6.7.11

O interesse subjacente do rating para o investidor/especulador


As agências de rating avaliam empresas. Contudo é impossível avaliar empresas e bancos sem levar em conta o clima macroeconómico e fazer previsões sobre este.
Porquê? Principalmente porque a instabilidade económica conduz a volatilidade nos resultados esperados das empresas e instituições financeiras.
Na prática falamos de três elementos macro fundamentais: (1) o crescimento da economia real; (2) inflação esperada; (3) taxas de câmbio. Em qual destes vectores de avaliação nos devemos agarrar para condenar uma avaliação negativa da nossa economia?

O 1º é negativo; o 2º joga contra nós, porque é controlado pelo BCE e o aumento de juros da taxa indicadora se é positiva para a Alemanha, é negativa para Portugal (totalmente dependente de capitais alheios), acrescido do efeito euro.
O 3º não temos, dependemos de outros.
Que há capacidade de manobrar ratings há, mas tudo depende da confiança dos investidores nas análises efectuadas, porque no fim quem conta é quem tem o dinheiro. E quando nós tínhamos dinheiro nunca criticámos os ratings e respectivas agências.
Por outro lado fica uma questão: não se avaliam mais os Estados, só as empresas. Mas a prestação de uma economia está directamente ligada à prestação das empresas, das financeiras, do consumo, da poupança, da receita fiscal. Se avaliar empresas é difícil, imagine-se avaliar empresas em ambientes económicos de volatilidade...

O anúncio de fraquíssimas prestações económicas no presente, pode alterar de forma fraca os seus activos actuais, mas afecta dramaticamente as expectativas futuras.
Quando se avaliam resultados futuros, o risco tem de ser considerado algures na análise. Se as preocupações sobre esse futuro são grandes, as taxas de desconto aplicadas sobre os resultados futuros são maiores, reduzindo assim as prestações económicas esperadas, nos estados, e os cash-flows nas empresas.

Finalizando, o dinheiro não é nosso, é de outros e esses querem uma análise que salvaguarde os seus investimentos. Depois, a moeda (a par do ouro) é sempre o instrumento de refúgio por excelência, estando sujeita a pressões especulativas. Quando se imaginam percas em euros, valoriza-se o dólar, o yen e compensa-se; outras vezes é o contrário. A moeda é um jogo de curto-prazo; a longo-prazo qualquer cotação de moeda tende para a estabilidade.
Ninguém pode criticar que, ao avaliarem-se desempenhos de empresas, bancos e países, se introduzam coeficientes de cagaço. A bolha das dotcom rebentou porque se facilitou na avaliação das acções, nas IPO (Ofertas Públicas de Aquisição, aqui na sigla original inglesa), etc..
O mundo financeiro está longe de ser perfeito e há um lado negro nas avaliações, mas por ora é o instrumento que temos de comparação e tem de servir.
Se a Europa não convence, o que leva a taxas de desconto, betas e quejandos a aumentarem, a culpa não é das agencias de rating mas da arrogancia da Europa, incapaz de olhar para si própria e perceber as suas idiossincrasias.

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