Nunca neste espaço se fala de futebol - com a excepção de um apontamento sobre fair-play, há quase dois anos, a que a FIFA veio há pouco tempo dar inteira razão - não porque não se goste, mas sim porque já se vê, se fala e escreve muito sobre o assunto (e dantes é que havia os três F´s).
Vem contudo a propósito pegar no tema, porque não se entende a reacção da imprensa, dando como de costume a ideia que é veículo transmissor da opinião pública, quando não é, "batendo" em Felipe Scolari, imediatamente após um difícil apuramento para o campeonato da Europa a realizar em 2008.
Ao invés de fazer do tempo festa, a imprensa faz a guerra, o foguetório com que vende os jornais, não cabendo nesta agenda feita de interesses o bom-senso.
Recordo um mundial em 1966, depois outro em 1982 (de má memória) e um europeu em 1986. Depois, só em 1996 repetimos uma ida à fase final de um europeu. Ou seja: antes de 1966 népia; entre 66 e 96 (trinta anos) quatro participações. Se pensarmos que estamos a falar de um tempo em que a maioria dos países, que hoje discutem apuramentos, ainda jogavam com bolas quadradas, podemos aquilitar da fraquíssima prestação ao nível de selecção que tivemos durante todo esse tempo.
Depois veio Carlos Queiróz e um planeamento sério, feito pela primeira vez em Portugal, no sector da formação a nível de selecções (só agora os clubes aparecem com "Academias").
Depois de 1996, falhámos 1998 ( com Queiróz o mundial) e estivemos no europeu de 2000 com Humberto Coelho.
De seguida estivemos no mundial de 2002, no europeu de 2004, no mundial de 2006 e, agora, vamos estar no europeu de 2008. Por outras palavras, nos últimos onze anos 5 presenças e preparamos agora a sexta.
Destas 6 presenças (passadas e futuras), três são com Scolari, seguidas e, acima de tudo, bem preparadas e organizadas - com Scolari ganhámos a capacidade de discutir calendários de jogos, de preparação atempada dos trabalhos da selecção, em suma organização e preparação conveniente. depois do trabalho de formação veio o trabalho de organização.
Se a Federação Portuguesa de Futebol tiver capacidade de memória futura, o ciclo fechou-se agora e poderá render muitos frutos no futuro próximo e longínquo.
Porque o futebol é um desporto, como tantos outros, de paixões, porque cada um de nós ainda é um treinador, é natural que existam divergências, aqui e acolá, com as tácticas, os jogadores, as substituições (faz parte do divertimento), mas não pode haver nunca falta de memória.
Agora habituei-me a ver Portugal nas fases finais, quando antes torcia pelo Brasil nos mundiais e por Inglaterra nos europeus. Estou melhor agora.
Scolari fez um bom trabalho. Pena é que não vá ficar mais. Até porque é saudável vê-lo a afrontar os ditos jornalistas (repórteres de baboseiras, que escrevem e dizem sempre o mesmo, aliás como a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação nacionais).
Espero que quem lhe suceda tenha a capacidade de liderar e disciplinar o balneário, de enfrentar as críticas com a convicção de quem sabe o que faz e nada teme e, sobretudo, saiba vencer os medos e a pequenez que nos é peculiar e, ultimamente, nos vem crescendo no sangue.
A selecção não pode, nunca, ser o refúgio do orgulho do povo, mas pode ser um bom motivo de entretenimento e de exaltação, como sempre foram todos os jogos, mesmo os mais dramáticos como os do coliseu romano.