26.9.05

CENÁRIOS PRESIDENCIAIS

É curioso verificar o espectro de candidatos à esquerda do centro (assim, tal e qual, sem sentido nenhum e totalmente redundante como toda a nossa política, partidos políticos e demais agentes), cinco a saber: Soares, Alegre, Jerónimo, Louçã, o inefável Garcia Pereira que estará garantidamente presente.

Ao centro não conto nenhum, aquele centro que decide sempre as eleições, ao género dos enjeitadinhos que têm de se decidir e, na ausência de causas próprias, acabam por apadrinhar as causas dos outros, umas vezes caindo para um lado, outras para outro. Nunca, e aqui é que me ressinto, por análise directa e objectiva dos programas eleitorais propostos, tampouco por promessas que todos sabem de há muito tratarem-se de folclore eleitoral, mas tão sómente por inexistência de opções credíveis - aqueles não prestam, os outros também não, vamos lá votar nestes agora para ver no que é que dá!, mas a continuar na mesma para a próxima já não voto!

Assim se vai construindo a partidocracia portuguesa, cada ano que passa mais sedimentada na abstenção. Já sei o que estão a pensar: não é só aqui.
Pois não. Com excepção do R. Unido, todos os outros são iguais, sendo impossível descortinar diferenças. Haverá alguma razão válida ou sómente lógica para que um cidadão alemão, holandês ou francês se sinta mais motivado para votar que um português? Claro que não. A partidocracia é igual em toda a parte, endémica, com o centro viral situado em Bruxelas.

Continuando.
À direita do dito centro (cada vez faz menos sentido falar em direita, esquerda e, por maioria de razão centro. Mas com candidatos formados em escolas políticas vetustas, esta é a nomenclatura possível no momento, sob pena de a ser adoptada outra, ninguém a entender), também não vejo ninguém. Ouço falar mas não vejo. Cavaco Silva é o nome mais falado. Zunzuns de Santana, e agora de Portas, abrem uma nesga de espectativa sobre o possível aparecimento de um segundo.

Analisemos à luz dos factos, dos tabús e dos zunzuns os cenários possíveis. Divido estes em dois:

1º - Cavaco avança sózinho no centro-direita. As sondagens de opinião apontam para uma possível vitória logo à primeira. Alegre desiste a favôr de Soares - deixou essa possibilidade em aberto quando anunciou a candidatura, ao referir o desinteresse da mesma caso se perspectivasse, mesmo assim, uma vitória de Cavaco na 1ª volta - Jerónimo faz o mesmo e Louçã acompanha-o - a candidatura de Louçã só faz sentido enquanto se mantiver a do PC.

Uma possível segunda volta entre Cavaco e Soares fica quase traçada.

O mercado das sondagens aponta para a inevitabilidade de uma segunda volta. Alegre mantém a candidatura, Soares idém, Jerónimo desiste ou não a favôr da esquerda, o mesmo passando-se com Louçã. Segunda volta Cavaco vs Soares. Mesmo assim tanto PC como Bloco decidem não arriscar e aconselham o voto na esquerda, o mesmo é dizer Alegre. Alegre capitaliza mais votos e reconhecimento político, dependendo do sentido de voto dos militantes do PS, para se bater ou não com Cavaco à segunda.

2º cenário - aparecem dois candidatos no centro-direita. A esquerda vai toda a votos e, pela possível dispersão de votos que tanto candidato de esquerda implica, passam os dois candidatos do centro-direita à segunda volta.

A esquerda, receosa, une os seus esforços em torno de Soares e Alegre e, uma vez mais, será o eleitorado do centro e do PS a decidir qual dos candidatos de esquerda passa à segunda volta.

Num caso e noutro Manuel Alegre, políticamente, capitaliza sempre. A face mais visível do grupo de Argel sai reforçado e, inclusivé, Alegre tem alguma probabilidade de ser eleito. Não é grande, mas tem.

Por mim vos digo: vai-me faltando a paciência para este Portugal, que já nem está em pára-arranca.

Parou mesmo, de vez! Quem anda nestas coisas dos números sabe que o futuro próximo é um túnel sem fim à vista, sem luz nem nada.

O nosso País parou até no tempo e no discurso, nas ideias e na vontade. Pára conforme morre o interior e a urbe, desorganizada e escanzelada, vai matando por inacção aqueles que aí habitam e que para lá se deslocalizam.

As Presidenciais não vão alterar nada a situação e os candidatos não são famosos (hoje estou simpático). Será mesmo só uma questão de brio e orgulho de ser português. Mas será que algum, dos até agora apresentados, responde cabalmente a este desígnio tão pequeno? Não! Claramente não.

Mas como o actual também já não corresponde ao perfil, temos obrigação de já estar habituados.



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