25.2.11

Os erros grosseiros de alguns economistas da moda....

Quatro erros fundamentais, de entre outros tantos, que infelizmente vão fazendo a "moda" no discurso económico

1º erro :Competir no mercado mundial:

Considerar que os países são empresas em concorrencia permanente. O comércio internacional não é competitividade, mas sim trocas beneficamente mútuas. Ademais, o objectivo principal do comércio internacional são as importações e não as exportações, ou por outras palavras, o que um país ganha com o comércio internacional é a capacidade de importar coisas de que necessita; as exportações são uma resultante.

2º erro: Produtividade
Uma produtividade elevada, num país, é benéfica porque permite ao país produzir e, consequentemente, consumir mais e não por ajudar um país a competir com outros países, conceito válido quer numa economia aberta, como numa economia fechada.

3º erro: Sectores de elevado valor acrescentado
Se um país é mais produtivo que outro, sejam quais forem os sectores de actividade considerados, o valor agregado por trabalhador será sempre superior quando comparado com um país onde a produtividade seja menor. Obviamente que a riqueza de um país não depende de se especializar em sectores de actividade de outro(s) país(ses), onde o valor acrescentado seja maior. É tudo uma questão de produtividade, sejam quais forem os sectores em que o país opere.

4º erro: Emprego
O nível de emprego num país é uma questão macroeconómica, dependendo a curto prazo da procura agregada e a longo prazo da taxa natural de desemprego; a microeconomia quase não tem efeitos líquidos. A política comercial tem de ser encarada sobre a perspectiva do seu impacto sobre a eficiência, e não sobre o número de empregos criados ou perdidos.

18.2.11

Algumas das razões onde gostaria de não ter.....razão

Não gosto de ter razão pelos piores motivos, mas ela aí está: já ninguém esconde o estado recessivo do país (apeteceria criar uma nova palavra, em linha com "reaccionário" e escrever "receccionário", porque estaria mais conforme com o que se vai passando em Portugal).
Também, por outro lado, atentando ao número crescente de jovens desempregados, a razão volta a saltar, quando escrevia que era um erro acabar com o serviço militar obrigatório, atirando dois anos mais cedo para o mercado de trabalho com todos os jovens deste país, sem que houvesse condições de absorver o aumento da oferta de mão-de-obra daí resultante.
Não gosto de ter razão por estas razões, mas tenho e de há muito tempo.

15.2.11

Viver para o momento.....

Fico sempre espantado com os dados que são emanados pelo governo.
Segundo parece, de acordo com as fontes oficiais do costume, as exportações portuguesas aumentaram. Ora este aumento prefigura um paradoxo.

Razões: antes da crise financeira e económica havia uma expectativa de tendência para as exportações (o mesmo é dizer nas importações, porque só há uma coisa havendo outra) no mundo industrializado, casos dos EUA e da Europa.

Para os países que não foram afectados no seu sistema financeiro, as importações desceram cerca de 5% face ao que era esperado (a tendência).
Nos países afectados no sistema financeiro, casos dos EUA e Europa, a queda situou-se em cerca de 25% em média, face aos números esperados nas importações, ou por outras palavras, o comércio internacional caíu, em média, 25%. Nestes países não é expectável que o comércio internacional venha a recuperar nos próximos anos. Assiste-se a uma queda acentuada nos primeiros dois anos da crise e, depois, a uma estagnação, derivada dos problemas com um difícil acesso ao crédito, sobre-endividamento, em suma, as conhecidas dificuldades.

Nós portugueses estamos a importar menos, porque estamos a consumir menos, mas parece estarmos a exportar mais: se os outros estão a importar menos, como é que nós estamos a exportar mais? E, acima de tudo, o que é que estamos a exportar em maior quantidade? Não são automóveis nem bens de equipamento. O que será então?

Clara, claríssima, parece ser a conclusão a tirar: exportámos mais vinho e cortiça e etc., em 2010, porque estávamos a fazer um mau trabalho até aí..... o que não poderíamos ter exportado antes se soubéssemos o que fazer, se fossemos conduzidos por gente capaz, gente que estivesse colocada a todos os níveis, das empresas às associações empresariais, dos institutos públicos aos gabinetes onde se cozinha a governação do país.
Mas não temos essa gente, não somos conduzidos numa perspectiva de eficiência e eficácia. Somos malevolamente empurrados para uma cultura de desresponsabilização, para uma postura de indiferença, para um estado de letargia que nos mata.
Mata-nos a nós e aos que se nos seguem.
§
Nota fantástica: há sempre uma boa notícia económica para dar, por parte do executivo, mas o desemprego está sempre a crescer; todos os dias cresce.

9.2.11

As loucuras da nossa sociedade e os tiques de novo-riquismo

O Estádio Municipal de Leiria tem de ser demolido.
O custo de manutenção é de 5.000 euros por dia, o que significa que a autarquia se vê privada de 150.000 euros mensais. Multiplique-se por 12 e veja-se a enormidade que significa para os habitantes de Leiria e a edilidade, que estão privados da aplicação dessa verba no seu bem-estar e desenvolvimento.
Anuncia-se agora a rescisão do contrato de utilização do estádio por parte do União de Leiria; fica a saber-se que deveria pagar 17.500 euros por jogo disputados, (que segundo aparece na imprensa nada pagou esta época) o que significaria, a ser cumprido o contrato, uma receita de 35.000 euros mensais (dois jogos por mês) para a sociedade gestora da infraestrutura, mesmo assim muito longe dos necessários 150.000 acima referidos.
Solução, única possível: a implosão do estádio.
A implosão de uma verba a rondar os 80 milhões de euros (dizem-me).
Implodir é a única saída, mas não pode significar o esquecimento: há que apurar responsabilidades, determinar quem decidiu construir dez estádios quando bastariam oito.
Outro caso lamentável é o estádio do Algarve que não serve rigorosamente para nada, a não ser consumir o erário público.
Todas estas torneiras pingam diariamente, o que se perde é muito e não aproveita a ninguém.

Revisitando: publicado em 15 de Setembro de 2005....

RAZÕES DA MEDIOCRIDADE

Citando Fayga Ostrower:

«A natureza criativa do homem nasce do contexto cultural onde se encontra inserido. Todo o indivíduo cresce e desenvolve-se numa determinada realidade social, cujas necessidades e valorizações culturais se moldam aos próprios valores de vida. No indivíduo confrontam‑se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade, que representa as potencialidades de um ser único, e a sua criação, que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura embebida»

Citando Miguel Torga:

«Moeu‑me a paciência! Trinta anos, bem medidos, de tenacidade! Cheguei quase a desanimar. Vinha, olhava, tornava a olhar, e nada. Alcandorado no seu trono de penedos e nuvens, com o Douro ajoelhado aos pés e o céu a servir‑lhe de resplendor, o Santo furtava‑se ao retrato poético, de qualquer ângulo que eu apontasse a objectiva. Hoje, porém, de repente, entre duas perdizes, não sei por que carga de água, abriu o rosto e foi ele mesmo que me propôs o instantâneo. / ‑ Mostre lá então as habilidades... ‑ pareceu‑me ouvi‑lo dizer. / Nem escolhi enquadramento. Antes que se arrependesse, travei a espingarda e disparei a imaginação ao calhar, do sítio onde estava. / Na arte fotográfica propriamente dita, à sístole diafragmática segue‑se a revelação da película na câmara escura, rematada por alguns retoques amáveis às imperfeições da obra. No meu caso, não houve película, nem câmara escura, nem retoque nenhum. A imagem saiu como está do acto retentivo. Parecida com o original? Muito longe disso. Os poetas não trasladam feições».

Citando Fayga Ostrower:

«Todo o processo de elaboração e de desenvolvimento abrange um processo dinâmico de transformação, em que a matéria que orienta a acção criativa é transformada pela mesma acção. [...] Transformando‑se, a matéria não é destituída do seu carácter. Pelo contrário, é diferenciada e, ao mesmo tempo, é definida como um modo de ser. Transformando‑se e adquirindo uma nova forma, a matéria adquire unicidade e é reafirmada na sua essência. Ela torna-se matéria configurada, matéria‑forma, e nessa síntese entre o geral e o único é impregnada de significados»

António Ferreira, a Diogo Bernardes, aconselha o amigo:

Não mude ou tire ou ponha, sem primeiro
Vir aos ouvidos do prudente, experto
Amigo, não invejoso ou lisonjeiro.

[...] Per'isto, é bom remédio às vezes ler‑se
A dous ou três amigos; o bom pejo
Honesto ajuda então a melhor ver‑se.

Vitorino Nemésio, no poema «O Bicho Harmonioso» escreve:

Eu gostava de ter um alto destino de poeta,
[...]
Tudo isto seria aquele poeta que não sou,

Feito graça e memória,
Separado de mim e do meu bafo individualmente podre,
Livre das minhas pretensões e desta noite carcomida
Pelo meu ser voraz que se explora e ilumina.


A capacidade que cada um detêm para se afirmar, internamente, com maior ou menor grau de exigência nas suas acções, atribuindo-se satisfação ou pelo contrário criticar-se duramente e nunca ficando satisfeito com a obra realizada advém, com naturalidade, da dualidade surgida da aprendizagem feita da vida vivida com as impressões decalcadas do meio social e cultural onde cresceu e se moldou.

Não significa, forçosamente, que a condicionante social e cultural não possa ver-se melhorada e acrescida quando o indivíduo possui forte espírito crítico e enorme inteligência. A cultura espelhada é o reflexo da imagem das alegrias e frustrações apreendidas e da capacidade interpretativa das mesmas. Se o homem nasce e cresce rodeado de sentimentos pequenos e mesquinhos dificilmente o deixará de ser. O reflexo que projecta é, em grande parte, fruto dos reflexos colhidos de todos os outros com quem privou, que escutou e com os quais concordou ou discordou.

A própria essência do acto de concordar ou discordar é relativa e fortemente condicionada pelo espírito crítico, pela inteligência, capacidade de análise e cultura assimilada, tudo vertentes de um mesmo sólido: a aprendizagem efectuada e constantemente aumentada e reciclada. Estando a aprendizagem inteiramente dependente da transmissão oral e escrita, falhando em parte ou no todo aquela resta a leitura compulsiva e multifacetada para suprir as lacunas do conhecimento. Ficam contudo de fora as acções comportamentais associadas ao meio social onde cresceu e os valores retidos, estes normalmente incutidos pelo processo de transferência familiar.

Não é assim indiferente para a transformação da matéria todo o conjunto de significados apreendidos pelo indivíduo, influindo directamente na maneira de ser e no carácter deste. O maior ou menor grau de exigência que fixamos para nós próprios reflecte-se, directamente, na menor ou maior satisfação que retiramos dos nossos actos e na nossa própria realização. É a diferença entre acertar a bitola por cima ou preferir comparar por baixo.

É então claro que quanto maior o grau de compreensão dos fenómenos, maior o grau de exigência nos comportamentos e acções. Tendencialmente procuraremos os melhores e, ainda assim, viveremos confrontados com a realidade de que o que fazemos, todo o processo criativo fundido no geral e no particular, poderia ser ainda melhor e essa constatação e insatisfação simultânea leva a uma transmissão social e cultural cuidada e atenta, na esperança de que quem nos escuta e nos precede consiga fazer melhor.

Infelizmente para o Portugal político o conhecimento, a exigência individual e a consciência do colectivo foi vencido pela mediocridade no geral. Na mediocridade não há lugar para vozes discordantes só havendo mesmo lugar para os medíocres e os muito medíocres, porque a comparação se faz por baixo. O padrão não comporta significados nem carácter. A essência da coisa reside nos tiques pequeno-burgueses, adicionados a uma forte dose de impreparação cultural, ausência de postura e desconhecimento das regras de comportamento social.

É por culpa do homem político nacional que o País está como está: sem identidade, sem valores, sem história, sem cultura, sem educação. Em suma, sem sentido.



7.2.11

Há cada mente brilhante.....

Vitalino Canas;"O PCP sempre se manifestou disponível para censurar governos do PS e sempre esteve disponível para derrubar governos do PS mesmo que isso tenha como hipotética consequência um regresso das forças de direita ao Governo".
Vitalino Canas é brilhante, mas brilhantismo político à portuguesa: esquece-se que o espaço político ocupado por PS e PSD sempre foi o mesmo, que o mecanismo político natural faria (fará) com que um partido perca dimensão, irremediável, para o outro; esta mesma dimensão foi percepcionada por Sá Carneiro e Amaro da Costa: a AD teria acabado com o PS.
A batalha política ao centro mantém-se; o PCP tem tudo a ganhar com o fim do PS ou do PSD, porque a franja mais à esquerda será captada pelos comunistas (o BE não é um player neste cenário).
De qualquer forma, não deixo de vincar o carácter brilhante da afirmação de Vitalino Canas, no tal espaço de brilhantismo político nacional.

3.2.11

A alavancagem financeira, instrumento fundamental de criação de riqueza

Desde o início da crise (2007) que paira no ar uma ideia errada; que um dos males maiores que assolou as economias, as empresas e as pessoas foi o sobre-endividamento destas e a alavancagem financeira das outras, ou dito de outra maneira, que os estados e as empresas só podem investir dentro de determinados parâmetros de equilíbrio, entre capitais próprios e alheios.
Desta ilação, que começa a tornar-se perigosamente um paradigma, resulta uma outra muito perturbante: se os países são ricos ficarão cada vez mais ricos, se as empresas são ricas ficarão cada vez mais ricas e todos os outros, que não tiverem capitais próprios, ficarão para sempre condenados a ser "pobres", resulte a definição no que tiver de resultar.
O mesmo é dizer: se uma família dispuser de dinheiro continuará a dispor, a menos que o esbanje ou invista mal mas, todos os outros que não tiverem "prata", nem sequer dispõem das más opções mencionadas. O mesmo se passa com os países.
Não conheço criação de riqueza sem alavancagem financeira, quer nas pessoas, quer nos países.
Caso contrário, um país pobre será sempre pobre ou dependente de outro(s), assim como uma pessoa pobre será sempre pobre ou dependente de outra(s).
Se queremos crescer temos de ser financeiramente alavancados; o problema surge quando existe uma enorme incompetencia técnica e executiva, tanto na governação de um país, como no governo de uma empresa. Mas a alavancagem é fundamental.

2.2.11

GOL interessada nas rotas aéreas europeias, por serem lucrativas....

Notícia do semanário "Sol" on-line dá-nos conta que a empresa brasileira de transporte aéreo GOL, poderá estar interessada na privatização da TAP.
A razão é lógica: a GOL só opera no mercado sul-americano e pretenderá rotas lucrativas, como são as rotas europeias. A notícia é esta.
A pergunta que fica: rotas lucrativas para uns geram prejuízos para outros, no caso a TAP?
Alguém que explique por favor.

1.2.11

Jorge Lacão afirma que os administradores das empresas públicas ganham em demasia, quando comparados com o Presidente da República e com o Primeiro-Ministro.
Ponto de situação: não sou gestor público e concordo com a afirmação,senão vejamos: como é possível que os gestores públicos ganhem tanto ou mais que os privados ?
Vamos por partes: (1) os gestores são responsáveis pela boa gestão dos activos que lhes estão confiados; (2) os gestores são responsáveis pelos orçamentos aprovados e pelos resultados obtidos; (3) os gestores são responsáveis pelos endividamentos, tendo de convocar Assembleias Gerais, quando os montantes e a montagem das operações requer a validação dos accionistas; (4) os gestores são responsáveis pelo bom cumprimento fiscal e pagamentos à segurança social.
§
Enumeradas só algumas das responsabilidades que recaem sobre os gestores das empresas, encontramos alguma comparação possível entre gestores públicos e privados ? Nenhuma.
Os gestores públicos não respondem perante o fracasso da gestão dos activos, não respondem pelos orçamentos fixados, não respondem pelos financiamentos (que são autorizados pela tutela), não respondem perante a máquina fiscal ou a segurança social.
Conhecemos n exemplos de gestores privados que são perseguidos pelo fisco, através do direito de reversão. Conhecemos algum caso de gestores públicos?
As empresas públicas têm prejuízos imensos, pagam os salários religiosamente e ainda lhes sobra papel para pagar impostos? Alguém acredita?
Verifique-se e a conclusão será simples.
E os orçamentos?
São constantemente ultrapassados, desrespeitados, sem que haja qualquer tipo de penalização.
Os actuais gestores públicos são inimputáveis, pelos vistos, e como inimputáveis que são não podem ser responsabilizados. Assim sendo, devem, de facto, ganhar muito menos do que ganham.
Claro que pagando menos recebe-se menos; mas assim como assim, se a falta de qualidade já é habitual, que se pague menos.

Uma última palavra para as associações patronais deste país: ou estão cegas ou vendidas.

Cheira a enxofre.....

A facilidade com que determinados cronistas se desenvolvem em palavras de êxtase democrático, a propósito das recentes manifestações populares na Tunísia e no Egipto, espantam por demasiado fúteis e ingénuas. Estamos a falar de oligarquias, de povos que vivem miseravelmente, tudo isto é certo, mas não estamos a falar de regimes fundamentalistas e o que se seguirá é de uma enorme interrogação. Hoje foi a Jordânia, onde o governo caíu por ordem do Rei, depois de manifestações de rua - e na Jordânia já não estamos a falar de tanta miséria. Amanhã qual será o país a implodir ?
Vivemos tempos muito perigosos, infelizmente. Tudo isto se passa num momento em que o "ouro negro" ainda é abundante; imagine-se o que será no dia em que o petróleo escassear para aquelas bandas (se é que esse dia chegará) ou forem substituídos os carburantes na indústria ? O caos, o inferno às portas da Europa, do qual já começamos a sentir o cheiro de enxofre.