13.12.05

Cenários Presidenciais

As sondagens apontam para números que decidem as eleições na primeira volta.
Cavaco Silva surge com perto de 60% das intenções de voto, ordenando-se os restantes candidatos dos 20% para baixo, destacando-se o segundo lugar alcançável por Alegre.

Este é o cenário espectável atendendo às sondagens e igualmente desejado por muitos, até porque seria histórico que um candidato apoiado pelo centro-direita ganhasse as eleições na segunda volta.
Contudo, alguns ses podem ser levantados e algumas dúvidas colocadas. Primeiro indagar se a massa votante PSD/CDS vota, toda ela, em Cavaco Silva. Não creio. Cavaco está intímamente ligado às infraestruturas viárias e ao crescimento desmesurado da grande distribuição. Cavaco aproximou Lisboa de Madrid e Barcelona, retirando sentido a centros de decisão que se mantinham em Portugal por dificuldades de ligação rápida entre Portugal e Espanha e não por questões de mercado. Com o advento da grande distribuição - as modernas catedrais de consumo - Cavaco criou ricos mas não gerou riqueza, contribuindo decisivamente para a face terceiro-mundista que o País actual apresenta. E há muitos que não esquecem nem perdoam esta gestão governativa.
Depois há que considerar a posição a assumir por Jerónimo e Louçã. Tenho para mim que Jerónimo só irá a votos se Louçã for até final. Porque Jerónimo sabe que terá mais votos que Louçã e porque não pode deixar o Bloco concorrer sózinho, sem a oposição comunista. Jerónimo sabe que o Bloco é um saco de gatos, uma moda - como tal passageira - que enquanto durar poderá roubar votos ao PCP, junto das camadas jovens, onde os comunistas estão mais carenciados. Por isso Jerónimo vai até onde for Louçã.
Louçã não pode (ou não deve) políticamente ir até ao fim. Os votos de Louçã não são os votos do Bloco, são menos, bastante menos e uma votação menor em Louçã mostrará o que Louçã não quer - que o Bloco é uma coisa e que Louçã é só uma parte do Bloco - que existem blocos no Bloco.
Se o Bloco for a votos, os comunistas também irão e Cavaco ganha à primeira.
Se Louçã não for a votos (impondo-se no interior do BE), Jerónimo também não necessita de ir a votos. Nesta situação os comunistas poderão dar liberdade de voto aos militantes e simpatizantes ou dar indicação de voto em Alegre. Louçã, a desistir (se o BE deixar), colará a sua imagem a Alegre, aproveitando a tendência das sondagens que dão este à frente de Soares, tentando capitalizar no provável precioso apoio do Bloco para uma eventual passagem de Alegre à segunda volta.
Se Cavaco correr contra Soares e Alegre (sem Jerónimo e Louçã) a probabilidade de não ganhar à primeira volta é elevada. Há que considerar, contudo, a relativa importância que os comunistas possam atribuir a uma vitória à esquerda ou à direita, perante a possibilidade de o seu líder se apresentar a escrutínio, com ou sem Louçã. O risco de serem crucificados pela esquerda é nulo, perante a divisão de candidaturas no seio do PS, partido da esquerda com maiores responsabilidades.
Se Cavaco não ganhar de caras irá ter como oponente Alegre. E a história reza assim: o candidato de esquerda ganha.
Depois há também a possibilidade do voto em Alegre com dois fins: primeiro ridicularizar Soares; segundo baralhar em definitivo a 3ª República e acelerar a sua queda. O voto assim não é um voto claramente democrático, mas a acontecer virá de sectores que Cavaco assume como seus.
Cavaco não serve ao País actual. É um europeísta convicto e um monetarista confesso.
Dentre os restantes dois candidatos melhor (?) posicionados venha o diabo e escolha: o grupo de Argel ou o grupo de Paris. Em qualquer dos casos dissidentes comunistas.
A escolha mostra-se fácil, para qualquer dos lados e respectivas motivações. As repercurssões serão bem mais difíceis de digerir.

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