Apelar à união dentro do PSD é o mesmo que afirmar que nada mudará no PSD, ou seja, que o PSD caminha para um futuro incerto, de expressão eleitoral minimalista.
A leitura não parece directa, porquanto a intenção de união encaminha-nos para uma suposta necessidade bem perceptível: organização interna sem divisões.
Contudo apelar à união no PSD é uma falácia, porquanto pressupõe casar todos com todos.
Mas casados estão todos há muito tempo, todos estes que nos aparecem agora preocupados e a apontar dedos.
Se o partido estivesse bem política e ideológicamente e desavindo quanto à estratégia política, a suposta união existiria e não haveria necessidade de apelos à mesma.
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Mas a união não existe(!) existindo sim um divórcio grande e uma herança pesadíssima (cavaquista).
Assim, apelar à união dentro do PSD é empurrar o problema do partido com a barriga, tentando ganhar tempo enquanto se contam as espingardas.
Não existe união nem desunião. Existem várias linhas dentro do partido que não são compagináveis.
Ou o partido assume uma posição liberal ou assume uma posição social.
Ou o PSD é um partido social-democrata ou é uma força política virada para interesses absolutamente económicos. Na primeira hipótese vai discutir políticas sociais - utilizando a economia como ferramenta - fácilmente confundíveis com centro-esquerda; na segunda irá perder eleitorado à velocidade do crescimento dos problemas das populações.
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O PSD já não é hoje um partido tão popular quanto o foi, mas tão pouco pode ser um partido elitista.
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Há um modelo de sociedade que o partido tem de assumir.
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Enquanto não o fizer definhará até perto de uma dimensão inconciliável com a sua história, acabando por perecer.
Nada é eterno a não ser a dúvida. Afirmar convictamente que o PSD será sempre um grande partido nacional é confiar no coelho da Páscoa e, como sabemos, em tempos de crise não há amendoas.
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Há um problema grave de sucessão no PSD: as possiblidades sérias já foram testadas, as outras que pareciam sérias não o foram (sérias), as possiblidades em aberto são fracas e há políticos que ainda não provaram o suficiente para se projectarem como alternativas.
Os egos vão falar mais alto? Se assim for o partido perderá em toda a linha.
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A geração de políticos que está entre os 60 e os 70 anos estão comprometidos com toda uma má condução política do partido e a geração entre os 40 e os 50 anos é fraca, mal preparada científica e culturalmente e, também, mal politizada. Falta conhecimento a estes e há excesso de débito político nos primeiros.
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É então necessário limpar a casa com novos rostos e novas ideias, e de seguida arrumar o pensamento político, separando economia política da política social, dando primazia a esta e recorrendo à outra como seu fiel instrumento.
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O país, Portugal, é de todos.
Portugal não pertence a elites nem a máquinas partidárias.
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Os partidos existem para que se possam juntar neles homens com amor ao seu país, à causa pública e dispostos a sacrifícios pelos seus objectivos e ideais.
Um político tem de ter ideais e tem de fixar metas, fixar objectivos de curto, médio e longo-prazos; mas estes objectivos não podem ser ordenados por lugares públicos: agora sou presidente da concelhia, amanhã presidente da distrital, depois presidente da camara, talvez ministro mais tarde, primeiro-ministro um dia e, quem sabe, acabe os meus dias na presidencia da República ou tenha uma reforma dourada na União Europeia.
Estes são objectivos válidos mas pessoais e só se atingem se a população nacional perceber que os objectivos primeiros, os primordiais, são os objectivos nacionais.
Os lugares ocupam-se pela capacidade demonstrada, por se considerar que há um capital de confiança em alguém e não por atribuição de um prémio qualquer ou por jogos de favores e de bastidores.
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Há uma política que vale a pena ser feita e conduzida e há uma outra, a política baixa e comezinha, que já não se disfarça em trinta anos de actividade partidária.
O PSD precisa de mudar e muito, porque Portugal precisa de um partido de oposição sério. Mas atenção, o necessitar de um partido que protagonize uma oposição séria não implica que o partido tenha de se chamar PSD.
Preferencialmente assim será, por razões históricas, mas só o será se os políticos de que o PSD se encontra encastoado não desafiarem os deuses.
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