25.4.06



















Giorgio de Chirico Posted by Picasa

Hora Absurda

....
Chove ouro baço, mas não no lá fora... É em mim... Sou a Hora,
E a Hora é de assombros e toda ela escombros dela...
Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora...
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...

Hoje o céu é pesado como a ideia de nunca chegar a um porto...
A chuva miúda é vazia... A Hora sabe a ter sido...
Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!... Absorto
Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido...

Todas as minhas horas são feitas de jaspe negro,
Minhas ânsias todas talhadas num mármore que não há,
Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro,
E a minha bondade inversa não é boa nem má...

...
O palácio está em ruínas...Dói ver no parque o abandono
Da fonte sem repuxo...Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudades de si ante aquele lugar-outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...

...
Sermos, e não sermos mais!... Ó leões nascidos na jaula!...
Repique de sinos para além, no Outro Vale... Perto?...
Arde o colégio e uma criança ficou fechada na aula...
Por que não há-de ser o Norte e o Sul?... O que está descoberto?...

...
Para que não ter por ti desprezo? Por que não perdê-lo?...
Ah, deixa que eu te ignore... O teu silêncio é um leque-
Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,
Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque...

Gelaram todas as mãos cruzadas sobre todos os peitos...
Murcharam mais flores do que as que havia no jardim...
O meu amar-te é uma catedral de silêncios eleitos,
E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim...

Alguém vai entrar pela porta...Sente-se o ar a sorrir...
Tecedeiras viúvas gozam as mortalhas de virgens que tecem...
Ah, o teu tédio é uma estátua de uma mulher que há-de vir,
O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem...

É preciso destruir o propósito de todas as pontes,
Vestir de alheamento as paisagens de todas as terras,
Endireitar à força a curva dos horizontes,
E gemer por ter de viver, como um ruído brusco de serras...

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...
Saber que continuará a haver o mesmo mundo amanhã - como nos desalegra!...
Que o meu ouvir o teu silêncio não seja nuvens que atristem
O teu sorriso, anjo exilado, e o teu tédio, auréola negra...

Suave, como ter mãe e irmãs, a tarde rica desce...
Não chove já, e o vasto céu é um grande sorriso imperfeito...
A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece,
E o meu saber-te a sorrir é uma flor murcha a meu peito...

Ah, se fôssemos duas figuras num longínquo vitral!...
Ah, se fôssemos as duas cores de uma bandeira de glória!...
Estátua acéfala posta a um canto, poeirenta pia baptismal,
Pendão de vencidos tendo escrito ao centro este lema - "Vitória!"

O que é que me tortura?... Se até a tua face calma
Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos...
Não sei... Eu sou um doido que estranha a sua própria alma...
Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos...

(FernandoPessoa)

E Abril trouxe a fealdade...




















De Abril, da revolução e das pseudo-liberdades, não obtivemos mais que a boina, persistentemente mantida no nosso imaginário pelos irmãos Vitorino e Janita.
Tivesse Abril coberto Portugal de uma beleza real, que nem se queria fosse idêntica à da modelo fotografada (Kate Moss) e teríamos todos razões sobejas para estarmos satisfeitos com o nosso desempenho. Tal não aconteceu, não foi possível. Somos assim um povo triste e de tristes figurantes, em busca de uma razão, de uma vontade, de um suspiro pelo qual ainda valha a pena sonhar e lutar. Só vejo degradação, miséria, frustração e medo, muito medo. Medo que se espalha e entranha, que não escolhe idades.
Abril tem sido um imenso logro, longe, muito longe das aspirações do nosso Povo.
Somos hoje terceiro-mundistas, social e económicamente e não se vislumbra solução, uma saída digna e própria de um Povo novecentista. Aproxima-mo-nos do conceito de federação ibérica a uma velocidade vertiginosa, não que tivesse algum mal considerar Espanha como um mercado natural para Portugal, mas porque o mal deriva da hipoteca trágica das razões que subjazem à definição da soberania nacional, do Estado-Nação.
A razão está do lado de todos os que defendem a nacionalidade como um bem precioso e a família como o cimento aglutinador das sociedades. A razão está do lado de todos aqueles que acreditam que o Estado tem de se impôr um papel regulador da acitividade económica e social das Nações, menos liberalizador e, por tal, mais redistribuidor e garante de uma maaior equidade. A História se encarregará de lhes dar razão.

Essa razão chegará e, ao contrário do que poderão pensar não chegará, em momento algum, fora de tempo. Afinal é para isso que existem as revoluções.
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12.4.06






Roy Barley Posted by Picasa
Se a política fosse ideologia, não havia dinheiro no mundo que corrompesse um político.

Precedente Perigoso....

Com este voltar atrás de uma lei, baseado em manifestações e desacatos públicos, os franceses, uma vez mais, dão-nos um péssimo exemplo e abrem um precedente gravíssimo no entendimento do que é uma democracia e um estado de direito.
Desde a revolução francesa que andamos assim: mal acompanhados e mal aconselhados pela França.
É o regresso, em GRANDE, da Liberdade, Igualdade, Insanidade.























Peter Kelly Posted by Picasa

Espaço Político Arrenda-se....

Com tanta parcimónia na actuação e nas ideias por parte do PSD e do seu líder Marques Mendes, que teima em provar que, afinal, não lhe faltavam só dez centímetros para liderar o partido, o outro partido, o Socialista, liderado pelo circunstancialmente Primeiro-Ministro, usando de uma linguagem pouco socialista, pouco de esquerda (entendida pelos antigos cânones) e gozando de uma cobertura mediática que não se cansa de o mostrar como um português diferente, com gosto ( alusão constante aos fatos Armani), sem pregas no final das calças, sem barriga e sem qualquer pelo na facies, vai aglutinando votos à direita e à esquerda, esvaziando o PSD de parte significativa do seu eleitorado.
Se a dicotomia direita/esquerda se vai mostrando insuficiente para explicar os fenómenos político-sociais do nosso tempo, a diferença entre PS e PSD parece esbater-se cada vez mais, num fenómeno em crescendo que só prejudica quem não tem nem toma a iniciativa política.
É evidente a necessidade de outro movimento político que venha ocupar o espaço que neste momento está sem inquilino, sob pena do PS passar a ter um casarão de vinte assoalhadas.

11.4.06

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A Lágrima

Manhã de Junho ardente. Uma encosta escavada,
Sêca, deserta e nua, à beira d'uma estrada.

Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha,
Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha.

Sôbre uma folha hostil duma figueira brava,
Mendiga que se nutre a pedregulho e lava,

A aurora desprendeu, compassiva e divina,
Uma lágrima etérea, enorme e cristalina.

Lágrima tão ideal, tão límpida, que ao vê-la,
De perto era um diamante e de longe uma estrêla.

Passa um rei com o seu cortejo de espavento,
Elmos, lanças, clarins, trinta pendões ao vento.

- "No meu diadema, disse o rei, quedando a olhar,
Há safiras sem conta e brilhantes sem par,

"Há rubins orientais, sangrentos e doirados,
Como beijos d'amor, a arder, cristalizados.

"Há pérolas que são gotas de mágua imensa,
Que a lua chora e verte, e o mar gela e condensa.

"Pois, brilhantes, rubins e pérolas de Ofir,
Tudo isso eu dou, e vem, ó lágrima, fulgir

"Nesta c'roa orgulhosa, olímpica, suprema,
Vendo o Globo a teus pés do alto do teu diadema!

" E a lágrima deleste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

Couraçado de ferro, épico e deslumbrante,
Passa no seu ginete um cavaleiro andante.

E o cavaleiro diz à lágrima irisada:
"Vem brilhar, por Jesus, na cruz da minha espada!

"Far-te hei relampejar, de vitória em vitória,
Na Terra Santa, à luz da Fé, ao sol da Glória!

"E à volta há-de guardar-te a minha noiva, ó astro,
Em seu colo auroreal de rosa e de alabastro.

"E assim alumiarás com teu vivo esplendor
Mil combates de heróis e mil sonhos d'amor!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu e quedou silenciosa.

Montado numa mula escura, de caminho,
Passa um velho judeu, avarento e mesquinho.

Mulas de carga atrás levavam-lhe o tesoiro:
Grandes arcas de cedro, abarrotadas d'oiro.

E o velhinho andrajoso e magro como um junco,
O crânio calvo, o olhar febril, o bico adunco,

Vendo a estrêla, exclamou: "Oh Deus, que maravilha!
Como ela resplandece, e tremeluz, e brilha!

"Com meu oiro em montão podiam-se comprar
Os impérios dos reis e os navios do mar,

"E por esse diamante esplêndido trocara
Todo o meu oiro imenso a minha mão avara!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

Debaixo da figueira, então, um cardo agreste,
Já ressequido, disse à lágrima celeste:

"A terra onde o lilaz e a balsamina medra
Para mim teve sempre um coração de pedra.

"Se a queixar-me, ergo ao céu os braços por acaso,
O céu manda-me em paga o fogo em que me abraso.

"Nunca junto de mim, ulcerado de espinhos,
Ouvi trinar, gorgear a música dos ninhos.

"Nunca junto de mim ranchos de namoradas
Debandaram, cantando, em noites estreladas...

"Voa a ave no azul e passa longe o amor,
Porque ai! Nunca dei sombra e nunca tive flor!...

"Ó lágrima de Deus, ó astro, ó gota d'água,
Cai na desolação desta infinita mágoa!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Tremeu, tremeu, tremeu... e caíu silenciosa!...

E algum tempo depois o triste cardo exangue,
Reverdecendo, dava uma flor côr de sangue,

Dum roxo macerado, e dorido, e desfeito,
Como as chagas que tem Nosso Senhor no peito...

E ao cálix virginal da pobre flor vermelha
Ia buscar, zumbindo, o mel doirado a abelha!...

(Guerra Junqueiro)

A propósito de terceira idade, velhice e quejandos....

A forma como aqueles que hoje têm 30, 40 e 50 anos se pronunciam a propósito de todos os outros que já ultrapassaram os 60 anos começa, verdadeirtamente, a incomodar, pela falta de respeito gritante de que se reveste. E eu ainda estou na casa dos 40, portanto àvontade para me pronunciar.
As últimas notícias sobre viagens em contra-mão nas auto-estradas, criou um surto de pânico que levou quase a considerar os condutores acima dos 70 anos como perigosos automobilistas, capazes das maiores atrocidades quando atrás dum volante e levianos nos seus comportamentos, para nãofalar do mais grave: acima dos setenta as capacidades mentais são altamente questionadas (tivemos um candidato presidencial que em nada abonou para a aferição das capacidades intelectuais dos cidadãos acima dos oitenta, mas, que eu saiba, a excepção é necessária para a confirmação da regra).
Curiosamente, as viagens em contra-mão começaram por ser efectuadas por gente bem nova, ávida de colocar em prática algumas aventuras escaldantes vividas únicamente na realidade virtual das consolas.
Só depois deste surto se começou a falar noutras faixas etárias. Duas questões se colocam: como estão construídas as auto-estradas? Será correcta a forma como são projectados os acessos às mesmas?
Igualmente se deve questionar: como é possível alguém viajar largos quilómetros, embater em vários carros e persistir no engano, a não ser que o faça por vontade própria? A estes recomendo, vivamente, a Ponte sobre o Tejo. Às outras questões talvez um sindicância à construção dos acessos e a rápida conclusão de obras de rectificação possivelmente necessárias, bem como a adopção de medidas técnicas e tecnológicas que impeçam a progressão da marcha a veículos em contra-mão.
Mas uma coisa peço que interiorizem: a idade nada tem a ver com estas e outras coisas que lhe são, temporalmente, imputáveis. A idade não se mede pelo BI; a idade mede-se pela dignidade intelectual, pelo raciocínio e pela compreensão da vida e dos outros, apanágios que, por norma só encontramos em quem por sorte de vida, já viveu o suficiente para compreender, melhor que nós, este mundo tão abstruso.

Silêncio Ensurdecedor...

Esta questão da Regionalização encapotada começa a tomar laivos de golpe de estado (porque é decisão tomada nas costas de todos nós, que somos o Estado). O silêncio sobre o assunto, após uma espalhafatosa abordagem pública, é claramente demonstrativo das intenções ruinosas que procedem às intenções enunciadas de dividir o País, ao arrepio do sufrágio efectuado e que demarcou, claramente, a distância entre a vontade política de alguns e o sentimento generalizado de todos os outros - NÓS!
No Expresso de 1 de Abril eram indicadas as posições de alguns políticos, todos credíveis no que à soberania do País diz respeito e, todos eles, contrários à reestruturação administrativa que, dizem os próprios e disse-o eu, não é mais que uma forma encapotada de efectuar a tão temida regionalização do Nosso Portugal.
Os políticos citados são Manuela Ferreira Leite, Marcelo R. de Sousa e Medina Carreira.
As posições defendidas são inequívocas e a pressão sobre o PR para a realização de um referendo antecipado sobre a regionalização um traço comum a todos eles. Quer-me parecer que o argumento esgrimido faz todo o sentido, num País que está por demais habituado àpolítica do facto consumado. Basta de factos consumados digo eu!
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Na mesma edição Miguel Sousa Tavares aventa opinião sobre o tema e, a propósito afirma: "Sou a favor da descentralização desde que os órgãos criados não sejam eleitos e, à excepção do Ambiente e do Ordenament, concordo com a desconcentração do Estado".
O argumento parece válido e a personalidade inscreve-se, indubitávelmente, entre os mais capazes da nossa praça, mas e há sempre um mas, é falacioso e não atende a outro interesse, dissonante da postura política defendida: o peso do poder económico e financeiro.
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Senão vejamos: se a receita gerada em cada região administrativa a criar fôr, como fará sentido, aplicada numa percentagem elevada em cada região, revertendo uma parte para o poder central, este facto aumentará a rivalidade entre regiões e poderá conduzir a uma maior competitividade entre elas, na procura de fixação de investimentos e de pessoas (contribuintes autárquicos). Pelo menos teóricamente será assim, mas igualmente em teoria, tal situação acarreta, invariávelmente uma redistribuição cada vez menos equitativa dos rendimentos gerados em território nacional, aumentando incomensurávelmente as assimetrias regionais.
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Um outro dado é certo e este não é teórico mas bem real: havendo dinheiros para gerir, gerados numa determinada área geográfica perfeitamente delimitada, só por ingenuidade se poderá pensar que as populações (seria escusado dizê-lo, mas para os mais distraídos cá fica: as populações manipuladas políticamente, entenda-se), mais cedo ou mais tarde exigirão a nomeação de governos locais (regionais) que façam uma aplicação dos rendimentos obtidos regionalmente, de forma independente do poder central.
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Já não estamos a falar de presidentes de câmara. Estamos a falar de presidentes de governos regionais e de assembleias com deputados eleitos regionalmente. Ou até nem parece que não conhecemos estas questões em nossa própriaa casa e, igualmente, na casa de outros que nos estão bem próximos.
É, assim, impossível pensar num modelo de regiões sem que um dia os órgãos de poder não sejam eleitos localmente.
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Vamos lá a refazer os raciocínios e a dizer de uma vez por todas: "não tive tempo de pensar no assunto nem tenho, sequer, obrigação de saber pronunciar-me sobre todos eles".

1.4.06

E o défice a crescer...e os meninos a pular

O défice continua a crescer!
Já o dissemos: este défice é mau, é manhoso. Porque é feito de despesismo; porque não gera riqueza. Porque o País está hipotecado com políticas de criação de emprego na (dis)função pública, primeiro no tempo de Cavaco através de recibos verdes e, depois, na legislatura de Guterres. Porque o País gera despesas enormes e crescentes, anualmente, com a aberração das SCUTS. Porque neste País existem reformas douradas que consomem fortunas ao Estado, em simultâneo com o pagamento dos mesmos serviços a outros intervenientes, duplicando o custo final de uma mesma função. Porque só se pensa em gastar em bens não-transacionáveis: betão e alcatrão.
Agora mesmo se discute a construção de um aeroporto quando se gastou dinheiro, recentemente, noutras pistas bem perto de Lisboa.
E que dizer da peregrina ideia do TGV ? O Alfa faz Lisboa-Porto a 100 km porque a linha não suporta velocidades perto dos 250 km/hora, possíveis de alcançar por aquela composição. Porque não obras na linha, muito mais baratas ? Porquê a insistência no TGV ? Creio que todos sabemos s resposta.
Mas não nos podemos esquecer que estes projectos miríficos irão onerar, e muito, as gerações vindouras e contribuirão, decisivamente, para o agravamento do défice não produtivo do País, o mesmo é dizer, contribuirão para a nossa crescente ruína.

O passeio de Freitas do Amaral às cataratas...

O que terá ido fazer Freitas ao Canadá ?
Acaso não poderia verificar em Portugal qual a legislação que regula a situação dos imigrantes ilegais naquele País ? Foi necessária a deslocação para constatar o óbvio ?
Mais um passeio, uns arremedos de estadista e uma oportunidade de aparecer nos jornais. Assim se vai fazendo a agenda política nacional!