23.9.08

Ainda agora começou....

Tudo o que sucedeu na passada semana, no mundo financeiro, é tão sómente o início do turbilhão aqui aventado, vezes sem conta e de há muito tempo.
A injecção de capital no sistema financeiro dos EUA, que aguarda pela respectiva aprovação, no valor de 700 mil milhões de dólares, não pretende mais do que tentar estancar o colapso do sistema financeiro global.

Os números são razoávelmente fáceis de perceber:

(1) valor real da crise imobiliária nos EUA: 3 biliões de dólares (10^12)

(2) valor injectado no sistema financeiro até agora: cerca de 1 bilião de dólares;

(3) Valor do mercado de derivados de risco: 15 biliões de dólares;

(4) Intervenções no mercado financeiro: (i) AIG - 85 mil milhões de dólares; outros - 200 mil milhões (já não houve liquidez para salvar o Bear Stearns e o Lheman, porque se esperava pelo colapso da AIG e da Merryl Linch, acabando este por ser, momentaneamente resguardado pelo Bank of America. Havia ainda que intervir na Mae e na Mac e o pano é cada vez mais curto);
(ii) total destas intervenções: cerca de 300 mil milhões de dólares.

Ou seja, o valor até agora injectado não cobre metade do valor real da crise. Injectando mais 700 mil milhões irá cobrir 2/3 da crise e fica esgotada a possibilidade de intervenções futuras. E ainda terão de agradecer aos EUA pelo enorme sacrifício (estão a esgotar reservas preciosas. Sempre afirmei que os EUA seriam a economia que melhor resistiria a esta crise - sofrendo o primeiro embate, óbviamente - e que primeiro sairía dela. Em meu entender, desnecessáriamente, estão a tornar mais difícil essa tarefa, porque irão recuperar primeiro sim, mas levarão mais tempo e tempo para o resto do mundo significa fome, porque nada será alterado; a "máquina" já está a rolar e nada a fará parar, antes do sistema estar razoávelmente expurgado).

O sistema financeiro mundial está "seco", estas ajuda têm o propósito de aguentar os mercados, mas as empresas e os particulares estão financeiramente exauridos. Tenderão a realizar liquidez e a recolocar os recursos em activos pretensamente mais seguros que os actuais e é aqui que a crise vai estalar por completo. Os 15 biliões de dólares atrás referidos vão faltar (cerca de 4/5 do valor é fictício, mas o restante 1/5 vai valer muito menos que o valor real) fazendo rebentar a "bolha" que separa a recessão (actual) da depressão.

No caso do nosso País, já deveríamos ter utilizado todos os fundos comunitários à nossa disposição, bem como deveríamos estar a proceder, desde o início do ano, a um aumento (possível, permitido) dos financiamentos externos. O dinheiro vai perder valor e quem o tiver, mesmo valendo muito menos, estará melhor colocado.

Recordo quando em 2006 fiz referência à alteração da lei das falências nos EUA. A referida alteração era o prenúncio de que a liquidez na maior economia do mundo já não era a mesma e que os tempos de facilidades estavam a acabar. Escrevi aqui sobre o tema e sobre o seu significado.

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