Há uma falta, uma lacuna imensa na condução da política em Portugal.
Os objectivos, mal fixados e erráticos, são-no sempre e invariávelmente na esfera económica. Hoje discutem-se as parcerias público-privadas, os grandes investimentos públicos, entre outras medidas como se discutiam antes a construção de auto-estradas, a internacionalização da economia nacional e o arregimentar de Investimento Directo Estrangeiro. Tudo isto resulta de um pensamento virado para as políticas económicas como se estas fossem vitais e mostra, igualmente, uma dispersão perigosa na fixação e condução políticas, como se constata com o falhanço da Auto-Europa por incapacidade de criar um cluster automóvel em Portugal.
Contudo, a visão está distorcida ab initio. Não é a politíca económica que se deverá constituir como o leit motiv da governação.
Um país só tem capacidade de progressão se for capaz de fixar objectivos concretos de política social.
A política económica é fundamental, mas como ciência social é uma ferramenta fundamental para dar corpo ao objectivo da política social fixada, mas nunca será ou poderá ser um fim em si mesma.
A política social ultrapassa a mera aritmética do rendimento, da despesa, do emprego. Como se afirmou em artigos anteriores, a coesão social é muito importante mas não se consubstancia em si mesma no bem-estar. Este requer mais do que o emprego, a melhoria das condições no emprego e a capacidade de conciliar, de forma crescente, a vida profissional com a vida privada.
A qualidade social é também requerida e reve-se no investimento do estado na saúde, na educação, na segurança, no ambiente e na justiça, para mencionar só as mais gritantes.
Um país com qualidade social é um país mais eficiente e produtivo.
Por outras palavras, cada unidade de capital investido gera mais rendimento, aumenta a riqueza económica e o bem-estar social.
A política social é o fim em si, o objectivo dos objectivos; a economia é a ferramenta que possibilita que aquele objectivo seja alcançado.
Fixar metas de política social ultrapassa em muito a fixação de objectivos económicos: sem aquelas não é possível fixar estes correctamente.
Corremos mas deveremos saber para onde corremos e ao que vamos.
Enquanto a filosofia económica for da escola monetarista teremos um país a andar sempre para trás: não se irá estabelecer a etapa, onde começa e acaba, medir os resultados e partir para nova etapa.
Estar-se-á permanentemente a afinar a economia, mas sem saber qual a velocidade a que se avança por falta de objectividade na fixação do critério de avaliação da performance: o critério só pode ser o objectivo social. Fixado este, a economia ganha um novo sentido e folego.
Não sendo este o cenário o desperdício de recursos será continuado e gritante, perdendo-se na linha do horizonte a capacidade de um dia Portugal viver verdadeiramente dias de bem-estar.
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