O Governo corta nos subsídios, diminui e reduz as pensões em valor e em número, aumenta os impostos directos e indirectos, até pode decretar que a redução salarial abrange toda a economia e não, tão só, a função pública. Por um lado pretende reduzir a sua própria despesa, por outro conformar os salários ao nível da competitividade, considerada necessária, para a recuperação económica. Por outras palavras, é um jogo de desvalorização interna.
Se o Governo beneficia do lado da despesa, quando paga menos, o que acontece do lado da receita ? O Governo recebe menos na cobrança dos impostos sobre o rendimento. Quando aumenta os impostos, reduz o poder de compra, reduzindo a actividade económica e ,assim, a colecta de impostos baixa.Os preços caem internamente, pela redução da procura, originando um aumento da dívida junto dos credores, medida em unidades de produção interna.
Esta desvalorização interna, baseia-se na esperança que o aumento da dívida em termos de unidades produzidas, seja compensada por um aumento da produção com preços mais baixos (pela redução do custo do factor mão-de-obra), que valerá um aumento da receita fiscal através das empresas e de uma poupança nos custos sociais do Estado.
Mas será plausível esperar esta situação, em economias com problemas estruturais como a nossa ? Ou a grega ?
Este é o programa que nos é imposto externamente. Infelizmente, este programa de ajustamentos, afecta sempre de forma grosseira e vertiginosa, os países mais fracos.
Com medidas mais ou menos draconianas, de ajustamento do balanço fiscal, os Governos debater-se-ão sempre com problemas de deflação, derivados das medidas fiscais impostas.
Em conclusão, sem uma intervenção decidida e conjunta da Zona Euro, para a correcção dos desequilíbrios orçamentais dos países fiscalmente debilitados, as medidas de nada servirão, senão para atrasar ainda mais as respectivas economias, colocando de forma premente a necessidade de adopção de um Plano B, que considere o crescimento económico dos países mais fracos, através do aumento de investimento dos países mais fortes.
Caso contrário (sem crescimento económico sustentado), por cada euro pago a menos, pode grosseiramente considerar-se que a dívida nacional aumenta, em termos reais, na proporção exacta do percentual de desvalorização interna.
É então falacioso, considerar-se que se está a caminho da virtualização das contas públicas, quando na realidade, mais não se faz que aumentar essa dívida, pela desvalorização da economia interna que foi provocada.