17.2.05

A realidade, nua e crua, manda que se diga que ganhe quem ganhar, em nada afectará a economia nacional, a economia das famílias, a capacidade de resolver os problemas do ensino, da investigação, da saúde, todos os problemas, dos maiores aos mais pequenos que assolam o País, no curto prazo.
Por uma única razão: Portugal não depende de si, nem em parte, para resolver as situações que se lhe colocam. Não tem à sua disposição os meios económicos necessários: política monetária, emissão de moeda, taxa de juro de referência, mobilidade nos mercados de importação e, igualmente importante, é o único país da UE a 15 que, no balanço dos efeitos de criação e desvio de comércio, ficou claramente deficitário. Por outras palavras, não há sectores de actividade em Portugal, em número suficiente, que se consigam impor nos mercados internacionais. Ainda de outra forma, a economia portuguesa é ineficiente. Hoje, mais do que nunca, se aplicam a Portugal teorias há muito defendidas e muitas vezes esquecidas, por incómodas, de economistas de tendencia marxista não ortodoxa, que defendem a existência de países de centro e países de periferia. Portugal é um país de periferia. Já o era aquando da integração. Igualmente o "proletário" alemão é um "capitalista" perto do "proletário" português. Há desigualdades que não se "curam" por varinha de condão, menos ainda com dependencias externas trágicas (+ de 80 % das exportações portuguesas têm hoje, como destino, Espanha).
Manda igualmente a verdade que se diga, uma vez mais nua e crua, que hoje a direita política tem maiores preocupações sociais, um maior leque de soluções para os problemas económicos, quando comparada com a esquerda. Esta está refém de chavões, de conceitos ultrapassados, outras vezes desvirtuados pela necessidade de adaptação de dogmas que falharam rotundamente no conjunto de países socialistas, carecendo assim de novas roupagens. Mas querer vestir bem, quem nunca se vestíu ou se vestia mal, redunda forçosamente num quadro misto de pirosice e ostentação ideológica, entenda-se.
Por outro lado, manda a história que se diga que quem começou no centro-direita acaba na direita (com excepção de alguns cínicos perfeitamente identificados) e que quem começa na esquerda acaba na direita. Ou seja e por outras palavras, a tomada de consciencia cívica, social, económica e política pelo cidadão, conduz este a ideais de direita. E não é esta evolução um acaso, como não o é que os jovens sejam, por norma, radicais. O conhecimento consolidado da realidade da vida, das necessidades dos outros e a noção ganha de que o mundo não gira à volta do umbigo, conduzem o cidadão à referida evolução. Acréscimo de responsabilidade social, tomada de consciência das desigualdades e seus custos, individuais e colectivos, são responsáveis pela mutação ideológica.
Não será então de estranhar estar a direita melhor dotada de dirigentes, quadros políticos, e de gozar, na generalidade da população, com o apoio dos mais capazes. Melhor ainda, nenhum destes homens se sente deslocado nas suas vidas, nem arrependido de opções que tenha feito anteriormente, assumindo a mudança como uma consequência lógica da evolução do conhecimento individual, retirado da percepção do colectivo.
Ter o Partido Socialista no poder significa ter um conjunto de homens com características pouco abonatórias para a necessária reforma nacional: ou estão deslocados ou desenraízados sendo sérios mas pouco ou nada interventivos, ou são pura e simplesmente teimosos e saudosistas. De qualquer das formas nada capazes de governar o desgoverno deste país. Não são capazes a curto prazo, logo nada há a esperar de bom no longo prazo. E a questão do longo prazo é a mais pertinente.
Estamos habituados, infelizmente, a aceitar gerações sacrificadas na esperança de que as gerações seguintes sejam bafejadas por um verdadeiro estado "wellfare". Com um governo socialista ficaremos pior no longo prazo por duas razões fundamentais:
razão interna, com a falta de rumo, de ideias e coragem pela incapacidade de tomar medidas necessárias e impopulares (retenção da capacidade de actuação política pelo dogma); externamente, porque numa altura em que a Europa vai virar à direita Portugal vira à esquerda. E é nesta área específica, a da política, que não nos é minimamente interessante caminhar em contraciclo. Não numa altura em que a Europa é uma incógnita. (voltarei ao assunto Europa)

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