31.3.08


Mike Bernard

A Pedrada no Charco...

O desrespeito pelas instituições e seus representantes é uma realidade conhecida por todos nós, há muito tempo.
A total falta de educação, civismo e cidadania é igualmente apanágio de toda a estrutura social pós-25 de Abril.
O aumento da criminalidade violenta (denunciada neste sítio nos idos de 2006) e não violenta, fruto directo da ausência de valores, enfraquecimento do poder policial, judiciário e filha do pantanoso sistema político, dito democrático, em que vivemos, é filha directa e dileta da estúpida política de urbanização dos municípios (dos grandes municípios), que cometeram erros conhecidos de outros lugares e com muitos anos - a construção de guetos.
Igualmente contribuitiva, a política errática migratória que começou por permitir a entrada no nosso País de cidadãos com alguma formação, mas que de há muito tempo a esta parte fez ouvidos e pensamento moucos a uma outra realidade: sendo a imigração inicialmente proveniente de espaços que entretanto foram incluídos no espaço comunitário, passaram estes nossos parceiros a oferecer aos seus cidadãos opções de vida muito melhores do que aquelas que nós lhes poderemos oferecer agora (se nem para os nossos temos oferta), ficando sujeitos, a partir do momento da criação da expectativa UE, à entrada no País da escória que não tem cabimento na reconstrução dos mencionados parceiros comunitários.

Tudo isto é verdade e contribui, com sinal negativo, para um acumular de tensões e crispações que geram manifestações de natureaza variada.
Entre estas conta-se a "violência" escolar, o desrespeito pela instituição escola e pelos seus representantes, os professores. Não está generalizado mas está suficientemente difundido para se tornar preocupante. Claro está que não é assunto de polícia, a menos que se verifiquem agressões e maus tratos físicos, que nem os verbais aqui terão cabimento. O ensino tem mecanismos para lidar com estas situações, desde que não sejam extremas, que passam da repreensão oral até à expulsão pura e dura do faltoso.

Porém, como em tudo na vida, é necessário saber fazer uso do poder e legitimidade de que se está imbuído.
Analisado o caso que se passou no Carolina Michaelis, que até PG da República e PR já meteu, verifica-se que se está perante uma situação que alberga comportamentos reprováveis, sendo porém estes comportamentos reprováveis, quer por parte da aluna envolvida, quer da própria professora.
Analisando: (1) a aluna fere um princípio de respeito óbvio ao utilizar o seu telemóvel na sala de aula; (2) reage mal, muito mal, à apreensão do telemóvel pela professora, excedendo em muito o limite do possível no que ao comportamento e educação diz respeito, merecendo castigo pesado pela sua atitude; (3) a professora tem mecanismos para castigar a prevaricadora: dar ordem de saída imediata da sala de aula, por mau comportamento, à aluna, esperando que esta acate a sua decisão. Não acatando, a professora pede a ajuda de um auxiliar escolar para se fazer obedecer ou, em extremo, sai da própria sala de aula, fazendo recair o peso desta absurda necessidade sobre toda a turma, por passividade ou mesmo conluio com a aluna duplamente prevaricadora. E por aqui se ficava a história, sem contornos nacionais e sensacionalistas, sem you tube, sem nada...

Mas não, a professora deixou de ser professora, perdeu a noção do poder e legitimidade de que se encontra investida e reagíu como uma mãe: tirou o telemóvel à "filha" e insistíu, quando percebeu que a "filha" se rebelava, e voltou a insistir e a insistir, sem poder contudo, porque não é mãe, impor essa condição ou indo mais longe, dar os dois tabefes que se apropriavam à circunstancia.
Porque um telemóvel é hoje, para a maioria dos jovens, muito mais que um mero telefone - o telemóvel funciona como diário, um registo, quer de chamadas quer de sms, sendo portanto um instrumento muito pessoal - desperta, claramente, um sentido profundo de propriedade.
O que a professora fez naquele momento foi apropriar-se, indevidamente, de propriedade alheia, exorbitando o seu poder na sala de aula. Em suma, não soube exercer o poder que a institução lhe delega quando se encontra no interior de uma escola ou num raio de 200 metros dessa escola.

As culpas estão repartidas, mas este não é, nem pode ser, caso de polícia. É um caso para ser tratado na escola, para ser maduramente pensado, do qual se podem tirar ilações sobre a natureza do poder e a capacidade de o exercer, sobre os comportamentos, a sua evolução e as medidas quer preventivas quer prossecutórias.

A professora descansa em casa, provávelmente até ao fim do ano, por se encontrar abalada psicológicamente. Acreditamos que esteja fragilizada, mas pensamos que deveria estar em casa em recuperação e, simultâneamente, a aguardar o resultado do inquérito que deveria ter sido movido de imediato, quer à aluna e respectivos colegas, quer à professora, para análise exaustiva das condutas verificadas naquele dia, naquela sala de aula daquele estabelecimento de ensino.

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Para que se perceba o alcance do valor do telemóvel (de todas as novas tecnologias no geral ) reproduzo parte de uma peça da autoria da empresa de soluções de segurança para sistemas de comunicação unificados:
esta empresa "... sublinha o facto de muitas companhias não reconhecerem a utilização dos serviços de mensagens instantâneas como ferramentas de trabalho e lembra que isso não evita a sua utilização. Recomenda o reconhecimento destas ferramentas de comunicação e a sua integração nas políticas de segurança das empresas, a par com o controlo da informação que é veiculada por esta via".

Ou seja, adaptando à nossa situação: quando tomamos posse de um telemóvel que não é nosso, podemos tomar conhecimento da informação ali guardada - quer recebida quer transmitida.
§
Não sabemos que tipo de informação poderia conter o telemóvel apreendido pela professora à aluna, no Carolina Michaelis, nem ninguém saberá, mas todos convimos que será do foro estritamente pessoal e privado da aluna e que a privacidade se poderia perder, acaso a professora ficasse com o aparelho apreendido. Justificaria a informação, os sms, a atitude semi-tresloucada da aluna? Não o cremos, mas se quisermos ser totalmente imparciais teremos de afirmar: não o sabemos.

O que sabemos é que não se justifica um adulto, com responsabilidades, fazer finca-pé pela posse de um telemóvel numa sala de aula.
Até poderia insensatamente tentar, mas vendo a reacção intempestiva, devolvia-o de imediato e dava uma ordem firme e segura de expulsão da sala de aula à aluna prevaricadora.
Esta seria a aitude normal de um adulto maduro, professor, com responsabilidades perante 30 alunos, numa sala de aula.

12.3.08

E para quando seriedade?

É já evidente que as instituições financeiras nacionais perderam imensa liquidez com a crise do sub-prime. Alguém se importa de dizer quanto é que se perdeu e como pensam ultrapassar o problema? E as provisões?, vão afectar os resultados de 2009? É que já deviam ter afectado os resultados de 2008. O que dirá, na altura em que a castanha estalar, o BdP e o seu douto Governador? E as consultoras e auditoras? E os revisores de contas? E os administradoes dos bancos? E o governo?

Não basta dizer que não vai haver dinheiro para crédito este ano. Há que dizer que não vai haver por falta de liquidez no sistema financeiro.
Não basta dizer que o dinheiro que gira no sistema interbancário está mais caro. É preciso dizer que a credibilidade das instituições financeiras está afectada, havendo quebra de confiança dos agentes económicos externos.


Keith Dunkley

Os problemas europeus...

Como aqui foi dito e redito, a preocupação após sub-prime não é a economia americana mas sim a europeia.

Com o petróleo a aumentar, mas indexado ao dólar e com o dólar a desvalorizar face ao euro, não pode ser a esta luz que o problema da inflação na Europa se deverá colocar (mas será o problema da inflação um verdadeiro problema? Não é!).

Bom, não sendo à luz do custo do petróleo, basta atentar nas razões que levam a um aumento dos preços, para perceber quais os problemas económicos do espaço único europeu. Problemas só europeus, que carecem de solução no espaço europeu.

10.3.08



Herbert Richter

Como é que não importa se há ou não RAZÃO ?

Sobre as razões e contornos da mega-manifestação de Sábado dia 8, interligadas com outros sinais de descontentamento, ler aqui.

Sobre a resposta política do actual governo, é desolador verificar que o primeiro-ministro se esconde atrás da ministra e que esta, a despeito de ter toda uma classe profissional contestatária, assume o discurso da redução da razão ou sua ausência a um mero exercício de retórica, colocando o ênfase nas reformas.
Será então possível levar a governação de um país dito democrático a sério, quando os seus governantes assumem uma postura de rotura com a população, persistindo em caminhos que desagradam e que, feitas as contas, não introduzem a tão necessária reforma de que o país necessita?
O problema coloca-se ao nível da educação, da saúde, da inserção social, do emprego, da capitalização, do crescimento económico, da diminuição das desigualdades, da repartição do rendimento......
O problema é tão vasto que tem tudo a ver com a concepção política e económica de Portugal, não sendo uma questão que se restrinja à educação, mas a toda a sociedade.
Estiveram em manifestação 100.000, poderiam ter estado 5 milhões.
Esta é a verdadeira questão: todos, sem excepção, têm razões de queixa de sobejo, para se manifestarem em todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal. Todos, com razões locais e nacionais, têm o direito à indignação. O serem 100.000 (muitos, mesmo muitos atendendo tratar-se de uma única classe profissional) exigiria uma resposta séria por parte do governo. Porque de contrário temos garantido que tivessem sido 5 milhões e a resposta seria a mesma: não importa de que lado está a razão, importa sim continuar o caminho traçado pelo governo.

Já ouvi este discurso, com uma enorme diferença: reconhecia muito maior competência a quem o fazia e não andava enrolado na falácia das palavras - não vivíamos em democracia.

5.3.08


PANINI, Giovanni Paolo
1691 - 1765

Que venha Hillary Rhodam Clinton...

Hillary Clinton ganha no Ohio e no Texas, dois circulos eleitorais chave para a corrida à presidência. Resta esperar pela diferença e número de delegados eleitos.
Parece, contudo, que nesta recta final das primárias, os eleitores americanos democratas optaram pela segurança do conhecido, à demagogia mal fundamentada e estruturada de Obama (a excepção é Vermont, mas este não tem peso).

Assim, dependendo dos resultados finais e número de delegados (Hillary tem NY, California e Texas e conta, de acordo com a última sondagem - entre 11 e 15 Fev - com 190.5 votos de superdelegados contra 148.5 votos para Obama) tudo aponta para uma corrida McCain (já garantido) vs Hillary.

De uma forma ou de outra temos certezas: a política externa não sofrerá alterações; a política interna tão pouco, talvez com uma ligeiríssima diferença: assim que os tempos o permitam, se McCain ganhar, a política económica poderá ver aumentado o seu cariz liberal; com Hillary a política económica será sempre alvo de maior intervenção governamental (diferença que nos próximos tempos não se fará notar, por razões económicas actuais óbvias).

Embora afirmando que a política externa não sofrerá qualquer alteração ou, mesmo, interrupção, McCain transmite maior confiança na capacidade de assumir decisões difíceis. Mas Hillary goza da experiência da Casa Branca (dois mandatos de Bill) e não deixará de ser interessante ver uma senhora à frente dos destinos norte-americanos.
Recordo que o melhor primeiro-ministro britânico dos últimos 40 anos foi uma senhora, que ficou conhecida por Dama de Ferro e que gritou bem alto: " não permitiremos que o socialismo entre na Grã-Bretanha pela porta de Bruxelas ". Foi, igualmente, a mentora do famoso cheque nas contrapartidas económicas ao sector agrícola inglês, em contraponto com as enormes ajudas que França recebe.

Por tudo isto afirmo: venha então Hillary e veremos o que a sensibilidade, força e experiência femininas arrostam de novidade nestes tempos conturbados.

3.3.08



Renoir

Chelas-Barreiro e o resto são estórias....

Reza a notícia:
"Terceira Travessia: Estudo de Viegas demonstra superioridade de Beato-Montijo em 14 dos 15 critérios analisados. A construção da terceira travessia do Tejo no eixo Beato-Montijo, exclusivamente ferroviária, está orçada em 1.150 milhões de euros.
Por seu turno, a construção da terceira travessia do Tejo no eixo Chelas-Barreiro está orçada em 1.700 milhões de euros, dos quais 600 milhões serão para a alta velocidade e 500 milhões para o tabuleiro rodoviário. A ponte terá duas vias para a alta velocidade, duas para a rede convencional e duas vias laterais com três faixas cada uma para o tráfego rodoviário".

Dos 15 critérios analisados, Chelas-Barreiro perde em 14; ganha no critério do tempo de ligação dos comboios suburbanos a Lisboa. Pudera, estamos a falar do Barreiro; neste critério nunca poderia perder.
Segundo Viegas, "O estudo demonstra que há grandes ganhos de valor de tempo e apresenta um melhor enquadramento na rede viária e no transporte de mercadorias". Acrescenta ainda que, "O desenvolvimento extenso da solução resolve de forma definitiva todas as dúvidas que havia sobre a viabilidade física da solução Beato-Montijo".
E pronto, está dito!
Este Viegas é um pândego; a coberto da defesa da solução Alcochete pretende, agora, enfiar a solução Beato-Montijo. O interesse, como sempre, é meramente nacional.
Mas pergunta-se: como é que uma solução que só prevê travessia ferroviária é superior a uma rodo-ferroviária, quando a ponte sobre o Tejo está lotada entre as 07.30 da manhã e as 20.30 da noite e a ponte Vasco da Gama vai ser sobrecarregada com o aeroporto em Alcochete?
Como é que, nestas circunstancias, se defende um melhor enquadramento na rede viária e, igualmente, "ganhos de valor de tempo" - aguardo pela publicação pública do estudo para perceber o que significam estes ganhos.

A única solução séria e possivel já foi indicada pelo Governo; Chelas-Barreiro.
O resto são manobras de diversão, com desígnios insondáveis.
As afirmações reproduzidas da notícia são semelhantes ao já famoso "jamais, jamais", mais sofisticadas, nada merendadas, mas exactamente iguais nas certezas: 14 em 15 critérios desfavorecem a solução e; "o desenvolvimento extenso da solução resolve de forma definitiva todas as dúvidas que havia sobre a viabilidade física da solução Beato-Montijo" equivale a dizer o mesmo, "jamais, jamais".
Um pândego este Viegas.

Depois acresce algo que nunca percebi convenientemente: como é que o Barreiro foi bandeira durante tantos anos e, com o advento do 25 de Abril, passou a localidade esquecida.
Ou percebo mas não quero acreditar.
Que há sempre alguém disposto a prejudicar o Barreiro é um facto, a começar pela gestão do camarário comunista, durante longos e nefastos anos, mas a bem da verdade se deverá dizer que o Barreiro também nunca gozou da disponibilidade política dos vários governos e primeiro-ministros.

2.3.08


O perigoso caminho do PSD...

A ler atentamente:
§
Porque na altura da eleição de Luis Filipe Menezes defendi a mudança, por necessária face à dificuldade de afirmação política de Marques Mendes, também agora, como sempre procuro, dou a mão à palmatória verificando que a tal mudança, necessária, não o foi no sentido esperado, o da melhoria interventiva de um partido crucial ao regular funcionamento da democracia , facto comprovado e afirmado perante a divagação e deriva política muito perigosas que Luis Filipe Menezes encetou, por manifesta incapacidade de se impor através de ideias e projectos nacionais, seguindo raciocínios facilitistas, de linhas de orientação política baseadas na boleia dos temas quentes e fracturantes do momento e, assim, conduzindo o PSD para caminhos seguramente pantanosos.
Porque tudo isto é verdade, porque ainda há quem pense e se mostre capaz de raciocinar dentro do partido; porque o PSD sendo um partido onde as bases sempre contaram, é, igualmente, um partido onde os "quadros" fazem a diferença, por tudo isto se reproduzem aqui, na hiperligação aconselhada, as afirmações de J. Pacheco Pereira, que subscrevo por inteiro.


On Broadway

John Noott

Soneto do Prazer Maior

Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.

(M.M. Barbosa du Bocage)

Meu Ser Evaporei na Luta Insana

Meu ser evaporei na luta insana
Do tropel de paixões que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quasi imortal a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos

Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.


(M.M. Barbosa du Bocage)