O cenário está montado. As pressões que têm caído sobre Passos Coelho forçam o PSD à abstenção, na votação do OE de 2011. O orçamento passa, o governo mantém-se em funções, mas a termo. Assim que se tornarem necessárias novas medidas de austeridade - porque no essencial a despesa do estado não sofre reduções significativas, que garantam o controle da despesa pública, que continua a crescer - e num período após presidenciais, já será possível paresentar uma moção de censura e fazer cair o governo. Cair o governo significa deixar cair os projectos megalómanos presentes no OE 2011, a saber: TGV, aeroporto e terceira travessia do Tejo (projecto associado ao novo aeroporto). É imperioso que o governo caia, antes de deixar as marcas destes investimentos na futura gestão da coisa pública (embora pessoalmente pense que, seja qual for o governo, as obras serão difíceis de travar, especialmente o TGV). Em simultaneo, é quase impensável que, num país à beira do colapso financeiro, obras faraónicas continuem a abrilhantar documentos como o orçamento: estamos de tanga, mas para o lado de S. Bento continuamos teimosos.
Contudo, no meio deste caldeirão de política e finanças públicas, continuo sem perceber porque razão este orçamento tem de passar agora porque não podemos ficar sem governo, mas tres a quatro meses depois, já podemos avançar para eleições e estar uns quantos meses com um governo de gestão. Dir-me-ão que é uma questão de timing, de mostrar ao exterior vontade de resolver o problema em que se transformou a despesa e dívida pública portuguesa. Pois sim, mas como é expectável, as medidas que agora são tomadas só aumentarão a agonia, sendo que mais tarde, daqui a uns meses, a pressão sobre o país terá aumentado e não diminuído. O problema será maior, porque a pressão será maior, a necessidade de fazer sangue maior e o risco de colapso financeiro maior. Acresce que a Europa estará a começar um ciclo de crescimento e nós estaremos em contraciclo, afastando cada vez mais a já inexequível meta da convergencia com a média europeia.
Contudo, parece à primeira vista que nenhum dos problemas actuais o será mais tarde, daqui a uns escassos meses.
O problema residirá na queda do governo e não na sua saída airosa. Pois: em qualquer país democrático e civilizado, este governo já estaria a ser responsabilizado por todas as omissões e falsas verdades, com que tem alimentado o país desde há 5 anos; não seria necessário faze-lo cair para que, ele próprio, caísse de maduro.
Sem comentários:
Enviar um comentário