16.3.05

A posição do Governador do Banco de Portugal

obriga a um distanciamento, de facto, das políticas governativas. O prof. Jacinto Nunes protagonizou e incorporou melhor que ninguém esse desiderato, ao transitar de um regime para outro, mantendo-se como fiel de uma balança que tem o seu ponto de equilíbrio na necessária seriedade reconhecida no discurso de qualquer governador de qualquer banco central.
O prof. Vitor Constâncio vinha mantendo esse distanciamento, na aparência e no discurso, garantindo-lhe uma aura de seriedade e competência, tão necessária ao desempenho da sua função, bem como uma lufada de ar revitalizante na mediocridade geral que tem marcado a agenda política e económica. Agora, contudo, decidiu-se pela auto-mutilação, parecendo ter embarcado na generalizada deriva a que o país se entregou.
Ao vir defender a necessidade de mexer em impostos que a todos afectam, de forma a manter intacta uma promessa eleitoral do eng. Sócrates, viola, claramente, a necessária distância que deve medear a tarefa governativa do banco central à governação política do país. Coloca em causa a divulgação de dados e números referentes às performances económicas do país, no que concerne à sua certeza ou ao "timing" escolhido para a sua divulgação. É uma clara ingerencia política, a favor do partido onde milita, a fazer recordar os maus tempos em que era secretário-geral do PS, maus tempos porque bastas vezes contradisse o seu pensamento, crença e conhecimento económico, em favor do discurso político demagógico.
Lastima-se e espera-se, sinceramente, que não se repita, sob pena da poeira agora levantada não mais assentar.

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