30.1.06

Perdoai-lhes Senhor que não sabem o que fazem...nem o que dizem

José Rodrigues dos Santos, com ar pungente de hipocrisia feito(ganha 7.000 8 , 9 ou 10.000 contos por mês?, Ficámos sem saber ao certo quanto), apresenta uma peça sobre os sem-abrigo de Lisboa, passando para o ar a seguinte pérola: "...os que optam por viver na rua...". Como se viver na rua fosse opção!
Estou farto!
Não é J. R. dos Santos o responsável pela edição de tudo o que é dito e transmitido nos telejornais da RTP1?
Optam por viver na rua?
E desde quando a miséria humana é notícia? Com a miséria não se partilham shares. Em nome da miséria luta-se, combate-se, dá-se. Nunca, em momento algum se pode ganhar, lucrar, pensar que é notícia, a menos que seja notícia numa base de crítica feroz para com o sistema que herdámos do séc. XX.
Mesmo os mais deserdados da sociedade têm direito a uma réstia de dignidade.
E ainda quer passar por um suposto novo Eça de Queiróz? (Eça que me perdoe por esta putativa interrogação a cheirar a afirmação. De outros que não minha!). J. Rodrigues dos Santos é um novo-pulha (expressão que em Portugal deveria substituir a clássica novo-rico), de entre muitos outros de que este País se vai fazendo.
Lágrimas de impotência escorrem pela face dos Homens sérios de Portugal perante tamanha canalhice.


















João FernandesPosted by Picasa

Debater sem nexo...

No Prós e Contras de hoje vai ser debatida a questão do estado-previdência, da sua sustentabilidade e perspectivas futuras.
Foi neste mesmo programa que há umas semanas atrás o Sr. Ministro das Finanças, despudoradamente, afirmou que a curto prazo o sistema de Segurança Social estará falido, sem capacidade de pagar pensões de reforma entre outras coisas menores perante aquela dramática perspectiva.
Pergunto: porque razão entre tantos blogues, jornais e comentários políticos não li, nem ouvi, uma única declaração de surpresa e pasmo perante a gravidade de tal afirmação ser feita assim, en passant, num qualquer programa de televisão, pelo próprio Ministro das Finanças, como se o tema pudesse ser tratado em primeira-mão pela boca de um ministro, como se se tratasse de uma conversa de café e o tema fosse possível de ser tratado de forma sloppy.
E eu que leio tantos textos, o mais das vezes carregados de sofismas, orientadores e nada esclarecedores.

O sistema de segurança social vigente em toda a civilização ocidental assenta na confiança: descontamos hoje, na perspectiva de que amanhã alguém desconte para nós, única forma possível de termos garantida a reforma futura, prometida pelos descontos de hoje. Colocado o sistema em causa, coloca-se em causa a segurança, assusta-se o contribuinte e o sistema, ele próprio, vê derreterem-se as bases sob as quais assenta.
~
E são estas questões que são discutidas assim, em directo na TV. Se o sistema está caduco e falido (não interessa se sabemos que está ou não), tal situação implica uma discussão ao nível do executivo e tão só a esse nível, seguindo-se a inevitável comunicação formal ao País, imersa numa enorme carga emocional, quer política quer social , implicando essa assumpção a apresentação de soluções a implementar de imediato, sob pena do sistema atingir o prazo de validade e cheirar a podre.

Sem esta postura, credível, séria e verdadeiramente institucional, o contribuinte de hoje é apanhado pelas notícias em debates televisivos e pensará, cheio de razão: eu desconto hoje, mas para que o faço, se daqui a 10-15 anos o sistema não tem como me ajudar, faltando ao compromisso assumido de gerar receitas futuras que permitam cumprir para comigo as suas obrigações, como hoje cumpre perante aqueles que beneficiam dos valores que mês após mês, ano após ano, através de descontos obrigatórios nos sucessivos vencimentos que aufiro, me são retirados?
Perante esta questão e quanto mais certa ela se for tornando e formando na mente do contribuinte, acrescidas serão as razões para fugir às contribuições para com a segurança social, porquanto não existirá uma base moral sustentável de exigência de cobrança por parte do estado-providência de semelhantes contribuições.
Este tipo de discussões públicas não servem rigorosamente para nada, nem sequer para elucidar. Mas servem e muito para assustar e acelerar a morte do estado-previdência!

27.1.06




















Dale Erickson
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Acabar com as loucuras OTA e TGV, significa acabar com as etiquetas de Bruxelas. É uma espécie de grito do ipiranga para nós portugueses.

Dizia-me amigo asisado:
- O Cavaco poderá opor-se à construção do TGV mas com a OTA já fia mais fino.
- Porque raio?
- Porque a verba já foi aprovada por Bruxelas e ou é aplicada no novo aeroporto ou então o dinheiro não entra.
- Que se lixe Bruxelas - retorqui. Estou cansado do esquema habitual de Bruxelas "o dinheiro vai para Portugal mas leva etiqueta". Foi assim desde sempre, tomem lá dinheiro para estradas mesmo que já sejam demais; agora tomem lá para plantar oliveiras; agora este subsídio para abaterem as oliveiras; agora plantem pinheiros, agora deitem abaixo eucaliptos. O dinheiro para nós vem sempre etiquetado. Não acredito, aliás sei que tal procedimento não tem sido seguido com os restantes países da UE, mais particularmente porque nos interessa pela proximidade com os espanhóis e, por uma questão de dimensão com os irlandeses.
- És capaz de ter razão.
- Até os vejo a rirem-se uns para os outros:
manda lá os gajos construir mais estradas, agora diz-lhes para abaterem árvores de fruto e, seguidamente diz-lhes para plantarem as mesmas. Vais ver que eles fazem; é um fartote de rir. Olha, lembrei-me agora e se lhes disséssemos para abaterem as vinhas? (Acho que estás a exagerar, diz o outro). Se calhar estarei mas vou experimentar. Olha, tinhas razão, os tipos não foram nessa. Paciência,mas tem sido um regabofe.
Sabes o que te digo?
- Dispara!
- Eu recebia o dinheiro, com ou sem etiqueta, rasgava as etiquetas e aplicava-o convenientemente porque este é o último e, depois, só resta a miséria se for mal aplicado. Quando os senhores de Bruxelas refilassem mandava-os ir ao Totta. Assim como assim, o Presidente da Comissão sempre é português e perceberia claramente a alusão, evitando o inconveniente de uma tradução que retiraria contexto e sentido à frase " se queres dinheiro vai ao Totta" e, além do mais, o Totta agora até é Santander e como este é espanhol, os tipos não percebem nada e, pelo sim pelo não, ficam de certeza calados. Basta atentares no tratamento da questão energética no que disse (des)respeito a Portugal e a Espanha.
Digo-te sinceramente: espero que Cavaco acabe com essas duas loucuras, mesmo que para isso se tenham de criar conflitos institucionais, porque acredito que é um homem sério e não procurará tirar dividendos pessoais de obras públicas de valor tão avultado. Percebes o que te quero dizer.
- Mas se ele quiser fazer os dois mandatos da praxe, não te parece que fica nas covas?
- Se agir com a cabeça e não com os pés até pode capitalizar com a situação.
- Esperemos que sim, mas não estou muito convencido em relação à OTA.

Quase, Quase... pela 4ª vez

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Sympathy For The Devil

Please allow me to introduce myself
I’m a man of wealth and taste
I’ve been around for a long, long year
Stole many man’s soul and faith

I was ’round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate

Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what’s puzzling you
Is the nature of my game

I stuck around St. Petersburg
When I saw it was a time for a change
I Killed the Czar and his ministers
Anastasia screamed in vain

I rode a tank
Held a general’s rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank

Pleased to meet you
Hope you guess my name,
What’s puzzling you
Is just the nature of my game,

I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made

I shouted out,
Who killed the Kennedys?
When after all
It was you and me

Let me please introduce myself
I’m a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadours
Who get killed before they reached Bombay

Pleased to meet you
Hope you guessed my name,
But what’s puzzling you
Is the nature of my game, get down, baby
Pleased to meet you
Hope you guessed my name,
But what’s confusing you
Is just the nature of my game

Just as every cop is a criminal
And all the sinners saints
As heads is tails
Just call me Lucifer
’cause I’m in need of some restraint

So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
Use all your well-learned politesse
Or I’ll lay your soul to waste

Pleased to meet you
Hope you guessed my name,
But what’s puzzling you
Is the nature of my game.

24.1.06

























Eric DeVree Posted by Picasa

Sem Sentido

Teço o tecido,
(Enredado em teias
Pensadas a meias).
De imoralidade urdido.

Teço o tecido,
(Político, funesto
Tudo onde não presto).
De maldade urdido.

Teço o tecido,
(Na frente fingindo

Nas costas ferindo).
De intriga urdido.


Teço o tecido,
(Da vil perdição
E total sujeição).
De dinheiro urdido.

Teço o tecido,
(Na miséria real
E existência fatal).
De povo urdido.

Teço o tecido,
(Desprezível futuro
Deixo cair de maduro).
De Pátria urdido.

Teço o tecido,
(Vontade iníqua

Maldade profícua)
De carácter urdido.

Teço o tecido
Com que me mato,
Matando os demais.
E prostrado nos ais,
Aqui me abato
Na mesquinhez urdido.

(João Fernandes)

23.1.06

Bom Dia
























Steve Bonner Posted by Picasa

Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!

(Miguel Torga)

Ventos de Mudança...

Há muito que defendo que o País está maduro para uma abordagem e discurso político diferente. O País, pode afirmar-se, está carente de uma nova focagem políitca discursiva.
Este facto é, de novo, constatável através do resultado apurado nas eleições de ontem.
Bastou uma pequena descolagem de um dos candidatos das forças políticas que marcam a agenda nacional, para que tivesse mais de um milhão de eleitores a votarem nele. E a descolagem nem foi dramática, ficando o discurso muitas das vezes pelas meias tintas, por vezes mesmo envergonhado e, acima de tudo, apelando tão sómente à família política de esquerda. Caso o candidato tivesse tido a coragem (ou possibilidade) de romper com veemencia e frontalidade com a família política a que pertence, apelando à família nacional, ao País, sem famílias políticas de direita ouesquerda de permeio e, talvez, o número de votantes tivesse aumentado substancialmente.
Imaginemos agora que o candidato não tinha rabos de palha políticos, ligações a máquinas partidárias conhecidas, que gozava de boa reputação e apelava ao voto nacional, baseado nos valores e interesses nacionais, sem cuidar se o discurso umas vezes se direccionava mais à direita, se outras mais à esquerda e, provávelmente, a este milhão teria de juntar 1/2 milhão de abstencionistas e outro 1/2 milhão de votos desviados às forças políticas que vêm marcando os tempos de há 30 anos para cá.
Estaríamos a falar de 40% dos votos.
O País está aberto a uma mudança discursiva, a uma nova abordagem política.
O País está aberto a inflecções, venham elas de sectores políticos conhecidos ou de novos intervenientes. Por mim, creio chegado o momento de agitar as águas, de mudar o discurso, de repensar Portugal e, acima de tudo, de sentir e amar Portugal.

22.1.06
















Eileen Agar Posted by Picasa

Por 32.766 votos...

Cavaco Silva precisava de 50% + 1 voto para ganhar. Obteve 50% + 32.766 votos.
Foi à justa, como previra. O que não significa que não tenha sido um enorme feito, ganhar à primeira e em todos os distritos do País à excepção de Beja. Foi uma grande vitória, maior do que se consumasse só à segunda volta e consensual.

Noite de Eleições

Cavaco Silva é o novo Presidente da República. Deseja-se um mandato frutuoso.
Ana Gomes, António Vitorino e Mega Ferreira mostraram, claramente, total ausência de conceitos democráticos enraízados, pelas aleivosias proclamadas e ditas. Ana Gomes só faltou espumar pela boca, algo que terá feito de seguida, estou em crer. A democracia do PS no seu pior.
Era dispensável a retórica do Primeiro-Ministro a propósito da estabilidade institucional, porque essa constrói-se todos os dias e não por discursos de circunstância. Foi coincidente com o discurso do recém-eleito Presidente, mas as palavras utilizadas e o sentido foram diferentes.
Ficou mal ao PS esperar que Manuel Alegre começasse a falar para que Sócrates iniciasse a sua intervenção do Largo do Rato, desviando a atenção dos media de Alegre. Uma prova mais da democracia reinante no PS.
Alegre teve um excelente resultado.
Cavaco Silva não ganhou porque a esquerda perdeu. Cavaco ganhou porque entre todos os candidatos foi o que melhor geríu a sua campanha, provávelmente a par de Alegre, a quem terá faltado um pouco mais de audácia e de coragem discursiva. Cavaco Silva ganhou porque foi o candidato mais credível de entre todos.
Em suma, Cavaco ganhou porque, no contexto destas eleições só ele merecia ganhar.
A pergunta que formulei há uns meses mantenho: a quem pertencerão os terrenos destinados ao aeroporto da OTA e, igualmente, a quem pertencerão os terrenos circundantes?

Soares Acabou....

Acabou-se Mário Soares. 13% dos votos espressos não lhe dá o direito de intervir com tanta facilidade na vida política nacional, porque lhe retiram, inclusivé, a capacidade de intervir políticamente no seio do PS. Se a família socialista já não escuta Soares, senão residualmente, porque há-de o País continuar a fazê-lo?
~
O enterro político nacional está feito e, bem ao contrário do que Marcelo R. de Sousa afirmou, o País não deve nada a Mário Soares. Todas as confusões em que possa ter participado no pós-25 de Abril, como figura de proa na solução encontrada teriam sido impensáveis sem o apoio claro do PPD e de Sá Carneiro.
~
Não esqueçamos que o PS foi fundado em 1972, quando já se cozinhava o 25 de Abril e que até essa data eram todos militantes comunistas.

20.1.06
























Mike Bernard Posted by Picasa

Que os candidatos se danem...

O tempo de elucidar e esclarecer acabou.
No fim fica uma enorme sensação de frustração. Não ouvi um único candidato pronunciar-se sobre a OTA ou o TGV, despesismos desnecessários num País pobre, que além de esgotarem recursos fundamentais se constituirão numa enorme dor de cabeça ao nível dos custos de manutenção. Tudo isto num País que já viveu uma tragédia como a de Entre-Os-Rios e que, posteriormente, empreendeu obras de manutenção na ponte sobre o Tejo, ficando todos a saber que a ponte não era alvo de cuidados de manutenção desde 1974.
Não ouvi um único candidato esclarecer claramente qual a sua posição em relação a dois projectos megalómanos, que não trarão nenhuma vantagem acrescida ao País, sugarão importantes recursos e ficarão como pesada herança para as gerações vindouras. Projectos que vão de encontro aos interesses espanhóis, que não são própriamente os nossos. Projectos que equivalem a adjudicações públicas de muitos milhões, que alimentarão a gula de muitos, fazendo a fortuna de alguns e consolidando a de outros, através de mecanismos corruptivos.
Investir no País não gera proveitos imorais. Investir em infra-estruturas capitaliza interesses privados à custa do interesses público.
Nãoouvi um único candidato dizer fosse o que fosse a esse propósito.
O que eu esperava, de qualquer um dos candidatos ou mesmo de todos, era que se tivessem pronunciado sobre projectos que têm tanto de polémicos e desmesuradamente dispendiosos como de disparatados, para um País que está de tanga. Que tivessem a coragem de dizer que eram contra ou a favor. Que dissessem, claramente, que sendo contra (fosse esse o caso) não hesitariam em demitir o primeiro-ministro e dissolver a A. da República, caso o executivo insistisse na sua prossecução, tudo em nome dos mais altos interesses nacionais.
Não houvi nem irei ouvir, porque todos os candidatos estão comprometidos com o aparelho nacional, o conluio político existente entre as principais forças políticas nacionais, através dos dirigentes políticos que temos. E também porque ninguém tem ideias. Procurem-se ideias no discurso de Cavaco, de Alegre ou de Soares. No de Jerónimo, de Louçã ou mesmo de Garcia Pereira. É o vazio, dramático, de uma clivagem crescente entre a execução de cargos políticos e a capacidade e inteligência de quem executa as funções. É o sinal do fim dos tempos a ausência de ideias .
Nenhum candidato presta, nenhum serve. Ninguém está à altura de assumir um compromisso com Portugal

Razões para a miséria....

Não é possível separar o trigo do joio, quando se fala em condições de vida, bairros degradados, consciência cívica, humana e paternal, condições económicas e assistência social.Os bairros pobres, da periferia, existem porque o estado-providência não funciona. As famílias são empurradas para vidas que não queriam, para ambientes que detestam, de início, mas onde após alguns meses de integração acabam por se adaptar. Que remédio! As carências são muitas, a todos os níveis.Quando somos acordados com a notícia de que uma casa ardeu e morreram duas crianças ente os 4 e os 6 anos, porque os pais não se encontravam em casa no momento da desgraça, estamos todos a ser conduzidos, indecentemente, num engano. Porque a notícia se destina aos mais esclarecidos, áqueles que vêem a TV e lêem os jornais. Destina-se àqueles cujas vidas não tocam aquelas que são mostradas e que desenvolveram um espírito crítico muito especial: todos os que não vivem pelos nossos padrões vivem erradamente, ou por outras palavras, o problema reside em cada um deles, encarado individualmente.Não poderá existir maior engano. A vida é fruto das circunstâncias e o meio ambiente é fundamental na sua percepção. Se existem pais que abandonam os filhos por umas horas, porque se vão instalar a ver televisão num qualquer café rasca de um qualquer bairro degradado é, precisamente, porque foram inseridos e vivem num ambiente onde a dignidade humana foi reduzida ao zero, onde a consciência se perde e os valores não existem. A assistência social é um mito, o País votou-os ao esquecimento porque não apresentam condições económicas consideradas mínimas para serem consideradas como pessoas. Não interessam nem são interessantes, não decidem eleições (nem sequer votam).
Insiste-se na construção de bairros de realojamento que ab initio são guetos, para guardar esta miséria toda junta, longe dos outros olhares (longe da vista, longe do coração).
Os valores que contam são estipulados pelo preço do metro quadrado dos terrenos e da habitação. Misturar portugueses de condições sociais variadas é um mau negócio para os construtores civis, para as Camaras Municipais, enfim, para todos os agentes envolvidos.
Entende-se então e dá-se como bom o princípio que uns têm direito a uma vida normal e que outros nem tanto. Depois, para apaziguar consciências, basta dizer, com convicção: coitados tiveram azar!
A mim não me basta esta justificação. Quero outras: quero saber porque razão é voz corrente que nas adjudicações públicas os bens transaccionados custam 3 a 4 vezes mais o seu valôr de mercado; porque razão cada vez que muda um governo se trocam os automóveis e se redecoram os gabinetes; porque razão é tão difícil para uns arranjar o primeiro emprego ou manter o que têm e para outros essa dificuldade não existe; porque razão a saúde e a educação não chegam a todos de igual modo e idênticas condições.
Adorava saber porque raio numa sociedade dita democrática não nascem todos iguais e ninguém com responsabilidades parece preocupar-se um chavo com isso.
O que é Portugal hoje? Um País? Um cabaret? Um antro de medíocres e psicopatas? Uma associação de malfeitores?
Não sei ou não quero responder, mas uma coisa sei: este não é o meu País, não o reconheço!

19.1.06

AS PALAVRAS

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

(Eugénio de Andrade)


Bernhard Vogel

Estaremos tão perto de uma vitória à primeira, como da necessidade de uma segunda volta

É definitivo. O sentimento sobre as eleições presidenciais é generalizado, transversal na sociedade portuguesa e não limitado a cliques intelectuais ou sofisticadas: nenhum dos candidatos é julgado conveniente, portador de qualidades que justifiquem a sua nomeação como futuro Presidente da República. Assim, os que votam fá-lo-ão pelo princípio do mal menor ou do menos mau. No fim, seja qual fôr o resultado, muitos sentir-se-ão insatisfeitos, mesmo ganhando o "seu" candidato.
~
Mas que resultados esperar ao final da tarde do próximo Domingo? Sinceramente a resposta é quase impossível de dar, mesmo que alicerçada em sondagens, porque estas tratam estatísticamente as respostas apuradas e partem, obrigatóriamente, de determinados pressupostos, como por exemplo o eleitorado base de cada partido, a massa flutuante de eleitores que umas vezes dá a vitória ao PS e outras ao PSD e ainda os indecisos. E depois repartem estes números de acorodo com os dados coligidos e as experiências passadas.
~
Só que estas eleições são diferentes, atípicas. Não é relevante se a esquerda ganha ou se a direita é a mais votada. Essa dicotomia não existe nestas eleições e tende a desaparecer totalmente nesta democracia à portuguesa. Os eleitores estão cansados dos partidos, dos políticos e desejam, diria mesmo que anseiam, uma mudança na vida económica e social do País e que se sintam ventos de mudança claros, de que o País tem soluções para progredir e, ainda mais importante, que se torna um País governável, coisa que não acontece desde 1980.
Tem sido um erro situar os candidatos num plano ideológico de esquerda e direita. Por um lado os candidatos excluem-se da hipótese de serem um presidente para todos os portugueses, por outro transformam estas eleições em eleições partidárias e essa perspectiva não tem cabimento nas actuais eleições. Cavaco tem estado bem nessa perspectiva desde o início; Alegre começou a perceber o fenómeno há pouco tempo, retirando do discurso político, gradualmente, as alusões constantes à esquerda e demarcando-se do PS, ao mesmo tempo que pretende, aplicando um enorme esforço discursivo, a colagem de Cavaco ao PSD e CDS.
~
Por isso se torna exercício penoso dizer onde acaba o eleitorado de um candidato e começa o de outro. Mesmo Cavaco Silva tem essa dificuldade, porque nem todo o eleitorado PSD/CDS vota Cavaco e, provávelmente, algum eleitorado que votou PS nas legislativas irá votar Cavaco agora.
Estará Cavaco folgado? Não! Cavaco está à justa. Se ganhar à primeira volta será por poucos.
E se fôr empurrado para uma segunda volta perde as eleições? Igualmente não é certo, pois seja Soares ou Alegre o oponente, por uma razão ou outra podem não conseguir congregar todos os votos do eleitorado dito de esquerda, nem que seja por guerrilhas partidárias ou ódios intestinos.
~
É então impossível afirmar com segurança qual o resultado expectável para Domingo.
Mas como o comentário e epensamento político implica riscos, correrei os meus ao colocar a hipótese de Cavaco Silva não ganhar à primeira. Vai-lhe fugir eleitorado natural e tem muitos candidatos à sua esquerda.
Passando à segunda volta vai ter por companhia Alegre, que paradoxalmente vai capitalizar alguns dos votos naturais de Cavaco. E depois, provávelmente, ganha as eleições na segunda volta.
~
Entretanto o PS, em seis meses, termina o consulado da família Soares no partido. O filho João foi enterrado políticamente em Sintra, a nível local - não tinha dimensão de estadista, não mereceu honrarias de estado - o pai Mário vai ser enterrado a nível nacional - sempre foi um (péssimo) primeiro-ministro e Presidente da República - justificando a dimensão do enterro político pela dimensão das aleivosias políticas que todos testemunhámos, pelo menos os que não tendo memória curta e sentindo-se portugueses analisam os acontecimentos políticos à luz dos interesses nacionais.

12.1.06

Bom Dia
























Mike Bernard

Pedro Santana Lopes adiantado 5 anos....ou não.

Imagino o que se esteja já a escrever e a dizer a propósito das declarações de PSL. Acresce o aproveitamento político que as candidaturas de esquerda não deixaram de fazer das palavras proferidas pelo enfant terrible do PPD/PSD.
Revanchismo será o mínimo que se escutará. E até pode ser que sim, que tenha sido por révanche ou pela necessidade imperiosa de aparecer, de falar, de ser polémico. Dêem um caixote de fruta para onde possa subir e uma qualquer praça do País a PSL e ele faz um comício, cheio de gente arrebatada no final.
Pedro Santana Lopes (PSL) é assim.
~
Mas também não deixa de ser verdade que Cavaco Silva tem dito que se candidata para mudar as coisas, para ajudar o executivo, para ajudar Portugal a ultrapassar a crise. Só não se percebe como, sendo os poderes do Presidente de alguma forma exíguos. Claro que Cavaco Silva ainda se lembra de Mário Soares, de como este lhe fez a vida negra, como reiteradamente emperrou a acção governativa.
Não acredito que esse seja o caminho escolhido para exercer a presidência por parte de Cavaco Silva nem o seu estilo. Mas não sendo esse o estilo e não indo igualmente de encontro à capacidade de dissolução da Assembleia da República, mais que não seja por manifesta ausência de legitimidade democrática, não se percebe que muito mais poderá Cavaco Silva fazer face a um executivo socialista.
Aqui Santana Lopes parece querer aludir, nas entrelinhas, à boa e à má moeda, aos políticos que prometem mas são incapazes de cumprir, ou cumprindo acarretam, forçosamente, problemas para a estabilidade governativa do País, o mesmo é dizer, problemas ao nível económico, político e social. É uma bicada, provávelmente merecida, porque Cavaco Silva quis capitalizar votos e promover o distanciamento do PSD usando Santana Lopes para custear as despesas.
~
Mais! Quando falamos de Cavaco e Sócrates falamos de dois galos e cada um à sua maneira não deixará de tentar impôr a sua presença, ou melhor omnipresença, a todos os portugueses, tudo indiciando focos de potenciais guerras institucionais.
Mas não acredito na tese dos conflitos institucionais e, como tal, não subscrevo as afirmações de PSL - muito embora concorde que as afirmações de Cavaco Silva, em campanha, possam conduzir a leituras de potenciais situações conflituais.
Creio que na pior das hipóteses assistiremos a guerrilhas e golpitos palacianos, mas nada do outro mundo, ou pelo menos que não se tenha passado já no nosso mundo político-institucional.
~
Afirmava eu que não acredito nesse pressuposto, no confronto institucional aberto e a base de sustentação dessa presunção tem tão de simples como de verdadeira: caso Cavaco Silva seja eleito no dia 22, vai querer fazer os dois mandatos e, mutatis mutantis, se quiser ser "enxertado num corno" para com um primeiro-ministro sê-lo-á no seu segundo mandato. Também aí Cavaco Silva terá aprendido com Soares e mais recentemente com Sampaio.
~
A menos que PSL estivesse a pensar nesse 2º mandato; assim sendo e para ter razão, deveria ter esperado 5 anos para proferir as mesmíssimas afirmações.
Ou então a intenção de Santana Lopes era mesmo dar a bicada e para dar uma bicada, esta bicada, políticamente era esta a altura.

11.1.06

Bom Dia















Franz Unterberger
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SOBE O PANO

Onde se solta estrangulado grito
Humaniza-se a vida e sobe o pano.
Chegam aparições dóceis ao rito
Vindas do fosso mais fundo do humano.

Ilumina-se a cena e é soberano,
no palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia? É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?

É o teatro: a magia que descobre
O rosto que a cara do homem cobre,
E reflectidos no teu espelho - o actor -

Os teus fantasmas levam-te para onde
O tempo puro que te corresponde
Entre horas ardidas está em flor.

(Natália Correia)

10.1.06





[Nº3] Residência dos Surrealistas Posted by Picasa

The Lovers



















Eileen Agar, 1933 Posted by Picasa


Eileen Agar fotografada por Cecil Beaton em 1927

Os tontos da nossa política e a política de todas as tonterias...

Manuel Pinho afirmou no Parlamento não haver conflitos de interesses entre a EDP e a Iberdrola. Não há senão outra coisa. Quem quer o ministro - dizem-me que muito fraquinho; que convoca assessores e presidentes de instituições públicas para reuniões quase diárias, sem agenda e sem que, no final, alguém tenha percebido porque esteve presente e a fazer o quê - enganar?
DEpois ainda afirma que não merece a pena fazer o discurso do gato escondido com o rabo de fora. Porque, afirma o senhor, se alguém tem alguma prova de que algo de anormal se passa na relação com a Iberdrola e o governo socialista (presente e passado) e os interesses nacionais, que a apresente, que não se acanhe. O tom foi desafiador, mas dito assim faz-me lembrar as fugas para a frente, e muito provávelmente o que teremos é rabo escondido com gato de fora - aqui o gato é claramente Pina Moura e o rabo o ministério que exerceu.
Parece inequívoco o conflito de interesses. É claramente inequívoco o prejuízo imenso que resulta para os interesses nacionais da cedência feita à Iberdrola pelo governo, que uma vez mais age directamente na gestão da empresa, contra as mais elementares regras de actuação de um executivo, em função de uma empresa de capitais mistos e do sector energético, que como já afirmámos anteriormente, se deveria pautar por um papel mais regulador e menos interventivo ao nível da gestão.
Não será dispiciendo relembrar que a relação entre a EDP e a Iberdrola entornou o caldo na altura em que foi anunciada a fusão entre a Iberdrola e a Endesa.
A parceria abortou pela ausência de comunicação entre as duas empresas, pela constatação clara que a estratégia de uma não era compatível com os objectivos estratégicos da outra.
Nem rateando os mercados.

Soares já interiorizou a derrota....perante Cavaco e Alegre

Soares não está descrente. Soares de facto já não acredita nem sequer na hipóteses de ser o 2º mais votado. Só assim se compreendem lapsus linguae constantes, onde se encontram e mesmo se enfatizam sinais claros da derrota, não como 2º mas 3º candidato mais votado.

O que eles dizem...

António Costa defende o seguinte princípio: os portugueses não deverão dar a vitória na 1ª volta a um candidato que já sabem que perde, se houver 2ªvolta.
Este princípio foi enunciado logo a seguir a um jantar de apoio à candidatura de Mário Soares.

5.1.06

Notícias de Angola...
























O assunto não é novo. A novidade é que desta feita é referido num semanário angolano "Angolense", do qual se reproduz fac-simile da 1ª página da semana de 5 a 12 de Novembro de 2005, onde merece especial realce uma passagem na pág. 24 deste jornal, sob o título "O que eles disseram". Passamos a referir :

"""Após a última reunião secreta com os camaradas do PCP resolvemos aconselhar-vos a pôr em execução imediata a segunda fase do plano. Dê, por isso, instruções aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando a fim de provocar a sua debandada de Angola".
Rosa Coutinho, Alto Comissário para Angola, em carta dirigida antes da independência ao Presidente Agostinho Neto
.
Afinal, a arruaça foi encomendada por Lisboa..."

Quando um orgão de informação angolano reproduz uma passagem de uma carta, datada de 22 de Dezembrode 1974 em Novembro de 2005, está a pretender passar uma mensagem em relação à história recente dos dois países. Ainda mais se o faz num número dedicado aos 30 anos de independência de Angola.
O problema da História, o mais das vezes, é que só se consegue fazer quando os intervenientes directos já não estão vivos. Por outro lado, este pequeno óbice implica um enorme handicap. É que nunca se sabe se a história feita está correcta ou padece de imprecisões acrescidas de fábulas, boatos e boas-vontades.
Mas a História também pode ser feita em vida, através do julgamento das acções daqueles que nela participaram activamente. É uma outra forma de fazer História.

Quando, a propósito dos 25 anos do assassinato de Sá Carneiro e Amaro da Costa, são entrevistadas algumas personalidades e personulidades, Ramalho Eanes refere que Sá Carneiro era um político muito vivo e inteligente e, por isso, perigoso, apetece perguntar: perigoso porquê e para quem? E será por isso que a história de Camarate ainda não se fez?

Conhecer os factos, mesmo sem neles ter participado directa ou indirectamente e manter o silêncio prefigura encobrimento, e a fronteira entre o encobrimento e a cumplicidade é muito ténue.
Espero que muitas das figuras que ainda respeitamos políticamente não sejam portadoras de verdades que mesmo muito indigestas deverão ser, obrigatóriamente, do conhecimento de todos, sob pena dessas figuras políticas se verem cair no descrédito, caso um dia a História se faça de uma forma séria, mesmo que seja iniciada de fora para dentro.
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4.1.06



Neil Faulkner

Ai, Soares, Soares....

Mário Soares afirma perante as cameras da RTP1, a propósito do caso EDP/Iberdrola, que a vinda de capitais estrangeiros (privados) para Portugal é positivo e, como tal, bom para o País. Em abstracto, claro, como ajuntou de imediato.
Quando se fala em capital não existe abstração.
Quando se fala em capital fala-se em dinheiro e o dinheiro não é nem nunca foi abstracto, nem as consequências da sua posse e utilização o são. Dependendo das origens e dos interesses, a vinda de capital poderá ser ou não benéfica. Mas ninguém espera que Mário Soares entenda estas coisas, quando não entende outras mais simples. Querem um exemplo?
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Na mesma situação e ainda perante as cameras da RTP1, Soares queixou-se da falta de cobertura que a estação de Carnaxide atribui à sua campanha, por comparação com a evidência que é atribuída à campanha de Cavaco Silva.
Acontece que a SIC é detida por capitais privados e, assim sendo, é livre de estabelecer os seus próprios critérios de selecção e passagem da informação nos boletins noticiosos, desde que não atente contra a ética, a moral e lei públicas, não precisando de ser isenta na informação que presta. As audiências mostrarão na prática se a linha editorial da estação está certa ou errada (caso as taxas de audiências sejam fiáveis, o que duvido).
Caso contrário sucede com a RTP1, que por ser uma estação pública, paga por todos nós, deverá primar pela isenção.
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Como se verifica, o Dr. Soares defende a entrada de capitais privados em Portugal, mas depois pretende ser criticável a actuação desses capitais, quando o seu comportamento é, supostamente, conflituante com os seus interesses.
A nível político e económico, Dr. Soares, é a issso que se chama a transferência dos centros de decisão, porque impedem que o País se defenda e veja os seus interesses defendidos nacional e internacionalmente.
Quando se fala de energia pior ainda, pelo que todo o cuidado é pouco nestas matérias.
Sol na eira e chuva no nabal.....era bom, era, mas não existe.

Salvem a EDP

A existência de um parceiro financeiro, a CajAstur, muito embora espanhol, prefigura o parceiro ideal para a EDP - a tecnologia é portuguesa; os activos financeiros do parceiro financeiro local - por inexistência de objectivos conflituantes.
O problema com a Iberdrola coloca-se ao nível do controle operacional. Qualquer aliança internacional só é interessante para a EDP se esta detiver o controle operacional completo (leading partner). O atingir dos objectivos pressupõe saber fazer e fazer como se sabe, sendo certo que a obtenção de consensos em matéria de gestão, quando estão envolvidos parceiros tecnológicos é muito difícil de obter, senão impossível, por cada um querer fazer à sua maneira.
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Quando o mercado europeu é liberalizado em 2000, a estratégia de diversificação de negócios da EDP sofre uma inflexão, passando o mercado europeu, em particular o espanhol, a assumir contornos de grande importância na estratégia de diversificação de mercados. Para além do mais Espanha pode ser considerada como uma extensão do mercado natural da EDP.
A tendência actual é verdadeiramente essa: a criação de mercados regionais europeus de energia.
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No futuro mercado europeu deverão existir sómente 5 players, a saber: 1 francês; 1 italiano; 1 espanhol e 2 alemães. A questão coloca-se então, caso não haja retrocesso no aprofundamento económico da UE, em esperar para ver quais as famílias que se criam e, posteriormente, juntar a EDP a uma das famílias criadas dentro da lógica do mercado europeu.
Retirar protagonismo à EDP, neste momento, é retirar-lhe veleidades de poder escolher, subjugando-a de imediato a interesses espanhóis e reduzindo-lhe a expressão e posição negociais para perto do zero.
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Acresce que a Iberdrola aparece como parceira da EDP por iniciativa do accionista Estado, que tem demonstrado uma inusitada veia interventiva ao nível da gestão (evidenciada por demais no consulado de Pina Moura), , ao invés do papel de agente regulador que lhe caberia que nem uma luva e que seria o seu papel natural.
Por outro lado não é menos de estranhar que a parceria com a Iberdrola seja defendida por um ministro à altura, que se vem a verificar posterior e públicamente tratar-se do braço armado da empresa espanhola em Portugal. É claro o conflito de interesses e nada clara a política de gestão estratégica para a EDP.
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A substituição da actual administração, que demonstrou ter ideias claras e de defesa dos interesses nacionais, olhados na perspectiva do tabuleiro estratégico energético europeu só nos poderá deixar apreensivos quanto às verdadeiras razões da sua substituição e dos interesses que estão em jogo.
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Cúm raio. Pelo menos deixem-nos perceber como vai a economia europeia nos próximos anos; se a tendência de criação de famílias energéticas é um facto e, por fim, qual dessas famílias se torna mais interessante para a nossa EDP. Estar a casar a empresa, sem dote, com um parceiro espanhol só poderá interessar a este, em ganhos de posição no mercado e de masssa crítica para as futuras negociações e alianças energéticas na Europa.
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Ou será que esta parceria é tão boa, como era a outra que se preparava para ser estabelecida entre a TAP e a Swissair? A segunda já falíu, a primeira ainda mexe, mas parece que alguém se preparava para tentar salvar a segunda através da hipoteca do futuro da primeira.
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Há 30 anos que nos andamos a hipotecar para fazer jeitos a terceiros, sejam eles privados ou institucionais. Eu digo que chega, que já considero demais!

2.1.06




















Mike Bernard

Lérias de Jornalistas vendidos à Nomenklatura

Passaram ontem 20 anos sobre a adesão de Portugal à CEE, hoje UE.
A notícia foi dada com pompa na RTP1, mostrando Soares a assinar a adesão afirmando-se em simultâneo, através de um discurso entusiasmado e de algumas imagens dispersas que nada mostravam, que o País mudou drásticamente nesse período, apontando como exemplos possíveis de aferição das mudanças profundas várias situações, algumas das quais que passo a destacar: 1) quase 750.000 portugueses trabalhavam na lavoura - o denominado sector primário da economia - trabalhando hoje nesse sector pouco menos de metade; os electrodomésticos eram um luxo acessível só a alguns, estando hoje perfeitamente massificados; do Porto a Faro demoravam-se 10 horas, demorando-se hoje cerca de 6 horas.
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A última afirmação proferida seria a única que poderia prefigurar uma alteração substancial no panorama económico e social nacional, caso tivesse contribuído, com o encurtar das distâncias, para uma real e eficaz política de melhoramento das assimetrias regionais e um aumento decisivo na produtividade nacional. Como se sabe nem uma coisa nem outra aconteceram e, de facto, a única verdade é que as redes de estradas só foram possíveis graças aos subsídios europeus, caso contrário com os dinheiros nacionais tal emprendimento seria impossível, depois da desbunda e delapidação da riqueza nacional após o 25 de Abril de 1974.
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As duas primeiras premissas, supostamente sustentadoras do princípio das alterações profundas acontecidas em Portugal em virtude da adesão à CEE são veiculadoras, isso sim, da má performance portuguesa no panorama económico europeu. Se por um lado o acesso a bens de consumo, como o caso dos electrodomésticos, registou um incremento, tal facto ficou a dever-se à enorme baixa no custo de produção dos mesmos tornando-os financeiramente mais acessíveis, não sendo este factor demonstrativo de nenhuma evolução da economia portuguesa porque Portugal não fabrica frigoríficos nem máquinas de lavar e, igualmente, porque não deriva de um crescimento real do produto nacional e a uma consequente melhoria das condições económicas das famílias portuguesas mas, fundamentalmente, a um aumento que hoje se considera muito preocupante do endividamento das famílias, criado pela facilidade de aceder a crédito, que na última análise efectuada representava cerca de 112% dos rendimentos reais auferidos, ou por outras palavras, nos dizia que vivemos todos muito acima das nossas posses.
Por outro lado, a redução de cerca de 400.000 postos de trabalho no sector primário não significou nenhum aumento de produtividade e consequente redução da mão-obra necessária, fruto de um processo de mecanização e automação de processos, mas sim o fim do sector agrícola em Portugal. Este sector está há muito enterrado.
Igualmente o facto de existirem hoje em Portugal 500.000 desempregados e de o número estar longe de ter estabilizado, significa claramente que nem o sector secundário - a indústria - teve capacidade de absorção da mão-obra libertada na destruição do sector agrícola, mostrando, bem pelo contrário, uma idêntica tendência para o suicídio, como mostra à evidência que o sector terciário - os serviços - está esgotado e igualmente sem capacidade de criação de postos de trabalho, facto natural porque este sector económico sofre fortíssimas influências dos dois primeiros. Se estes são quase inexistentes (uma vez mais peço que olhem para o PSI20 e descortinem as empresas industriais que aí subsistem, perto do avassalador número de empresas prestadoras de serviços) não é possível pedir milagres ao terciário.
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Assim, verifica-se que as verbas canalisadas via CEE e UE têm tido uma aplicação praticamente nula, com efeitos práticos desastrosos pela atitude e mentalidade despesista que vieram criar no comportamento político nacional, não deixando Portugal de cohabitar com os países mais pobres da Europa. A responsabilçidade cabe quase por inteiro, curiosamente, a dois candidatos presidencias em 2006: Mário Soares e Cavaco Silva e, em muito menor grau, a A. Guterres e D. Barroso.
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Eu, por mim, dispensava as auto-estradas e trocava todas elas pela miséria que se vê nos campos e nas cidades deste País. Preferia demorar 10 horas de automóvel do Porto a Faro, ou outras tantas de comboio e nem sequer ter carro, a saber que há concidadãos que não têm as condições mínimas de vida que a dignidade humana existe.
E depois, algum de nós acredita que todos os pensionistas que recebem neste país um valor mensal situado entre os 25 e os 50 contos têm acesso a máquinas de lavar e de secar, fornos, micro-ondas e televisões? Ou será que estes bens mais as 6 horas de viagem para ir de banhos ao Algarve não continuam a ser um benefício só para alguns?
VOTOS DE UM EXCELENTE 2006 PARA TODOS.