19.4.11

O voto inútil....

É interessante acompanhar estes últimos tempos da III República. Temos um conjunto alargado de figuras públicas, incluindo políticos, numa acção deliberada de conseguir, a saber:

(1) Um compromisso nacional entre partidos e instituições, tendo em conta a «credibilidade externa», e uma «maioria [parlamentar] inequívoca», com a intenção de responder à crise;

(2) Segundo os subscritores, esta é uma crise iniciada nos Estados Unidos em 2009 e «a maior recessão global dos últimos 80 anos»: nada de nacional, portanto;

(3) Apelar a «um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de um plano de acção imediata, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular funcionamento da economia»;

(4) Um compromisso para ser alcançado antes das próximas eleições, marcadas para 5 de Junho, segundo os subscritores desta genial ideia.

Por outras palavras, mesmo antes das eleições de 5 de Junho próximo, tudo deverá estar combinado, acertado, assinado, preparado para ser implementado. Por outras palavras, é um bloco central alargado, que inclui os principais partidos políticos, empresários, políticos que desempenham e desempenharam as mais altas funções de Estado, etc.,etc..

O que se pretende é a manutenção do status quo e a sua salvaguarda.
Pergunta-se: se tudo está acertado e negociado para quê eleições?
Mas pergunta-se mais: se o que se pretende é definir o rumo de Portugal, fora e para além da vontade dos votantes, porque razão essa definição é feita pelos mesmos que destruíram a Nação?
Se a democracia é um mito em Portugal e a liberdade de decisão política, através do voto, se transforma numa utopia, porque razão querem ser os mesmos que destruíram, a impor a sua vontade à Nação?
Nestas circunstancias, não tenho qualquer dúvida que prefiro outras gentes, mais capazes e que não estejam sujas pela bancarrota nacional, pelos interesses políticos, pelos favores pessoais e de classe.
A táctica, objectivamente, parece ser a de tirar este "cavalo da chuva" mantendo os cavaleiros, colocando outro "cavalo à chuva" e mantendo o poder. Mas se o poder já não se consagra pelo voto mas por acordos palacianos, melhor será para Portugal que se confirme um outro poder, mais capaz, menos volátil a interesses pessoais, mais nacional e patriótico. E, se acaso, se assume que o voto, por si só, já não resolve nada, acresce a razão para a mudança de protagonistas políticos, porque os actuais contribuíram, decisivamente, para a erosão desse voto, agora considerado inútil.

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