A saída de Vitor Gaspar do Governo não é nenhuma desgraça, pelo contrário. O Ministro não tinha qualquer possibilidade, desde o primeiro dia, de levar a cabo a função que deveria desempenhar: libertação de fundos, através da redução da despesa primária, para despesa de investimento, mantendo desta forma e no mínimo a receita do Estado.
Poetugal hoje é um país profundamento dividido socialmente, sem classe média, com um desemprego total superior a 25% da população laboralmente activa e um desemprego jovem superior a 50%.
A desvalorização económica do paîs é insustentável- nos primeiros três meses deste ano situa-se num valor superior a 5% (dramático) a que acresce um défice público superior a 10% (inacreditável).
Vitor Gaspar é um teimoso, sem qualquer tipo de preparação na esfera da economia social, um demagogo dos números, um homem que assumíu uma lógica tão criticada na Segunda República, orgulhosamente só, mas com a gravidade de só pensar nele, quando na Segunda República a menção se referia a todo um povo. Vitor Gaspar trabalhava para ele contra todos os portugueses e, agora, regressa ao conforto do seu gabinete no FMI ou outra qualquer instituição, muito bem remunerado, sem qualquer ponta de referênciampara o caos, desgraça e miséria em que deixa o nosso Portugal e as nossas boas gents.
Sai agora; sai TARDE.
Quem quer que venha não vem por bem, porque não há coragem para fazer o que é obrigatório fazer: SAÍDA DO EURO e da UE e reformulação da política económica nacional, fundamentada numa política monetária essencial para o crescimento.
A dívida nacional não é para pagar, porque é impossível pagar uma dívida, que no conjunto das dívidas pública e privada, ultrapassa os 400% do PIB.
A seguir à Segunda Grande Guerra, a dívida alemã foi perdoada em parte e reestruturada no restante..
A dívida inglesa nunca foi perdoada. Ps ingleses ainda goke vivem com esse enorme sacrifício, enquanto os alemães já saíram da reunificação e dos seus enormíssimos custos.
Números rápidos:
(1) O desemprego, em Maio, caíu para 5,3% na Alemanha e para 4,7% na Austria;
(2) O desemprego em Abril em Espanha era de 26,9% e na Grécia de 26,8% (embora medidos em tempos diferentes)
(3) na euorzone o desemprego jovem médio é de 23,8%. Em Espanha o valor é de 56,5% e na Grécia de 59,2%. Por contraste, nos EUA a mesma taxa é de 16,3%
(4) O custo social destes números é imparável, pelo custo adicional da negação de trabalho e, obrigatoriamente, da sua capacidade financeira futura e, acima de tudo, a negação do ganho de experiência e especialização fundamentais em qualquer economia.
(5) A incapacidade de estimular o crescimento, tornou-se na maior das dores de cabeça da Europa no seu todo e de Portugal particularmente, em tudo semelhante à velha questão do ovo e da galinha.
(6) Em Portugal, como na maioria dos países desta UE, existe um mercado laboral dualista; dum lado com postos de trabalho garantidos por sindicatos e doutro com uma enorme precariedade no trabalho.
(7) Por último, referenciar que há, actualmente, quase vinte milhōes de desempregados na UE, tendo a Itália contribuído fortemente nos últimos dois meses.
(8) 27% das crianças na UE vive na pobreza ou no limiar da pobreza.
Perante a dimensão da catástrofe nada pode ser dito ou escrito que defenda o modelo europeu.
Perante a miséria que se vive no nosso país, nada nem ninguém tem o direito de defender as políticas e os governantes que contribuem para toda a miséria que nos rodeia.
Vitor Gaspar sai mas sai tarde, ou melhor, nunca deveria ter entrado.
1.7.13
29.6.13
What a Hell
Curiosidade, apenas: 10,6% equivalem a 4,122 mil milhões de euros. Sem Banif é só subtrair.
Gosto mais dos números que das percentagens. Números só do primeiro trimestre; há que considerar que estes são exponenciais e não progressivos. Depois acresce a necessidade de financiamento constante, bem como a enorme vontade de especular no default nacional. Do que eu gosto mesmo, afinal, é de uma boa caldeirada, bem condimentada. Ah, e a desvalorização económica de 5,8%.? Esta também conta e também soma ( e menos com menos não dá mais)
27.6.13
A Europa sem jeito
Na Zona Euro carrega-se no "botão" bail-in como se fosse um botão start num qualquer automóvel de nova geração.
O botão bail-in não arranca com nada, simplesmente pára o que possa estar em andamento; não é um start, é um stop.
Depois de pagos os impostos, toda a liquidez é propriedade da empresa ou do particular e pode ser movida, dentro e fora do sistema bancário da zona euro. No caso será fora da zona euro. Se a massa monetária em circulação já é me os que a necessária, imagine-se nos próximos tempos, uma Europa a 27, onde mais de 25% das crianças vive na miséria ou já muito perto dela.
Imagine-se, então, o futuro desta Europa, sem dinheiro agora, com a próxima geração hipotecada (a estes 25% teremos de acrescentar mais 25% mínimo de "incapazes") e as próximas em risco.
Cada vez mais esta Europa é, necessariamente, matéria de reflexão. Interessa ou não?
Afirmo que não, sem dúvidas. E assim que a Inglaterra "saltar" fora o período de tomada de decisão activa terminou.
11.5.13
A Realidade Nacional
Muito poderia escrever sobre a realidade nacional e a confiança que a actual política (?) económica transmite ao exterior, porque internamente sabemos bem o custo e o drama que lhe estão associados.
Opto, contudo, por aproveitar as declaraçōes de dois intervenientes políticos, ambos do PSD, utilizando a sua própria retórica, ao mesmo tempo que transcrevo parte de um email por mim recebido no início desta semana, que estou certo ilustra totalmente a realidade a que aludi no início do post.
Opto, contudo, por aproveitar as declaraçōes de dois intervenientes políticos, ambos do PSD, utilizando a sua própria retórica, ao mesmo tempo que transcrevo parte de um email por mim recebido no início desta semana, que estou certo ilustra totalmente a realidade a que aludi no início do post.
"Quero em nome do PSD lamentar estas declarações e esperar que o Dr. Abreu Amorim tenha condições para explicar qual era a intenção, na medida em que essas declarações são, do ponto de vista dos princípios, inaceitáveis, do ponto de vista estratégico, incorrectas e, do ponto de vista eleitoral, ineficientes", salientou Jorge Moreira da Silva ( Vice-Presidente do PSD). Continuou :
"Por outro lado, as palavras de Abreu Amorim podem criar a ideia à população que a responsabilidade orçamental terminará com o memorando de entendimento [....] Portugal é um país que ganha 100, gasta 106 e deve 120. [....] O caminho é continuar a ter contas equilibradas durante muitos anos, para lá do memorando de entendimento da troika".
Afirmação de Abreu Amorim:
"Vítor Gaspar restabeleceu a confiança dos mercados e teve sucesso nas suas políticas de voltar a inserir Portugal nos mercados financeiros mas, neste momento, eu julgo que o país precisa de uma nova etapa neste combate tremendo à crise económica financeira e social em que estamos e que o tempo político de Vítor Gaspar terminou. [....] É preciso pedir o regresso da política, é preciso que os problemas sejam tratados através de uma percepção dos anseios e necessidades das pessoas e isso é muito mais vasto do que a visão tecnocrática afunilada com que muitos dos problemas do país têm vindo a ser tratados até agora".
Agora, a reprodução parcial do email que recebi, a propósito de uma possível montagem de uma operação financeira, sobre a qual não se falou em valores e que pretendia trocar um non-rated asset, por um conjunto de aplicaçōes cotadas, com várias plataformas de risco.
Dear João,
Thank you for your message. We have as a result over the last few days thrown a few leads to ascertain potential investors' interest in such a Lisbon opportunity, but the appetite at this time for such operation in these geographies is literally nil.
Creio ficar tudo dito sobre princípios e estratégia nacionais, que são essas que interessam, ou estarei enganado?
25.3.13
Estratégias......
O sistema bancário vive da confiança; esta foi traída no Chipre.
Contudo, nada pode alterar a necessidade de viver com o sistema bancário e de depósitos. Estes serão sempre um instrumento indispensável. Cabe então escolher qual o país que oferece maior segurança nos depósitos, a par da necessária estabilidade económica.
No Sul da Europa não está. No Centro europeu também não, excepto na Alemanha.
Desta forma, restam duas alternativas: Alemanha e Inglaterra.
A captação de depósitos em euros, por parte do sistema financeiro alemão, está em marcha.
Também a Inglaterra irá beneficiar desta falta de confiança gerada, propositadamente, no Chipre. Mas com a saída anunciada da Inglaterra da UE, a Alemanha tinha de jogar a sua carta agora.
Em simultâneo está a repatriar as suas reservas de ouro, sem excepção.
Entretanto, a Grécia está no limiar de uma convulsão social, que se adivinha sangrenta.
A caixa de Pandora está aberta. Resta aguardar.
Contudo, nada pode alterar a necessidade de viver com o sistema bancário e de depósitos. Estes serão sempre um instrumento indispensável. Cabe então escolher qual o país que oferece maior segurança nos depósitos, a par da necessária estabilidade económica.
No Sul da Europa não está. No Centro europeu também não, excepto na Alemanha.
Desta forma, restam duas alternativas: Alemanha e Inglaterra.
A captação de depósitos em euros, por parte do sistema financeiro alemão, está em marcha.
Também a Inglaterra irá beneficiar desta falta de confiança gerada, propositadamente, no Chipre. Mas com a saída anunciada da Inglaterra da UE, a Alemanha tinha de jogar a sua carta agora.
Em simultâneo está a repatriar as suas reservas de ouro, sem excepção.
Entretanto, a Grécia está no limiar de uma convulsão social, que se adivinha sangrenta.
A caixa de Pandora está aberta. Resta aguardar.
5.3.13
O Óbvio.....
Quando alguém ocupando um alto cargo na hierarquia alemã, admite a necessidade de desvalorizar em 30% a economia portuguesa, e acrescenta a possibilidade de Portugal poder ter de abandonar o euro ( tal como a Grécia, igualmente referida), creio estar tudo dito.
É preferível uma saída do euro e uma desvalorização da moeda em 35% , que a desvalorização da economia em 30%, mantendo a moeda euro ( que nem sequer é o mesmo euro que os outros euros).
Já o escrevi várias vezes: ou saímos enquanto ainda estamos a tempo, ou somos empurrados, depois de completamente sangrados.
É preferível uma saída do euro e uma desvalorização da moeda em 35% , que a desvalorização da economia em 30%, mantendo a moeda euro ( que nem sequer é o mesmo euro que os outros euros).
Já o escrevi várias vezes: ou saímos enquanto ainda estamos a tempo, ou somos empurrados, depois de completamente sangrados.
23.2.13
Portugal - Manifesto para a Mudança
Citando os “Maias”, obra sublime de Eça de Queiroz:
” - Falhámos a vida, menino!”.
Ega, no regresso de Carlos, de Paris.
Hoje, quando nos voltamos para os nossos filhos e amigos confrontados com a escassez de oportunidades na vida, com um dificílimo reconhecimento social, saídos de universidades portuguesas mal cotadas no “ranking europeu” resultado da Convenção de Bolonha e forçados a aprender espanhol se quiserem consultar um médico dizemos, tal como Ega:
”- Falhámos Portugal, meninos! Falhámos a nossa vida e, mais grave, a vossa!”
Esta é a montra deste livro, da incompetência política, do compadrio, da ausência de valores, do vale tudo em que se transformou esta Nação, a nossa Pátria. E a Pátria não se discute.
Ainda Eça:
"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (...) "
As preocupações crescentes de perca de soberania económica, mais não são que a consequência directa de uma política feita, nos últimos trinta e sete anos, mais no respeito do internacionalmente correcto e, nos últimos vinte e cinco, de uma obediência cega a Bruxelas, acompanhada por uma classe política impreparada e pouco ou nada dotada para o exercício de cargos e funções públicas, ocupados que estes são, sistematicamente, por actores políticos que encontram nas suas nomeações sentidos claros de prémios político-partidários e muito menos de reconhecimento de reais competências, para os respectivos desempenhos.
Aliás a constatação surge-nos, clara, quando verificamos os cortes nos vencimentos e regalias estabelecidos, bem como nos anos de mandatos possíveis de efectuar.
Caso o exercício político fosse consagrado como sério e competente, sendo estas premissas fundamentais aquando das nomeações para cargos políticos, estes, os políticos, deveriam ver as suas remunerações crescer à imagem do crescimento económico e social do País, como forma de chamar os mais capazes para a causa pública e premiar os mais competentes. Igualmente, através do voto, as populações saberiam distinguir entre a competência e a inacção políticas e determinariam, sem constrangimentos e em consciência, os seus representantes autárquicos, quer sejam eles nacionais quer sejam locais.
Não é esta a realidade.
Em Portugal vota-se em partidos e não em pessoas, e os partidos premeiam não os melhores mas todos aqueles que em nome de uma disciplina partidária, se sujeitam a todas as situações, se adaptam a todas as circunstâncias. É premiado o seguidismo, as "entourages" e não o livre pensamento e discernimento, sendo mesmo proibido inovar e propor caminhos alternativos.
A política é redonda, os discursos são redondos, as responsabilidades são nulas.
O sistema protege a mediocridade.
Haverá verdadeira liberdade num País colonizado no séc. XXI através do pior instrumento colonizador inventado pelo homem, o económico, onde são crescentes os sacrifícios pedidos à população e onde já não cabem razões tantas vezes invocadas de aumento da qualidade de vida, dos serviços primários, da saúde e da educação ou, pelo contrário, será essa liberdade maior num País onde o seu povo sofrendo carências menores e de menor risco nacional pode, contudo, de pleno direito e de sua livre vontade conspirar contra o regime político que o governa?
O homem é um animal conspirador e eu afirmo, convictamente, que prefiro a segunda à primeira.
Existem razões para considerar que é redundante a crítica política no nosso país.
A grande questão não reside na crítica política e económica constante, protagonizada à vez pela oposição, aos governos PSD e PS que se sucedem. A grande questão, a enorme questão reside no facto de uns e outros não terem soluções para os problemas económicos e sociais do País, porque o País, de tão mal orientado nas últimas décadas, não apresenta saídas possíveis.
As economias, todas elas, necessitam de gozar de proteccionismos de peso maior ou menor, consoante a sua pujança económica, a inserção geográfica, o grau de desenvolvimento e o momento temporal considerado. Se assim não fosse não haveria razão para preocupações com os têxteis chineses nem teria havido motivos válidos para a última cimeira entre China e União Europeia nesta matéria.
Se o princípio é válido para regiões geográficas económicas diferentes, terá de se encarar como igualmente válido para países com geografias económicas diferentes, mesmo que façam parte o mesmo continente. Assim, este princípio é válido para o conjunto de países inseridos no Continente Europeu.
A economia portuguesa não sofre das mesmas idiossincrasias nem apresenta os mesmos atributos que a economia francesa, como esta não se assemelha à economia alemã, nem esta à inglesa.
Tratar todos por igual só pode conduzir ao acentuar das diferenças, ao aumento das desigualdades, favorecendo os mais fortes e enfraquecendo, progressivamente, a capacidade de resposta dos mais fracos.
A linha férrea é sempre a mesma, na perspectiva económica, não sendo possíveis as ultrapassagens, mas tão-somente a aproximação e possível colagem, quando falamos de regiões geográficas da dimensão europeia e pretendemos impor regras económicas iguais, a todos os países que compõem essa região. Perante as mesmas regaras e obrigações, Portugal nunca almejará atingir os valores de rendimento da Alemanha, da Suécia ou mesmo do Luxemburgo, porque parte com armas mais pequenas para uma batalha que lhe exige o mesmo tipo de comportamentos: só com “crimes de guerra”, na óptica dos todo poderosos países europeus, é possível a um país como o nosso atingir rendimentos superiores, mesmo que o objectivo não passe senão da média europeia.
Portugal tem enfraquecido progressivamente ao longo dos anos, com pouco para oferecer se exceptuarmos a demagogia.
O problema é estrutural pelo que, hoje por hoje, é igual ser o PS ou o PSD a governar: são igualmente impotentes para travar o descalabro do rendimento nacional e, em economia, não existe um D. Sebastião.
Toda a propaganda que inunda as nossas maiores cidades na procura de votos é, na sua maioria, patética. Os slogans repetem-se ao ritmo das promessas vetustas, todas bem acompanhadas por sinais claros de ausência de qualquer planificação nacional, numa ilustração cabal da ausência de respeito para com a população portuguesa.
A falta de respeito marca fortemente a actuação política - onde todos somos tratados como indigentes mentais - quer falemos do governo central quer falemos das Câmaras Municipais.
Os raros exemplos de cuidado urbanístico e respeito pelas populações e cidadania, surgem nalgumas localidades no Alentejo, no Minho e em Castelo Branco. Todo o restante País é o espelho desgraçado da bandalheira política a que, forçados, nos temos habituado a suportar nos últimos trinta e sete anos.
Longe vão os tempos da discussão política acesa, dos disparates da acção política mas igualmente da crença depositada na 3ª república. Hoje os políticos estão desacreditados, a discussão política é insípida e vazia de conteúdo, feita de aproveitamentos de circunstância nos temas escolhidos, muito dirigida para a árvore e longe da capacidade de visão do global. E quando esta é abordada, inundam-nos de lugares comuns e de muitas asneiras.
Hoje não se acredita no sistema nem se acredita nas pessoas, porque o sistema, cá como lá fora, não responde às necessidades das populações e os políticos estão todos presos por rabos de palha, tão grande tem sido a promiscuidade quer interpartidária, quer intrapartidária. O exercício do poder consagra-se, fundamentalmente, pela ausência de acção política.
A lógica (?) que impera é a da classificação da pouca-vergonha, ao estilo dos concursos de beleza; o importante é a comparação. Se alguém sabe de outrem, sendo que a única diferença é o conhecimento ou não público do facto, avança na lógica(?) do mal igual ou menor.
Todos ou quase, porque de excepções ainda vive o mundo, têm o rabo preso e todos eles são de mais para este desgraçado País, como facilmente se constata pelo estado calamitoso a que a economia, a saúde, a educação, a justiça, o amparo social e a política chegaram.
Em última instância, o que foi escrito equivale a afirmar, em definitivo, que o sistema está fortemente viciado, empobrecido e carente de qualidade.
Os tempos são, então, forçosamente de mudança.
"Happiness would arrive one day and to hasten its arrival I did everything that a good Portuguese and a constitutionalist could do: I prayed every night to Our Lady of Sorrows and bought lottery tickets, the cheapest available."
Eça de Queiroz”. (Eça de Queiroz, “The Mandarin”, 1880).
A miséria em Portugal passa os limites do sustentável, e já não só ao nível social, mas sobretudo ao nível moral. Ser rico, falar como rico, comportar-se como rico e assumir postura de rico é exercício fácil. Ser pobre, viver com as dificuldades de uma existência programada ao cêntimo e, ainda assim distribuir, é que é um exercício difícil. Na faixa, cada vez mais larga, de população afectada pela miséria extrema, ainda é a solidariedade pessoal que vai minorando o sofrimento de todos, muitas das vezes feita através da redução de um já parco sustento, para dar a quem nada tem. Para estes, qualquer coisa é muito. E a miséria é, ela própria envergonhada. E as instituições jogam com esta vergonha.
Todas as classes profissionais fazem ouvir a sua voz, se manifestam e gritam desigualdades. Os pobres não se ouvem, são uma enorme maioria silenciosa, circunscrita a um canto da sua própria existência, sofrendo na alma a agrura da indigência, e perguntando-se, com inteira razão: porquê!?!
A resposta é difícil de articular, porque é muito complexa.
É possível, mas difícil, repito.
Mais ainda quando as investigações sobre corrupção, branqueamento de capitais e fuga ao fisco chegam a algumas das cabeças pensantes do país político nas últimas décadas.
Felizmente não todas, mas as suficientes para nos preocupar e nos fazer meditar sobre as reais preocupações que têm presidido ao quotidiano nacional nas últimas três décadas.
A questão já não é só política. A questão deixa mesmo de se revestir de carácter político.
A questão é mais profunda. O problema é nacional.
A dúvida instala-se na mente: a politica nacional está repleta de medíocres (não todos felizmente, que há gente aproveitável), não porque os aparelhos partidários sejam máquinas de produzir imbecis, mas porque estes procuram os aparelhos partidários para aí se acoitarem, incapazes que são de se integrarem num contexto externo à política, muito mais sofisticado e – neste caso específico, sofisticação significa complexidade e não desconhecimento como geralmente acontece – muito mais exigente.
São mesmo empurrados para a política por agentes externos, servindo de peões de movimentações muito mais intrincadas, mix de interesses particulares fulanizados e interesses nacionais malbaratados.
Os pobres são-no cada vez mais, em número e circunstância.
Os ricos são cada vez mais ricos. O País, eivado de dificuldades, ferido de morte no crescimento económico, víu florescer ricos, enquanto se afundava na pobreza.
A responsabilidade partidária, enquanto conjunção de pensamento e acção política, reside na vaidade do homem político, na incapacidade que este tem de se despojar do estatuto, de assumir riscos, de romper com o passado.
Que este homus politicus fosse capaz de deixar as convicções políticas que perfilhou (os políticos sérios e não os de pacotilha), ultrapassadas entretanto pelos acontecimentos económicos mundiais, congregando-se numa força inteligente de homens bons e de bons costumes, adaptada e flexível aos novos tempos e desafios e, uma vez abandonada a militância político/partidária actual (envergonhada nos mais capazes), se centrassem num pensamento: Portugal; acima de tudo Portugal.
Que se questionem: porque razão alguns terão direito a assistência médica cuidada e acesso à educação e outros, tantos, mas tantos, nem acesso a uma sopa têm, se não a esmolarem.
Não falem em exclusão social, não falem em pensões e reformas mínimas, se o discurso e vontade política por aí se ficar. Há que tratar de todas estas situações de verdadeira injustiça, mas acima de tudo há que assumir o estatuto de Homem, livre, pensador mas, acima de tudo e todos, empreendedor, construtor e edificador de linhas rectas, capaz de afastar o bruto e se centrar na sabedoria, contribuindo, não já neste tempo certamente, para uma verdadeira distribuição equitativa da riqueza, tempo em que o homem mostrará respeito por si próprio e pelos demais.
Que esses homens e mulheres se desliguem de aparelhos partidários, nos quais não se reconhecem mais. Que esses homens e mulheres capazes se juntem, em harmonia, num sentido profundamente nacional, para em definitivo se empurrar Portugal, fazendo-o sair do limbo onde se encontra.
Que emprestem toda a sua capacidade, inteligência e mediatismo que o País lhes concedeu, a esse mesmo País. Que paguem esse tributo.
Que segreguem politicamente quem sabem não servir, não prestar para Portugal e, com todos os outros Homens de bem, construam um outro Portugal.
A factura do 25 de Abril é demasiado elevada e a população não tem como cobrir o valor.
A ruptura no sistema é inevitável. Mesmo decorrendo de forma parcimoniosa, suave, gradativa e tantas vezes quase imperceptível. Porque as revoluções podem vir a assumir contornos radicais sem que tenham brotado de processos revolucionários, no sentido dado por Kant.
Constituindo-se a política numa esfera de influência inteligível ao nível da moral é, por obrigação mais do que por definição, uma relação entre governantes e governados, entre quem tem a obrigação de dirigir e quem tem de se submeter às decisões.
É claro que num regime político democrático esta relação tacitamente aceite se baseia em princípios antigos, do bom e do mau governo (da boa ou da má moeda), da conquista do poder e da forma como ele é exercido, da separação entre o poder político e o poder judicial, de quais os poderes que lhes são atribuídos, como se distinguem e interagem, como surgem as leis e como se procede no sentido do seu cabal cumprimento.
Do indivíduo singular não se ouve falar em direitos, senão circunstancialmente, mas acima de tudo de deveres – obediência às leis, transparência fiscal, comportamento cívico e moral.
Esta será a leitura do ângulo dos governantes, mas é possível fazer idêntica leitura do ângulo dos governados.
Quando deixamos de considerar estes como um grupo coeso, de princípios morais comuns, regidos pela face dos deveres, e os consideramos como o somatório de vontades individuais, olhados à face dos direitos, percebemos que estamos a falar da mesma moeda, mas também de uma inflexão no registo político aceite, de uma revolução radical nas ideias, dogmas e preceitos comummente aceites.
Quando, individualmente, cada cidadão dá como bom o princípio de que em termos políticos já não existem diferenças; quando a análise a candidaturas políticas individuais é feita com total indiferença pelas personalidades em confronto, na convicção de que são todas iguais; quando esta indiferença nasce da certeza que o poder da mudança não reside nas vontades políticas partidária ou pessoais; quando, finalmente, nos damos conta de que esta interiorização individual da potência política é o sentimento generalizado do colectivo, assistimos, em definitivo, a uma mudança na face da moeda, a uma concepção lockiana onde os direitos naturais são a resultante de uma concepção individualista da sociedade, da essência do Estado e que este é e representa o colectivo.
E representa bem ou mal, com a diferença de que o colectivo, somatório das percepções individuais, agora se dá conta e exige explicações para a boa ou má governação.
Se os políticos, individualmente considerados, não conseguem transmitir qualquer sentido ou objectivo político à acção governativa, eles próprios, não intencionalmente, subscrevem a tese de que a política nada tem a acrescentar no formato actual e que, enquanto cidadãos individualizados, se debatem com o mesmo problema e dilema dos demais indivíduos – como aceitar (ou impor) tantos deveres, sem sentir (garantir) a existência de direitos.
O Sistema mostra-se então gasto.
"Posso finalmente sair de Portugal (pelo menos tenho passaporte), e bastou essa certeza para me tirar toda a fúria de deixar isto."
Miguel Torga, 27 de Junho de 1950, a propósito do termo do impedimento de se ausentar do País.
15.2.13
7.1.13
O problema é económico
A defesa cerrada da continencia económica de Portugal, por parte dos comentadores e senadores de sempre, habituados a viver dos favores do regime, carecendo de fundamentaçào lógica, são assimiláveis a carpideiras do trágico e inevitável.
É essa inevitabilidade económica que nos "vendem", a própria desvalorização económica do país.
Pretende-se que se está a construir um futuro, através de uma política e estratégia financeira própria de quem tem fogo na casa e tem a água cortada.
A estratégia de sacrifício financeiro, para salvaguarda da tesouraria, só funciona se, economicamente, o país começar a crescer. Para crescer necessita de fomentar a procura interna e, depois, através de economias de escala, e porque não produz tudo aquilo de que necessita, ganhar competitividade no mercado externo, por forma a equilibrar a Balança de Transacçōes Correntes. Fomentar o consumo interno implica aumentar a procura, que implica aumentar o consumo, que implica aumento de rendimentos.
Assiste-se à destruição dos salários reais, o que pressupōe a incapacidade de incrementar o consumo interno. Sem este incremento, o futuro da maioria das empresas em Portugal é a falência. Mesmo as grandes, aquelas que não parecem poder sofrer estão ameaçadas, porque não dependem economicamente das exportaçōes. Exemplos: distribuidoras, Brisa, PT, só para citar muito poucas. Pense-se nas empresas que dependem da melhor ou pior performance só destas três e percebe-se a dimensão. Porque o problema de Portugal é económico. O problema financeiro existe porque não existe economia. Sem economia a tesouraria portuguesa está a prazo e a falência do país inevitável.
A economia, enquanto ciência social, deveria ter em atenção o interesse geral da população e contribuir para uma maior equidade social.
A boa gestão financeira é imperativa sempre, mas num cenário de perca de poder económico, arrisca-se a ser um instrumento de tortura e morte acelerada. Quem não se recordará, aqueles que andam no mundo empresarial há algum tempo, das vantagens de compensaçōes demoradas do Banco de Portugal, para dessa forma ganharem tempo para crescerem economicamente. E os que não o conseguiam morriam, com ou sem cosmética financeira, inexoravelmente.
Portugal, seguindo um caminho de forte restrição fiscal, não está a contribuir para o seu futuro mas sim a liquidar-se a si próprio, porque não pensa o futuro a 15 ou 20 anos mas tão só a tesouraria a 30 dias.
A receita fiscal este ano vai ser mais baixa; a % da dívida externa sobre o PIB vai aumentar; as falências vão crescer; o desemprego aumentar (1 em cada 4 portugueses está actualmente desempregado); a prestação económica do país vai cair; a confiança externa atingirá o patamar zero.
Já fomos um país pobre. Já fomos o país mais rico de entre os pobres. Depois fomos o mais pobre dos ricos. Em 1973, no auge da primeira crise de aumento de preços do petróleo demos cartas na Europa, em crescimento económico. Mais tarde voltámos à condição de pobre entre os ricos.
Hoje somos um país a fechar escolas, a fechar hospitais e centros de saúde. Com o tempo iremos fechar estradas por se tornarem intransitáveis.
Em suma, só nos falta falir, próximo passo da história deste país, se a política financeira teimar em sobreviver e a enterrar a economia.
É essa inevitabilidade económica que nos "vendem", a própria desvalorização económica do país.
Pretende-se que se está a construir um futuro, através de uma política e estratégia financeira própria de quem tem fogo na casa e tem a água cortada.
A estratégia de sacrifício financeiro, para salvaguarda da tesouraria, só funciona se, economicamente, o país começar a crescer. Para crescer necessita de fomentar a procura interna e, depois, através de economias de escala, e porque não produz tudo aquilo de que necessita, ganhar competitividade no mercado externo, por forma a equilibrar a Balança de Transacçōes Correntes. Fomentar o consumo interno implica aumentar a procura, que implica aumentar o consumo, que implica aumento de rendimentos.
Assiste-se à destruição dos salários reais, o que pressupōe a incapacidade de incrementar o consumo interno. Sem este incremento, o futuro da maioria das empresas em Portugal é a falência. Mesmo as grandes, aquelas que não parecem poder sofrer estão ameaçadas, porque não dependem economicamente das exportaçōes. Exemplos: distribuidoras, Brisa, PT, só para citar muito poucas. Pense-se nas empresas que dependem da melhor ou pior performance só destas três e percebe-se a dimensão. Porque o problema de Portugal é económico. O problema financeiro existe porque não existe economia. Sem economia a tesouraria portuguesa está a prazo e a falência do país inevitável.
A economia, enquanto ciência social, deveria ter em atenção o interesse geral da população e contribuir para uma maior equidade social.
A boa gestão financeira é imperativa sempre, mas num cenário de perca de poder económico, arrisca-se a ser um instrumento de tortura e morte acelerada. Quem não se recordará, aqueles que andam no mundo empresarial há algum tempo, das vantagens de compensaçōes demoradas do Banco de Portugal, para dessa forma ganharem tempo para crescerem economicamente. E os que não o conseguiam morriam, com ou sem cosmética financeira, inexoravelmente.
Portugal, seguindo um caminho de forte restrição fiscal, não está a contribuir para o seu futuro mas sim a liquidar-se a si próprio, porque não pensa o futuro a 15 ou 20 anos mas tão só a tesouraria a 30 dias.
A receita fiscal este ano vai ser mais baixa; a % da dívida externa sobre o PIB vai aumentar; as falências vão crescer; o desemprego aumentar (1 em cada 4 portugueses está actualmente desempregado); a prestação económica do país vai cair; a confiança externa atingirá o patamar zero.
Já fomos um país pobre. Já fomos o país mais rico de entre os pobres. Depois fomos o mais pobre dos ricos. Em 1973, no auge da primeira crise de aumento de preços do petróleo demos cartas na Europa, em crescimento económico. Mais tarde voltámos à condição de pobre entre os ricos.
Hoje somos um país a fechar escolas, a fechar hospitais e centros de saúde. Com o tempo iremos fechar estradas por se tornarem intransitáveis.
Em suma, só nos falta falir, próximo passo da história deste país, se a política financeira teimar em sobreviver e a enterrar a economia.
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