30.10.06

A inevitável concentração energética....

implicará a existência, em alguns anos, de cinco grandes famílias energéticas na Europa: 2 alemãs; 1 francesa; 1 italiana e 1 espanhola.
Tudo o que se disser fora desta realidade é demagogia política, por ignorância ou por interesse actual.

26.10.06

Um Poema...

Não tenhas medo, ouve:

É um poema

Um misto de oração e de feitiço...

Sem qualquer compromisso,

Ouve-o atentamente,

De coração lavado.

Poderás decorá-lo

E rezá-lo

Ao deitar

Ao levantar,

Ou nas restantes horas de tristeza.

Na segura certeza

De que mal não te faz.

E pode acontecer que te dê paz...

(Miguel Torga)



Audrey Flack

Ainda a propósito dos Grandes Portugueses...

O grave é que não existe liberdade de facto em Portugal. Os partidos não deixam, os media não deixam, a falta de preparação, cultura e conhecimento não promovido em 32 anos não deixam.
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32 anos depois já não se pode culpar de nada o Estado-Novo.

O "lamento" justificativo da ausência de Salazar, hoje na RTP1...

Assisto, com desencanto, ao programa da RTP 1 que pretende, supostamente, lançar um programa e a sua importância no panorama televisivo português (porque é disso que se trata), bem como ao ressurgimento de uma figura carismática da comunicação falada (mais do que escrita): o programa "Os Grandes Portugueses" e a mentora (copista do modelo inglês) Maria Eliza.
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Neste programa confronta-se a mediocridade de um "gato fedorento" com a erudição do Prof. José Hermano Saraiva.
Para lá da confusão natural que se instala com a heterocedasticidade dos interlocutores presentes, lamenta-se que por interesses óbvios se pretenda justificar o injustificável.
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Terei de elaborar uma opinião estritamente pessoal quanto à iniciativa, antes de mais: considero-o despropositado e desprovido de sentido histórico, porque, acima de tudo, discordo profundamente na bondade de levar a votos a História de um Povo, através da promoção de votos nos seus maiores vultos. A História não vai a votos: faz-se!
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A noite tem sido, assim, muito fraca no diálogo e, concomitantemente, no conteúdo. Mas aguardo, com curiosidade, qual a justificação para que, na primeira lista de grandes portugueses, não tenha surgido o nome de António de Oliveira Salazar.
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Maria Eliza pretende explicá-lo na segunda parte do programa, dando a entender, numa primeira aproximação, que a lista inicialmente elaborada era tão sómente isso, uma primeira lista de sugestões, aberta a alterações.
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Como se explica este facto não sei, vou aguardar. Mas uma coisa sei: olvidar o nome de Salazar nessa primeira lista é escamotear 40 anos de História de Portugal, gostando ou não gostando do político.
Mas sei mais e mais importante: não propor Oliveira Salazar nessa primeira lista significa não saber lidar com a História e, quando não se sabe lidar com o passado histórico, não se tem condições para avançar para um programa televisivo, populista por definição e por razão da definição perigoso, porque se está, à priori, condicionado.
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Se uma Mulher e jornalista como Maria Eliza se sente condiconada, o que dizer da sociedade portuguesa, 32 anos depois da revolução, que garante à evidência a imposição de grilhetas intelectuais. Porque nenhum de nós pensará, por um segundo, que Oliveira Salazar não foi um dos primeiros nomes a sair do saco e debatido à exaustão. Do saco da 1/2 dúzia de cabeças pensantes do programa e do debate, quer histórico, quer polémico que sugeríu. E sendo-o, porque razão não foi incluído, sendo-o só posteriormente em face da pressão exercida.
O problema, repito, é a incapacidade e temor de lidar com a História recente, preocupante numa sociedade que se pretende livre e democrática, mas acima de tudo sem estigmas.
Ao fim e ao cabo sempre existirão, ainda, algo mais que resquícios de complexos, quando vem à liça o nome de Salazar.

25.10.06

Sou o fantasma de um rei

Sou o fantasma de um rei
Que sem cessar percorre
As salas de um palácio abandonado...
Minha história não sei...
Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre
A ideia de que tive algum passado...

Eu não sei o que sou.
Não sei se sou o sonho
Que alguém do outro mundo esteja tendo...
Creio talvez que estou
Sendo um perfil casual de rei tristonho
Numa história que um deus está relendo
...


(Fernando Pessoa)

A Despesa Pública.....

não-produtiva - o estado gordo - é perniciosa porque acarreta, forçosamente, uma consequência: diminuição do consumo privado, ou por outras palavras, o poder de compra de todos os cidadãos, através de dois mecanismos essenciais - necessidade de aumento de receitas públicas através do aumento da carga fiscal e endividamento das gerações futuras pela obrigação de liquidar o endividamento público e os encargos inerentes.
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Exemplo: por cada título emitido pelo tesouro (satisfação da dívida pública) e comprado pelo cidadão, a prever um encaixe financeiro equivalente ao capital investido acrescido da remuneração, estamos, em simultâneo, a endividar as gerações vindouras (alguém tem de pagar, sempre).
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A despesa pública não-produtiva, para um estado pobre como o nosso, apresenta contornos caóticos.

24.10.06

Destruição da Terra ultrapassa a capacidade de Regeneração Natural em 25%....

A destruição de recursos naturais, para fazer face às necessidades do consumo humano, ultrapassa em 25% a capacidade de regeneração do planeta.
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Para conferir aqui http://www.panda.org/index.cfm?uNewsID=83520


Henry Bresson

A Falácia da Diminuição do Imposto Sobre as Empresas....

Falar, políticamente, em baixar o imposto sobre o rendimento das empresas (vulgo IRC) com o propósito de canalizar novos investimentos e aumentar a competitividade do espaço económico português face a outros, é uma falácia, mesmo que o argumento esteja ou venha a ser utilizado políticamente por outras regiões económicas.
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A razão é simples: através do abaixamento do imposto as empresas (leia-se o capital) até poderão ver aumentados ou, pelo menos sustentados, os lucros. Mas a questão essencial, para o capital, passa por obter níveis de lucro semelhantes (a remuneração esperada) ou mesmo ligeiramente inferiores, através da penetração nos mercados, passando a referida penetração por aumentos sucessivos de eficiência/produtividade.
Aumentar os lucros através da redução da carga fiscal (formulação virtual da função lucro) não garante eficiência e promove, forçosamente, diminuição da presença no mercado para as empresas, pela consequência directa da perca temporal das eficiências necessárias à manutenção/aumento da penetração nos mercados onde operam. E estagnar ou perder mercado significa, a prazo, a perda do negócio.
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Só podem defender a solução da diminiução da carga fiscal os empresários que assumem, claramente, ineficiências e incapacidades de lidar com o mercado.
Para os políticos, o discurso passa por ser sofisticado, mas é totalmente desprovido de sentido.

19.10.06
























Jean Loup Sieff

Deixem que a esperança prevaleça sobre a incerteza...

A noite cai, as preocupações adensam-se. É sempre assim e sempre será.
É o lado escuro que acompanha o escuro da noite.
As piores decisões tomam-se à noite. Sem excepção. Ao cansaço natural acumulado no dia, junta-se a certeza do mundo fechar, de nada mudar durante horas e este pensamento, parecendo simples, pode encerrar complexidades mentais que conduzam, no extremo, à turbulência da mente, num desfiar de rosários que se perfilam inexoravelmente como não solúveis.
Não é por acaso que as taxas de suicídio apontam para uma maior verificação destes, entre as primeiras horas da noite e a alvorada.
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Há que ultrapassar o adensar de preocupações noturnas, através da positividade colocada no dia seguinte. Viver cada dia por si e, acreditar, que a possibilidade de melhorar aumenta à medida que os problemas se adensam: ao fim e ao cabo, depois da tempestade vem a bonança.
Neste papel criador de esperança, assumem particular importância os órgãos de informação e o elenco governativo. A palavra de esperança tem de partir de quem tem tempo de antena; no caso concreto de quem tem a informação e de quem a transmite.
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Os portugueses dispensam as guerras em torno da corrupção. Já todos sabemos que vivemos numa sociedade corrompida, transversal e verticalmente. Já todos sabemos que os tempos são de crise. Sabemos igualmente que a justiça está num caos e que o desemprego cresce.
São necessários mecanismos de criação de ânimo, urgentemente.
Boas notícias, como o acordo com a Auto -europa, podem e devem ser badalados até quase a exaustão. A notícia de que um novo modelo, a ser anunciado, poderá criar 3.000 novos postos de trabalho, deverá contrabalançar a certeza que até ao final do ano, pelo menos 7.200 portugueses ligados ao sector automóvel terão perdido os seus empregos.
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Igualmente existe um limite para a subida de impostos. Se o estado entende subir, proporcionalmente, os escalões de IRS e acabar com algumas SCUTS, deverá levar em conta que não pode, em simultâneo, subir os impostos sobre os produtos petrolíferos, porque uns e outros, directos ou indirectos, afectam a população, o contribuinte individual e diminuem-lhe o bem-estar, ou por outras palavras, contribuem para a perca do poder de compra, diminuindo a qualidade de vida.
É que a estas notícias somam-se as outras, do aumento da inflacção, do congelamento dos salários e do aumento das taxas de juro, do crescimento das despesas com a educação e da saúde.
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É tempo de incutir confiança na população, para que essa confiança alastre aos agentes económicos nacionais. É chegado o tempo de apoiar as iniciativas geradoras de emprego, da micro à média empresa. É, provávelmente, chegado o tempo - agora que se conseguíu criar o estigma social do não pagamento de impostos - de aliviar, discretamente, a pressão sobre os contribuintes, até porque quem tinha com que pagar já o fez e as receitas do estado, na recuperação de créditos de imposto, tendencialmente cairão até ao final do ano para valores quase residuais. Não é um ganho, antes uma perca, alimentar um ambiente de suspeição e perseguição continuada sobre os agentes económicos.
Executar bem não passa por executar cegamente. A economia não é uma ciência certa e exige, como tal, navegação à vista. Mudar procedimentos, de acordo com a percepção da economia e do mercado, é um dado fundamental.
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Fundamentalismos no estado conduzem a situações de rotura. Por isto e por isso, percebo claramente o Ministro das Finanças, que não precisava de fazer um mea-culpa em relação às declarações sobre a recuperação da economia portuguesa.
Todos sabemos que os próximos anos são difíceis mas também necessitamos de ouvir, mesmo com um sorriso descrente, que as coisas estão a melhorar.
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Ao fim e ao cabo somos todos humanos e se há característica que define o humano ela é, claramente, o gosto de ser (pela positiva) enganado.
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Em resumo, se acaso a sua situação é de desconforto, quando se apaga o dia e a noite avança, pense maduramente que um novo dia está para acontecer e, que de noite, a não ser beber uns copos e dar umas quecas, nada pode fazer.
Aproveite a noite então e pense nos problemas por resolver quando as possibilidades de solução são maiores -durante o dia.
Em qualquer caso não esqueça: se não tem pais ricos nem lhe saíu a lotaria pode sempre ir ao BES.

Quando se exige sacrifício a sinceridade tem de imperar...

Afirmar que "tarifas dos consumidores só vão crescer 6% a 8%", padece de um erro grave: a palavra "só". A ser verdade que a afirmação é tal e qual, pertença do Ministro da Economia numa entrevista ao semanário Sol, ela encerra um erro de forma que é, em simultâneo, um vício instituído na democracia portuguesa: a utilização abusiva da língua para efeitos de desculpabilização.
Qualquer aumento superior ao aumento verificado nos salários reais é dramático, para pelo menos 90% da população portuguesa. A expressão correcta seria: tarifas dos consumidores ainda terão, infelizmente, de crescer entre 6% a 8%.
Dizer qualquer outra coisa é escamotear a verdade.

Homem de Bem...

Quem é homem de bem,
não trai
O amor que lhe quer
seu bem.
Quem diz muito que vai
não vai,
Assim como não vai
não vem.
Quem de dentro de si
não sai
Vai morrer sem amar
ninguém.
O dinheiro de quem
não dá,
é o trabalho de quem
não tem.
Capoeira que é bom
não cai
E se um dia ele cai
Cai bem!

(Vinicius de Moraes)

Uma economia pujante....

A economia portuguesa cresce, justificando-se as revisões em alta da taxa de crescimento. De facto tudo cresce, ou melhor, sobe. Tudo sobe então e a única excepção só vem , como soi dizer-se, justificar a regra.
A excepção é o nível de vida dos portugueses que só baixa, ou diminui, como quiserem. No resto, não temos qualquer dúvida: tudo sobe ou cresce.

17.10.06

Ciganos

Tudo o que voa é ave.
Desta janela aberta
A pena que se eleva é mais suave
E a folha que plana é mais liberta.

Nos seus braços azuis o céu aquece
Todo o alado movimento.
É no chão que arrefece
O que não pode andar no firmamento.

Outro levante, pois, ciganos!
Outra tenda sem pátria mais além!
Desumanos
São os sonhos, também...

(Miguel Torga)

A Fundamental Dimensão...

No New York Times de hoje:
"Wal-Mart Stores, the largest retailer in the United States, is laying the groundwork to become the biggest foreign chain in China with the $1 billion purchase of a major retailer here, according to people briefed on the deal".
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É tudo uma questão de dimensão. Por isso, Portugal e a sua economia estão destinadas a serem parte do mercado ibérico e o controlo das suas empresas cair, maioritáriamente, na mão de capital estrangeiro. Por isso, por falta de dimensão dos homens em primeiro lugar e, depois, pela inerente falta de dimensão económica, política e social.

16.10.06

A verdade da mentira....

Curiosa a forma como governo e oposição lidam, diáriamente e de há longas semanas, com a questão da "necessária" reforma do estado-previdência.
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Os cortes propostos nas pensões, os benefícios que terminam (caso da viúva ficar com direito a 1/2 da reforma do conjuge, em caso de falecimento deste), implicando uma rotura na expectativa dos benefícios futuros, traz consigo uma enorme contradição: QUANDO SE CRIARAM REFORMAS ONDE ANTES NÃO EXISTIAM quer pela especificidade das funções, quer pelos montantes, quer pelos anos de exercício de funções; QUANDO SE LEGISLOU SOBRE MECANISMOS COMO O SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL; QUANDO SE INTRODUZÍU O CONCEITO DE MÍNIMO DE SUBSISTÊNCIA; QUANDO SE AUMENTOU O VALÔR DO SUBSÍDIO DE DESEMPREGO, sempre se julgou que o Estado estaria a consumir proveitos gerados na economia.
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Puro engano. O Estado não estava a gastar rendimentos gerados. O Estado estava a consumir receitas acumuladas durante anos, por todos aqueles que agora vêem as suas pensões de reforma, a dignidade numa provecta idade ameaçada. Estão goradas as expectativas no futuro em todos, os que estão reformados e os que estão no mercado de trabalho. O Estado sucks e os políticos destilam mentiras.
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Acaso não são estes políticos os mesmos que se atribuíram, de há trinta e dois anos, as regalias que os colocaram a salvo de qualquer intempérie? Que força moral têm agora para falar?
Nenhuma! Absolutamente nenhuma.
As reformas são mais do que necessárias (irem a tempo é outra história) mas a estes políticos falta-lhes credibilidade para as empreender.
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Nota de rodapé: a 1ª República, no finzinho, também começou a esbracejar com a corrupção....

9.10.06

A memória curta de Carrapatoso ou os interesses subordinantes...

A memória é curta ? Não! Os interesses é que mudam.
Há uns anos, não muitos, Carrapatoso e a Vodafone (Telecel), vociferavam que dois operadores eram ideais para "trabalhar" o mercado das comunicações móveis em Portugal. Hoje, como sabemos, dois são poucos, três são óptimos, na opinião do douto responsável da Telecel (Vodafone).
Que António Carrapatoso tinha chegado à Vodafone (Telecel) por obra e graça do Espirito Santo, já o sabia. Que lá se tem mantido, acumulando prejuízos, também se conhece.
Não se sabia, contudo, que a certeza de que dois operadores seriam suficientes para Antonio Carrapatoso, se mantinha tão presente.
Porque a estratégia da Vodafone e do seu líder não passa pela manutenção de três operadores, mas pela aquisição de lugar na primeira fila do espectáculo de encerramento da Optimus, por falta de mercado e de capacidade de alavancagem.
Porque esse encerramento é garante da continuidade da TMN, da repartição do mercado que sobrar e, igualmente importante (pela continuação da TMN), da manutenção da necessidade de um interlocutor nacional que faça a ponte com os agentes fronteira, num País onde se continua a privilegiar as relações informais lobbistas.
Caso contrário, com o mercado aberto sem intervenção de monopólios e interesses estatais nas comunicações móveis, nada impede a colocação pela Vodafone de um CEO inglês, mais provável até do que a deslocalização de um gestor americano.
Pelo sim, pelo não,o Compromisso Portugal lá vai cumprindo o seu papel de rampa política, permitindo acalentar ambições nessa área, para quem teme vir a sair a curto prazo de outra.