12.5.06

A crise no Médio-Oriente...

Henry Kissinger, numa palestra promovida hoje em Lisboa a propósito do Irão e do Médio-Oriente, afirmou, a dado ponto, que o cerne do problema são as armas nucleares de que o Irão poderá vir a dotar-se e a ameaça que poderão constituir para a humanidade, recusando a intervenção armada contra Teerão e defendendo que a solução passará pela mudança do governo, a realizar pelos próprios iranianos.

Aqui chegados, se estivéssemos a falar de um qualquer país civilizado, possivelmente essa solução seria possível, muito embora contraste com posições assumidas por Kissinger num passado não muito recente (leia-se a confiança no discernimento das populações e a sua capacidade para alterar o rumo da história política dos seus países).

Se não tivéssemos passado por duas grandes guerras no séc. XX, possivelmente seríamos ingénuos o suficiente para acreditar na generosidade da solução. Assim, como a memória não pode nem deve ser curta, a pseudo-solução apresentada cheira a hipocrisia e, igualmente, a muita moda.

A verdade é que a intervenção no Iraque era necessária, mas foi mal conduzida. Em vez da guerra teria sido preferível a via diplomática. Em vez de afastar os sunitas, teria sido preferível forçá-los a um entendimento, reforço a intenção de forçar, em vez de ter proporcionado o poder aos xiitas. Os xiitas são a "ralé" do mundo árabe, a twilight zone do entendimento entre ocidente e médio-oriente. Os sunitas estão ocidentalizados, são mundanos, pelo menos paredes dentro.
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O presidente iraniano fez voto de castidade. Fez igualmente um voto de destruição dos judeus. O estado de Israel continua entalado nas gargantas dos mais pobres e menos esclarecidos, os xiitas. Porque Israel é rico. Os sunitas também o eram.
O problema é que quando falamos em Irão, falamos em Paquistão, falamos em Índiae por aí fora. Porque a escalada militar na região seria o nosso maior pesadelo - e aí Kissinger tem razão - pior que 3oo Elm Streets com 2.000 Freddy Kruger.
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Mas o Irão já o afirmou. É preciso acabar com Israel. E aqui chegados só restam duas soluções: 1ª. olhar para o lado como se fez de 1934 a 1942, ou encarar os judeus inseridos no Médio-Oriente como foram encarados os Templários em França: estão a mais, bazem, ou;
2ª. intervir com força e, se necessário, em força.
A 2ª hipótese é a mais humana e séria, comportando igualmente os custos mais elevados. Porque há dois parceiros que entram neste jogo, só não se sabendo quando e em que tabuleiro geo-estratégico: China e Rússia.
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Está tudo muito complicado, os sinais são todos maus. A crise económica instalou-se no Mundo, todo ele, trazendo consigo uma enorme instabilidade social. Qualquer passo mal dado redundará, forçosamente, em catástrofe. Mas será que a situação seria diferente, mesmo que os passos fossem todos bem dados? Não o creio.
George Bush é um homem só. Em tempos difíceis pede-se-lhe que seja um deus: supostamente só estes não erram. É um pedido razoável ? Claramente não!
É possível equacionar que o mundo ocidental assobie para o ar e que os EUA digam no pasa nada ?
Sabemos todos a resposta.
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É sustentável a esperança de que o actual poder no Irão reflicta e retroceda? ESperamos que sim mas nem superficialmente acreditamos em tal milagre - porque seria um milagre!
É natural que o povo iraniano force uma mudança governativa ? Pergunta: baseado em quê?
Também é pouco provável: a pergunta não tem resposta visível, pelo menos a médio prazo.
Resta-nos aguardar e esperar que o bom senso impere (coisa dificil de acontecer hoje em dia,mesmo em problemas bem menos intricados, como é bom exemplo Portugal).

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