
Wall Str. District (1936)

Considerações Prévias em relação a Portugal:
1) Era a sociedade nacional tipicamente europeia?
2) Fazem sentido para Portugal as observações da ascenção e queda da Europa no mundo?
1) Sim, Portugal parece apresentar as características fundamentais de uma Sociedade Nacional europeia.
Portugal é uma sociedade de tamanho claramente abaixo da média europeia, mas é muito homogéneo sob o ponto de vista cultural.
2) Portugal participou no processo de ascensão, apogeu e queda da importância da Europa no Mundo? ...
A resposta a esta questão não pode ser tão linear como a anterior.
A ideia de que Portugal é um país atrasado relativamente ao resto da Europa vem já desde o século XVII:
Ao longo do século XIX, o que se verifica é que Portugal começa a perder terreno, nomeadamente em termos de PIB, quando comparado com a Europa no seu todo, em situação de ascensão neste aspecto.
Durante o século XX, Portugal recupera, mais concretamente durante a segunda metade do século, enquanto a Europa no geral começa a viver uma situação de declínio.
Perspectiva Política
Podemos afirmar que, em termos políticos, Portugal anda ao ritmo da Europa:
Entendia-se nesta altura que o império colonial era essencial para o crescimento económico.
Mas muitos argumentam, actualmente, que é errado pensar que a Europa conheceu crescimento económico porque tinha colónias. Passar-se-ia exactamente o contrário: a Europa pôde ter colónias porque vivia um período de crescimento económico.
A sociedade portuguesa dá nesta altura sinais contraditórios pois, estando ‘mal’ a nível económico, o facto de ter colónias não revela a sua verdadeira situação económica.
Na verdade, Portugal estava ‘dependente’ do seu império.
Ao longo do século XX, com a perda das colónias, Portugal perde a sua identidade, o seu passado histórico, desenraíza-se, sofrendo o síndrome do isolamento e da dimensão, acanhada e períférica, numa Europa a que se pretende agregar mas da qual recebe, em simultâneo, manifestações constantes de ajuda e igualmente de desprezo. Factores históricos, longínquos mas também recentes (caso da emigração portuguesa e da arrogância política) explicam as crispações.
Perspectiva Demográfica
Portugal acompanha o processo de emigração, nomeadamente para a América, típico da Europa da época.
No entanto, durante os anos 60, verifica-se uma grande vaga de emigração portuguesa para França, que não acompanha a vaga europeia.
Depois, Portugal acerta o ritmo e passa a receber também imigrantes, mão-de-obra.
Perspectiva Cultural
Durante o século XX verifica-se uma evolução positiva, embora extremamente tardia quando comparada com a evolução europeia no seu todo, no que diz respeito às taxas de alfabetização e ao número de anos de escolaridade obrigatória.
Portugal parecia recuperar significativamente ao longo deste século em relação à média europeia, mas dados recentes mostram um atraso significativo na nossa literacia, quando comparados com os restantes membros da UE a 25 e outros países desenvolvidos fora da UE.
Portugal nas Comunidades Europeias, depois Comunidade Europeia, depois União Europeia
Principais aspectos da integração de Portugal :
A teoria desenvolveu-se num ambiente em que o trade-off inflação-desemprego constituía a referência fundamental para a condução das políticas macroeconómicas. Entretanto o trade-off deixou de ser considerado como existindo no longo prazo. As variações cambiais deixaram de ser vistas como uma forma eficaz de assegurar a competitividade externa das economias, para passarem a factores de amplificação dos desequilíbrios internos e externos e de perda de credibilidade das autoridades monetárias. A teoria evoluíu, passando a dar maior atenção aos diferenciais das taxas de inflação entre países e à existência de processos de convergência económica, como condições para o sucesso da introdução de uma moeda única.
A teoria das ZMO fornece o referencial mais utilizado para avaliar os prós e contras de abdicar da moeda nacional. Os custos da moeda única situam-se ao nível da estabilização macroeconómica, os benefícios ao nível, sobretudo, dos ganhos de eficiência microeconómica.
Todos os países são diferentes, ocasionando, dessa forma:
Do lado dos benefícios teremos:
O recente alargamento a 10 países, o maior de sempre, acarretou como esperado, problemas a vários níveis: condições de apoio menores do que em alargamentos anteriores; aumento das dificuldades de adesão à moeda única; diluição do conceito de criação da UE (dos princípios criadores); transferencia do projecto da UE para a arquitectura política; não existência de ideias francamente mobilizadoras.
O papel do euro como unidade de conta, como "moeda-refúgio", depende de factores como a sua estabilidade cambial, peso da zona euro no comércio internacional, preferências nas transacções e política cambial de países terceiros.
Como foram calculados os critérios de convergência em Maastricht:
Aplicando as condições do tratado, a igualdade d=yb reduz-se a: 3%=5% x 60%, o mesmo é dizer, assumir o crescimento do produto nominal em 5%, valor próximo do que se registava na Alemanha. Existíu então, como agora, arbitrariedade na fixação dos critérios, nada tendo a ver com a teoria das ZMO.
Ao alterar as regras do PEC, que como se víu foi "construído" à imagem e semelhança da economia alemã não merecendo, por tanto, uma defesa fervorosa nos seus princípios, os países passam a estar sujeitos a critérios menos rígidos do ponto de vista da despesa, influenciando directamente o défice orçamental e os diferenciais das taxas de inflação entre países da zona euro e os critérios de convergência. Os pilares de sustentação do euro desmoronam-se. Ninguém pode acreditar, em seu juízo, que perante o deslizar de umas economias em relação a outras as paridades fixadas se possam manter. Não existem sistemas de vazos comunicantes entre as economias europeias, (não existe um sistema fiscal único, não existe um modelo de estado-providencia único) e as verbas dos fundos comunitários (para Portugal têm funcionado como indemnizações e não como subsídios) são cada vez menores e mais divididas.
Um euro em Portugal não poderá valer o mesmo que na Alemanha, à paridade actual, se a performance económica portuguesa se fôr afastando, irremediávelmente, da performance alemã. É discutível o conjunto de critérios que permitem fixar paridades entre moedas, mas não podemos esperar que estes critérios se alterem quando as prestações económicas são frouxas. Aqui surge o espectro da estabilidade cambial do euro. Não será por acaso, que no mesmo dia em que é anunciada a revisão do PEC, o dólar recuperou perante o euro.
Nada é certo neste momento, a não ser que os interesses alemães passam pelo centro e leste europeu, os francesses pela manutenção da ideia política subjacente às CE, os ingleses pela manutenção do binómio liberdade de movimento de capitais-política monetária controlada, com taxa de câmbio flutuante e Portugal bem encostadinho a Espanha, cheio de problemas estruturais, a produzir muito pouco e a consumir mais do que pode, a correr para os bancos da escola para aprender castelhano. A Europa dividida por interesses económicos regionais, a várias velocidades, como sempre esteve, mas desta feita assumidamente.
Portugal a caminho das Comunidades Europeias
Portugal evoluia, entretanto, entre componentes contraditórias :
· Na sequência do “25 de Abril”, sofreu transformações estruturais, que visavam uma sociedade socialista, embora não comunista nem de direcção central, a saber:
1.Reforma agrária
2.Nacionalizações
· Corte radical dos laços políticos com outros membros do EEP, através da descolonização, que originou :
1. assunção da ligação preferencial à Europa
2. fim da ligação ao Ultramar
Nas relações com a Europa, sem romper as ligações com a AECL, o coração de Portugal balançou na direcção das CE, traduzido nos seguintes factos :
· revisão do tratado de associação em 1976
· pedido de adesão em 1977
· negociações concluídas em 1985 (1)
· adesão em 1986
· período de transicção até 1995
(1) Portugal foi compensado pela lentidão do processo de negociação, pela concessão de uma significativa ajuda de pré-adesão
4. Das Comunidades Europeias à União Europeia
Os alargamentos
Entre 1986 e 1997 as CE, depois Comunidade Europeia (CE), depois EU foram alargadas por mais quatro vezes:
· 1986 Portugal e Espanha
· 1990 RDA pela reunificação alemã
· 1995 Áustria, Finlândia e Suécia (1)
. 2004 PECO´s + Malta + Chipre
. A Turquia está em estudo.
O 1º corresponde à absorção, já referida, dos membros mediterrânicos da OCDE (2)
O 2º corresponde ao processo de reunificação alemã. (3)
O 3º corresponde à conclusão de absorção dos países da AECL (4)
O 4º pela necessidade de alargamento a Leste, bem como pelo interesse alemão de aumentar a sua influência na Europa Central e de Leste.
Os aprofundamentos
Através de processos de constituição de uma união económica e união monetária as CE entraram num período de aprofundamento da sua consolidação interna, formalizado através da fusão do complexo CECA + CEEA + CEE numa única CE, em 1987, quando se acordou na constituição da união económica e, depois, na transformação da CE numa UE em 1993.
A união económica consubstanciou-se na formação de um mercado único para bens, serviços e factores e a união monetária na adopção do euro em 1999 e circulação monetária em 2002.
A união monetária é responsável pela designada “geometria variável” ou “Europa a duas velocidades”, por imposição dos critérios de convergência nominal, levando à participação de uns e à exclusão de outros, voluntária ou forçada.
A UE aumentou a sua influência externa, através de dois processos :
· projectos de constituição de uma ZCL entre os membros da UE e da AECL, formalizados em 1992
· associação à UE dos países da Europa Central e de Leste
Estes pedidos de adesão introduziram a chamada “geometria variável”. É inevitável a polarização das economias de todos os países da AECL, da Europa Central e de Leste e da Europa Mediterrânica pela economia da UE, atendendo ao tamanho e grau de desenvolvimento.
A tendencia actual é a de uma Europa a várias velocidades, tantas quantos os blocos regionais que se irão determinar, resultantes da Europa a 25 e dos vários interesses envolvidos.
Atenção, portanto, à aceleração dos mecanismos burocráticos e às suas possíveis repercurssões.
Estas estão ligadas transversalmente por rúbricas onde se inserem as verbas dispendidas com a educação, a saúde, dignidade na 3ª idade, assistência aos idosos, combate à miséria e exclusão social, entre várias outras. Mas são aquelas, as referidas, que mais tocam o cidadão contribuinte, que mais fácilmente são perceptíveis da qualidade de vida da sociedade onde está inserido, do nível de desenvolvimento económico (bem diferente de crescimento) que apresenta.
Quando o cidadão contribuinte verifica que: não existe um serviço nacional de saúde que a todos contemple, célere nas suas capacidades de apoio na doença; quando o sistema educativo não corresponde às necessidades do país, os livros são caros, o insucesso escolar elevado; quando o desemprego está sempre presente, em crescendo; os idosos são tratados sem respeito, pela mesma sociedade que lhes come a carne mas, reiteradamente, lhes rejeita os ossos; quando as pensões de reforma são tão pequenas que a dignidade se perde; quando a miséria e a exclusão social aumentam nas ruas. Dizia-se, o cidadão contribuinte perde a vontade de contribuir para um estado tão cego e desinteressado dos reais problemas da sociedade.
Pode afirmar-se: mas então é uma pescadinha de rabo na boca! Se as receitas fiscais - fruto da má performance económica do país e da fuga às obrigações fiscais - se mantiverem baixas não haverá como inverter o ciclo.
O argumento é falacioso! Primeiro, porque o cidadão percebe quando estão a ser tomadas medidas concretas no sentido de melhorar o funcionamento e operacionalidade do sistema num estado-providencia moderno. O contacto, permanente, que mantem com as instituições, permite-lhe aferir das mudanças em curso e do esforço desenvolvido. Também porque há sinais: quando o estado é o primeiro a dar sinais de contenção, a mostrar que distingue, claramente, o essencial do supérfluo, quando a política está orientada para o indivíduo enquanto elemento fundamental do agregado que designamos como sociedade. Quando a vontade colectiva emana do somatório das vontades e desejos individuais e não o seu contrário quando as vontades são impostas por um grupo de iluminados , fechados numa clique política, de acesso restrito, quer físico quer intelectual, mas que, em simultâneo se entregam a exercícios de franco mau gosto, nos modos, na actuação cívica e moral, no discurso político vazio de conteúdo.
O Estado somos todos nós. Ninguém, político profissional ou não, se pode arrogar o direito de corporizar o estado porque o estado resulta do somatório de todas as individualidades que o compõem, ou seja, todos nós!
Em segundo lugar porque o nível de receita fiscal não pode ser encarado como um dado estático - porque depende da performance económica - nem as taxas dos diferentes impostos deveriam ser rígidas, mas sim flexíveis e adaptáveis às condições económicas apresentadas por uma determinada sociedade, num determinado espaço de tempo. Se o rendimento diminui, a carga fiscal teria, obrigatóriamente, de diminuir também. Se as populações vêm os salários reais diminuir, como é possível continuarem a descontar impostos, baseados nos salários nominais, calculados através de tabelas imutáveis? O rendimento disponível das famílias será tendencialmente menor e, aqui, estaremos perante outra pescadinha de rabo na boca. As culpas estão repartidas, como se depreende. Mas cabe ao estado a maior quota de responsabilidade. É este que é responsável, através de políticas económicas e sociais de garantir o bom funcionamento das instituições e de assegurar os recursos necessários à sua função reguladora, social e distributiva.
Em países como o Canadá e os EUA, as taxas equivalentes aos nossos IRS e IRC mudam constantemente, no mesmo exercício fiscal, de acordo com os indicadores económicos.
Em Outubro de 2004, o IRS em Otawa já tinha sido alterado quatro vezes no mesmo exercício fiscal. Desconta-se de acordo com as necessidades do estado, mas igualmente de acordo com as bolsas dos contribuintes. E neste país, o acesso à saúde, educação e a dignidade na terceira idade não são uma miragem.