30.11.04

Eleições Antecipadas
O PR decidiu-se por eleições antecipadas.
Multiplicam-se os comentários políticos. José manuel Fernandes, director do "Público" afirmava, em cima da hora, que caso se tenha verificado algum facto desconhecido ou caso a solução apresentada por PSL não tenha de todo sido aceite por JS, só mesmo a perca de credibilidade e erosão política de PSL e do seu Governo justificaria esta decisão, visto nada se ter alterado nos últimos 4 meses, espaço de tempo que medeou entre a decisão de empossar o Executivo e, agora, a marcação de eleições antecipadas.
Vê mal o problema José Manuel Fernandes. Duas únicas razões justificam a decisão agora tomada pelo PR:

  • falta de traquejo em funções governativas de PSL e que 4 meses se mostraram insuficientes para debelar, ademais quando sofre enormes pressões dentro do próprio PSD e, mais importante ainda
  • o PS 4 meses atrás não dispunha de uma liderança credível e seria um derrotado certo em eleições antecipadas. Hoje continua a não ter uma direcção credível mas goza do CAPITAL DA MUDANÇA e, nessas condições, tem muito maiores probabilidades de ter uma votação melhor sucedida do que teria quando este Governo foi empossado.

Há muito tempo que não se viam tantas sondagens em tão pouco espaço de tempo. E são caras as sondagens.

É de facto o "Regresso do Filho Pródigo" como antevia, para quem quis "ler" José A. Saraiva.


Razoabilidade Procura-se
Demitiu-se o Ministro do Desporto, Dr. Henrique Chaves. Baseou a sua decisão na falta de lealdade e solidariedade que sentiu. Simultaneamente apontou discrepancias no funcionamento do próprio governo.
O Dr. Henrique Chaves esteve no governo de Portugal por ser amigo chegado do Dr. Pedro Santana Lopes e homem da sua confiança. Só essa condição lhe permitiu chegar a Ministro, pois que a condição de militante do PSD, por si só, é insuficiente para justificar a escolha e, por outro lado, não se lhe reconhecem competencias específicas que o alcandorassem a uma lista de possíveis ministeriáveis, pelo que só mesmo aquela condição de homem de confiança justifica a escolha. Como justifica a manutenção do Dr. Gomes da Silva no Governo.
A este propósito há que referir ter perdido Gomes da Silva uma oportunidade única de emendar a mão e salvaguardar-se a si e ao Governo, se tem atempadamente pedido a sua própria demissão. Não que um Ministro deva cair porque um comentador político,chame-se ou não Marcelo Rebelo de Sousa, se demite de uma estação de televisão privada, com um núcleo accionista variado e cujas decisões de manutenção de colaboradores são e deverão sempre ser da estrita competencia do Conselho de Administração, independentemente de estarmos a falar de meios de comunicação social. Caberá à opinião pública decidir da tendencia do centeúdo informativo e de acordo com o interesse que manifestar, assim o sucesso do órgão de comunicação em causa será avaliado, repercurtindo-se de imediato nas receitas, o mesmo é dizer, nos resultados de exploração apresentados aos accionistas, decidindo estes, em última análise, pela boa ou má condução da empresa pelo CA e da oportunidade da sua substituição.
Aproveitou o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa para capitalizar a inépcia do Ministro, a abertura do PR para o receber - aproveitando Jorge Sampaio para mostrar que de facto não é presidente de todos os portugueses, mas tão sómente dos que se identificam política e ideológicamente com o PS - e do 1º Ministro que não quis mexer no executivo tão pouco tempo após a sua posse, demonstrando também, em simulâneo, a sua solidariedade para com um amigo de longa data. E tinha bastado a Gomes da Silva dizer que os comentários políticos de MRS não podiam ser levados a sério por este se encontrar excepcionalmente ocupado, semanalmente, com a leitura de cerca de 40 livros. Era uma resposta possível a um conjunto de "bocas" políticas ditas num canal de televisão, mesmo que estas fizessem sentido. Faltou humor e traquejo ao Ministro e, depois, senso comum e sentido de oportunidade.
Como respondeu, então, Henrique Chaves à confiança nele depositada por um amigo e à responsabilidade de ser nomeado Ministro.
Respondeu mal. Henrique Chaves não percebeu que não tinha perfil de Ministro. Em condições normais não faria parte de nenhuma lista dos 1.000 primeiros nomes ministeriáveis. A pasta que recebeu não tem importancia num País carente das condições mais básicas exigíveis numa economia ocidental. Falta mais saúde, falta mais educação, faltam meios de produção, falta uma justiça credível, uma máquina estatal eficiente, falta confiança económica, falta o poder político, faltam ideias políticas, falta muita coisa.
Sobram políticos incapazes, com visão de curtíssimo prazo, discursos vazios de sentido e conteúdo, oportunismo.
Henrique Chaves não gostou da pasta que lhe atribuíram, das funções que teria de exercer. Considerou-as menores, agora que as incumbências que lhe cabiam tinham sido reduzidas.
Usou a deslealdade como argumento, a falta de transparencia como argumento e tudo isso fez, na procura de visibilidade e de achincalhar aqueles com quem tinha privado - todo um governo.
Ser Ministro do Desporto não dá visibilidade. Tentou, então, usar a mesma arma de MRS, criar um facto político e capitalizar. Lembrou-se, talvez, dos três dias do Prof A. Oliveira Salazar. Bateu com a porta, dizendo que não havia condições para trabalhar. Não parou para pensar se a sua saída era de facto crucial para o funcionamento do Governo. Não é crucial, nem para este nem para nenhum. Não é o Dr. Henrique Chaves nem é a pasta do desporto, enquanto subsistirem em Portugal lacunas tão graves e básicas na esfera social e humana.
Henrique Chaves pensou sim e bem, que ao actual PR só interessa capitalizar forças para o PS, dar-lhe argumentos para o discurso político, alimentar a falta de ideias existente, criar factos políticos tendo em vista futuras eleições, que aos "media" faltam conteúdos e que estes fazem de tudo para encher os seus telejornais ou as suas páginas.
Só assim se justifica que o PR tenha chamado de urgência o PM a Belém para falar da suposta crise governativa. Como se algum País letrado entrasse numa convulsão política governativa porque o Ministro do Desporto tivesse decidido sair de funções - creio mesmo que estas funções só deverão existir em Países ricos, onde os dinheiros públicos permitam acréscimos de custos de funcionamento da máquina estatal - inculpando colegas de governação de falta de lealdade e transparencia.
Desleal e opaco foi o Dr. Henrique Chaves para com os seus pares e, particularmente, para com o PM.
Leal, talvez em demasia, tem sido o PM, ao tentar manter em funções Gomes da Silva e simultaneamente justificar a permanencia de membros na Administração Central com funções práticamente esvaziadas de conteúdo. Tudo em nome da amizade, da lealdade que os amigos nos merecem.
Talvez porque Pedro Santana Lopes segue o seguinte princípio: teu amigo não é aquele que te visita na "prisão" mas sim aquele que por estar ao teu lado também lá foi parar.