12.10.10

Titubear por entre as palavras e os conceitos ... exercíco nacional muito na moda.

Aprova-se o Orçamento de Estado (OE) para 2011 ?
Claro que sim.
Mas este vai provocar uma recessão...
Pois vai.
Mas essa recessão não vai obrigar a novas medidas penalizadoras dos rendimentos das famílias e das empresas ?
Vai, por resultar numa diminuição do rendimento nacional...
Estamos então num círculo vicioso, onde a cada pacote de austeridade se sucede novo pacote de austeridade.....
Assim é, de facto....
Não será então melhor tomar outras medidas já ?
Aprovar o OE de 2011....
Mas essa aprovação não declina nos sucessivos pacotes de austeridade e na redução sistemática do rendimento nacional ?
Sim.... mas qual é o problema ?
Bom, não poderá o problema situar-se ao nível da capacidade de cumprir com as nossas obrigações, por estarmos envolvidos num remoínho que obriga a reduções da despesa pública e da despesa das famílias e investimento privado, que vão implicar novas medidas correctivas, que vão resultar numa rediminuição daquelas componentes do rendimento nacional, que vão obrigar à aplicação de repetidos aumentos na carga fiscal, à rediminuição da despesa pública, mantendo-se a economia sempre em recessão ?
Bom...sim...
Então concorda que não haverá capacidade de criar poupança no país ?!?
Parece-me que sim; bom, claro, a poupança não vai ser possível em recessão. Concordo....
E não há um limite para os cortes na despesa e para a diminuição do rendimento das famílias e das empresas ? Imagino que nessa altura o desemprego já esteja nos 25%....
Há um limite, claro que há. Há um limite para tudo.....
E como se sabe que já atingimos o limite ?
Mesmo antes de acabar o pão......quando terminar o apoio internacional....
Mas esse momento pode estar próximo, mesmo aprovando o OE 2011...
Poder pode, mas não é já....e entretanto estamos na Europa, na zona euro, somos parceiros dos alemães, dos franceses, dos holandeses, dessa gente com outra estirpe, com quem convivemos muito bem em Bruxelas e que nos garantem o status quo político, as nossas prerrogativas. Detestaria ter-me envolvido na política para ficar ligado a um desastre, como aconteceu com os políticos da I República....
Mas esse desastre não está próximo ?
Esperamos que não, mas para não estar é necessário aprovar o OE para 2011....
A ver se percebo: a economia nacional vai ser recessiva; à austeridade segue-se mais austeridade; a dependencia de capitais externos irá aumentar; a vontade dos nossos parceiros comunitários concederem pacotes de ajuda financeira suplementar é nula (já o fizeram com a Grécia e tenho dúvidas que a ajuda atinja os montantes acordados); a economia nacional sendo recessiva gera cada vez menos rendimento, o mesmo é dizer liquidez, poupança; a capacidade de fazer face aos compromissos será, cada vez, mais sofrida; a população viverá cada vez pior, levando ao encerramento de empresas, de comércio, de serviços, aumentando exponencialmente o desemprego. Não é este o desastre que nos espera e que mais teme ?
É esse mesmo, por isso é necessário aprovar o OE para 2011...
Mas não é o OE para 2011 a cereja em cima de um bolo que já vem estragado de há muito ?
Ser é, mas não podemos deixar o euro nem podemos deixar a união europeia....
Mas porquê ?
Isso não sei, eu nem sei fazer contas nem lidar com modelos matemáticos; a única coisa que sei é que temos de nos manter no euro...
Então a razão é essa.....hmmmm.....
Encontra outra ?
Talvez a sua retórica ronde, neste caso concreto, a pura imbecilidade alimentada pelo prato habitual da ignorância daqueles que se habituaram a ser autistas políticos. Porque não percebem que os campeonatos entre países tão diferentes são diferentes, porque a economia portuguesa nunca esteve perto da economia alemã, porque entrar no euro foi um enorme exercício de imbecilidade e incompetencia económica. Porque nos colocou fasquias e regras impossíveis de cumprir, porque a entrada na União Europeia foi baseada na miríade de fundos estruturais e sacudida pela imoralidade da aplicação desses fundos, que se atesta hoje, em nada ajudaram Portugal, bem pelo contrário, contribuíram para um comportamento relapso nas finanças públicas, nas empresas, na agricultura, na atribuição excessiva de crédito aos particulares. Porque sempre fomos parceiros menores. Porque aceitámos regras e deficites, convictos que por nos serem impostos, seriam mais fáceis de cumprir, numa altura em que a economia alemã e portuguesa cresciam a 5% ao ano - sendo os nossos anos de maior crescimento suportados, sempre, por aumentos na despesa pública - com a enormíssima diferença que o nosso crescimento não era sustentado, enquanto o alemão se baseava numa economia consolidada, onde 5% de crescimento era muito: na realidade, nessa altura deveríamos estar a crescer no mínimo a 12%. Porque perdemos o último reduto económico: o instrumento cambial, a moeda. Porque um possível empurrão alemão para a saída de Portugal do euro é mais que certo, com ou sem OE para 2011, porque é cada vez maior a hostilidade, quer nos mercados, quer nos governos, em particular no alemão, que está mais disposto a reconfigurar a zona euro do que a acudir a países que considera incumpridores relapsos. Porque recuperar a moeda é a única solução para resolver os nossos problemas; a recuperação da moeda e da liberdade fiscal, para podermos promover o país como um destino interessante para os capitais. A propósito, como pensa criar emprego e riqueza no contexto que lhe descrevi ?
Nunca pensei muito nisso... a bem da verdade nem sei. Só sei que não podemos deixar o euro e temos de aprovar o OE para 2011....

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