12.12.11

As (boas) Razões Inglesas

David Cameron não está sob fogo no Reino Unido.
O Tratado de Lisboa (que nem sequer considero ter sido eficaz, na forma e no conteúdo) pretendeu ultrapassar a impossibilidade de levar mais longe (ainda, se possível) através de uma Constituição Europeia, o suposto processo criador de uma entidade própria. Como agora se verifica, essa entidade própria nunca foi o verdadeiro objectivo, por impossibilidade completa, mas uma tentativa de um Directório fazer o que normalmente faz: ditar ordens e garantir obediência. 

Cada espaço político e social tem as suas idiossincrasias, necessitando de medidas pontuais e específicas face aos problemas encontrados, sob pena do sistema começar a promover desigualdades e injustiças, reflexas num mau aproveitamento dos recursos locais e, subjugando à lógica dos mais fortes, o interesse dos mais fracos.
Não se trata de concentrar cada vez mais poder em entidades políticas cada vez maiores, mas sim de organizar as compatibilidades, de preparar as convergencias, de difundir as mudanças.

O tão propalado acordo inter-governos (a 26) pretende escamotear todas estas razões.
No Tratado de Lisboa ficou impresso o "Reforço dos parlamentos nacionais" e " Mais garantias para os Estados e maior flexibilidade".
O acordo inter-governamental agora previsto, pretende ultrapassar o "mau" Tratado de Lisboa, impondo, em jeito de coupe d´etat, uma Constituição na União Europeia, sem que se chame Constituição e sem que as populações sejam auscultadas; pretende-se, assim, que em nome das terríficas consequências da queda do euro (ainda não quantificadas nem explicadas convincentemente), se abocanhe esta Europa de uma só vez, a uma só voz, a alemã, com um Petain a jeito.


united kingdom gdp growth rate
Analisando o gráfico acima, verifica-se que o Reino Unido (RU) apresenta crescimento do seu PIB, mesmo que residual. Os 0,5% de crescimento no 3º trimestre de 2001 devem-se aos sectores da produção e serviços, não obstante uma quebra percentual semelhante na construção civil.


Por outro lado, de acordo com o gráfico de baixo, fica claro que há uma proximidade entre o comportamento do PIB dos EUA e do RU, o que afasta a premissa que o RU ficaria, inexoravelmente, afastado do interesse orbital dos EUA, no que concerne à importância económica (que nunca geo-política estratégica).





Também é possível compara realidades de distinta maneira: a importância dos PIB de diferentes países e zonas, realçando a dimensão do PIB da zona euro (ZE), comparativamente com o PIB alemão e o do RU e, ainda, com o dos EUA. 


Verifica-se a importância do PIB alemão na ZE, a proximidade entre o PIB alemão, o chinês e o britânico, bem como o do EUA e o da ZE. 
Questões fundamentais quando se fala em repartir poder, economia e finanças.


Há crescimento da dívida pública, que se situa actualmente nos 64% do PIB. Pergunta: 64% de dívida, relativamente ao PIB é preocupante para a dimensão britânica? Resposta pronta: NÃO.


Historicamente, a dívida pública britânica já passou por momentos de enorme turbulência, com razões claras (Guerras coloniais com pico nas guerras napoleónicas em 1815 e I e II GG).


Os britânicos já passaram por situações bem piores do que a actual. O que sempre os defendeu foi serem donos do seu destino e poderem assumir, sem necessidade de aprovações prévias de terceiros, as melhores opções económicas e financeiras para o reino. Actualmente, com um défice pouco superior a 60% do PIB, quem ousará admitir que necessitem de regulação externa, ainda por cima imposta por alemães ?
Que voltem a tentar pelo ar e pelo mar, que por papel não vão lá. 

Os liberais que atirem o RU para eleições: os Tories ganham com maioria absoluta. Por isso mesmo não o fazem; falam, nada mais. E por cá compra-se, porque se quer vender compadrio e porque somos um conjunto confuso de comadres assustadas.
God bless UK.  



9.12.11

Where is the Money?

Umas palmadas.
E os países perguntam: Where is the Money?
Umas reguadas depois e os países perguntam: Where is the Money?
Finalmente o quarto escuro, onde todos os medos são infundidos (citando Frank Zappa: [in the dark where all the fevers grow, under the water where the shark bubbles blow...]) e os países perguntam: Where is the Money?

Os países afundam-se, são recriminados por despesismo, não vêem saídas económicas, perguntam pelo dinheiro e levam como resposta: está caladinho que agora quem manda somos nós e a vossa economia já era; agora só conta a nossa.
Entretanto os juros continuam a subir, a um ritmo que acompanha a queda das economias e o aumento da probabilidade (feita certeza) do incumprimento no serviço da dívida. E o desemprego aumenta; e a miséria aumenta; e o desespero aumenta. E, depois, não se anunciam os suicídios que se repetem diariamente, porque não interessam à opinião pública.
(Para os mais distraídos, recordo a crise da "cadeira vazia" na década de 60, quando os ingleses pretenderam ingressar na então CEE e os franceses se opuseram. Nada de novo, portanto. Nenhum tipo de preocupação e sim, algum alívio, com a posição inglesa. Mas atenção, porque os ingleses são os únicos que levam muito a sério a sua História e a sua economia e estão melhor sem euro, do que com a pata alemã em cima). 


Depois, bem, depois pretender inscrever na Cosntituição Portuguesa um limite ao défice, significa cortar cerce qualquer possibilidade de responder com dívida pública, a problemas de assimetria económica e da correspondente necessidade de fazer crescer a economia. mais uma vez afirmo: é da responsabilidade do Estado a criação de condições para aumentar o emprego. Se um Estado que não tem moeda, aceita não ter política orçamental e, last but not least, ainda se fustiga obrigando-se a inserir na Lei Fundamental, um limite à capacidade de endividamento, então esse Estado não é soberano: é um Estado    liliputiano, onde só se sobreviverá, por via de um retrocesso económico de 90 anos.

4.12.11

A economia fixada no exterior

[....um governo económico para a Europa.]

Sem moeda, sem política orçamental, sem economia definida no espaço nacional, nas próximas eleições a questão que se coloca é a de saber em que é que se vai votar, e não mais em quem votar. 
Sem nenhuma das razões apontadas incialmente, não há qualquer razão plausível e palpável para que se vote em qualquer um dos partidos do espectro político nacional. O voto pode ser branco ou nulo, mas não pode ser político, porque a política não existirá. Esta situação consagra a mais absoluta ausência de democracia.
Defender a dependência orçamental e económica do exterior, depois de ter capitulado da moeda, equivale à morte do Estado, da soberania nacional, da própria existência da actividade política. 
É, no final, a ausência de liberdade que impera, a escravatura regional por ausencia de solidariedade, a demonstração cabal da falta de capacidades e de ideias para conduzir o País, o descohecimento de ideais.
Começa a fazer todo o sentido, que se avente a descaracterização do feriado do 1º de Dezembro.  

28.11.11

O ovo de Colombo

A supressão de quatro feriados em Portugal será uma medida fundamental, para a tão desejada recuperação económica.
Qualquer um de nós está consciente disso e da importancia da medida, que secundariza, por completo, a necessidade de cortar nas empresas e instituições públicas existentes e, obviamente, a sua discussão política.

24.11.11

Razões (básicas) para baixar o Rating da República Portuguesa

Confirmar aqui, aqui e aqui as razões para o downgrade do rating de Portugal


Que mais quererão ? Nada mais há para dar....

Barroso, cidadão outrora portugues, que se naturalizou alemão para poder jogar pela selecção Germanica, propõe, numa jogada arrojada dentro da área, com drible curto, que Portugal perca a soberania orçamental, o mesmo é dizer, depois de perdida a moeda, que se entregue a esta Europa cada vez mais germanófila.
Espera Barroso o respectivo penalti, com uma entrada em carrinho do governo portugues - ciente da enorme dificuldade da dupla de centrais portugueses, quer no jogo aéreo, quer a jogar com os pés (os pontapés para o ar, na economia, atestam a falta de jeito).
Assim, coloca-se Portugal a jeito (e outros) para ser forçado a introduzir, como disciplina obrigatória no 1º ciclo, o alemão e aprender o respectivo hino.
E nós vamos assistindo a isto, convencidos que estamos a fazer grandes sacrifícios, em nome dos nossos filhos. Mas não; os sacrifícios são em nome de filhos que não os nossos.

22.11.11

Tecnocrata: alguém que leva muito a sério a sua profissão e muito pouco o bem-estar social. Segue modelos e não doutrinas/pensamentos.

Por mim prefiro-os muito pouco "tecno" e muito mais "cratas".
Por cá, como por outros lados, estão com saída. Até um dia.

21.11.11

Medidas macroeconómicas

Tomando o PIB de 2010, uma desvalorização esperada da economia portuguesa de 15% em 2012, bem como uma retracção económica de 2% em 2011 e 3% em 2012, poder-se-á afirmar que a nossa dívida externa (estatal) passará de 120% em 2010 para 140% em 2012.
Pergunto-me se estas são, efectivamente, medidas de cariz macroeconómico.

11.11.11

Desvalorizar a economia não é o caminho

O Governo corta nos subsídios, diminui e reduz as pensões em valor e em número, aumenta os impostos directos e indirectos, até pode decretar que a redução salarial abrange toda a economia e não, tão só, a função pública. Por um lado pretende reduzir a sua própria despesa, por outro conformar os salários ao nível da competitividade, considerada necessária, para a recuperação económica. Por outras palavras, é um jogo de desvalorização interna.

Se o Governo beneficia do lado da despesa, quando paga menos, o que acontece do lado da receita ? O Governo recebe menos na cobrança dos impostos sobre o rendimento. Quando aumenta os impostos, reduz o poder de compra, reduzindo a actividade económica e ,assim, a colecta de impostos baixa.Os preços caem internamente, pela redução da procura, originando um aumento da dívida junto dos credores, medida em unidades de produção interna.

Esta desvalorização interna, baseia-se na esperança que o aumento da dívida em termos de unidades produzidas, seja compensada por um aumento da produção com preços mais baixos (pela redução do custo do factor mão-de-obra), que valerá um aumento da receita fiscal através das empresas e de uma poupança nos custos sociais do Estado.
Mas será plausível esperar esta situação, em economias com problemas estruturais como a nossa ? Ou a grega ?

Este é o programa que nos é imposto externamente. Infelizmente, este programa de ajustamentos, afecta sempre de forma grosseira e vertiginosa, os países mais fracos. 
Com medidas mais ou menos draconianas, de ajustamento do balanço fiscal, os Governos debater-se-ão sempre com problemas de deflação, derivados das medidas fiscais impostas.
Em conclusão, sem uma intervenção decidida e conjunta da Zona Euro, para a correcção dos desequilíbrios orçamentais dos países fiscalmente debilitados, as medidas de nada servirão, senão para atrasar ainda mais as respectivas economias, colocando de forma premente a necessidade de adopção de um Plano B, que considere o crescimento económico dos países mais fracos, através do aumento de investimento dos países mais fortes. 

Caso contrário (sem crescimento económico sustentado), por cada euro pago a menos, pode grosseiramente considerar-se que a dívida nacional aumenta, em termos reais, na proporção exacta do percentual de desvalorização interna.
É então falacioso, considerar-se que se está a caminho da virtualização das contas públicas, quando na realidade, mais não se faz que aumentar essa dívida, pela desvalorização da economia interna que foi provocada.




anuncia-se o fim de uma era; a Zona Euro

Como referi variadissimas vezes, o euro só não colapsaria se os países core da UE estivessem na disposição de injectar liquidez nos países em dificuldades: o princípio é de vasos comunicantes, e só este sustenta o grande argumento para a existência do euro: a coesão económica.
Claro que essa injecção levaria à emissão de moeda pelo Banco Central Europeu (BCE). Aqui chegados, os temores recairam sempre sobre a inflação. Temores injustificados, porque em economias recessivas a inflação não chega a assustar. 
Defendi que o BCE deveria baixar a taxa de juro até zero. Nada foi feito e nada será feito, porque nunca houve vontade e percepção do perigo; porque o temor inflacionista falou sempre mais alto.
Agora chega ao fim a aventura do euro, a menos que mudem as políticas alemãs, a sua forma de encarar a Zona Euro, forçando à mudança da política do BCE (porque só a Alemanha pode garantir a confiabilidade na emissão de mais moeda). Alguém acredita nisso ? Não creio.
Sempre detestei as meias-coisas.É preferível uma conceptualização rápida da nova Europa e partir para a solução dos problemas, que ficar neste limbo que pára as Nações e os povos no tempo e lhes limita o espaço.
Para conferir aqui a opinião de P. Krugman.

O quê ???

Procurador-Geral da República abre inquérito a Otelo, se houver golpe de Estado. 
Desculpe, diga lá outra vez?
Só pode ser brincadeira.....

3.11.11

O modelo económico (des)elegante para o País

O Primeiro-Ministro (PM) tornou claro ontem, uma vez mais fora do País, que o acordo com a Troika requer uma nova conceptualização, reafirmado hoje, aliás, pelo próprio Presidente da República (PR).
O Pm fez notar, para nosso conhecimento, que as verbas acordadas com a Troika são suficientes para fazer face à despesa do estado, mas que Portugal necessita de financiar igualmente a sua economia. Fez notar ainda que a taxa de juro, de colocação de dívida a dois anos, já ultrapassava os 20%.
Temos então um estado que estará, supostamente, financiado e uma economia que, para se financiar, tem de recorrer a empréstimos com taxas de juro superiores a 20%. É esta economia que garante o equilíbrio do Balanço Fiscal, com que o estado conta para fazer face à dívida externa. Por outras palavras, se o desempenho económico for inferior ao esperado, a capacidade de cumprimento do serviço da dívida está em causa.
Vejamos o que significa a taxa de juro mencionada:
  • O prémio de risco percebido pelos mercados, em relação a Portugal, é elevado. Por outras palavras, o perigo de default enorme.
  • Uma economia capitalizada a um juro superior a 20% ao ano, exige uma taxa interna de rentabilidade (TIR) superior a 30%, caso contrário não gera riqueza (se a TIR for igual ao juro é indiferente);
  • Mas, acaso a TIR seja inferior à taxa de juro, a economia está condenada (falamos da TIR da economia no seu todo).
Afinal, do que é que estamos a falar ? De uma economia, a portuguesa que para ser viável, necessita de aplicar os capitais que vai buscar, a uma TIR a roçar os 30%.

É este pressuposto verosímil ? A resposta parece fácil: não.
Não sendo, as perguntas acumulam-se: (a) como se irá pagar o que estamos agora a dever? (b) como pagar os novos financiamentos?; (c) como fazer descolar o país economicamente, tirando-o da recessão onde se encontra mergulhado?; (d) como reduzir a dívida externa?
Como fazer tudo isto no presente modelo económico, que inclui as imposições negociadas?

25.10.11

PNB vs PIB

As diferenças entre PNB (Produto Nacional Bruto), GNP em inglês e PIB (Produto Interno Bruto), GDP naquela língua, fazem toda a diferença na altura de "olhar" os números.

O artigo de P. Krugman de hoje, no NYT, salienta-o muitíssimo bem.

A vontade de que tudo corra de acordo com as nossas pretensões colide, bastas vezes, com a realidade e a capacidade de análise dos mais distraídos.






21.10.11

Esquece muito....

Curioso que o Primeiro-Ministro não dê pistas de como pretende incentivar a criação de postos de trabalho, através de políticas macroeconómicas, obrigação do governo e não dos privados, mas foque o discurso na obrigatória redução de salários no privado e, igualmente, no desemprego crescente (no privado que não no Estado). Engraçado porque evidencia o mal maior deste governo (e de todos os anteriores): não têm resposta adequada à crise e sabem, bem, que as medidas tomadas só a acentuam (justificar despedimentos e baixos salários com aumento de competitividade é uma monstruosidade económica; na realidade, baixos salários e taxas de juro altas (através dos spreads) reduzem, drasticamente, a competitividade, por força de um menor esforço de investimento em bens de equipamento e, uma aposta clara, na força de trabalho braçal. A competitividade não se mede só pelos preços, mas acima de tudo pela relação preço/qualidade. Se assim não fosse, há muito que, por exemplo, empresas como a Bayer ou a ENI teriam soçobrado, perante o poderio chinês (só que a qualidade não é a mesma, em desfavor da China)....

30.9.11

O Euro no centro da crise.....

Muito embora os países periféricos da Zona Euro (ZE) não tenham feito tudo bem feito, as injecções de capitais e as paragens súbitas desses mesmos inflows, empurraram-nos para a crise financeira.
A esta luz, parece claro que ao invés dos enormes "buracos" serem resultado directo de uma política financeira e fiscal desastrosa ou de consumo excessivo, os défices observados são a contrapartida necessária e inevitável desses enormes fluxos de capitais externos, provenientes dos países mais poderosos da ZE. Igualmente, ao invés de preocupações com taxas de inflação acima da média e deterioração da competitividade desses países, serem sinais de laxismo fiscal e de ineficiências laborais, a valorização do euro, inevitável, é a principal causa das ineficiências, pelos mecanismos que levaram à criação destes défices nas contas-correntes dos países mais fracos na ZE.

Sem retirar culpas próprias - a crise é tão grande que há espaço para todos e tudo - a verdade é que, uma vez adoptado o euro como moeda comum, várias forças se conjugaram no sentido de empurrar as economias mais fracas para situações de crise financeira extrema, independentemente da gestão da coisa pública por parte dos governos.
Mais do que a irresponsabilidade governativa, a moeda comum é, ela própria, a base da crise actual.

12.9.11

Os erros do BCE

Os maus da fita, hoje, são os países que não respeitaram o défice, que gastaram o que não podiam, os que não produzem. Por tanto, terão de ser responsabilizados e pagar a factura. O primeiro a preparar-se para fazer face ao custo é a Grécia.

Mas será que todos os males são devidos a estes malandros que, ao contrário da formiga, agiram como a cigarra?
Não creio.

Por pontos: a política do BCE tem sido direccionada, unicamente, para o controle da inflação na zona euro. Na ultima reunião, onde deveria ter baixado a taxa de juro de referência, optou por a manter. Esta política de manutenção da inflação faria sentido, se acaso estivessemos em fase de crescimento económico, porque uma inflação controlada tem os seus efeitos positivos. Mas não, não estamos. Pelo contrário, vivemos tempos de recessão económica, onde a questão inflacionista não se coloca.

Esta constatação conduz-nos a outra: e se tivessemos a nossa própria moeda, o escudo?
Imagine-se o Reino Unido (RU): não concedeu espaço ao euro e manteve a Libra. Acaso se fala na dívida pública inglesa, pelo menos ao nível do que se fala e especula sobre os países da zona euro? Não. Porquê? Porque o RU pode emitir moeda através do seu Banco Central.
Dir-me-ão: cunhagem de moeda conduz a inflação. Respondo: e é grave? Nem de perto, porque em clima de recessão económica nem acredito que a cunhagem de moeda gerasse qualquer tipo de inflação que se visse.

E no espaço euro? Os países perderam a capacidade de cunhar moeda porque perderam a moeda. Quando surgiram os primeiros problemas, derivados da crise financeira internacional, o BCE virou costas aos países do euro e os países viram-se na necessidade de se financiar internamente, através das instituições financeiras locais, que por seu turno se endividaram externamente. Os países endividaram-se também externamente, por ser impossível financiarem-se só internamente, mas entretanto esgotaram o sistema financeiro local.

Onde entra o BCE (Banco Central Europeu) neste imbróglio? O papel do BCE, desde o início da crise, foi marcado pela incompetência. Porquê? Porque ao substituir-se as moedas locais por uma moeda única, os países necessitavam de um Banco Central que agisse de acordo com as necessidades das economias. Como se constata, financiar as várias economias, atempadamente, teria evitado a exaustão do sistema financeiro dos países da zona euro. Por outras palavras, sendo necessário injectar liquidez, o BCE deveria ter comprado dívida aos países, libertando as instituições financeiras locais dessa responsabilidade. Mas não o fez.

Nas duas últimas semanas começou a fazê-lo, mas tardiamente. Mesmo assim, foi criticado e travado por interesses vários e conhecidos. mas como afirmo, já o fez tardiamente, quando já se encontravam esgotadas todas as soluções.
Agora, não resta outro caminho se não continuar a alimentar as várias economias, com a espanhola e italiana à cabeça. É possível? Não creio. Por estas razões, acredito que o sistema económico, como o conhecemos, está por semanas.
Os tempos que se aproximam são uma incógnita, para a Europa e para o Mundo, mas o fim da União Europeia e do euro está próximo.

11.9.11

Hoje.....




Hoje, 11 de Setembro, para lá das memórias que fustigam as almas e horrorizam o espírito, há uma certeza: acabar com o terrorismo implica acabar, de vez, com a lavagem de capital. Por outras palavras, exige acabar com a corrupção e os negócios ilícitos.

Sair, não sair....

Sair ou não sair da zona euro.
Se a Grécia colapsar - como tudo indica - e sair da zona euro, é impensável o colapso dos bancos gregos, porque não importa se a dívida externa grega está fixada na moeda única: pura e simplesmente os gregos não vão pagar nada, durante muito tempo, e irão reestruturar essa mesma dívida. Não esquecer que terão moeda própria e poderão cunhar a quantidade necessária para financiar a sua economia. A paridade com o euro não é fundamental, como não foi para a Argentina, quando decidiu abandonar a paridade em relação ao dólar, atravessando-se à frente do que eram as recomendações do FMI.
O mesmo princípio aplica-se a qualquer um dos países do euro.

6.9.11

Não há perigo de uma NOVA recessão

O Presidente do Banco Mundial afirma que não acredita que o mundo esteja à beira de uma nova recessão. Claro que não. Não está. Os EUA não criaram um único novo posto de trabalho no mês de Agosto (mão-de-obra rural não incluída, como sempre). Em Julho tinham criado 55.000 novos postos de trabalho. Entretanto têm 14 milhões de desempregados. estes são números animadores, sem dúvida nenhuma. Não, o mundo não vai entrar numa nova recessão; o mundo está a viver a mesma recessão desde 2007. Só que a recessão está cada vez pior e, como já passaram mais de 6 meses, teoricamente já podemos falar em depressão. Mas o senhor tem razão: não há o perigo de uma NOVA recessão. Nova nunca.

11.8.11

O homem no seu melhor

Nem comunismo nem neoliberalismo. A economia mundial destruiu o comunismo e está a fazer em escombros o neoliberalismo. É a própria economia, num sistema de auto-regeneração, que se encarrega de desfazer os erros que o homem comete. Porque funciona numa óptica de deve e haver, de equilíbrios entre quem tem e nada tem, porque obedece à lei da oferta e da procura.
Em Portugal - e no mundo - a economia está a ser entendida como um dogma, quando na realidade é um instrumento de bem-estar. As finanças estão a ser encaradas como uma solução, quando na realidade são uma resultante do bem-estar.
Sem bem-estar não há economia nem há finanças, mas só um amontoado de teorias e teoréticos de gabinete, de agentes que procuram mais-valias e satisfação pessoal, especuladores e jogadores. Esta gente no seu conjunto, esmaga o sentido económico da política e esmaga, finalmente, a própria política, fazendo esta ceder a tendências totalitárias.

7.8.11

Pois.....

O Prof. Eduardo Lourenço afirmou hoje que:
"contrariamente à opinião de várias pessoas", pensa que "a saída continua a ser através da Europa".

O Prof. está radicado em Paris.

Mas disse mais: Portugal tem que resolver a crise "em casa" e depois "na casa ainda não comum, mas que se deseja comum no futuro chamada Europa". Vive radicado em França, recordo.

E acrescentou: apontou a sua aldeia como um exemplo das suas palavras: "Esta aldeia nunca viveu tão bem. Era muito mais pobre e nunca ninguém tinha recebido um tostão que viesse do Estado".

Digo eu: POIS!!!

6.8.11

Há gente que está a mais no Parlamento

Assistir a debates parlamentares (como o recente sobre o denominado orçamento rectificativo) é tarefa penosa. Ver deputados lerem, linha a linha, folhas A4 inteiras nas suas intervenções, é o mesmo que dizer ao país que, aqueles seres estranhoa aos interesses nacionais, não perfilham de qualquer opinião política válida e não têm ideias concretas sobre as matérias em discussão. Não é aceitável e são corpos a mais na Assembleia da república.
Aceitam-se as cábulas - do mal o menos - para não se perder o horizonte da intervenção. Não se aceitam discursos escritos por terceiros, ou mesmo pelos próprios, porque o significado é e será sempre o mesmo: impreparação.

5.8.11

O que os comunistas europeus não querem....

Os verdes alemães são giros: defendem tudo aquilo que a Alemanha menos quer agora, a saber: um Ministro das Finanças europeu e as Eurobonds. Não quer, pelo menos enquanto não dominar económica e politicamente toda a Europa, e esse processo vem muito longe, se algum dia chegar. Não quer também, principalmente, enquanto não medir com exactidão a dimensão da tragédia europeia e necessariamente mundial, ao nível financeiro. Por outras palavras, não quer enquanto não souber se o euro se aguenta; mas a resposta que procuram é fácil: não aguenta. E a pressão que estão a sentir dos mercados prende-se com a indefinição ao nível das verbas,que a Alemanha venha a financiar - ainda não financiou um centimo, sublinhe-se, mas a preocupação dos mercados está lá, enquanto não disserem claramente (e vão dizer) que não põem um chavo.
O problema dos verdes, contudo, é outro: têm um medo de morte que a Europa vire toda à direita, mas não uma direita liberal; a outra, a mais dura, a que é social não liberal. Daí os discursos encomendados pelo PCP do sítio e os PCP dos outros sítios todos.

e a Euribor desce, obviamente....

Pretender que o BCE iria subir a taxa de juro da zona euro e, por isso, ter subido ligeiramente a euribor, primeiro, para hoje, obviamente cair, depois de se saber que a taxa de juro do BCE ficaria inalterada, é não perceber nada de economia. Não só a taxa ficou inalterada, como será quase impossível não a fazer descer nas próximas reuniões. Porque o problema na Europa já não é a inflação, mas algo muito pior: a futura deflação (não confundir com desinflação).

Ver mal implica ver menos

As bolsas caem em todo o mundo. A preocupação pelo fraco desempenho económico mundial faz-se sentir. Entretanto, mais de 80% dos americanos, em sondagem, revelam-se insatisfeitos com os cortes orçamentais aceites por Obama, porque sabem que uma desaceleração da despesa produtiva do estado americano, em nada contribuirá para a solução dos 14 milhões de desempregados.
São realidades económicas.
Em Portugal, a cegueira política e económica leva a que se veja sempre menos do que há para ver.

4.8.11

Negócios engraçados: vende-se um jogador por 86 mil euros e pretende-se que foi vendido por 8,6 milhões de euros; diferença pouca. O valor remanescente deverá ser liquidado por uma sociedade que está, neste momento, já falida.
Milhões de treta, de facto, e muito pouca vergonha.

2.8.11

E agora EUA ?

Como vai a economia americana crescer, com a desaceleração económica actual - e a própria economia mundial - se o presidente aceitou fazer cortes extremos na despesa pública? Lá, como cá, há muita decisão económica por explicar, muito erro económico cometido, muita asneira no ar.
Será que no fim só restará a outra via de recuperação económica?

1.8.11

estado e hipocrisia

O estado não pode, os políticos não podem, de acordo com a optica neo-liberal, imiscuir-se na gestão das empresas, halas, mas pode preocupar-se com a forma como são escolhidos aqueles que são despedidos e os que ficam, nas entidades privadas. Santa hipocrisia.

31.7.11

A miopia política nacional

A venda das "Golden Share" é um mau negócio para o estado portugues: (1) porque perde capacidade de intervenção nessas empresas, fundamentais do ponto de vista da autonomia nacional; (2) porque a indecisão mundial é enorme e esta é a pior altura para perder o controle do estado sobre a economia, e as suas actividades core; (3) porque a decisão de alienar vem na pior altura, quando o país e os seus activos são cotados como "lixo"; (4) porque, como resultante, o preço de alienação será sempre muito inferior ao real valor das participações.

A falta de visão continua a ser muito aborrecida. Por vezes parece existir uma completa incapacidade de casar o "tempo" com a "oportunidade", como se um e outra não estivessem intimamente ligados.

29.7.11

Fresh Out of Bailout

Os vários bailouts, empreendidos um pouco por todo o mundo, são irrepetíveis, o que significa que o regresso a 2009 não significa regressar à mesma crise, mas a uma muito maior. Como escrevi aqui e aqui, só para citar alguns exemplos que ilustram como, infelizmente, não teria sido difícil chegar perto da verdade e encetar caminhos de regularização das economias.
Para mal geral, os neo-liberais mantiveram o seu poder de instrumentalização das políticas económicas.
Porque se pode ser liberal e defender ideias liberais: é fundamental contudo, perceber a diferença entre a pertinácia da defesa e a exequibilidade da aplicação da doutrina, conforme aos tempos.

A viagem temporal que ninguém queria fazer

A cada dia que passa, à escala global, estamos mais perto do cenário de 2009.

28.7.11

Paul Krugman e o Euro....

é.......e depois não digam que, aqueles como eu, não têm razão na análise económica do momento. Assistimos a uma enorme incompreensão dos fenómenos económicos, a roçar a incompetência grosseira.

25.7.11

Poeira....

Ao contrário do que parece ser, a verdade é que só o FMI meteu, até agora, dinheiro do primeiro pacote na Grécia (como na Irlanda e em Portugal). Também ao contrário do que parece ser, espera-se que a Grécia falhe no cumprimento dos seus objectivos. Igualmente de sentido contrário às manifestações de alegria, a redução da taxa de juro para 3,5% só se aplica aos capitais vindos do FMI/UE; os outros, captados no mercado, irão continuar em escalada. E acresce, a Alemanha não tem vontade, nem irá proceder a qualquer financiamento aos países em perigo de default. A situação permanece inalterada e as medidas correctivas as mesmas. Prolongar prazos de pagamento alivia a tesouraria, no curto prazo, mas não gera riqueza, nem garante o pagamento da dívida. Até porque as constantes idas ao mercado são feitas com maturidades inalteradas. Poeira, muita poeira.

18.7.11

Rácios Tier 1

O rácio Tier 1, de que tanto se fala nos testes de resistência da banca a prejuízos inesperados (os esperados são contabilisticamente tratados como provisões), mostram uma realidade, no mínimo, escandalosa, quando comparada com a realidade imposta a quem pretende arrancar projectos e, dirigindo-se à banca, se vê confrontado com sistemáticos pedidos de garantias e percentagens de capitais próprios mínimos elevadas (em relação ao investimento total).
Quando um banco apresenta um Rácio Tier 1 de 5,5 ou de 6,3%, o resultado representa a percentagem de capitais próprios envolvidos na operação da instituição, na medida em que os depósitos em dinheiro, nos quais se incluem os depósitos a prazo, têm peso zero no cálculo do Rácio. O mesmo é dizer, que a operação bancária está suportada em 5,5% de capitais próprios e 94,5% de capitais dos depositantes. Avalie agora cada um, como quiser, a moralidade do negócio financeiro e quem lhe garante a sua sustentabilidade; avalie igualmente quem tem tudo a perder, no caso de descalabro financeiro.

7.7.11

A moralidade que deve ser para todos....

Diz o FT (e com razão) que o downgrade retira a possibilidade das economias fragilizadas "comprarem tempo", aumentando significativamente a possibilidade de incumprimento. Não é uma questão de estarem certas ou erradas, é uma questão de exporem já, o que será uma realidade só amanhã. Mas não é isso mesmo que a banca faz com os particulares e as empresas, quando recusam crédito com base na percepção do incumprimento futuro?

6.7.11

O interesse subjacente do rating para o investidor/especulador


As agências de rating avaliam empresas. Contudo é impossível avaliar empresas e bancos sem levar em conta o clima macroeconómico e fazer previsões sobre este.
Porquê? Principalmente porque a instabilidade económica conduz a volatilidade nos resultados esperados das empresas e instituições financeiras.
Na prática falamos de três elementos macro fundamentais: (1) o crescimento da economia real; (2) inflação esperada; (3) taxas de câmbio. Em qual destes vectores de avaliação nos devemos agarrar para condenar uma avaliação negativa da nossa economia?

O 1º é negativo; o 2º joga contra nós, porque é controlado pelo BCE e o aumento de juros da taxa indicadora se é positiva para a Alemanha, é negativa para Portugal (totalmente dependente de capitais alheios), acrescido do efeito euro.
O 3º não temos, dependemos de outros.
Que há capacidade de manobrar ratings há, mas tudo depende da confiança dos investidores nas análises efectuadas, porque no fim quem conta é quem tem o dinheiro. E quando nós tínhamos dinheiro nunca criticámos os ratings e respectivas agências.
Por outro lado fica uma questão: não se avaliam mais os Estados, só as empresas. Mas a prestação de uma economia está directamente ligada à prestação das empresas, das financeiras, do consumo, da poupança, da receita fiscal. Se avaliar empresas é difícil, imagine-se avaliar empresas em ambientes económicos de volatilidade...

O anúncio de fraquíssimas prestações económicas no presente, pode alterar de forma fraca os seus activos actuais, mas afecta dramaticamente as expectativas futuras.
Quando se avaliam resultados futuros, o risco tem de ser considerado algures na análise. Se as preocupações sobre esse futuro são grandes, as taxas de desconto aplicadas sobre os resultados futuros são maiores, reduzindo assim as prestações económicas esperadas, nos estados, e os cash-flows nas empresas.

Finalizando, o dinheiro não é nosso, é de outros e esses querem uma análise que salvaguarde os seus investimentos. Depois, a moeda (a par do ouro) é sempre o instrumento de refúgio por excelência, estando sujeita a pressões especulativas. Quando se imaginam percas em euros, valoriza-se o dólar, o yen e compensa-se; outras vezes é o contrário. A moeda é um jogo de curto-prazo; a longo-prazo qualquer cotação de moeda tende para a estabilidade.
Ninguém pode criticar que, ao avaliarem-se desempenhos de empresas, bancos e países, se introduzam coeficientes de cagaço. A bolha das dotcom rebentou porque se facilitou na avaliação das acções, nas IPO (Ofertas Públicas de Aquisição, aqui na sigla original inglesa), etc..
O mundo financeiro está longe de ser perfeito e há um lado negro nas avaliações, mas por ora é o instrumento que temos de comparação e tem de servir.
Se a Europa não convence, o que leva a taxas de desconto, betas e quejandos a aumentarem, a culpa não é das agencias de rating mas da arrogancia da Europa, incapaz de olhar para si própria e perceber as suas idiossincrasias.

25.6.11

O Senhor Ministro.....

É suposto o executivo falar pouco e trabalhar muito. Bom princípio. É igualmente expectável que o executivo, com o seu trabalho, seja respeitado. Bom resultado. É desejável que as funções políticas sejam levadas a sério: um ministro no meu país tem de ser reconhecido e respeitado enquanto tal. Não quero um senhor Álvaro no governo do meu país; quero um Senhor Ministro.
Nós não vamos fazer o que a Troika afirma ter que ser feito; vamos fazer mais e depois confrontamos a Troika com os resultados. Nós não somos gregos.

23.6.11

É de todo lógico que Portugal só poderá ser considerado como um País responsável, se cumprir com os compromissos que assumiu.
É igualmente lógico, mas lamentável, que cumprindo esses compromissos Portugal mostre que não é possível a sua autonomia, por não ser possível a recuperação económica.
Tente-se cumprir de forma não desmedida e, depois, mostre-se o inevitável: a necessária reestruturação da dívida e a saída da zona euro (não esquecer que o tempo escasseia e os portugueses não são nem bombos, nem de chumbo).

21.6.11

Não poderia ter melhor início esta coligação

Ao contrário do que se pretende, esta coligação governamental começou da melhor forma.
Começar menos bem ou da pior forma seria perceber que, muito embora os eleitores não o pretendessem, estaríamos perante uma maioria absoluta do PSD.
Não foi assim que o eleitorado votou, portanto, esta coligação começou muito bem.

Não foi Deus, foi política séria

David Cameron dá graças a Deus por não estar no euro.
Enorme injustiça: Cameron deveria dar graças ao povo inglês, a Margareth Tatcher, que na devida altura soube caracterizar a União Europeia como ninguém e, com isso, mostrar ao povo inglês o "caminho das pedras" e, last but not least, o seu sucessor, John Major, que lutou politicamente, tal como aquela, contra a integração europeia da Inglaterra ao nível financeiro, social, político e económico e conseguíu condições especiais para os ingleses, na assinatura do Tratado de Maastricht, nomeadamente no que diz respeito à não adopção da moeda única e a não participação na política comum das pescas.
Tony Blair bem se esforçou por conseguir meter a Inglaterra no euro, mas o trabalho estava feito e não foi Deus que o fez mas sim políticos sérios e visionários.

[...] Na sequência do acordo estabelecido entre o Governo e a administração da empresa de telecomunicações que permitiu um encaixe de 2,8 mil milhões de euros, o Estado teria a receber uma tranche de 450 milhões de euros até 20 de Dezembro do corrente ano. E foi precisamente sobre esta tranche que o Ministério das Finanças, liderado por Teixeira dos Santos, montou uma operação financeira com a Caixa Leasing e Factoring, do grupo CGD para antecipar 300 milhões de euros. Uma verba necessária dada a emergência do Estado para fazer face ao pagamento de salários dos funcionários públicos e compromissos internacionais como o pagamento de dívida pública que vencia em Abril. [...]

Já aqui o disse: despesa no país há só uma; a do estado e a das famílias. Quando o estado consome, as famílias consomem menos. Consumindo menos, porque há menor liquidez, significa poupar menos (porque se consome todo o rendimento e, mesmo assim, não chega), o que gera menor capacidade de investimento; se adicionarmos os milhões que saem dos bancos para o estado, percebe-se a incapacidade da economia se financiar, do sufoco das empresas no mercado e da impossibilidade de aparecerem novos projectos. Não há liquidez porque o estado é sôfrego no consumo.

20.6.11

O Nobre que não o é....

Fernando Nobre não foi eleito, por duas vezes. Tinha afirmado que não ficava mas ficou.
A razão pela qual não podia ser eleito reiterou-a na decisão de ficar: fazer o que sempre fez, enquanto candidato a Presidente da Republica, depois de ter feito afirmações contra o carácter dos deputados. Não foi Presidentre antes, para o 1º cargo da Nação, como não foi agora, para a 2ª figura do estado. Mas ficou no Parlamento, com aqueles que diminuíu, e depois de ter tido um comportamento absurdo, de extrema arrogância.

A saída do euro tem de passar a Agenda Política

O Prof. João Ferreira do Amaral vem hoje, em entrevista ao Diário de Notícias, dar conta do inevitável. a saída de Portugal do euro. Dá conta de mais: a saída tem de "ser airosa" (nas suas palavras) e tem de ser feita enquanto há tempo.
Eu acrescento que é pena que só agora se esteja a ver o inevitável. A saída deveria ter sido negociada há muito tempo, mas como diz a boa sabedoria popular, mais vale tarde do que nunca.
Há, contudo, um princípio a respeitar: aproveitar o tempo, o nosso, e sair airosamente, porque como já afirmei diversas vezes, a saída é inevitável, embora seja bem diferente sair pelo nosso pé ou ser "empurrado".

14.6.11

Enquanto houver um português sem trabalho e sem pão é necessário revolucionar a Nação.

13.6.11

Ministério das Finanças: a obrigatória latitude de pensamentos

A viagem faz-se a uma velocidade considerável. Em economia o tempo é uma medida de aceleração. Quando o tempo gasto para tomar decisões ultrapassa o razoável, as decisões por melhores que sejam já não servem, porque o tempo se encarregou de alterar o cenário económico. Por várias razões de lógica pura, mas acima de tudo por esta, a nível económico é melhor uma má decisão que uma não decisão. Depois, acresce que as decisões são passíveis de emendar, rasurar e substituir. O tempo não se substitui; esgota-se.

A viagem é difícil: o próximo ministro das finanças vai precisar de encarar o que é possível, e não o que é desejável. É desejável que Portugal liquide toda a dívida que contraiu, quer a pública quer a privada. Vale, no seu somatório, 245% do PIB. É desejável mas não é possível. Como é que Portugal vai pagar de capital 2,45 vezes o que produz em todo o seu território, acrescido dos juros da dívida? Não vai. A menos que a economia cresça a 8% ao ano. É possível? Nem em sonhos. Portugal não tem condições de crescer a uma taxa destas. Nunca cresceu. Não crescendo a economia definhará inevitavelmente para todos os portugueses, que verão o seu poder de compra reduzido drasticamente, e durante muitas décadas.

As ideias feitas, os discursos supostamente sofisticados, os pareceres do politicamente correcto terão de ser arrumados na gaveta, ad aeternum. O tempo é de acção, de ideias novas e de coragem feito. A teimosia não tem lugar no horizonte nacional: a sensatez, a par da capacidade de alterar o status quo da política nacional e a forma como se encara a União Económica e Monetária será fundamental. Já não se trata de ser europeísta ou euro céptico: essas são designações e discussões guardadas para períodos de crescimento económico e países ricos. Assim como não são tempos de luxos, como a discussão em torno de políticas mais ou menos liberais: pura e simplesmente o país não se pode dar ao luxo de ser liberal. Nem se pode dar ao luxo de reivindicações sindicais descontextualizadas (e aqui cabem todas). E, por favor, não privatizem tudo a eito, porque há sectores que não podem ser privatizados. E porque o país necessitará mais que nunca, de ter ao seu alcance, activos que sirvam de colaterais.
Este país, o nosso país, está falido: quando são aos milhares os desempregados qualificados (não contando com cursos inventados a que ninguém reconhece utilidade); quando num só ano, 2010, emigram mais de trinta mil portugueses, todos mão-de-obra qualificada, o país de origem falíu. O país de origem é o nosso. Estes são indicadores pesados e que não deixam dúvidas.
É absolutamente necessário encarar de frente a realidade que nos espera, e esperar que a economia consiga cumprir não é realidade, é miríade.
Não temos qualquer hipótese de pagar o que pedimos emprestado, nem agora nem nunca.
Formar um governo onde esta linha de pensamento não caiba é coertar a sua capacidade de acção e a sua agilização, perante problemas sérios que irão estar ao virar da esquina.
O ministro das finanças precisa de ter a seu lado assessores que cubram todo o espectro do pensamento económico e defendam todas as posições possíveis; precisa de ter equipas, desde o primeiro dia, a trabalhar em todos os cenários possíveis, incluindo o cenário do incumprimento.
Portugal tem de chegar primeiro aos problemas e não sistematicamente atrasado, como a Grécia; não assumir as rédeas implica ser conduzido, mal, no nosso futuro, que se casa com o nosso destino.

A viagem, felizmente, não é feita totalmente às escuras. Felizmente a Grécia vai à frente. Um anos depois vemos em que situação se encontra este país e aquilo que vemos não nos agrada. Uma Grécia de mão estendida, conduziu o país a uma situação de bancarrota e de extrema dependência, cada vez mais longe da solução europeia. O regresso ao dracma far-se-á, obrigatoriamente, mas não no respeito do timing grego, tão só no interesse dos economicamente fortes, quando estes estiverem a coberto de qualquer surpresa, depois de estudarem aturadamente os cenários. E no dia em que chegarem à óbvia conclusão que os mercados já aceitam, com alívio, a saída da Grécia da zona euro, seguir-se-á Portugal, de forma rápida.
A isto chama-se ser empurrado. Há uma outra forma de sair: a negociada. Mas para atingir esta solução, assim que ela se mostrar necessária (na minha opinião já lá estamos), o trabalho de casa tem de estar feito. Não basta bradar que uma saída do euro seria desastrosa para o país (discurso da moda e dominante por estes dias): é necessário explicar e demonstrar porquê e esta demonstração, nestes termos, não é possível. Porque todos os caminhos mostram, à evidência, que a saída, acompanhada da obrigatória reestruturação, é mais proveitosa que ficar, até que nos chutem para fora.

3.6.11

Alavancar não é pecado...

Desalavancar uma economia alavancada é retirar-lhe a capacidade mínima de recuperação.
Nota: há sempre uma primeira geração de "não-ricos", que geram o dinheiro inicial alavancando as suas actividades, iniciais e posteriores. Com os países acontece o mesmo: ou têm riquezas naturais ou não, mas precisam de alavancar as economias, sempre, para não ficarem totalmente dependentes dos interesses externos.
Desalavancar o que está alavancado é um enorme disparate que acaba, forçosamente, mal.

31.5.11

As cartas falsas

Já vão em 4.000 as cartas passadas indevidamente pela DGV (agora IMTT).
Dizem que são falsas, mas na realidade são verdadeiras; foram passadas indevidamente, a troco de dinheiro, a quem não estava habilitado a conduzir.
Mas, no meio de mais uma história triste da nossa triste sociedade, falta informação: casar os acidentes inexplicáveis, como circular nas auto-estradas em contra-mão e outras bizarrias, com os detentores de licenças de condução compradas através de corrupção. Porque o estado foi lesto a culpar a idade, a alterar o código com novas datas para renovações de licença de condução, com juntas médicas e houve até quem sugerisse que se deveria deixar de ter carta depois dos 80 anos. Asnos, todos.
Agora, devem ser casados todos esses acidentes estranhos e outros igualmente graves, com os condutores a circularem indevida e abusivamente, para se aferir da relevância do acto criminoso, com as mortes criminosas resultantes.
É fácil arranjar desculpas e obrigar os contribuintes a gastarem tempo e dinheiro com processos burocráticos, admitindo em simultâneo uma diferença abusiva de tratamento de acordo com a idade do cidadão, como se idade fosse doença, e não procurar mais fundo, não ir ao cerne da questão: a sociedade que está podre e precisa de ser limpa.
Tem de ser tirada a limpo a relação entre os factos.

30.5.11

Já cheira a reestruturação (para já grega)....

Grécia: privatizar até 2013 e alterar condições de pagamento dos títulos de dívida grega aos credores particulares.
As privatizações já faziam parte do pacote. A novidade está na reestruturação, a que se chama alteração das condições de pagamento. Agora só falta (dêem mais algum tempo) reestruturar e reduzir o montante em dívida, em simultâneo.

27.5.11

Adorava....

Adorava saber como é que Portugal vai fazer face ao desafio da dívida pública, com taxa de juro anual média superior a 6% e crescimento negativo da economia. Adorava saber quando é que a economia portuguesa vai crescer a 3%, quanto mais a 6,8% (e mesmo assim, a 6,8%, só daria para os juros e nunca para amortizar capital).
Adorava saber em que medida estamos melhor que a Grécia, quando a troika afirma que o problema de Portugal é diferente daquele país, porque na Grécia o problema é orçamental e em Portugal é estrutural: toda a economia está alavancada, especialmente o sector financeiro.
Adorava saber como é que, seguindo o plano da troika, saímos da situação de desespero em que nos encontramos.
Adorava saber.

P.S. Já agora - e penso que não é pedir demais - gostava que não nos tratassem como analfabetos e incompetentes, mesmo sabendo que a grande maioria o é. A diferença é que assim, tratados assim, os que são nunca mais deixarão de o ser.

26.5.11

Doutores, jargões, perigos....

Perguntar se é possível os actores políticos não verem o que é por demais evidente, é uma permanente perca de tempo. Não vêem, ponto final.
O que se perfila no seu (curto) horizonte é um misto de medo e irresponsabilidade; aquele impede o discernimento e este apela à passividade.
Não encarar a realidade económica é relegar o país para secundaríssimo plano, e renegar o direito à acção. É aceitar como bom todo e qualquer instrumento de política económica, desde que venha de fora, porque permite a enorme desculpa da imposição, sem cuidar da sua validade.
O ciclo vicioso em que nos encontramos e para o qual a Europa também caminha, não aproveita a ninguém. Claro que uns (portugueses, irlandeses, gregos) acrescidos de possíveis outros (italianos e belgas) e ainda islandeses, sofrerão e muito. Mas todos os outros, sem excepção, terão de pagar o seu quinhão. Se os mercados diminuírem à velocidade da erosão económica - o que sucederá - vende-se o quê a quem? E compra-se onde e a que preço? Porque a Europa não se basta a si própria. E, depois, ainda temos o Leste, a Turquia, o Magrebe, o empobrecimento do médio-oriente e de África.
O caminho seguido pela Europa, a fixação da acção económica no aumento da carga fiscal, conduz inevitavelmente a uma perca de poder de compra, e esta perca de poder de compra espalha-se por todo o mundo, porque é o mundo em si mesmo que se vai contraindo, através da contracção das economias europeias, por via de taxas de juro baixas, que conduzem à desvalorização das moedas (no caso europeu o euro) e porque a recuperação, em parte, desta contracção económica na balança comercial, contagia negativamente todos os outros países no mundo. Por outras palavras, podemos estar a entrar num problema muito mais sério e não a sair de outro problema, já de si sério.
Creio que há muitos doutorados, cheios de jargões, que opinam muito, em muito lado, que de economia na realidade não pescam nada.

25.5.11

Vai ser necessário reestruturar

Um excerto de um artigo de opinião de Paul Krugman no New York Times, publicado hoje por um jornal nacional, afirma o evidente: Portugal não conseguirá honrar os seus compromissos.
Para ler aqui.
Nada que já não tenha sido escrito neste blogue dezenas de vezes, mas como Krugman também eu tenho a certeza que não é o bom senso que governa o mundo.

19.5.11

Falta sempre o fundamental: orgulho e noção de valor extrinseco.....

Foi uma final histórica para o futebol nacional.
Aos olhos de milhões (essencialmente europeus), ontem estava representado o país futebolístico, o país de reconhecidas capacidades técnico-tácticas, o país que tendo orçamentos baixos nos seus clubes consegue atingir patamares de excelencia. Estava representada uma capacidade de: gerar técnicos de futebol de valor mundial; organizar clubes e consolidar modelos de gestão de sucesso; utilizando parcos recursos atingir patamares elevados de valor acrescentado.
Tudo isto esteve representado. Tudo menos a capacidade de utilizar os momentos, ímpares ou não, como arma de propaganda e marketing nacional. Não ver uam bandeira portuguesa envergada por qualquer um dos elementos das duas equipas foi confrangedor, mas ainda mais confrangedor foi assistir à autorização dada pelos dirigentes para que, os seus assalariados, pagos com fundos gerados em Portugal com contratos de trabalho regidos pela lei portuguesa, usurpassem a imagem de uma final portuguesa, com bandeiras dos respectivos países.
Os clubes podem ser "sociedade de nações" no conjunto de atletas que os representam, para dentro de si mesmos, mas para o exterior os clubes representam sempre os países de onde são oriundos. Todos os seus atletas deveriam ter sido cobertos com bandeiras portuguesas, vencedores e vencidos e, assim, passar uma imagem de um Portugal presente, mesmo nos maus momentos, mas sempre presente e mostrarmos que somos os primeiros a acreditar nas nossas capacidades e a orgulharmo-nos de quem somos, de onde vimos e para onde vamos.
Existem culpas e culpados: primeiro, a tacanhez da incapacidade de percepcionar a importância do momento; segundo, a falta de visão estratégica dos dirigentes máximos dos dois clubes; terceiro, o provincianismo de que deram mostras. mas há igualmente responsabilidades da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), por não antecipar a importância do momento e não contribuir para a exaltação da imagem nacional, por excelência, a nossa bandeira. Por último, a enorme falta de sentido de estado do Secretário de Estado do Desporto, por não antecipar as enormes vantagens de projectar, em momento tão difícil para Portugal, a imagem do país e, conjuntamente com a FPF e os clubes, terem transformado a final da Liga Europa numa enorme mancha das cores nacionais.
Por estas e por outras é que perdemos a American Cup para Valencia (Espanha) e agora a Ryder Cup para a França. Porque tudo o que fazemos é feito "em cima do joelho" e não há chama, chispa, brio nacional.
Imaginem esta final entre clubes espanhóis..........pois......

12.5.11

O pior Chiado numa abandonada Av. da Liberdade...ou a machadada final...

Av. da Liberdade, Lisboa.
Passear na Avenida da Liberdade é um suplício. Os lojistas têm-se multiplicado em abrir espaços amplos, cuidados, mono-marca e o local da cidade que estaria obrigado a ser um passeio público de qualidade, perde-se nos arrumadores-moedinhas, na miséria de quem tem de esmolar, naqueles que por lá vagueiam sem que ninguém se interesse pelo seu modo de vida: o que fazem, como passam o tempo, o que procuram. Além disto, também a Avenida da Liberdade é um coio de lixo: as obras constantes, a irresponsabilidade dos construtores/remodeladores, a ausência de fiscalização, fazem com que a artéria tenha um aspecto medonho, de dia; imagine-se então de noite. Por um conjunto de razões, Lisboa é uma cidade deserta nos seus passeios, quer durante a semana, quer ao fim-de-semana: a qualquer hora.
Agora acenam-se com quiosques, que irão também ter DJ´s, o que significa música aos berros, sem qualquer utilidade, a não ser transformar a Avenida da Liberdade na miséria em que Santana Lopes transformou o Chiado, quando lá enfiou uns horrorosos altifalantes ( e viu-se a "fauna" que passou a habitar o Chiado).
falo de um espaço fantástico da Cidade de Lisboa, o que percorre toda a zona ribeirinha, entra pelo Chiado ou pela Baixa, sobe até ao Camões e Largo do Rato, ou até ao Parque Eduardo VII. Mancha imensa da Cidade, linda mas muito mal tratada pela edilidade.
Uma vez mais fica provado que nada se faz de forma pensada; tudo obedece a repentismos, a dinâmicas difíceis de compreender. Erros sobre erros.
Pergunto-me: os lojistas que têm investido forte na Av. da Liberdade, estarão na disposição de pagar este custo ( o de puxar para o espaço o seu anti-cliente) acrescido ao custo da crise?
Só faltam as farturas (espero que o sexto quiosque, a abrir mais tarde, lhes seja consagrado), porque minis vazias e pedaços de tudo no chão, gente com calças pelo meio do rabo e muita algazarra, já estão prometidos.

E saem umas taxas para o país do canto....

Financiar fundos a uma taxa perto dos 6% é suicídio.
Os montantes acordados e, supostamente, mutuados até 2013, substituirão outros, que foram negociados na sua maturidade a taxas muito inferiores, abaixo de metade das taxas agora acordadas ou, na pior das hipóteses a 3%.
Substituir empréstimos a 6% para pagar empréstimos captados a 3%, empurra a taxa média actual, de cerca de 4,8%, para uma taxa média perto dos 7,4%.
A nossa economia precisa de ritmos de crescimento impossíveis de alcançar no curto prazo.
O futuro reserva enormes dificuldades para cumprir o serviço da dívida, admitindo a possibilidade de reestruturar a dívida externa. E, pasme-se, a exigência destas taxas manifestamente elevadas, vem da solidariedade europeia e não do FMI. Apetece perguntar: é esta a ante-câmara para a saída do euro? Apontada pelos nossos solidários parceiros europeus? É a leitura possível, no momento.

28.4.11

Problemas de vista....

"O "Financial Times" publica hoje uma carta de protesto de Ricardo Reis e de Luís Garicano, dois conhecidos professores de Economia, contra a exigência da UE e do FMI de um acordo pan-partidário, antes de eleições, em torno do plano de ajuda externa".
Retirado de negócios online.

Quando escrevi sobre o Voto Inútil, tinha as mesmíssimas razões que são agora aventadas por dois ilustres economistas.
O que mais fere neste nosso país é a miopia, o estrabismo e a ausência de lucidez que se instalou.

25.4.11

A inevitabilidade da Moratória

Podem políticos e economistas enfeudados a partidos políticos, afirmar que Portugal não pode pedir a reestruturação da dívida soberana, porque as pessoas de bem - o estado português no caso - pagam as sua dívidas atempadamente. Mesmo que para esse cumprimento se tenha de pedir dinheiro emprestado; mesmo que quem empresta saiba, com toda a certeza, que sem empréstimo o incumprimento é certo - com esta certeza, quem empresta manda de facto e é o único que manda.
Depois, o que se verifica é que a economia é estrangulada com as exigências de quem empresta, cuja preocupação é recuperar o dinheiro emprestado, acrescido dos juros devidos, sem qualquer preocupação de crescimento económico do devedor. Mais tarde, o destino, com empréstimo, é o mesmo que sem empréstimo: o devedor tem de assumir a impossibilidade de cumprir o serviço da dívida, como bem nos mostra a Grécia. Moratórias, reescalonamento da dívida e todas as manobras financeiras possíveis, são colocadas então em prática. Para quê, pergunta-se; nessas condições já o estado parece uma pessoa de bem? Porque primeiro fingíu tentar cumprir, sabendo dessa impossibilidade, e só depois assume que não pode? É uma vez mais só uma questão de mera hipocrisia?
Bom, é que no fim a conclusão é óbvia: estamos todos fartos de mentiras e hipocrisias. Se é por estas razões não vale a pena estarmos a estragar, ainda mais, o cenário.
Portugal está a ser escrutinado, exposto, mal tratado, situações que viveria se assumisse que não podia pagar, por agora. Vive estas situações e sujeita-se a medidas económicas que só o enfraquecem, por não fazer o óbvio, afirmar o inevitável: não pode pagar, não tem condições para honrar as dívidas. Mas, ao contrário do que "doutas" figuras afirmam, Portugal não é o incumpridor: quem incumpre é a classe política que, há 37 anos, expolia Portugal. São os nomes dos incumpridores que se sujeitam à má fama, nunca um país com quase 900 anos de História, nem o seu povo.

19.4.11

O voto inútil....

É interessante acompanhar estes últimos tempos da III República. Temos um conjunto alargado de figuras públicas, incluindo políticos, numa acção deliberada de conseguir, a saber:

(1) Um compromisso nacional entre partidos e instituições, tendo em conta a «credibilidade externa», e uma «maioria [parlamentar] inequívoca», com a intenção de responder à crise;

(2) Segundo os subscritores, esta é uma crise iniciada nos Estados Unidos em 2009 e «a maior recessão global dos últimos 80 anos»: nada de nacional, portanto;

(3) Apelar a «um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de um plano de acção imediata, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular funcionamento da economia»;

(4) Um compromisso para ser alcançado antes das próximas eleições, marcadas para 5 de Junho, segundo os subscritores desta genial ideia.

Por outras palavras, mesmo antes das eleições de 5 de Junho próximo, tudo deverá estar combinado, acertado, assinado, preparado para ser implementado. Por outras palavras, é um bloco central alargado, que inclui os principais partidos políticos, empresários, políticos que desempenham e desempenharam as mais altas funções de Estado, etc.,etc..

O que se pretende é a manutenção do status quo e a sua salvaguarda.
Pergunta-se: se tudo está acertado e negociado para quê eleições?
Mas pergunta-se mais: se o que se pretende é definir o rumo de Portugal, fora e para além da vontade dos votantes, porque razão essa definição é feita pelos mesmos que destruíram a Nação?
Se a democracia é um mito em Portugal e a liberdade de decisão política, através do voto, se transforma numa utopia, porque razão querem ser os mesmos que destruíram, a impor a sua vontade à Nação?
Nestas circunstancias, não tenho qualquer dúvida que prefiro outras gentes, mais capazes e que não estejam sujas pela bancarrota nacional, pelos interesses políticos, pelos favores pessoais e de classe.
A táctica, objectivamente, parece ser a de tirar este "cavalo da chuva" mantendo os cavaleiros, colocando outro "cavalo à chuva" e mantendo o poder. Mas se o poder já não se consagra pelo voto mas por acordos palacianos, melhor será para Portugal que se confirme um outro poder, mais capaz, menos volátil a interesses pessoais, mais nacional e patriótico. E, se acaso, se assume que o voto, por si só, já não resolve nada, acresce a razão para a mudança de protagonistas políticos, porque os actuais contribuíram, decisivamente, para a erosão desse voto, agora considerado inútil.

15.4.11

Interesses privados, opiniões públicas

É natural e normal que o Eng.º Belmiro de Azevedo não vislumbre, sequer, a hipótese de Portugal sair da zona euro.
Muito embora essa decisão passe pela nossa vontade, mas passe igualmente pela vontade só de terceiros, a verdade é que, com a engenharia financeira da Sonae, que passa, também, pelo financiamento externo directo, uma desvalorização do escudo seria problemática, porque a Sonae assenta o grosso da facturação nos serviços e não na indústria.
Percebe-se a posição e respeita-se, mas é uma posição pessoal, fruto de uma estratégia empresarial, e as estratégias empresariais privadas nem sempre são coincidentes com os interesses nacionais. Mas, uma vez mais, todos os problemas têm uma solução, quando existe a capacidade técnica necessária, enaltecida em terceiros, pelo Engº Belmiro de Azevedo.

Recessio, onis .....

Pretender que a Alemanha está disponível para ajudar financeiramente Portugal, a Grécia e a Irlanda, para além do que já foi concedido a estes dois países, é não estar a entender o tabuleiro europeu onde se está a jogar.
Umas vezes através da Áustria, outras da Holanda, da Polónia ou da Finlândia e, mesmo de mote próprio, a Alemanha tem dado sinal do seu descontentamento em disponibilizar fundos para aquelas economias. Quando falo em Alemanha, falo nos alemães, todos, que têm infligido pesadas derrotas à Srª Merkel.
Para a generalidade dos alemães a questão é simples: ou estes países saem do euro, ou se o discurso bate constantemente na estabilização da zona euro, saem eles alemães. A resultante é igual: sem Alemanha não há euro.
Só esta constatação é evidente de que, para o mal, vivemos numa zona euro-marco.
Para o mal porque as economias nada têm a ver umas com as outras, estão em patamares opostos de crescimento económico e só pode ser nefasta a teimosia de manutenção na zona euro, para países como Portugal.
De uma forma ou outra, o euro é já uma miragem, como é uma miragem a recuperação económica de Portugal, durante toda uma geração, se a política económica se mantiver, teimosamente, como está.
O FMI já avançou com datas: vai ficar por cá pelo menos dez anos.
Dez anos de recessão é obra.
Recessão: do lat. "recessio, onis" e designa a acção de recuar.

14.4.11

O Desígnio, o caminho, a solução....

As questões de performance económica prendem-se, na totalidade, com decisões políticas. Por outras palavras, a vontade política define, na totalidade, a capacidade económica de um país ou região. Sendo a premissa verdadeira, convenhamos que o conhecimento económico, por parte da classe política, é fundamental.
Mais ainda: a capacidade de antecipar cenários económicos e financeiros é determinante para a acção política. Existindo aquela, esta corre bem, caso contrário a conclusão é óbvia. Não entra na equação o que não pode entrar: roubo e corrupção. O resto entra, sobressaindo a competência ou incompetência no mencionado resto.
Na difícil situação em que Portugal se encontra - recordemos que Portugal são os portugueses - não é nada fácil, para não dizer impossível, imaginar milhões de concidadãos passarem uma enorme tormenta, na forma de vidas desfeitas, de frustrações vincadamente sociais, pessoais e familiares. Apetece gritar muito alto "Porquê", mas a resposta seria invariavelmente um enorme silêncio para algumas questões, sendo para outras o desfiar de um rol de recriminações , de todos conhecidas.
Estamos na situação que, para mim, é a melhor: eu, que me habituei a encetar algumas recuperações financeiras de vulto, garantindo a estabilidade empresarial de instituições e a manutenção de centenas de postos de trabalho, gosto do "capital de mudança", das inevitabilidades, dos constrangimentos na acção, das tesourarias "a vermelho", algumas entre outras certezas com que sou sempre confrontado, quando assumo responsabilidades de gestão de topo. E gosto, perante todas essas certezas e inevitabilidades, de vencer paradigmas.
Portugal está numa situação em que precisa de se reinventar: de alterar o paradigma.
Sei, como a maioria de nós sabe, quais os problemas que nos afligem; esse conhecer faz parte da análise preliminar. Depois, começa-se de imediato a trabalhar nas soluções; soluções porque nunca existe uma única solução, também porque os problemas, mesmo que pareçam idênticos, exigem sempre tratamento diferente. Ao nível económico e financeiro não existem duas "gripes" iguais.
É este desafio, o desafio da solução, que é empolgante, que galvaniza, que define o líder e conduz as massas, porque estas acreditam nas soluções, porque os fizeram acreditar que existe uma solução. A situação exige uma liderança forte, um objectivo claro traçado e uma enorme capacidade de argumentação, negociação, execução e assertividade. Doa a quem doer.
Não é uma gestão para agradar; é uma gestão para resolver.
Portugal tem, no momento presente, uma enorme questão a resolver: devolver a dignidade e condições de vida à sua população.
Toda a governação tem de se inclinar sobre este desígnio maior. Dele, nascem todos os outros objectivos, fixados claramente, mas desígnio só pode existir um e só existe um, o que foi mencionado.
Atingi-lo exige coragem, determinação e saber. Mas exige, muito principalmente, arrastar todo o país no desígnio nacional, no desígnio que todos, sem excepção, reconhecem como o único possível, o único pelo qual valem todos os sacrifícios. Mas não se pode pedir à população, já em enorme sacrifício, que se habitue à ideia que vai ter de fazer (durante quatro anos, para os optimistas, sete anos para os políticos, ou vinte anos para os mais habituados a fazer contas), sacrifícios ainda maiores. Não pode porque a população não aguenta, porque ninguém pode viver "eternamente" com o credo na boca, porque uma coisa é não poder comprar um carro ou fazer uma viagem e outra, bem diferente, é não ter como pagar os estudos dos filhos e mesmo não ter o que comer. E, contudo, as soluções existem.
Existindo, chega de carpir mágoas, esconder a ineficiência em discursos de retórica, de ataques e contra-ataques, de "diz que disse". A hora é de começar a trabalhar, com o desígnio traçado, os objectivos de curto-prazo fixados e os de médio e longo-prazos ajustados, sistematicamente ajustados.
Tenho escrito sobre o trilho inicial, aquele que tem de ser encetado e dará origem ao restante percurso. O primeiro é a direito; o outro sofrerá ajustamentos obrigatórios de rota. Conheço a concepção primeira do percurso, porque conheço o trilho. Existindo coragem, só exigirá muito trabalho.
Como será expectável, não é possível descrever todo o caminho a percorrer e os resultados esperados, num espaço como este; veja-se este escrito, que já tem léguas.
Mas recorro a exemplos: há uma enorme quantidade de negócios, de indústrias, que não têm qualquer viabilidade económica no Portugal de hoje. Há, igualmente, uma agricultura que não tem saída e umas pescas que estão moribundas. Razões fundamentais: a dimensão nacional é pequena para lutar contra enormes corporações, com enorme capacidade e eficiência produtiva, seja na agricultura e pescas, seja na indústria. Seria impossível, no Portugal de hoje, recriar um grupo químico da dimensão da CUF, uns estaleiros da dimensão da Lisnave ou uma siderurgia da dimensão da SN. Porque é mais barato comprar fora do que produzir internamente, porque não há capacidade de alavancagem financeira de indústrias que consomem enormes recursos financeiros e não porque se tenha perdido conhecimento científico e técnico.
Imagine-se agora, numa escala mais pequena, outras indústrias: embalagens de cartão, por exemplo. Como é possível investir em Portugal, criar postos de trabalho e produzir embalamento para o leite e os sumos, quando somos confrontados com a Tetra Pak? Não é; o investimento está condenado. Todos nos lembraremos agora de negócios e falo de negócios não especulação, sobre os quais já nos debruçámos e chegámos sempre à mesma conclusão: em Portugal não dá: o mercado é pequeno, não elástico e a concorrência feroz.
Imagine-se agora um Portugal diferente, dono da sua moeda, desvalorizada face ao euro, a necessitar de consumir e a ter de pagar preços incomportáveis para o consumidor interno: valerá de novo o investimento nas embalagens de cartão para embalamento (mero exemplo), porque a Tetra Pak já não conseguirá responder ao anseio de preços do seu consumidor, que tem de responder perante o consumidor final interno. E outros negócios, outras indústrias, outras agriculturas e outras pescas se lhe seguirão. O consumo interno cresce, com uma mão-de-obra desvalorizada externamente em 25%, o emprego cresce, as importações são fruto do crescimento do rendimento agregado nacional e, last but not least, as exportações são competitivas, levando a economias de escala, ou seja, a prover o mercado nacional a menores custos e a atacar com força no mercado internacional.
Elementos comuns à estratégia: recurso ao escudo abandonando o euro; utilização do instrumento cambial; cunhagem de moeda; injecção de liquidez na economia; proteger o made in Portugal; reestruturação do sector primário e secundário da economia; reutilização dos recursos humanos do sector terciário nos sectores mencionados anteriormente, incluindo e facilitando a necessária redução de efectivos no estado.
Esta é a solução que defendo e preconizo para Portugal. Este é o trilho que nos conduzirá ao desígnio. Este é o caminho mais curto para a felicidade.