14.4.11

O Desígnio, o caminho, a solução....

As questões de performance económica prendem-se, na totalidade, com decisões políticas. Por outras palavras, a vontade política define, na totalidade, a capacidade económica de um país ou região. Sendo a premissa verdadeira, convenhamos que o conhecimento económico, por parte da classe política, é fundamental.
Mais ainda: a capacidade de antecipar cenários económicos e financeiros é determinante para a acção política. Existindo aquela, esta corre bem, caso contrário a conclusão é óbvia. Não entra na equação o que não pode entrar: roubo e corrupção. O resto entra, sobressaindo a competência ou incompetência no mencionado resto.
Na difícil situação em que Portugal se encontra - recordemos que Portugal são os portugueses - não é nada fácil, para não dizer impossível, imaginar milhões de concidadãos passarem uma enorme tormenta, na forma de vidas desfeitas, de frustrações vincadamente sociais, pessoais e familiares. Apetece gritar muito alto "Porquê", mas a resposta seria invariavelmente um enorme silêncio para algumas questões, sendo para outras o desfiar de um rol de recriminações , de todos conhecidas.
Estamos na situação que, para mim, é a melhor: eu, que me habituei a encetar algumas recuperações financeiras de vulto, garantindo a estabilidade empresarial de instituições e a manutenção de centenas de postos de trabalho, gosto do "capital de mudança", das inevitabilidades, dos constrangimentos na acção, das tesourarias "a vermelho", algumas entre outras certezas com que sou sempre confrontado, quando assumo responsabilidades de gestão de topo. E gosto, perante todas essas certezas e inevitabilidades, de vencer paradigmas.
Portugal está numa situação em que precisa de se reinventar: de alterar o paradigma.
Sei, como a maioria de nós sabe, quais os problemas que nos afligem; esse conhecer faz parte da análise preliminar. Depois, começa-se de imediato a trabalhar nas soluções; soluções porque nunca existe uma única solução, também porque os problemas, mesmo que pareçam idênticos, exigem sempre tratamento diferente. Ao nível económico e financeiro não existem duas "gripes" iguais.
É este desafio, o desafio da solução, que é empolgante, que galvaniza, que define o líder e conduz as massas, porque estas acreditam nas soluções, porque os fizeram acreditar que existe uma solução. A situação exige uma liderança forte, um objectivo claro traçado e uma enorme capacidade de argumentação, negociação, execução e assertividade. Doa a quem doer.
Não é uma gestão para agradar; é uma gestão para resolver.
Portugal tem, no momento presente, uma enorme questão a resolver: devolver a dignidade e condições de vida à sua população.
Toda a governação tem de se inclinar sobre este desígnio maior. Dele, nascem todos os outros objectivos, fixados claramente, mas desígnio só pode existir um e só existe um, o que foi mencionado.
Atingi-lo exige coragem, determinação e saber. Mas exige, muito principalmente, arrastar todo o país no desígnio nacional, no desígnio que todos, sem excepção, reconhecem como o único possível, o único pelo qual valem todos os sacrifícios. Mas não se pode pedir à população, já em enorme sacrifício, que se habitue à ideia que vai ter de fazer (durante quatro anos, para os optimistas, sete anos para os políticos, ou vinte anos para os mais habituados a fazer contas), sacrifícios ainda maiores. Não pode porque a população não aguenta, porque ninguém pode viver "eternamente" com o credo na boca, porque uma coisa é não poder comprar um carro ou fazer uma viagem e outra, bem diferente, é não ter como pagar os estudos dos filhos e mesmo não ter o que comer. E, contudo, as soluções existem.
Existindo, chega de carpir mágoas, esconder a ineficiência em discursos de retórica, de ataques e contra-ataques, de "diz que disse". A hora é de começar a trabalhar, com o desígnio traçado, os objectivos de curto-prazo fixados e os de médio e longo-prazos ajustados, sistematicamente ajustados.
Tenho escrito sobre o trilho inicial, aquele que tem de ser encetado e dará origem ao restante percurso. O primeiro é a direito; o outro sofrerá ajustamentos obrigatórios de rota. Conheço a concepção primeira do percurso, porque conheço o trilho. Existindo coragem, só exigirá muito trabalho.
Como será expectável, não é possível descrever todo o caminho a percorrer e os resultados esperados, num espaço como este; veja-se este escrito, que já tem léguas.
Mas recorro a exemplos: há uma enorme quantidade de negócios, de indústrias, que não têm qualquer viabilidade económica no Portugal de hoje. Há, igualmente, uma agricultura que não tem saída e umas pescas que estão moribundas. Razões fundamentais: a dimensão nacional é pequena para lutar contra enormes corporações, com enorme capacidade e eficiência produtiva, seja na agricultura e pescas, seja na indústria. Seria impossível, no Portugal de hoje, recriar um grupo químico da dimensão da CUF, uns estaleiros da dimensão da Lisnave ou uma siderurgia da dimensão da SN. Porque é mais barato comprar fora do que produzir internamente, porque não há capacidade de alavancagem financeira de indústrias que consomem enormes recursos financeiros e não porque se tenha perdido conhecimento científico e técnico.
Imagine-se agora, numa escala mais pequena, outras indústrias: embalagens de cartão, por exemplo. Como é possível investir em Portugal, criar postos de trabalho e produzir embalamento para o leite e os sumos, quando somos confrontados com a Tetra Pak? Não é; o investimento está condenado. Todos nos lembraremos agora de negócios e falo de negócios não especulação, sobre os quais já nos debruçámos e chegámos sempre à mesma conclusão: em Portugal não dá: o mercado é pequeno, não elástico e a concorrência feroz.
Imagine-se agora um Portugal diferente, dono da sua moeda, desvalorizada face ao euro, a necessitar de consumir e a ter de pagar preços incomportáveis para o consumidor interno: valerá de novo o investimento nas embalagens de cartão para embalamento (mero exemplo), porque a Tetra Pak já não conseguirá responder ao anseio de preços do seu consumidor, que tem de responder perante o consumidor final interno. E outros negócios, outras indústrias, outras agriculturas e outras pescas se lhe seguirão. O consumo interno cresce, com uma mão-de-obra desvalorizada externamente em 25%, o emprego cresce, as importações são fruto do crescimento do rendimento agregado nacional e, last but not least, as exportações são competitivas, levando a economias de escala, ou seja, a prover o mercado nacional a menores custos e a atacar com força no mercado internacional.
Elementos comuns à estratégia: recurso ao escudo abandonando o euro; utilização do instrumento cambial; cunhagem de moeda; injecção de liquidez na economia; proteger o made in Portugal; reestruturação do sector primário e secundário da economia; reutilização dos recursos humanos do sector terciário nos sectores mencionados anteriormente, incluindo e facilitando a necessária redução de efectivos no estado.
Esta é a solução que defendo e preconizo para Portugal. Este é o trilho que nos conduzirá ao desígnio. Este é o caminho mais curto para a felicidade.

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