28.4.11

Problemas de vista....

"O "Financial Times" publica hoje uma carta de protesto de Ricardo Reis e de Luís Garicano, dois conhecidos professores de Economia, contra a exigência da UE e do FMI de um acordo pan-partidário, antes de eleições, em torno do plano de ajuda externa".
Retirado de negócios online.

Quando escrevi sobre o Voto Inútil, tinha as mesmíssimas razões que são agora aventadas por dois ilustres economistas.
O que mais fere neste nosso país é a miopia, o estrabismo e a ausência de lucidez que se instalou.

25.4.11

A inevitabilidade da Moratória

Podem políticos e economistas enfeudados a partidos políticos, afirmar que Portugal não pode pedir a reestruturação da dívida soberana, porque as pessoas de bem - o estado português no caso - pagam as sua dívidas atempadamente. Mesmo que para esse cumprimento se tenha de pedir dinheiro emprestado; mesmo que quem empresta saiba, com toda a certeza, que sem empréstimo o incumprimento é certo - com esta certeza, quem empresta manda de facto e é o único que manda.
Depois, o que se verifica é que a economia é estrangulada com as exigências de quem empresta, cuja preocupação é recuperar o dinheiro emprestado, acrescido dos juros devidos, sem qualquer preocupação de crescimento económico do devedor. Mais tarde, o destino, com empréstimo, é o mesmo que sem empréstimo: o devedor tem de assumir a impossibilidade de cumprir o serviço da dívida, como bem nos mostra a Grécia. Moratórias, reescalonamento da dívida e todas as manobras financeiras possíveis, são colocadas então em prática. Para quê, pergunta-se; nessas condições já o estado parece uma pessoa de bem? Porque primeiro fingíu tentar cumprir, sabendo dessa impossibilidade, e só depois assume que não pode? É uma vez mais só uma questão de mera hipocrisia?
Bom, é que no fim a conclusão é óbvia: estamos todos fartos de mentiras e hipocrisias. Se é por estas razões não vale a pena estarmos a estragar, ainda mais, o cenário.
Portugal está a ser escrutinado, exposto, mal tratado, situações que viveria se assumisse que não podia pagar, por agora. Vive estas situações e sujeita-se a medidas económicas que só o enfraquecem, por não fazer o óbvio, afirmar o inevitável: não pode pagar, não tem condições para honrar as dívidas. Mas, ao contrário do que "doutas" figuras afirmam, Portugal não é o incumpridor: quem incumpre é a classe política que, há 37 anos, expolia Portugal. São os nomes dos incumpridores que se sujeitam à má fama, nunca um país com quase 900 anos de História, nem o seu povo.

19.4.11

O voto inútil....

É interessante acompanhar estes últimos tempos da III República. Temos um conjunto alargado de figuras públicas, incluindo políticos, numa acção deliberada de conseguir, a saber:

(1) Um compromisso nacional entre partidos e instituições, tendo em conta a «credibilidade externa», e uma «maioria [parlamentar] inequívoca», com a intenção de responder à crise;

(2) Segundo os subscritores, esta é uma crise iniciada nos Estados Unidos em 2009 e «a maior recessão global dos últimos 80 anos»: nada de nacional, portanto;

(3) Apelar a «um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de um plano de acção imediata, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular funcionamento da economia»;

(4) Um compromisso para ser alcançado antes das próximas eleições, marcadas para 5 de Junho, segundo os subscritores desta genial ideia.

Por outras palavras, mesmo antes das eleições de 5 de Junho próximo, tudo deverá estar combinado, acertado, assinado, preparado para ser implementado. Por outras palavras, é um bloco central alargado, que inclui os principais partidos políticos, empresários, políticos que desempenham e desempenharam as mais altas funções de Estado, etc.,etc..

O que se pretende é a manutenção do status quo e a sua salvaguarda.
Pergunta-se: se tudo está acertado e negociado para quê eleições?
Mas pergunta-se mais: se o que se pretende é definir o rumo de Portugal, fora e para além da vontade dos votantes, porque razão essa definição é feita pelos mesmos que destruíram a Nação?
Se a democracia é um mito em Portugal e a liberdade de decisão política, através do voto, se transforma numa utopia, porque razão querem ser os mesmos que destruíram, a impor a sua vontade à Nação?
Nestas circunstancias, não tenho qualquer dúvida que prefiro outras gentes, mais capazes e que não estejam sujas pela bancarrota nacional, pelos interesses políticos, pelos favores pessoais e de classe.
A táctica, objectivamente, parece ser a de tirar este "cavalo da chuva" mantendo os cavaleiros, colocando outro "cavalo à chuva" e mantendo o poder. Mas se o poder já não se consagra pelo voto mas por acordos palacianos, melhor será para Portugal que se confirme um outro poder, mais capaz, menos volátil a interesses pessoais, mais nacional e patriótico. E, se acaso, se assume que o voto, por si só, já não resolve nada, acresce a razão para a mudança de protagonistas políticos, porque os actuais contribuíram, decisivamente, para a erosão desse voto, agora considerado inútil.

15.4.11

Interesses privados, opiniões públicas

É natural e normal que o Eng.º Belmiro de Azevedo não vislumbre, sequer, a hipótese de Portugal sair da zona euro.
Muito embora essa decisão passe pela nossa vontade, mas passe igualmente pela vontade só de terceiros, a verdade é que, com a engenharia financeira da Sonae, que passa, também, pelo financiamento externo directo, uma desvalorização do escudo seria problemática, porque a Sonae assenta o grosso da facturação nos serviços e não na indústria.
Percebe-se a posição e respeita-se, mas é uma posição pessoal, fruto de uma estratégia empresarial, e as estratégias empresariais privadas nem sempre são coincidentes com os interesses nacionais. Mas, uma vez mais, todos os problemas têm uma solução, quando existe a capacidade técnica necessária, enaltecida em terceiros, pelo Engº Belmiro de Azevedo.

Recessio, onis .....

Pretender que a Alemanha está disponível para ajudar financeiramente Portugal, a Grécia e a Irlanda, para além do que já foi concedido a estes dois países, é não estar a entender o tabuleiro europeu onde se está a jogar.
Umas vezes através da Áustria, outras da Holanda, da Polónia ou da Finlândia e, mesmo de mote próprio, a Alemanha tem dado sinal do seu descontentamento em disponibilizar fundos para aquelas economias. Quando falo em Alemanha, falo nos alemães, todos, que têm infligido pesadas derrotas à Srª Merkel.
Para a generalidade dos alemães a questão é simples: ou estes países saem do euro, ou se o discurso bate constantemente na estabilização da zona euro, saem eles alemães. A resultante é igual: sem Alemanha não há euro.
Só esta constatação é evidente de que, para o mal, vivemos numa zona euro-marco.
Para o mal porque as economias nada têm a ver umas com as outras, estão em patamares opostos de crescimento económico e só pode ser nefasta a teimosia de manutenção na zona euro, para países como Portugal.
De uma forma ou outra, o euro é já uma miragem, como é uma miragem a recuperação económica de Portugal, durante toda uma geração, se a política económica se mantiver, teimosamente, como está.
O FMI já avançou com datas: vai ficar por cá pelo menos dez anos.
Dez anos de recessão é obra.
Recessão: do lat. "recessio, onis" e designa a acção de recuar.

14.4.11

O Desígnio, o caminho, a solução....

As questões de performance económica prendem-se, na totalidade, com decisões políticas. Por outras palavras, a vontade política define, na totalidade, a capacidade económica de um país ou região. Sendo a premissa verdadeira, convenhamos que o conhecimento económico, por parte da classe política, é fundamental.
Mais ainda: a capacidade de antecipar cenários económicos e financeiros é determinante para a acção política. Existindo aquela, esta corre bem, caso contrário a conclusão é óbvia. Não entra na equação o que não pode entrar: roubo e corrupção. O resto entra, sobressaindo a competência ou incompetência no mencionado resto.
Na difícil situação em que Portugal se encontra - recordemos que Portugal são os portugueses - não é nada fácil, para não dizer impossível, imaginar milhões de concidadãos passarem uma enorme tormenta, na forma de vidas desfeitas, de frustrações vincadamente sociais, pessoais e familiares. Apetece gritar muito alto "Porquê", mas a resposta seria invariavelmente um enorme silêncio para algumas questões, sendo para outras o desfiar de um rol de recriminações , de todos conhecidas.
Estamos na situação que, para mim, é a melhor: eu, que me habituei a encetar algumas recuperações financeiras de vulto, garantindo a estabilidade empresarial de instituições e a manutenção de centenas de postos de trabalho, gosto do "capital de mudança", das inevitabilidades, dos constrangimentos na acção, das tesourarias "a vermelho", algumas entre outras certezas com que sou sempre confrontado, quando assumo responsabilidades de gestão de topo. E gosto, perante todas essas certezas e inevitabilidades, de vencer paradigmas.
Portugal está numa situação em que precisa de se reinventar: de alterar o paradigma.
Sei, como a maioria de nós sabe, quais os problemas que nos afligem; esse conhecer faz parte da análise preliminar. Depois, começa-se de imediato a trabalhar nas soluções; soluções porque nunca existe uma única solução, também porque os problemas, mesmo que pareçam idênticos, exigem sempre tratamento diferente. Ao nível económico e financeiro não existem duas "gripes" iguais.
É este desafio, o desafio da solução, que é empolgante, que galvaniza, que define o líder e conduz as massas, porque estas acreditam nas soluções, porque os fizeram acreditar que existe uma solução. A situação exige uma liderança forte, um objectivo claro traçado e uma enorme capacidade de argumentação, negociação, execução e assertividade. Doa a quem doer.
Não é uma gestão para agradar; é uma gestão para resolver.
Portugal tem, no momento presente, uma enorme questão a resolver: devolver a dignidade e condições de vida à sua população.
Toda a governação tem de se inclinar sobre este desígnio maior. Dele, nascem todos os outros objectivos, fixados claramente, mas desígnio só pode existir um e só existe um, o que foi mencionado.
Atingi-lo exige coragem, determinação e saber. Mas exige, muito principalmente, arrastar todo o país no desígnio nacional, no desígnio que todos, sem excepção, reconhecem como o único possível, o único pelo qual valem todos os sacrifícios. Mas não se pode pedir à população, já em enorme sacrifício, que se habitue à ideia que vai ter de fazer (durante quatro anos, para os optimistas, sete anos para os políticos, ou vinte anos para os mais habituados a fazer contas), sacrifícios ainda maiores. Não pode porque a população não aguenta, porque ninguém pode viver "eternamente" com o credo na boca, porque uma coisa é não poder comprar um carro ou fazer uma viagem e outra, bem diferente, é não ter como pagar os estudos dos filhos e mesmo não ter o que comer. E, contudo, as soluções existem.
Existindo, chega de carpir mágoas, esconder a ineficiência em discursos de retórica, de ataques e contra-ataques, de "diz que disse". A hora é de começar a trabalhar, com o desígnio traçado, os objectivos de curto-prazo fixados e os de médio e longo-prazos ajustados, sistematicamente ajustados.
Tenho escrito sobre o trilho inicial, aquele que tem de ser encetado e dará origem ao restante percurso. O primeiro é a direito; o outro sofrerá ajustamentos obrigatórios de rota. Conheço a concepção primeira do percurso, porque conheço o trilho. Existindo coragem, só exigirá muito trabalho.
Como será expectável, não é possível descrever todo o caminho a percorrer e os resultados esperados, num espaço como este; veja-se este escrito, que já tem léguas.
Mas recorro a exemplos: há uma enorme quantidade de negócios, de indústrias, que não têm qualquer viabilidade económica no Portugal de hoje. Há, igualmente, uma agricultura que não tem saída e umas pescas que estão moribundas. Razões fundamentais: a dimensão nacional é pequena para lutar contra enormes corporações, com enorme capacidade e eficiência produtiva, seja na agricultura e pescas, seja na indústria. Seria impossível, no Portugal de hoje, recriar um grupo químico da dimensão da CUF, uns estaleiros da dimensão da Lisnave ou uma siderurgia da dimensão da SN. Porque é mais barato comprar fora do que produzir internamente, porque não há capacidade de alavancagem financeira de indústrias que consomem enormes recursos financeiros e não porque se tenha perdido conhecimento científico e técnico.
Imagine-se agora, numa escala mais pequena, outras indústrias: embalagens de cartão, por exemplo. Como é possível investir em Portugal, criar postos de trabalho e produzir embalamento para o leite e os sumos, quando somos confrontados com a Tetra Pak? Não é; o investimento está condenado. Todos nos lembraremos agora de negócios e falo de negócios não especulação, sobre os quais já nos debruçámos e chegámos sempre à mesma conclusão: em Portugal não dá: o mercado é pequeno, não elástico e a concorrência feroz.
Imagine-se agora um Portugal diferente, dono da sua moeda, desvalorizada face ao euro, a necessitar de consumir e a ter de pagar preços incomportáveis para o consumidor interno: valerá de novo o investimento nas embalagens de cartão para embalamento (mero exemplo), porque a Tetra Pak já não conseguirá responder ao anseio de preços do seu consumidor, que tem de responder perante o consumidor final interno. E outros negócios, outras indústrias, outras agriculturas e outras pescas se lhe seguirão. O consumo interno cresce, com uma mão-de-obra desvalorizada externamente em 25%, o emprego cresce, as importações são fruto do crescimento do rendimento agregado nacional e, last but not least, as exportações são competitivas, levando a economias de escala, ou seja, a prover o mercado nacional a menores custos e a atacar com força no mercado internacional.
Elementos comuns à estratégia: recurso ao escudo abandonando o euro; utilização do instrumento cambial; cunhagem de moeda; injecção de liquidez na economia; proteger o made in Portugal; reestruturação do sector primário e secundário da economia; reutilização dos recursos humanos do sector terciário nos sectores mencionados anteriormente, incluindo e facilitando a necessária redução de efectivos no estado.
Esta é a solução que defendo e preconizo para Portugal. Este é o trilho que nos conduzirá ao desígnio. Este é o caminho mais curto para a felicidade.

13.4.11

os europeus e os portugueses.....

Curioso, muito curioso: quando se fala dos problemas que se vivem em Portugal, os políticos teimam em afirmar que os problemas são dos portugueses, que quem vai viver pior são os portugueses, que quem vai sofrer com a austeridade são os portugueses. E têm razão: não só os nossos políticos não vão sofrer nada, como de portugueses têm muito pouco ou nada: são todos europeus, seja isso o que for.

10.4.11

Algumas posições que assumo podem ser, com facilidade, confundidas com a esquerda; já anteriormente o tinha escrito.
Que fique também claro que a dicotomia esquerda/direita, tendo perdido em tempos o seu sentido, faz hoje mais sentido que antes. De assinalar, igualmente, que cansaço da classe política e de políticos, não pode significar afastamento e/ou repúdio pelas ideias políticas e acção política: política é, basicamente, ciencia social ancorada em conhecimento e pensamento filosófico.
Por isso me arrogo o direito de me situar no quadrante político da direita, social não liberal. Por isso, algumas das ideias que perfilho possam ser identificadas com a esquerda e me possa identificar com a esquerda nalgumas posições. Mas uma coisa é ser, outra é concordar pontualmente.

7.4.11

O que as contas mostram....

Por partes: qualquer política imposta pelo FMI em Portugal é destrutiva, porque não existe o mecanismo da desvalorização cambial.
Realidades: não sabemos quais são, mas podemos fazer uma ideia (por baixo), a saber:
(vamos trabalhar com números redondos)
(1) Dívida pública soberana= 92% do PIB
(2) Dívida das empresas públicas= 25% do PIB
(3) Dívida com PPP (Parceria público-Privadas)= 30% do PIB

Tudo somado, temos uma dívida, por baixo (não esquecer a "proibição de auditar as contas públicas), de 147% do PIB nacional, o mesmo é dizer, 250 mil milhões de euros. Mas não nos ficamos por aqui: há uma verba mais a acrescer às anteriores: refiro-me à dívida das famílias e empresas, constituída junto da banca nacional, através de financiamentos desta obtidos externamente: este valor é equivalente a 70% do PIB.
Creio que em termos de dívida estamos conversados.
Posto isto, ressalta a pergunta fundamental: a austeridade na despesa pública é fundamental, mas a diminuição da despesa por parte das empresas e das famílias, em função da degradação da capacidade de crédito e diminuição de rendimentos, só irá piorar a situação. Não há solução à vista, dentro dos contornos de qualquer intervenção externa, a que malabaristicamente se chama "ajuda", mas que é de facto uma total ingerência e perca de soberania.
Vale então a pena clamar por esta acintosa ajuda? É óbvio que não.
Os valores que estão na mesa são tão elevados que, das duas uma, ou crescemos e pagamos, ou quem nos emprestou afunda-se nos ratings, connosco. Porque vai ter de dizer que não consegue receber, porque tem de provisionar, porque os rácios baixam, porque a economia começa a sofrer e os cidadãos desses países irão penalizar os respectivos políticos. Mas quem deve dorme descansado; já disse que não podia pagar, nas condições definidas: já nada lhe pode retirar o sono.
Resta ao credor aceitar moratórias, reescalonar a dívida e baixar os juros. O devdor ganha tempo, fôlego, para recuperar economicamente, encetar o tão desejado pagamento e começar a liquidar o que deve.
Para atingir este patamar é fundamental existir o instrumento monetário: regresso ao escudo e abandono do euro.
Ouço as vozes dissonantes: catástrofe; deixar o euro equivale a desvalorizar o escudo em 25%. Pergunto: se devo 250% do PIB ao exterior e essa dívida aumentar em 25%, que mal vem ao país agora? Resposta: nenhum, porque nada é para pagar agora. Depois, com o crescimento económico e o início dos pagamentos, a moeda começa a valorizar, a desvalorização inicial a esfumar-se. Entretanto foi possível cunhar moeda, baseada nas reservas de ouro (que então exerceriam o seu verdadeiro papel), aumentar a produtividade, incrementar o consumo interno, porque o ajustamento dos salários nominais ao escudo seria automático e, ao mesmo tempo, com uma moeda fraca, aumentar exponencialmente as exportações, tornando o país apetecível para o investimento.
Alguma coisa de mal nesta solução: nada, a não ser a falta de coragem, único óbice para que estas políticas sejam postas a funcionar.
E deixem que vos diga: não quero nem saber da Comissão Europeia, dos parceiros europeus, da Senhora Merkel ou do seu mais fiel aliado. Emprestaram e nós torrámos o dinheiro, paciência. Agora há que mudar de vida, mas essa mudança não significa nem miséria, nem perca de soberania, nem sequer subserviência à Alemanha. NUNCA.

6.4.11

Ao entrarmos na CEE cometemos um erro dramático.
Ao entrarmos no euro enterrámos a nossa independencia.
Agora, assumimos no papel e nas intenções a vontade de submissão.
A monumentalidade da dependencia deste país é enorme, perto da monumentalidade de que, supostamente, se sofreria por deixar cair o euro e renegociar a dívida.
Tem de haver outro caminho que não este: não há outro caminho com estas políticas, só com outras.
Temos de mudar as políticas, assumir os riscos, ganhar coragem e recuperar a soberania, a economia, a confiança, o país.
Em 2008 propus uma medida que me parece ser, cada vez mais, fundamental: uma moratória no pagamento das prestações das casas, juros incluídos, até ao final do ano, para todas as famílias, independentemente do rendimento. Esta medida permitiria a libertação de verbas, nuns casos, ou aliviar a pesadíssima carga de encargos, nos outros, alimentando também alguma satisfação e alívio social, ou por outras palavras, uma maior alegria e crença no futuro: trata-se de dar tempo às famílias. Os bancos não receberiam esses valores directamente, mas o aumento do consumo de outros produtos, ou da poupança, iria permitir um equilíbrio final no entra/sai monetário das tesourarias bancárias. A moratória não poderia significar qualquer penalização, ou aumento de encargos.
De qualquer das formas, mesmo sem moratória, um em cada três portugueses já não tem como satisfazer os seus compromissos, ou seja, os bancos já não estão a receber, mas a pressão social é imensa.


5.4.11

Se o FMI entrar, teremos 20 anos de miséria pela frente

Aquilo que peço ao leitor hoje é paciência.
Paciência para seguir as linhas, percorrer o raciocínio, dobrar as esquinas das palavras e entrar no labirinto das leituras entrelinhadas, dos raciocínios lógicos, ultrapassar, em suma, as premissas dos discursos oficiais e as ideias preconcebidas.
O que prometo no fim, é uma maior clarificação do que está hoje em causa em Portugal, para os portugueses e o seu futuro.

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Na crise dos mercados asiáticos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi chamado a intervir. Dessa intervenção resultou a criação de enormes reservas de liquidez nesses países, por imposição das medidas económicas traçadas pelo FMI.
As reservas de que falamos serviram, mais tarde, como num sistema de vasos comunicantes, para fluírem das economias asiáticas, superavitárias, para os Estados Unidos e a Europa, deficitários; as ligações fortíssimas entre instituições financeiras, os novos instrumentos financeiros, os juros baixos, o boom no crescimento de preços dos activos derivado da facilidade de acesso ao crédito fizeram o resto: a maior crise económica e financeira de que há memória.
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O FMI alega hoje que faltou regulação, acima de tudo, depois de ter contribuído para os excedentes de liquidez dos países asiáticos: do outro lado da barricada, estão aqueles como eu que defendem que os desequilíbrios entre economias foram o rastilho, que proporcionou a crise financeira.
O FMI defende, hoje, a criação de mecanismos de regulação, não das instituições mas da própria actividade, independentemente do nome das instituições, bancos, edge funds, private equities.
Infelizmente e uma vez mais, há como que uma enorme incongruência no que o FMI pretende e tem vindo a apresentar nas reuniões do G20, e a realidade da acção quotidiana.
A questão não é de regulação por si só mas, acima de tudo, tentar adivinhar de que forma os banqueiros e para-banqueiros irão conseguir iludir aos instrumentos regulatórios, sejam eles quais forem. Parece que a solução agora proposta teria impedido a crise que se vive, mas não há como ter a certeza se evitará outra qualquer crise futura, de contornos diferentes. No fundo é o velho ditado: "depois de casa assaltada [....]. Este é o princípio que rege o funcionamento do FMI: medidas retardadas para problemas presentes, com enormes repercussões futuras.
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No fim do dia fica a moral: quando o FMI entra, alguma coisa sai prejudicada.
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Fala-se agora, mais do que nunca, numa necessária entrada do FMI em cena, em Portugal.
O problema que se pretende resolver é o da falta de capacidade de solvência nacional, por outras palavras, da capacidade de pagar os seus compromissos para com terceiros. Para efectuar estes pagamentos, Portugal precisa de se endividar ainda mais, num lado, para poder pagar dívida, no outro. Ao mesmo tempo necessita de reduzir o défice público, como forma de reduzir drasticamente a despesa do estado; falamos da despesa não produtiva.
Só assim será possível ir reduzindo o défice público anual e a consequente necessidade de empréstimos. Mas uma pergunta salta à vista: estando-se a pagar com dinheiro que se pede emprestado, acaso a economia nacional não aumente a produtividade, como se irá pagar o que agora se pede?

Porque o FMI irá fornecer fundos para Portugal efectuar pagamentos unilaterais, sendo claro e certo que os custos associados à entrada de capitais e gestão do FMI em Portugal, ultrapassa em muito os benefícios esperados. Não entram recursos na economia portuguesa; entram capitais para entregar a terceiros que esperam pelos seus pagamentos.
As razões, apontadas pelo FMI, que justificam a crise portuguesa: despesa pública descontrolada, alavancagem exagerada de particulares e empresas e política fiscal desadequada. Recomendações: austeridade na despesa, redução dos rendimentos das famílias, restrições no acesso ao crédito de famílias e empresas e aumento da carga fiscal, directa e indirecta.
Estas medidas têm uma leitura imediata e um nome claro: recessão e, posteriormente, depressão (passa-se muito rapidamente de um estado ao outro).
É de esperar uma queda de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros 18 meses de medidas do pacote FMI. Esta é uma situação de depressão profunda e clara. Ademais, surge um problema: mesmo com um controle desmedido sobre a despesa pública, esta tenderá a subir, pelo agravamento dos juros da dívida soberana. Por outro lado, a recessão / depressão, conduzirão a uma crescente diminuição da receita do estado, pelo que a redução da despesa pública (sem juros da dívida) não será tão impactante quanto o necessário.
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Portugal está refém de uma espiral de dívida, esta mesma reflectida nos sucessivos cortes de rating da República. Não é possível recuperar o país economicamente através de políticas de austeridade constantes, sejam fiscais, sejam de consumo, sejam de cortes no investimento público (não há necessidade de construir o TGV, ruínoso, nem sequer o novo aeroporto, por falta de verbas,mas há necessidade de incrementar a economia - várias medidas possíveis - de investir no conhecimento, de formar matemáticos, de educar economicamente a população).
É minha convicção que Portugal estaria em melhores condições de encarar o seu futuro económico, rejeitando toda e qualquer ajuda do FMI e negociando moratórias para a sua dívida, embora reconheça que este caminho também comporta riscos: mas uma coisa são os riscos inerentes à nossa própria política económica; outra são os riscos das políticas económicas impostas por terceiros.
A aplicação duma política de moratórias, permitiria aplicar os fundos gerados na economia, no crescimento da própria economia, até que atingisse um crescimento sustentado. Exigir-se-ia uma intervenção directa do estado no reavivar da actividade económica, não podendo este ficar à espera do investimento privado, nacional ou estrangeiro, para dar início às políticas económicas reformistas.
Sei que medidas deveriam ser tomadas, mas não cabe neste artigo a sua enumeração, nem o faria com essa ligeireza.

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No essencial, o que se pede politicamente é a capacidade de , a par de uma política dirigida aos mais carenciados, traçar um plano capaz de reavivar a produção e o consumo, princípios fundamentais para qualquer recuperação económica.
Se o FMI entrar em Portugal, estaremos condenados a 20 anos de miséria.





1.4.11

Despesa (défice é resultante)....

A diferença de pontos de vista, fulcral para a solução de todos os problemas. Recuperação de um texto de 2009, aqui....