20.1.06

Razões para a miséria....

Não é possível separar o trigo do joio, quando se fala em condições de vida, bairros degradados, consciência cívica, humana e paternal, condições económicas e assistência social.Os bairros pobres, da periferia, existem porque o estado-providência não funciona. As famílias são empurradas para vidas que não queriam, para ambientes que detestam, de início, mas onde após alguns meses de integração acabam por se adaptar. Que remédio! As carências são muitas, a todos os níveis.Quando somos acordados com a notícia de que uma casa ardeu e morreram duas crianças ente os 4 e os 6 anos, porque os pais não se encontravam em casa no momento da desgraça, estamos todos a ser conduzidos, indecentemente, num engano. Porque a notícia se destina aos mais esclarecidos, áqueles que vêem a TV e lêem os jornais. Destina-se àqueles cujas vidas não tocam aquelas que são mostradas e que desenvolveram um espírito crítico muito especial: todos os que não vivem pelos nossos padrões vivem erradamente, ou por outras palavras, o problema reside em cada um deles, encarado individualmente.Não poderá existir maior engano. A vida é fruto das circunstâncias e o meio ambiente é fundamental na sua percepção. Se existem pais que abandonam os filhos por umas horas, porque se vão instalar a ver televisão num qualquer café rasca de um qualquer bairro degradado é, precisamente, porque foram inseridos e vivem num ambiente onde a dignidade humana foi reduzida ao zero, onde a consciência se perde e os valores não existem. A assistência social é um mito, o País votou-os ao esquecimento porque não apresentam condições económicas consideradas mínimas para serem consideradas como pessoas. Não interessam nem são interessantes, não decidem eleições (nem sequer votam).
Insiste-se na construção de bairros de realojamento que ab initio são guetos, para guardar esta miséria toda junta, longe dos outros olhares (longe da vista, longe do coração).
Os valores que contam são estipulados pelo preço do metro quadrado dos terrenos e da habitação. Misturar portugueses de condições sociais variadas é um mau negócio para os construtores civis, para as Camaras Municipais, enfim, para todos os agentes envolvidos.
Entende-se então e dá-se como bom o princípio que uns têm direito a uma vida normal e que outros nem tanto. Depois, para apaziguar consciências, basta dizer, com convicção: coitados tiveram azar!
A mim não me basta esta justificação. Quero outras: quero saber porque razão é voz corrente que nas adjudicações públicas os bens transaccionados custam 3 a 4 vezes mais o seu valôr de mercado; porque razão cada vez que muda um governo se trocam os automóveis e se redecoram os gabinetes; porque razão é tão difícil para uns arranjar o primeiro emprego ou manter o que têm e para outros essa dificuldade não existe; porque razão a saúde e a educação não chegam a todos de igual modo e idênticas condições.
Adorava saber porque raio numa sociedade dita democrática não nascem todos iguais e ninguém com responsabilidades parece preocupar-se um chavo com isso.
O que é Portugal hoje? Um País? Um cabaret? Um antro de medíocres e psicopatas? Uma associação de malfeitores?
Não sei ou não quero responder, mas uma coisa sei: este não é o meu País, não o reconheço!

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