29.9.05
Amigo
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Redacção
um poema de amor.
Não de amor por ela,
mas «de amor, de amor».
À parte aquelas
trivialidades «minha rosa, lua do meu céu interior»
que podia eu dizer
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
Sem objecto, o poema
é uma redacção
dos 100 Modelos
de Cartas de Amor.
Alexandre O´Neill
28.9.05
O Raul Leal era...
O único verdadeiro doido do "Orpheu".
Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?
Invejava-a eu.
Três fortunas gastou, outras três deu
Ao que da vida não se espera
E à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
O único não-heterónimo meu.
Eu nos Jerónimos ele na vala comum
Que lhe vestiu o nome e o disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
Dos extremos do mal a continuar-se.
Não deixou versos? Deixei-os eu,
Infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Tretas da arte e da era. O Raul era
Orpheu.
Mário Cesariny
26.9.05
A economia nacional fragilizada...
CENÁRIOS PRESIDENCIAIS
Ao centro não conto nenhum, aquele centro que decide sempre as eleições, ao género dos enjeitadinhos que têm de se decidir e, na ausência de causas próprias, acabam por apadrinhar as causas dos outros, umas vezes caindo para um lado, outras para outro. Nunca, e aqui é que me ressinto, por análise directa e objectiva dos programas eleitorais propostos, tampouco por promessas que todos sabem de há muito tratarem-se de folclore eleitoral, mas tão sómente por inexistência de opções credíveis - aqueles não prestam, os outros também não, vamos lá votar nestes agora para ver no que é que dá!, mas a continuar na mesma para a próxima já não voto!
Assim se vai construindo a partidocracia portuguesa, cada ano que passa mais sedimentada na abstenção. Já sei o que estão a pensar: não é só aqui.
Continuando.
À direita do dito centro (cada vez faz menos sentido falar em direita, esquerda e, por maioria de razão centro. Mas com candidatos formados em escolas políticas vetustas, esta é a nomenclatura possível no momento, sob pena de a ser adoptada outra, ninguém a entender), também não vejo ninguém. Ouço falar mas não vejo. Cavaco Silva é o nome mais falado. Zunzuns de Santana, e agora de Portas, abrem uma nesga de espectativa sobre o possível aparecimento de um segundo.
Analisemos à luz dos factos, dos tabús e dos zunzuns os cenários possíveis. Divido estes em dois:
1º - Cavaco avança sózinho no centro-direita. As sondagens de opinião apontam para uma possível vitória logo à primeira. Alegre desiste a favôr de Soares - deixou essa possibilidade em aberto quando anunciou a candidatura, ao referir o desinteresse da mesma caso se perspectivasse, mesmo assim, uma vitória de Cavaco na 1ª volta - Jerónimo faz o mesmo e Louçã acompanha-o - a candidatura de Louçã só faz sentido enquanto se mantiver a do PC.
Uma possível segunda volta entre Cavaco e Soares fica quase traçada.
O mercado das sondagens aponta para a inevitabilidade de uma segunda volta. Alegre mantém a candidatura, Soares idém, Jerónimo desiste ou não a favôr da esquerda, o mesmo passando-se com Louçã. Segunda volta Cavaco vs Soares. Mesmo assim tanto PC como Bloco decidem não arriscar e aconselham o voto na esquerda, o mesmo é dizer Alegre. Alegre capitaliza mais votos e reconhecimento político, dependendo do sentido de voto dos militantes do PS, para se bater ou não com Cavaco à segunda.
2º cenário - aparecem dois candidatos no centro-direita. A esquerda vai toda a votos e, pela possível dispersão de votos que tanto candidato de esquerda implica, passam os dois candidatos do centro-direita à segunda volta.
A esquerda, receosa, une os seus esforços em torno de Soares e Alegre e, uma vez mais, será o eleitorado do centro e do PS a decidir qual dos candidatos de esquerda passa à segunda volta.
Num caso e noutro Manuel Alegre, políticamente, capitaliza sempre. A face mais visível do grupo de Argel sai reforçado e, inclusivé, Alegre tem alguma probabilidade de ser eleito. Não é grande, mas tem.
Por mim vos digo: vai-me faltando a paciência para este Portugal, que já nem está em pára-arranca.
Parou mesmo, de vez! Quem anda nestas coisas dos números sabe que o futuro próximo é um túnel sem fim à vista, sem luz nem nada.
O nosso País parou até no tempo e no discurso, nas ideias e na vontade. Pára conforme morre o interior e a urbe, desorganizada e escanzelada, vai matando por inacção aqueles que aí habitam e que para lá se deslocalizam.
As Presidenciais não vão alterar nada a situação e os candidatos não são famosos (hoje estou simpático). Será mesmo só uma questão de brio e orgulho de ser português. Mas será que algum, dos até agora apresentados, responde cabalmente a este desígnio tão pequeno? Não! Claramente não.
Mas como o actual também já não corresponde ao perfil, temos obrigação de já estar habituados.
22.9.05
QUESTÕES DE BERÇO
As Palavras Interditas dos Leitores
Amalia Bautista
BlahBlahBlah
20.9.05
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado:
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
Camilo Pessanha
PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO
As Palavras Interditas dos Leitores
Pertinente.
A bem da transparência!
António Stein
Questões de gaguez ministerial...
As Palavras Interditas dos Leitores
Quem é que já não gagueja? Será falta de ar? Ou "O", já não saber que dizer?
A rendição "Final" aos factos, está para breve.
Mas é a "Verdade", Infelizmente!
Resta saber se há cura possível para tamanha "Ferida".
António Stein
Questão de Chapéus...
19.9.05
(I can´t get no) SATISFACTION
I can't get no satisfaction, I can't get no satisfaction
'Cause I try and I try and I try, try, try and I try
I can't get no, I can't get no
When I'm drivin' in my car, and the man come on the radio
He's tellin' me more and more, about some useless information
Supposed to fire my imagination
I can't get no. Oh, no, no, no. Hey, hey, hey
That's what I say
I can't get no satisfaction, I can't get no satisfaction
'Cause I try and I try and I try, try, try and I try
I can't get no, I can't get no
When I'm watchin' my TV and a man comes on and tell me
How white my shirts can be
But, he can't be a man 'cause he doesn't smoke
The same cigarettes as me
I can't get no. Oh, no, no, no. Hey, hey, hey
That's what I say
I can't get no satisfaction, I can't get no satisfaction
'Cause I try and I try and I try, try, try and I try
I can't get no, I can't get no
When I'm ridin' round the world
And I'm doin' this and I'm signin' that
And I'm tryin' to make some girl, who tells me
Baby, better come back maybe next week
'Cause you see I'm on a losing streak
I can't get no. Oh, no, no, no. Hey, hey, hey
That's what I say. I can't get no, I can't get no
I can't get no satisfaction, no satisfaction
No satisfaction, no satisfaction
(Mick Jagger)
15.9.05
RAZÕES DA MEDIOCRIDADE
Citando Miguel Torga:
«Moeu‑me a paciência! Trinta anos, bem medidos, de tenacidade! Cheguei quase a desanimar. Vinha, olhava, tornava a olhar, e nada. Alcandorado no seu trono de penedos e nuvens, com o Douro ajoelhado aos pés e o céu a servir‑lhe de resplendor, o Santo furtava‑se ao retrato poético, de qualquer ângulo que eu apontasse a objectiva. Hoje, porém, de repente, entre duas perdizes, não sei por que carga de água, abriu o rosto e foi ele mesmo que me propôs o instantâneo. / ‑ Mostre lá então as habilidades... ‑ pareceu‑me ouvi‑lo dizer. / Nem escolhi enquadramento. Antes que se arrependesse, travei a espingarda e disparei a imaginação ao calhar, do sítio onde estava. / Na arte fotográfica propriamente dita, à sístole diafragmática segue‑se a revelação da película na câmara escura, rematada por alguns retoques amáveis às imperfeições da obra. No meu caso, não houve película, nem câmara escura, nem retoque nenhum. A imagem saiu como está do acto retentivo. Parecida com o original? Muito longe disso. Os poetas não trasladam feições».
Citando Fayga Ostrower:
«Todo o processo de elaboração e de desenvolvimento abrange um processo dinâmico de transformação, em que a matéria que orienta a acção criativa é transformada pela mesma acção. [...] Transformando‑se, a matéria não é destituída do seu carácter. Pelo contrário, é diferenciada e, ao mesmo tempo, é definida como um modo de ser. Transformando‑se e adquirindo uma nova forma, a matéria adquire unicidade e é reafirmada na sua essência. Ela torna-se matéria configurada, matéria‑forma, e nessa síntese entre o geral e o único é impregnada de significados»
António Ferreira, a Diogo Bernardes, aconselha o amigo:
Não mude ou tire ou ponha, sem primeiro
Vir aos ouvidos do prudente, experto
Amigo, não invejoso ou lisonjeiro.
[...] Per'isto, é bom remédio às vezes ler‑se
A dous ou três amigos; o bom pejo
Honesto ajuda então a melhor ver‑se.
Vitorino Nemésio, no poema «O Bicho Harmonioso» escreve:
Eu gostava de ter um alto destino de poeta,
[...]
Tudo isto seria aquele poeta que não sou,
Feito graça e memória,
Separado de mim e do meu bafo individualmente podre,
Livre das minhas pretensões e desta noite carcomida
Pelo meu ser voraz que se explora e ilumina.
A capacidade que cada um detêm para se afirmar, internamente, com maior ou menor grau de exigência nas suas acções, atribuindo-se satisfação ou pelo contrário criticar-se duramente e nunca ficando satisfeito com a obra realizada advém, com naturalidade, da dualidade surgida da aprendizagem feita da vida vivida com as impressões decalcadas do meio social e cultural onde cresceu e se moldou.
Não significa, forçosamente, que a condicionante social e cultural não possa ver-se melhorada e acrescida quando o indivíduo possui forte espírito crítico e enorme inteligência. A cultura espelhada é o reflexo da imagem das alegrias e frustrações apreendidas e da capacidade interpretativa das mesmas. Se o homem nasce e cresce rodeado de sentimentos pequenos e mesquinhos dificilmente o deixará de ser. O reflexo que projecta é, em grande parte, fruto dos reflexos colhidos de todos os outros com quem privou, que escutou e com os quais concordou ou discordou.
A própria essência do acto de concordar ou discordar é relativa e fortemente condicionada pelo espírito crítico, pela inteligência, capacidade de análise e cultura assimilada, tudo vertentes de um mesmo sólido: a aprendizagem efectuada e constantemente aumentada e reciclada. Estando a aprendizagem inteiramente dependente da transmissão oral e escrita, falhando em parte ou no todo aquela resta a leitura compulsiva e multifacetada para suprir as lacunas do conhecimento. Ficam contudo de fora as acções comportamentais associadas ao meio social onde cresceu e os valores retidos, estes normalmente incutidos pelo processo de transferência familiar.
Não é assim indiferente para a transformação da matéria todo o conjunto de significados apreendidos pelo indivíduo, influindo directamente na maneira de ser e no carácter deste. O maior ou menor grau de exigência que fixamos para nós próprios reflecte-se, directamente, na menor ou maior satisfação que retiramos dos nossos actos e na nossa própria realização. É a diferença entre acertar a bitola por cima ou preferir comparar por baixo.
É então claro que quanto maior o grau de compreensão dos fenómenos, maior o grau de exigência nos comportamentos e acções. Tendencialmente procuraremos os melhores e, ainda assim, viveremos confrontados com a realidade de que o que fazemos, todo o processo criativo fundido no geral e no particular, poderia ser ainda melhor e essa constatação e insatisfação simultânea leva a uma transmissão social e cultural cuidada e atenta, na esperança de que quem nos escuta e nos precede consiga fazer melhor.
Infelizmente para o Portugal político o conhecimento, a exigência individual e a consciência do colectivo foi vencido pela mediocridade no geral. Na mediocridade não há lugar para vozes discordantes só havendo mesmo lugar para os medíocres e os muito medíocres, porque a comparação se faz por baixo. O padrão não comporta significados nem carácter. A essência da coisa reside nos tiques pequeno-burgueses, adicionados a uma forte dose de impreparação cultural, ausência de postura e desconhecimento das regras de comportamento social.
É por culpa do homem político nacional que o País está como está: sem identidade, sem valores, sem história, sem cultura, sem educação. Em suma, sem sentido.
13.9.05
A MANIFESTAÇÃO POPULAR QUE FALTA
As Palavras Interditas dos Leitores
Mendes Ferreira
12.9.05
As Palavras Interditas dos Leitores
Começa a ser preocupante percebermos que não temos um Maestro capaz de dirigir uma orquestra que não atina com o andamento! Não fosse a situação Geopolítica, não estaríamos longe de uma Sul Americanização.Qual Sebastião, Qual Caudilho.
Os Fantasmas andam por aí!!!
Antonio Stein
9.9.05
RAZÃO DA REDUNDÂNCIA DA CRÍTICA POLÍTICA
MUDDY WATERS
Baby, please don't go
Baby, please don't go,
down to New Orleans
You know I love you so
Before I be your dog
Before I be your dog
Before I be your dog
I get you way'd out here, and let you walk alone
Turn your lamp down low
Turn your lamp down low
Turn your lamp down low
I beg you all night long, baby, please don't go
You brought me way down here
You brought me way down here
You brought me way down here
'bout to Rolling Forks, you treat me like a dog
Baby, please don't go
Baby, please don't go
Baby, please don't go, back the New Orleans
I beg you all night long
Before I be your dog
Before I be your dog
Before I be your dog
I get you way'd out here, and let you walk alone
You know your man down gone
You know your man down gone
You know your man down gone
To the country farm, with all the shackles on
8.9.05
IMBECILIDADES
Igualmente se ilustra a capacidade de resposta rápida e eficiente a todo e qualquer desgraçado e funesto acontecimento que aconteça em território americano, bem como a disponibilidade para ajudar terceiros quando estes necessitam. Belíssimo exemplo encontramos no Plano Marshall e na preciosa contribuição americana no esforço europeu do pós-guerra ou a mais recente intervenção no Iraque, com elevados custos humanos e materiais, que possibilitou a aproximação entre judeus e palestinianos, a desocupação militar do Líbano e um aliviar de tensões na zona do Golfo Pérsico.
Confundir os EUA com o terceiro-mundo é igual a confundir a História com a Geografia.
7.9.05
A (MÁ) POLÍTICA DO POSSÍVEL...
Longe vão os tempos da discussão política acesa, dos disparates políticos mas igualmente da crença depositada no novo regime. Hoje os políticos estão desacreditados, a discussão política é insípida e vazia de conteúdo, feita de aproveitamentos de circunstância nos temas escolhidos, muito dirigida para a árvore e longe da capacidade de visão do global. E quando este é abordado inundam-nos de lugares comuns e de muitas asneiras. Hoje não se acredita no sistema nem se acredita nas pessoas, porque o sistema, cá como lá fora, não responde às necessidades das populações e os políticos estão todos presos por rabos de palha, tão grande tem sido a promiscuidade quer interpartidária, quer intrapartidária. Ninguém está livre de ser acossado na praça pública, pelo que o exercício do poder se consagra, fundamentalmente, pela ausência de acção política.
5.9.05
POEMA
desmaiou o olhar furtivo das searas
ou reclinou a cabeça
ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina.
Não há conspiração de folhas que recolha
a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro
quando caminha pela tarde acima.
A morte é a grande palavra para esse homem
não há outra que o diga a ele próprio.
É terrível ter o destino
da onda anónima morta na praia.
Ruy Belo
2.9.05
No fim da vaidade o começo da imbecilidade...
Miguel Torga
Crónicas Dispersas de Outros Tantos Temas...
Voltamos então à questão das ideias: sem moral as ideias são perigosas, sejam estas quais forem!
Há um ano e meio o PS, na oposição, atacava fortemente o governo PSD em matéria de prevenção de fogos. Há um ano, o PS pretendia assar o governo nas chamas que consumiam Portugal. Em Maio deste ano o PS, já governo, anunciava com pompa a criação de um gabinete de prevenção e combate a incêndios. Meses depois, com o País quase por inteiro ardido, o PS vem anunciar a decisão de comprar em 2006 meios eficazes de combate aos incêndios - leia-se aviões capazes de transportar uns milhares largos de água de cada vez.
O Presidente da República afirmava, pouco tempo antes, que teriam de ser tomadas acções correctivas capazes de dotar o País dos meios necessários ao combate a incêndios por se encontrar o País perto do limite do sustentável. Perto do limite? O Sr. Presidente deveria fazer estas afirmações no local dos incêndios, perante assistências compostas por gente afectada pelas chamas, que tivessem perdido os seus haveres ou mesmo que tivessem sofrido apenas enormes sustos, para verificar da sustentabilidade da sua retórica. Ah, pois, fazem-me sinal que seria necessário que os presentes soubessem escutar e interpretar as palavras correctamente e não estivessem imbuídos, únicamente, da enorme vontade de aplaudir toda e qualquer asneira verbalizada pela ilustre figura do Presidente, pelo respeito que esta inspira mais do que pela personagem que desempenha no momento aquelas funções. (Será que este respeito ainda vem do tempo da outra Senhora? Se não vier, então as palmas são mesmo por falta de estudos, como diria o outro). Porque será o PR tão condescendente com o governo socialista? Resposta: os PR´s deixaram de se preocupar com essa utópica ideia de terem de parecer presidentes de todos os portugueses. Melhor assim, ficam clarificados os lados do campo e acabam as hipocrisias. Os futuros Presidentes sê-lo-ão dos respectivos partidos e seus militantes e simpatizantes e nada mais do que isso, pelo que me é possível afirmar agora convictamente e sem rebuço de espécie alguma que nunca em trinta anos de partidocracia tive um Presidente que considerasse meu.
De qualquer forma pergunto-me: onde pára a oposição? Nem uma palavra se ouve a Marques Mendes ou qualquer outro destacado elemento do PSD.
Levaram tanta pancada e agora nada ? Agora que podiam falar, cheios de razão, ficam calados? Estranho?, nem por isso. Os partidos, todos sem excepção, estão no limiar da credibilidade e com eles toda a partidocracia que cresceu e envolve a República. Tal como na Monarquia Constitucional e na 1ª República, a actual situação cheira a podre e ainda mais a esturro e não só por incidência directa do flagelo das chamas. Os partidos protegem-se na esperança de continuarem a aproveitar da belíssima situação de que gozam, distribuindo tachos e favores, partilhando os cargos e bens materiais sem preocupações com cores e programas políticos. Atingirem-se uns aos outros agora, num momento de enorme fraqueza seria ainda mais suicidário, pelo que a alternativa reside no silêncio formal e polítcamente assumido. O País definha, os despojos do moribundo são cada vez menos, mas enquanto se tenta uma inclusão no espaço ibérico como parente pobre de Espanha, vai-se engolindo ávidamente o pouco que sobra. Sim, porque não se pense que é a UE a salvaguarda de uma modificação política no País. Caso acontecesse a UE ainda nos agradecia o pretexto para mostrar claramente e sem equívocos qual a porta de saída.
O El País deu à estampa na passada segunda-feira um enorme artigo onde atacava Portugal, a sua política, os políticos, os últimos trinta anos e ainda o actual governo de forma virulenta. Todos sabemos que os espanhóis adoram dizer mal de nós. Chateia mas passa. O que custa verdadeiramente não é o ataque, a que nos habituámos ao longo dos anos: o que verdadeiramente custa é ser tudo verdade e isso não chateia, dói e, ainda por cima, não passa!