31.5.11

As cartas falsas

Já vão em 4.000 as cartas passadas indevidamente pela DGV (agora IMTT).
Dizem que são falsas, mas na realidade são verdadeiras; foram passadas indevidamente, a troco de dinheiro, a quem não estava habilitado a conduzir.
Mas, no meio de mais uma história triste da nossa triste sociedade, falta informação: casar os acidentes inexplicáveis, como circular nas auto-estradas em contra-mão e outras bizarrias, com os detentores de licenças de condução compradas através de corrupção. Porque o estado foi lesto a culpar a idade, a alterar o código com novas datas para renovações de licença de condução, com juntas médicas e houve até quem sugerisse que se deveria deixar de ter carta depois dos 80 anos. Asnos, todos.
Agora, devem ser casados todos esses acidentes estranhos e outros igualmente graves, com os condutores a circularem indevida e abusivamente, para se aferir da relevância do acto criminoso, com as mortes criminosas resultantes.
É fácil arranjar desculpas e obrigar os contribuintes a gastarem tempo e dinheiro com processos burocráticos, admitindo em simultâneo uma diferença abusiva de tratamento de acordo com a idade do cidadão, como se idade fosse doença, e não procurar mais fundo, não ir ao cerne da questão: a sociedade que está podre e precisa de ser limpa.
Tem de ser tirada a limpo a relação entre os factos.

30.5.11

Já cheira a reestruturação (para já grega)....

Grécia: privatizar até 2013 e alterar condições de pagamento dos títulos de dívida grega aos credores particulares.
As privatizações já faziam parte do pacote. A novidade está na reestruturação, a que se chama alteração das condições de pagamento. Agora só falta (dêem mais algum tempo) reestruturar e reduzir o montante em dívida, em simultâneo.

27.5.11

Adorava....

Adorava saber como é que Portugal vai fazer face ao desafio da dívida pública, com taxa de juro anual média superior a 6% e crescimento negativo da economia. Adorava saber quando é que a economia portuguesa vai crescer a 3%, quanto mais a 6,8% (e mesmo assim, a 6,8%, só daria para os juros e nunca para amortizar capital).
Adorava saber em que medida estamos melhor que a Grécia, quando a troika afirma que o problema de Portugal é diferente daquele país, porque na Grécia o problema é orçamental e em Portugal é estrutural: toda a economia está alavancada, especialmente o sector financeiro.
Adorava saber como é que, seguindo o plano da troika, saímos da situação de desespero em que nos encontramos.
Adorava saber.

P.S. Já agora - e penso que não é pedir demais - gostava que não nos tratassem como analfabetos e incompetentes, mesmo sabendo que a grande maioria o é. A diferença é que assim, tratados assim, os que são nunca mais deixarão de o ser.

26.5.11

Doutores, jargões, perigos....

Perguntar se é possível os actores políticos não verem o que é por demais evidente, é uma permanente perca de tempo. Não vêem, ponto final.
O que se perfila no seu (curto) horizonte é um misto de medo e irresponsabilidade; aquele impede o discernimento e este apela à passividade.
Não encarar a realidade económica é relegar o país para secundaríssimo plano, e renegar o direito à acção. É aceitar como bom todo e qualquer instrumento de política económica, desde que venha de fora, porque permite a enorme desculpa da imposição, sem cuidar da sua validade.
O ciclo vicioso em que nos encontramos e para o qual a Europa também caminha, não aproveita a ninguém. Claro que uns (portugueses, irlandeses, gregos) acrescidos de possíveis outros (italianos e belgas) e ainda islandeses, sofrerão e muito. Mas todos os outros, sem excepção, terão de pagar o seu quinhão. Se os mercados diminuírem à velocidade da erosão económica - o que sucederá - vende-se o quê a quem? E compra-se onde e a que preço? Porque a Europa não se basta a si própria. E, depois, ainda temos o Leste, a Turquia, o Magrebe, o empobrecimento do médio-oriente e de África.
O caminho seguido pela Europa, a fixação da acção económica no aumento da carga fiscal, conduz inevitavelmente a uma perca de poder de compra, e esta perca de poder de compra espalha-se por todo o mundo, porque é o mundo em si mesmo que se vai contraindo, através da contracção das economias europeias, por via de taxas de juro baixas, que conduzem à desvalorização das moedas (no caso europeu o euro) e porque a recuperação, em parte, desta contracção económica na balança comercial, contagia negativamente todos os outros países no mundo. Por outras palavras, podemos estar a entrar num problema muito mais sério e não a sair de outro problema, já de si sério.
Creio que há muitos doutorados, cheios de jargões, que opinam muito, em muito lado, que de economia na realidade não pescam nada.

25.5.11

Vai ser necessário reestruturar

Um excerto de um artigo de opinião de Paul Krugman no New York Times, publicado hoje por um jornal nacional, afirma o evidente: Portugal não conseguirá honrar os seus compromissos.
Para ler aqui.
Nada que já não tenha sido escrito neste blogue dezenas de vezes, mas como Krugman também eu tenho a certeza que não é o bom senso que governa o mundo.

19.5.11

Falta sempre o fundamental: orgulho e noção de valor extrinseco.....

Foi uma final histórica para o futebol nacional.
Aos olhos de milhões (essencialmente europeus), ontem estava representado o país futebolístico, o país de reconhecidas capacidades técnico-tácticas, o país que tendo orçamentos baixos nos seus clubes consegue atingir patamares de excelencia. Estava representada uma capacidade de: gerar técnicos de futebol de valor mundial; organizar clubes e consolidar modelos de gestão de sucesso; utilizando parcos recursos atingir patamares elevados de valor acrescentado.
Tudo isto esteve representado. Tudo menos a capacidade de utilizar os momentos, ímpares ou não, como arma de propaganda e marketing nacional. Não ver uam bandeira portuguesa envergada por qualquer um dos elementos das duas equipas foi confrangedor, mas ainda mais confrangedor foi assistir à autorização dada pelos dirigentes para que, os seus assalariados, pagos com fundos gerados em Portugal com contratos de trabalho regidos pela lei portuguesa, usurpassem a imagem de uma final portuguesa, com bandeiras dos respectivos países.
Os clubes podem ser "sociedade de nações" no conjunto de atletas que os representam, para dentro de si mesmos, mas para o exterior os clubes representam sempre os países de onde são oriundos. Todos os seus atletas deveriam ter sido cobertos com bandeiras portuguesas, vencedores e vencidos e, assim, passar uma imagem de um Portugal presente, mesmo nos maus momentos, mas sempre presente e mostrarmos que somos os primeiros a acreditar nas nossas capacidades e a orgulharmo-nos de quem somos, de onde vimos e para onde vamos.
Existem culpas e culpados: primeiro, a tacanhez da incapacidade de percepcionar a importância do momento; segundo, a falta de visão estratégica dos dirigentes máximos dos dois clubes; terceiro, o provincianismo de que deram mostras. mas há igualmente responsabilidades da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), por não antecipar a importância do momento e não contribuir para a exaltação da imagem nacional, por excelência, a nossa bandeira. Por último, a enorme falta de sentido de estado do Secretário de Estado do Desporto, por não antecipar as enormes vantagens de projectar, em momento tão difícil para Portugal, a imagem do país e, conjuntamente com a FPF e os clubes, terem transformado a final da Liga Europa numa enorme mancha das cores nacionais.
Por estas e por outras é que perdemos a American Cup para Valencia (Espanha) e agora a Ryder Cup para a França. Porque tudo o que fazemos é feito "em cima do joelho" e não há chama, chispa, brio nacional.
Imaginem esta final entre clubes espanhóis..........pois......

12.5.11

O pior Chiado numa abandonada Av. da Liberdade...ou a machadada final...

Av. da Liberdade, Lisboa.
Passear na Avenida da Liberdade é um suplício. Os lojistas têm-se multiplicado em abrir espaços amplos, cuidados, mono-marca e o local da cidade que estaria obrigado a ser um passeio público de qualidade, perde-se nos arrumadores-moedinhas, na miséria de quem tem de esmolar, naqueles que por lá vagueiam sem que ninguém se interesse pelo seu modo de vida: o que fazem, como passam o tempo, o que procuram. Além disto, também a Avenida da Liberdade é um coio de lixo: as obras constantes, a irresponsabilidade dos construtores/remodeladores, a ausência de fiscalização, fazem com que a artéria tenha um aspecto medonho, de dia; imagine-se então de noite. Por um conjunto de razões, Lisboa é uma cidade deserta nos seus passeios, quer durante a semana, quer ao fim-de-semana: a qualquer hora.
Agora acenam-se com quiosques, que irão também ter DJ´s, o que significa música aos berros, sem qualquer utilidade, a não ser transformar a Avenida da Liberdade na miséria em que Santana Lopes transformou o Chiado, quando lá enfiou uns horrorosos altifalantes ( e viu-se a "fauna" que passou a habitar o Chiado).
falo de um espaço fantástico da Cidade de Lisboa, o que percorre toda a zona ribeirinha, entra pelo Chiado ou pela Baixa, sobe até ao Camões e Largo do Rato, ou até ao Parque Eduardo VII. Mancha imensa da Cidade, linda mas muito mal tratada pela edilidade.
Uma vez mais fica provado que nada se faz de forma pensada; tudo obedece a repentismos, a dinâmicas difíceis de compreender. Erros sobre erros.
Pergunto-me: os lojistas que têm investido forte na Av. da Liberdade, estarão na disposição de pagar este custo ( o de puxar para o espaço o seu anti-cliente) acrescido ao custo da crise?
Só faltam as farturas (espero que o sexto quiosque, a abrir mais tarde, lhes seja consagrado), porque minis vazias e pedaços de tudo no chão, gente com calças pelo meio do rabo e muita algazarra, já estão prometidos.

E saem umas taxas para o país do canto....

Financiar fundos a uma taxa perto dos 6% é suicídio.
Os montantes acordados e, supostamente, mutuados até 2013, substituirão outros, que foram negociados na sua maturidade a taxas muito inferiores, abaixo de metade das taxas agora acordadas ou, na pior das hipóteses a 3%.
Substituir empréstimos a 6% para pagar empréstimos captados a 3%, empurra a taxa média actual, de cerca de 4,8%, para uma taxa média perto dos 7,4%.
A nossa economia precisa de ritmos de crescimento impossíveis de alcançar no curto prazo.
O futuro reserva enormes dificuldades para cumprir o serviço da dívida, admitindo a possibilidade de reestruturar a dívida externa. E, pasme-se, a exigência destas taxas manifestamente elevadas, vem da solidariedade europeia e não do FMI. Apetece perguntar: é esta a ante-câmara para a saída do euro? Apontada pelos nossos solidários parceiros europeus? É a leitura possível, no momento.