7.9.05

A (MÁ) POLÍTICA DO POSSÍVEL...

Toda a propaganda que inunda as nossas maiores cidades na procura do voto autárquico é, na sua maioria, patética. Os slogans repetem-se ao ritmo das promessas vetustas, todas bem acompanhadas por sinais claros de ausência de qualquer planificação urbanística numa ilustração cabal da ausência de respeito para com as populações. A falta de respeito marca fortemente a actuação autárquica nacional, quer falemos do governo central quer falemos das Camaras Municipais. Os raros exemplos de cuidado urbanístico surgem nalgumas localidades no Alentejo, no Minho e em Castelo Branco. Todo o restante País é o espelho desgraçado da bandalheira política a que, forçados, nos temos habituado a suportar nos últimos vinte anos.

Longe vão os tempos da discussão política acesa, dos disparates políticos mas igualmente da crença depositada no novo regime. Hoje os políticos estão desacreditados, a discussão política é insípida e vazia de conteúdo, feita de aproveitamentos de circunstância nos temas escolhidos, muito dirigida para a árvore e longe da capacidade de visão do global. E quando este é abordado inundam-nos de lugares comuns e de muitas asneiras. Hoje não se acredita no sistema nem se acredita nas pessoas, porque o sistema, cá como lá fora, não responde às necessidades das populações e os políticos estão todos presos por rabos de palha, tão grande tem sido a promiscuidade quer interpartidária, quer intrapartidária. Ninguém está livre de ser acossado na praça pública, pelo que o exercício do poder se consagra, fundamentalmente, pela ausência de acção política.

Justificam-se assim actos de candidatura à revelia dos partidos, não porque só grasse a pouca vergonha nas personagens que se candidatam como independentes, mas principalmente porque estes conhecem os mensalões de todos os outros e perguntam-se: "sou só eu? Cadê os outros?"! E assim avançam. A lógica (?) que impera é a da classificação da pouca vergonha, ao estilo dos concursos de beleza; o importante é a comparação. Se alguém sabe de outrém, sendo que a única diferença é o conhecimento ou não público do facto, avança na lógica(?) do mal igual ou menor.
Bom exemplo temo-lo agora com as recentes declarações de um autarca ,afastado das listas do seu partido para a Câmara do Porto, que sem hesitações proferíu afirmações que incomodam e agitam as eleições na segunda cidade do País.
Muitos têm o rabo preso e todos eles são de mais para este desgraçado País, como fácilmente se constata pelo estado calamitoso a que a economia, a saúde, a educação, a velhice e a política chegou.

Prevejo umas eleições autárquicas muito difíceis para o PSD, com candidatos frouxos, outros desavindos, outros ainda divididos e uma liderança política fraca e sem chama. Marques Mendes fala pouco, diz pouco, sabe pouco e o pouco que diz onde impera a razão fá-lo sem convicção.
(nota: neste particular o Primeiro-Ministro não está melhor, diria mesmo que por inerência do cargo está bem pior. Pergunto-me: ainda estará de férias? Ninguém o sente, ninguém o ouve. Fossem estes outros tempos e o que já não tinha soado).

Prevejo de seguida umas presidenciais difíceis para o centro-direita a confirmar-se a candidatura de Cavaco Silva. A sua personalidade, postura e intervenção política enquanto primeiro-ministro está longe, muito longe de congregar o centro-direita. Dentro da massa anónima votante por norma PSD, conheço muitos que não votarão no Professor. E as razões são diversas.
O risco de Cavaco Silva perder para Soares existe e, se assim fôr, uma vez mais (após as eleições legislativas) a vitória não seria obtida por mérito do candidato vencedor, mas por demérito do vencido, apresentando-se a votação com contornos de castigo.

O País ficaria então ainda pior (se possível), porque se passaria a votar, claramente, pela negativa, pela penalização e não pela assumpção da existência de qualidades morais, políticas e humanas nos candidatos.
Em última instância este facto equivalerá a afirmar em definitivo que o sistema está fortemente viciado, empobrecido e carente de qualidade.
Os tempos seriam então, forçosamente, de mudança.
Para melhor espera-se, com o empenho de todos.

Sem comentários: