por uma unha negra (negro ia ficando, contudo, o futuro político do PSD). Saíu pela porta pequena e mesmo assim o PSD não conseguíu a maioria absoluta. Mau sinal. Sinal dos tempos.

Para rematar tivemos Manuela Ferreira Leite.

Recordo um único episódio (haveria mais): num final de ano , coincidente com um perdão fiscal de juros vencidos, o Estado colocou uma emissão de títulos nos CTT, para cobertura da dívida pública, tendo-se levantado dúvidas quanto às taxas a praticar e respectivos prazos. Os funcionários dos CTT seguiam escrupolosamente as indicações mencionadas no folheto de colocação, mas a Srª Ministra, em directo na TSF, teimava em contrariar as indicações que eram transmitidas ao público e, perante a insistência do entrevistador quanto às informações reais que eram prestadas, respondeu: " Se os funcionários dos CTT estão a dizer isso vão todos presos"(sic). Veio-se a verificar que a Senhora não tinha razão! Nem o facto seria caso para mandar prender alguém, mas ilustra a personalidade e o tacto político. Só mais um, não resisto: quando do aludido perdão fiscal de juros, logo em Janeiro o MP veio a público dizer que o facto dos pagamentos terem sido efectuados não resolvia o problema do crime fiscal. A Srª Ministra alheou-se da questão, afirmando ser um problema do MP. Não era. Era um problema de credibilidade do Governo e da argumentação utilizada para chamar o devedor fiscal a cumprir: ".....é a última oportunidade de regularizar..." .

O cidadão tratado como um criminoso. O aumento da insegurança, da ansiedade, do discurso raivoso. E depois uma educação que não funciona, um serviço de saúde que é uma anedota, uma velhice indigna, a par de posturas altivas, de discursos azedos, de políticos cinzentos, refastelados no seu alter-ego.
Depois ainda as perseguições fiscais, necessárias mas muito bruscas, curtas no tempo, a perseguição à actividade paralela (um non-sense quando pensamos no aumento da taxa de IVA) igualmente necessária mas a necessitar também ela de mais tempo, os vários casos de corrupção a merecerem tratamentos diferentes, a muita corrupção dada à estampa. Desmamar vícios é um trabalho penoso, de grande paciência, sob o risco de o doente ter uma recaída, entrar em depressão ou morrer, se formos demasiado ambiciosos no "timing", ou ainda mais verosímil, fugir.
Por fim Bagão Félix continuou o inevitável, escrito por J. Sampaio, que conhecia bem o caminho que trilhava.
A culpa não pode morrer sózinha e estes resultados eleitorais vêm de longe, a sua responsabilidade também vem de longe, também de outros intérpretes, que curiosamente, se afastaram nos últimos meses da responsabilidade política.
E o eleitorado fugíu.
Deixar de olhar o umbigo

A pouca importancia dada às eleições e respectivos resultados em Portugal, por parte da imprensa estrangeira, nomeadamente o sempre referencial "FT", prova, inequívocamente, que o grande capital não passa pelo nosso País e as atenções há muito deixaram de estar centradas neste canto da Europa.
O País define-se nas gravatas deslocadas nos colarinhos, nas calças com a metade de baixo dobradas sobre uns sapatos invariávelmente quadrados e por engraxar, na falta de maneiras e cortesia, sinais de uma população fechada em si mesmo, repetitiva no modelo adoptado. É triste a vã tristeza de se pensar pequeno, de se ser pequeno. É pena o modelo ser este, tão pequeno. E os heróis estarem nas novelas, nos "reality shows", onde se vivem vidas de fantasia e não fantasias na vida. E depois olhamos e vemos tudo decrépito, sem alma, sem chama, vidas feitas de movimentos mecanizados, com muita amargura, sofrimento e violência. Muito lixo, falta de civismo, ausência de solidariedade, de compaixão, de piedade.
A palavra caridade foi abolida após o 25 de Abril. Era "pecado político" evocar o termo caridade. Hoje, nas ruas das grandes cidades deste nosso País, é esta a palavra que mais se houve quando paramos num qualquer semáforo:"...por caridade...".
Nada somos, nada valemos. "Self made man?" Onde estão? Na construção manhosa? No outro país nocturno, que abre às 22.00 horas? Nos jogos de interesses? Na lavagem de dinheiro? Nas plataformas de droga? Na exploração do trabalho ilegal?
Temos futuro , baseado nestes pressupostos, como Cuba no tempo de Fulgêncio: Sol, droga, dinheiros sujos e p......
Constatações
Os votantes de centro-direita, mesmo em condições adversas, estão consolidados em torno dos 36% dos eleitores.
O CDS/PP atingiu o patamar acima dos 7% e dos 12 deputados. Consolidou uma posição que lhe permite almejar o lugar de 3ª força política.
O humanismo que Jerónimo de Sousa mostrou durante a campanha travou a hemorragia de votantes na CDU.
Os portugueses sem memória política, ou de memória curta, valem cerca de 6% do eleitorado.
O voto branco/nulo quase que duplicou, 170.000.
A partir de agora não mais o PS poderá advogar a não atribuição de maiorias absolutas a um só partido, sob o argumento do défice democrático que tal solução apresenta.
O que valia a pena
Verificar qual a percentagem de população recenseada, com faixa etária compreendida entre os 18 e os 25 anos, que foi votar. E qual a dimensão daquele universo.
O que já começou a ser dito
António Vitorino, a propósito da comunicação social, de que esta vai ter de se habituar à ausência de espaço para exercer pressões e criar factos políticos.
Bom Dia

Canaletto Posted by Hello

20.2.05

E à noite nada muda...

Jeanloup Sieff Posted by Hello
Alguns, felizmente poucos!

Alguns, felizmente poucos, gostariam que esta fosse a noite dos "facas longas".
Alguns, felizmente poucos, profetizam a desgraça.
Alguns, felizmente poucos, invocam o "bicho papão".
Alguns, felizmente poucos, contam para pouco ou mesmo nada.
Aprendizagem no infortúnio e legitimidade de avaliação
Aprende-se na vitória como na derrota. Aprende-se pela positiva e pela negativa, pelo sucesso e pelo insucesso. A derrota, a negativa e o insucesso reiterado deverão ser penalizados, mas ser-se de imediato penalizado porque se errou, porque se perdeu, de facto ou supostamente, é perder a capacidade da aprendizagem que quem erra e perde assimila, muito mais até do que nas vitórias reiteradas. Aprende-se mais na derrota do que na vitória. Questiona-se mais no insucesso do que no sucesso. Interioriza-se muito mais no infortúnio do que na ventura.
Só em Portugal é que se penaliza o erro desta forma dramática e se pedem de imediato cabeças. A capacidade de aprendizagem de quem perde é enorme e as ilações que retira preciosas. A consolidação é importante.
Paulo Portas não deveria sair e sim esperar que o congresso extraordinário se pronunciasse. O congresso poderá repor esta verdade, caso não apareça nenhuma moção considerada mais valiosa para o partido, por muito que os seus inimigos não gostem.
Pedro Santana Lopes fará bem em esperar pelo congresso que irá convocar. Só este tem legitimidade para o fazer. Que apareçam propostas tentadoras e os congressistas não deixarão de as valorizar. Mas que apareçam. É para isso que servem congressos. Se alguém quer substituir um líder deverá fazê-lo com qualidade e sofrimento intelectual e pessoal, e não de mão beijada.
Perigos de uma viragem à esquerda (radical)
A conflitualidade de interesses entre a capacidade de escolha ideológica e a realidade económica das famílias, leva estas (e muito bem na linha de defesa dos seus interesses), bastas vezes a optar por soluções políticas alternativas sem se dar conta se está a pintar o País de uma cor ou de outra. Portugal está hoje pintado de encarnado (mistura do rosa com o vermelho) e, quer queiramos ou não, este dado é relevante na opção de escolha do destino do IDE. Quando nos confrontamos na "guerra" de captação de investimento com países saídos do socialismo de leste europeu, onde vingam tendências nacionalistas fortes, aliadas a naturais espectativas de liberalização dos mercados, este dado não nos indicia nada de bom.
Porquê? Porque se por um lado é verdade que a maioria absoluta do PS impede a entrada da CDU ou do BE no governo, minorando os estragos, sabendo-se que hoje é cada vez mais ténue a diferença entre o centro-direita e o centro-esquerda e que o capital tende a não diferenciar ambos os lados, acreditando até, muito provávelmente e com razão, que o "laissez-faire" normal nas políticas "socialistas" actuais lhe são propícios (criando ricos e não riqueza), não é menos verdade que este "laissez-faire" não é exequível com as necessidades actuais do País. Serão então necessárias medidas anti-populares, que este ou outro qualquer governo sério não deixará de considerar fundamentais para a regeneração do tecido (ou melhor, farrapo) económico português. Estas medidas serão, decerto, mal aceites pela população. E é aqui que reside o busílis! Se perante medidas impopulares, a tendência do eleitorado se manifestar pela crescente penalização do centro - seja agora de direita ou de esquerda - e continuar a fazer crescer a esquerda radical "trotskista"(BE) e a CDU (modelo soviético) ainda mais acima do já preocupante patamar onde hoje se situou - estes acima da democracia-cristã e aqueles a apenas um ponto percentual, totalizando o centro-direita nacional sómente 36% - raciocínio plausível no contexto da análise dos resultados de hoje, que invocam à (má) memória os conturbados idos de 70, então o grande capital internacional provávelmente optará pela máxima "wait and see", dizendo que pouco lhe importa o "wishfull thinking" e perguntando, muito concretamente, "where is the money?".
E esta é uma pergunta a que nenhum governo conseguirá responder sem o próprio IDE (investimento directo estrangeiro) e, sem respostas, também não conseguirá trabalhar serenamente, com tempo e paciência na condução do País num rumo de crescimento económico sólido.
É o ciclo vicioso e pouco ou nada virtuoso de uma economia depauperada, num mundo onde o capital não conhece fronteiras e a comunicação é global, para o bem e para o mal.
Recuperar o fôlego

Desculpem os leitores deste blogue a reacção lenta aos resultados, mas tive necessidade de respirar e interiorizar.
Agora que já o fiz coloco as primeiras ilações pós-eleitorais.
Bom Dia

Eugène Boudin Posted by Hello

Jeanloup Sieff Posted by Hello
Vida vivida

Tinha traçado o destino,
No ângulo da sua moral.
Tomar o prazer sensual,
Evocá-lo como a um hino!

Relatar com sentida ternura ,
O Amar louco, inconsciente.
A aprendizagem assente
Na química da paixão pura.

Reter o fluir da mente
Através da palavra escrita,
Repetidamente dita,
No passado e no presente.

Invocar sanidade e demencia,
No suplantar de si próprio.

Sentir sufocante, probatório,
O calor da existência.

Viver no limite do ser,
Perdido em amores profundos.
Entender também outros mundos.
Amar e engrandecer!

Escrever para contar a vida,
O belo que víu e sentíu,
O existir louco, em desvario,
De uma alma assaz vivida!

(João Fernandes)

19.2.05

Bom Dia

Willard Metcalf Posted by Hello
Nota Breve

Há três anos o PSD ganhou as eleições depois de uma "fuga" governativa do PS, formando governo coligado, por insuficiência de deputados para uma maioria absoluta, quando, perante a "fuga" do PS, tal poderia parecer verosímil. Anteriormente A. Guterres tinha ficado no limiar da maioria absoluta pela primeira vez na história do PS. Agora fala-se de novo numa maioria absoluta socialista. Independentemente da votação de Domingo, parece claro que o eleitorado se encontra cansado de políticas monetaristas. Das políticas monetaristas que o PSD tem perseguido ao longo dos seus governos, provocando uma erosão no eleitorado natural do partido. Da obsessão com a despesa pública, sem cuidar de separar a despesa produtiva (bem-vinda), da despesa não produtiva (a controlar impiedosamente).
Continua a residir na direita portuguesa a capacidade de resolução de parte dos problemas nacionais de curto prazo, e a capacidade de criar condições de, a longo prazo, encontrar soluções para todos os outros, mas a economia tem de se virar para a população. É um imperativo político e governativo que a economia seja entendida como um instrumento a colocar ao serviço da Nação e não a Nação a servir os interesses económicos. Aqui reside a diferença entre os economistas e os outros, os monetaristas.
À Virgem Santíssima
Cheia de Graça, Mãe de Misericórdia

Num sonho todo feito de incerteza,
de nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais do que piedade) de tristeza...

Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade...
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza...

Um místico sofrer... uma ventura
Feita só do perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira...

Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa...
E deixa-me sonhar a vida inteira!

(Antero de Quental)

18.2.05

Fim de Tarde bucólico

Joseph William Turner Posted by Hello
A propósito de eleições e sondagens
Os números apresentados nas diversas sondagens têm de ser encarados com cuidado. Se por um lado parece inequívoca uma vitória do PS, por outro não é menos certo que as sondagens se baseiam em amostras e comportamentos tipificados, que permitem o tratamento estatístico, e estas eleições decorrem num ambiente atípico. Atípico porque o voto é assumido pela negativa - não votar em Santana Lopes - e porque se é certo que são os grandes centros urbanos que condicionam as vitórias, é igualmente verdade que o interior tem uma palavra a dizer no número de mandatos obtidos e aí, no interior, a conversa é outra, bem diferente do ambiente cosmopolita e do discurso enfatuado, vazio de conteúdo, de circunstância e pseudo-sofisticado do litoral urbano. Mas mesmo aqui, muito voto só irá ser decidido já com o papel na mão.
Igualmente a euforia que tomou a esquerda nos dois últimos dias, se prefigura uma enorme confiança, não deixa de ser incómoda para o eleitorado de centro-direita, que poderá aceder a votar em nome da diminuição do "gap" previsto, quer pelos discursos, quer pelas sondagens.
A abstenção terá igualmente um papel importante a desempenhar dia 20 - não me refiro aos abstencionistas crónicos - podendo alterar as contas que agora são feitas com base em amostragens. E esta abstenção irá atingir, por igual, os dois partidos mais votados.
Pelo que fica escrito, a convicção de que os números ventilados irão apresentar algumas discrepâncias significativas ganha força.

17.2.05

Felizes os que a felicidade procuram nas coisas simples da vida

John Constable Posted by Hello
A realidade, nua e crua, manda que se diga que ganhe quem ganhar, em nada afectará a economia nacional, a economia das famílias, a capacidade de resolver os problemas do ensino, da investigação, da saúde, todos os problemas, dos maiores aos mais pequenos que assolam o País, no curto prazo.
Por uma única razão: Portugal não depende de si, nem em parte, para resolver as situações que se lhe colocam. Não tem à sua disposição os meios económicos necessários: política monetária, emissão de moeda, taxa de juro de referência, mobilidade nos mercados de importação e, igualmente importante, é o único país da UE a 15 que, no balanço dos efeitos de criação e desvio de comércio, ficou claramente deficitário. Por outras palavras, não há sectores de actividade em Portugal, em número suficiente, que se consigam impor nos mercados internacionais. Ainda de outra forma, a economia portuguesa é ineficiente. Hoje, mais do que nunca, se aplicam a Portugal teorias há muito defendidas e muitas vezes esquecidas, por incómodas, de economistas de tendencia marxista não ortodoxa, que defendem a existência de países de centro e países de periferia. Portugal é um país de periferia. Já o era aquando da integração. Igualmente o "proletário" alemão é um "capitalista" perto do "proletário" português. Há desigualdades que não se "curam" por varinha de condão, menos ainda com dependencias externas trágicas (+ de 80 % das exportações portuguesas têm hoje, como destino, Espanha).
Manda igualmente a verdade que se diga, uma vez mais nua e crua, que hoje a direita política tem maiores preocupações sociais, um maior leque de soluções para os problemas económicos, quando comparada com a esquerda. Esta está refém de chavões, de conceitos ultrapassados, outras vezes desvirtuados pela necessidade de adaptação de dogmas que falharam rotundamente no conjunto de países socialistas, carecendo assim de novas roupagens. Mas querer vestir bem, quem nunca se vestíu ou se vestia mal, redunda forçosamente num quadro misto de pirosice e ostentação ideológica, entenda-se.
Por outro lado, manda a história que se diga que quem começou no centro-direita acaba na direita (com excepção de alguns cínicos perfeitamente identificados) e que quem começa na esquerda acaba na direita. Ou seja e por outras palavras, a tomada de consciencia cívica, social, económica e política pelo cidadão, conduz este a ideais de direita. E não é esta evolução um acaso, como não o é que os jovens sejam, por norma, radicais. O conhecimento consolidado da realidade da vida, das necessidades dos outros e a noção ganha de que o mundo não gira à volta do umbigo, conduzem o cidadão à referida evolução. Acréscimo de responsabilidade social, tomada de consciência das desigualdades e seus custos, individuais e colectivos, são responsáveis pela mutação ideológica.
Não será então de estranhar estar a direita melhor dotada de dirigentes, quadros políticos, e de gozar, na generalidade da população, com o apoio dos mais capazes. Melhor ainda, nenhum destes homens se sente deslocado nas suas vidas, nem arrependido de opções que tenha feito anteriormente, assumindo a mudança como uma consequência lógica da evolução do conhecimento individual, retirado da percepção do colectivo.
Ter o Partido Socialista no poder significa ter um conjunto de homens com características pouco abonatórias para a necessária reforma nacional: ou estão deslocados ou desenraízados sendo sérios mas pouco ou nada interventivos, ou são pura e simplesmente teimosos e saudosistas. De qualquer das formas nada capazes de governar o desgoverno deste país. Não são capazes a curto prazo, logo nada há a esperar de bom no longo prazo. E a questão do longo prazo é a mais pertinente.
Estamos habituados, infelizmente, a aceitar gerações sacrificadas na esperança de que as gerações seguintes sejam bafejadas por um verdadeiro estado "wellfare". Com um governo socialista ficaremos pior no longo prazo por duas razões fundamentais:
razão interna, com a falta de rumo, de ideias e coragem pela incapacidade de tomar medidas necessárias e impopulares (retenção da capacidade de actuação política pelo dogma); externamente, porque numa altura em que a Europa vai virar à direita Portugal vira à esquerda. E é nesta área específica, a da política, que não nos é minimamente interessante caminhar em contraciclo. Não numa altura em que a Europa é uma incógnita. (voltarei ao assunto Europa)
Bom Dia

Frank Weston Benson Posted by Hello
Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu nâo.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

16.2.05


Botticelli
Retrato perfeito de uma mulher
Posted by Hello
Português Me Assumo

De todos os sítios do mundo
onde podia nascer,
Quis o destino escolher
nascesse num País profundo.

Profundo na sua história,
Símbolos, figuras míticas.
De epopeias e conquistas,
Na fortuna e na glória.

Terra de D.Afonso, D.João,
De sofridas gerações.
De Pessoa, de Camões,
Que em poemas nos cantaram.

Éramos grandes, enormes,
Em dimensão e beleza.
Dividíamos o mundo à mesa,
Temidos pelos mais fortes

Novecentos anos contados,
os mais antigos da história.
Perecem com dor, sem glória,
De tanto serem esbanjados

Daí para cá o deserto,
A ruína, a demência.
A imensa carência
no assomo do incerto.

Tempos conturbados os nossos.
Trinta anos de loucuras

Remetem as gerações vindouras
Para o pior dos invernos.

(João Fernandes)

Monet Posted by Hello
Um Presidente da República finalmente frontal e assumido
Ao afirmar, em discurso improvisado, que foi escandaloso o aumento em 300% verificado na sua remuneração, na passagem da CML para a Presidência da República, Jorge Sampaio mais não faz do que assumir públicamente que continua a ser um presidente de câmara, na maneira de agir e de pensar e que, portanto, o vencimento que aufere é excessivo. Parabéns Sr. Presidente pela coragem demonstrada.
No mesmo encontro, com empresários portugueses, para falar de telemóveis e de computadores, Jorge Sampaio necessitou de um papel escrito que leu, sem fugir a uma vírgula. Os seus assessores parecem ter noção exacta das limitações que o Presidente não se coibíu de publicitar, ao preparar todos os temas, mesmo que seja para falar de telemóveis, enquanto o Presidente parece não perceber essas limitações insistindo em falar de improviso.
Recordo-me, aquando da visita à Austrália, de J. Sampaio ter afirmado que trocava um pouco da nossa ilustre História, por comparação com a história recente australiana, por um pedaço de territorio australiano, por comparação com a nossa pequenez. Não esteve este senhor de acordo com a descolonização "exemplar" ?
Cada vez que fala de improviso ou entra mosca......
Aurea Mediocritas (2)
De acordo com os dados agora divulgados a taxa de desemprego situa-se nos 7,1 % da polpulação activa. Temo que peque por escassa.
Afirmar contudo, como Sócrates o fez, que é trágica e deveria ter feito soar algumas campaínhas de alarme, pode parecer indicar que era desconhecida a sua dimensão e totalmente inesperada.
Vejamos então se é possível: não esteve Sócrates na Assembleia da República? ; Não é líder do maior partido da oposição? ; Não dispoõe a Assembleia de inúmeras comissões e grupos de trabalho, que estudam os temas considerados prementes e que se relacionam com as várias instituções nacionais, públicas e privadas? ; Não tem a Assembleia a capacidade de chamar os membros do Governo para os questionar e se inteirar dos problemas ? ; Não têm os partidos na oposição "gabinetes sombra" que estudam os diversos "dossiers" e ajudam a trazer à discussão variadíssimas questões? ; Não é hoje a prática política uma acção altamente profissionalizada?
Como conceber, então, que para o líder da oposição os dados vindos a público sobre o desemprego sejam uma completa surpresa ?
Só se entende por falácia ou manifesta má-fé.
Ad augusta per angusta!

Boa Tarde Posted by Hello
A esperança no voto pela negativa parece ser o último reduto socialista nesta semana que antecede o acto eleitoral. Pode, de facto, parecer mais apelativo - votar num candidato porque não se gosta de outro - mas é pouco edificante para o candidato proposto, José Sócrates, e ao contrário do que se poderá pensar não é mobilizador, funcionando precisamente na inversa para a massa votante que se sente atingida.
Aliemos esta condição a uma outra visível e factual, que diz respeito à falta de discurso político (pela repetição reiterada de um discurso vazio, sem novidade e conteúdo) do candidato socialista e à ausência de poder de convicção de Sócrates - atente-se nas sucessivas repetições e imprecisões linguísticas que denunciam falta de crença: "deixe-me dizer-lhe"(sic) - quando comparado com Guterres (este muito mais persuasor) último 1º Ministro socialista, para se poder esperar que a tendência que as sondagens mostram, (mesmo que os desvios absolutos médios em sondagens anteriores não ultrapassem os 2%), possa neste 20 de Fevereiro ser contradita.

15.2.05

Louçã a garantir empregos, sabendo e dizendo que é difícil mas que tentará.
A falar sobre a obsessão do défice e, simultâneamente dizendo que é necessário um enorme controle nas contas públicas. Seria caso para uma gargalhada se não estivéssemos a falar de um economista que dá aulas.
Sócrates resolve tudo com mensagens. Basta falar em esperança e os problemas estão resolvidos. Não estão, infelizmente.
Louçã diz que a política não é uma feira. Ainda não foi outra coisa.
Tem a certeza da vitória do PS. Já se sonha ministro. Pobres cabeças que só sonham com o umbigo.
Ser Pai

Ser Pai é ter na Alma retida
O Belo - sentido e puro.
A projecção no futuro,
O prolongamento da Vida.

A sinfonia da vida vivida,
Que se Ama ávidamente.
A envolvente presente
De uma Alma tão Querida.

A alegria, a paixão permanente,
A presença bela e amante,
O frutificar vibrante
De um Amor sólido, pungente.

Coração de amor dilecto,
Terno, doce e ungido,
No beijo mais que sentido
Do paterno carinho e afecto.

E quando a dita palavra sai,

Torno-me solto e caprichoso,
Correndo com amor, ansioso!
E a dita palavra é Pai!


(João Fernandes)
Soneto de Amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua...,- unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois...-abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

(José Régio)
Perdão e Redenção

Dalí Posted by Hello
Aurea Mediocritas
Hoje, às 0.30, em rodapé na TVI (enquanto o "pivot" repetia, pela enésima vez, os próximos passos das exéquias da Querida e Saudosa Irmã Lúcia):
"Deverá o corpo da Ir. Lúcia ser trasladado? A sua opinião conta: para sim ligue...., para não ligue...., custo da chamada........".
Não existem comentários possíveis. Só a estupefacção!
Mas uma pergunta impõe-se:
Para quando a morte da 3ª República? É tanto o esforço feito nesse sentido que será quase uma inevitabilidade.
Porque o desvario é total, as faltas de respeito enormes, a ética e a moral nada valem. Porque não existem modelos económicos que nos salvem, nem discursos pomposos que nos acudam. Porque ninguém tem a solução para problema tão gravoso: o de Portugal ter mergulhado no pântano da mediocridade.
Acta est fabula.
Ad augusta per angusta.

14.2.05

OCIDENTE

Com duas mãos - o Acto e o Destino -
Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.

Fosse a hora que haver ou a que havia
A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.

Fosse acaso, ou Vontade, ou Temporal
A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.

(Fernando Pessoa)
Moda no Masculino

Iceberg Posted by Hello