28.3.09

Gripou o motor da Europa....

Para Angela Merkel, de acordo com entrevista concedida ao Financial Times, a retoma económica baseada na injecção excessiva de dinheiro não será duradoura, rejeitando por isso a hipótese de desbloquear novos fundos públicos para relançar a economia alemã.
A chanceler não tem sido brilhante no desempenho das suas funções. A Alemanha tem aparecido com políticas económicas titubeantes, quer ao nível interno, quer no seio da UE, quer mesmo a nível internacional. O peso da sua economia tem sido aplicado de forma desfocalizada, mostrando ainda enormes dificuldades derivadas do esforço de integração que promoveu.
A possibilidade de não desbloquear novos fundos pode tratar-se, independentemente das razões ou justificativas encontradas, um claro sinal de enfraquecimento da economia alemã, o que damos como certo, mas igualmente de uma má leitura económica.
A injecção de capitais na economia, por parte dos estados, implica conforme já defendemos, uma intervenção directa do estado nas instituições, passando esta intervenção por nacionalização das instituições financeiras, veículos correctos para injectarem dinheiro na economia, para além dos mecanismos de apoio às empresas, directamente defininidos e implementados pelo estado.
Também a proibição, por período prolongado, das operações de short-selling é fundamental.
As economias não recuperam porque são postas umas notícias a circular, as bolsas sobem uns poontos durante uns dias, são realizadas umas mais-valias e esse dinheiro desaparece da circulação, aplicado em ouro, cobre, zinco, diamantes, entre outas commodities.
Assim, o que se pretende averiguar é da capacidade dos estados injectarem a liquidez necessária na economia - têm ou não têm - bem como saber agir após a decisão de injectar. Mas a injecção é sempre necessária e quanto menos liquidez for injectada, maior e mais profunda a depressão.
De qualquer forma uma certeza temos: a máquina alemã está a gripar.

23.3.09



Jean-LoupSieff

Para acabar com a hipocrisia...

É interessante, muito interessante, acompanhar o comportamento bolsista nas várias partes do mundo. Hoje baixam porque há sinais de que as economias estão em profunda recessão (ou ligeira depressão, como preferirem), amanhã sobem porque as medidas governamentais ou a divulgação, pelos media, dos resultados trimestrais das instituições financeiras são entendidas como favoráveis e sinais do fim da crise. Entretanto a Suécia faz saber que vai deixar fechar a Saab (ex-libris do país), a Quimonda encerrou, a Zara deixou de vender e arrasta consigo imensos negócios, a montante e jusante, entre outros exemplos possíveis.
O desemprego continua a subir, em flecha, mesmo em Portugal onde no final do ano estará em cima dos 20%.
Entretanto a bolsa tem dias assim: felizes.
Nada tem a ver com o comportamento das economias, com os interesses sociais, com o crescimento económico desejável. Trata-se, simplesmente, da possibilidade que os governos dão a alguns investidores institucionais de recuperarem de menos-valias desastrosas (caso do capital árabe).
Os grandes depósitos (dinheiro e/ou ouro) continuam a estar sedeados na Europa e nos EUA, ou em off-shores controladas por instituições que têm sede nestas duas economias de referência.
A solução é simples e exige, essencialmente, coragem política: nacionalizem-se as grandes fortunas, deixando uma folga de 500 milhões de dólares para os seus proprietários. Sim, 500 milhões de dólares, que são mais que suficientes para se viverem várias vidas.
Parece-lhes muito ? Olhem que não (há algo que pode parecer de esquerda nesta pretensão, mas acreditem que é a direita no seu melhor): há fortunas em paraísos fiscais que ultrapassam os milhares de milhões de dólares.
Não acabem com as off-shores, não passem tanto tempo a falar deste problema, ao estilo de quem diz "acautelem-se que a gente vai fechar essa treta. Salvaguardem o que possam já"!, passem sim à acção imediata, nacionalizem o capital disperso, pertença de alguns, apliquem-no de onde ele foi tirado, da nossa economia, a real e séria.
Ofereçam cuidados primários de saúde, educação, habitação e comida.
Acabem de uma vez com o short-selling, acabem de uma vez com a hipocrisia.
Está na hora de mudar as mentalidades e os (maus) costumes. Mostrem-nos política, de verdade, devolvam-nos a confiança política, ponham-nos a discutir política.
Permitam por uma vez que o futuro dos nossos filhos seja um sopro de esperança e não de preocupação.

10.3.09

Bernard Madoff vai declarar-se culpado dos 11 crimes de que é acusado, disse o seu advogado ao Tribunal.
A sentença será a prisão perpétua.

7.3.09



PhyllisHall

Basta Pensar em Sentir

Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.

(Fernando Pessoa)

5.3.09

Nós por cá todos bem...

A Brooks Bros., 5ª Avenida, New York, está pela primeira vez na história a fazer saldos: vende fatos marcados a $1,900.00 por $399.00.
No Reino Unido há dois mil novos desempregados por dia.
Em todo o mundo a Mapfre, seguradora espanhola, cortou os seguros de crédito a uma enorme maioria de clientes ESPANHÓIS.
Por cá a anestesia política, do governo e da oposição, faz crer aos incautos, ingénuos, distraídos e preguiçosos mentais que a crise é ligeira e que já chegou ao fim. Discutem-se lugares nas listas do Parlamento Europeu, aumentos dos euro-deputados, faz-se crer que as exportações estão a crescer, que o País está a avançar, que não há crise no sistema financeiro.
Os deuses devem estar loucos.

2.3.09

Porque razão é necessário nacionalizar o sector financeiro...

Todos os dias o status quo muda.
Hoje é anunciada mais uma injecção no AIG (American International Group) no valor de $30 mil milhões (biliões americanos).

As ajudas inserem-se numa tentativa de frustrar a escassez de meios do mercado financeiro e, em simultâneo, tentar (e só tentar) não aumentar o pânico social.

Se, por um lado, esta injecção é reflexo da aprendizagem com a Grande depressão e procura manter os níveis de desenvolvimento, em pólos geográficos considerados fundamentais, não é menos certo que muito provávelmente se estará a cometer outro erro profundo: ao não intervencionar as instituições financeiras, nacionalizando-as, em nome do não-intervencionismo estatal na economia - pecha antiga do pensamento político misturado com o pensamento económico, não fazendo uma ponte clara, entre o que são os interesses fundamentais do estado e a erradíssima política do controle do estado sobre tudo e sobre todos - perde-se uma oportunidade soberana .
A capacidade e possibilidade únicas, de interagir, estruturar e pôr-em-marcha toda uma política concertada entre os EUA e a União Europeia.

A razão para esta pecha é simples: as administrações das instituições financeiras são muitas, com muitos membros e com uma enorme dificuldade de agir em rede, não sendo possível uma concertação de políticas, sequer internas, quanto mais a nível internacional e a esta dimensão.
Se acaso as instituições fossem nacionalizadas, ao contrário do que se pretende, o pânico diminuiría, seria possível fomentar políticas comuns (bastaria sentar à mesma mesa os ministros das finanças da UE com o homólogo secretário de estado norte-americano, sendo possível sentar todos, literalmente, na mesma mesa - não me refiro aos governadores do FED e do BCE por me parecerem, ambos, igualmente incapazes) e a aplicação de capitais públicos, do estado, de todos nós, teria resultados, certamente, muitíssimo superiores.
Assim, duvido que surtam o efeito desejado a não ser esgotar a capacidade de intervenção pública e, depois, "deixar correr o marfim", até o sistema bater no fundo. Sem capitais para injectar, com um sistema falido e um desemprego galopante, a ruína espera-nos, como esperou por todos os que viveram entre 1929 e 1941.

Coragem política exige-se, agora e já, exigindo-se capacidade de antecipação das necessidades e não, tão-só, recorrer ao passado, emendando a mão mas não inovando.