27.5.05

RACIOCÍNIO FALSO E MANIPULANTE

MÁRIO MELO ROCHA SOBRE O "SÍTIO DO NÃO"
"O sítio do “não” agrupará por via negativa sem que haja um denominador comum para lá do próprio “não”. A extrema-direita e a extrema-esquerda juntar-se-ão aí. Integralistas, anti-europeus e eurocépticos militantes aí estarão. Saudosistas do Império aí residirão. Será um albergue destrutivo e demagógico. Uma espécie de novo “sítio do pica-pau amarelo” sem pirlimpimpim. Em que todos verão na Europa e no Tratado Constitucional bruxas e demónios, criaturas de três olhos e afins. Sabemos não ser assim. Mas também sabemos que não se sabe o que propõem para lá da rejeição." in Diário Económico, 24/5/05


A questão que hoje se levanta na União Europeia é simples e objectiva: estaremos nós, cidadãos europeus, na disposição de passar de um modelo intergovernamental para um modelo federalista? Sim ou Não?
A questão, como se verifica, é metodológica, no poder e na forma de organizar e gerir a Europa.
É absolutamente abusivo considerar que quem se opõe à federação de estados europeus seja contra a Europa. A argumentação neste sentido será igualmente válida se utilizada por quem defende a actual metodologia, de independência e autonomia dos estados nacionais, face a quem pretende substituir organizações de controle por organizações de comando.
Cabe a cada cidadão decidir por si próprio como se sente mais confortável, face aos valores que defende e à doutrina social que professa. É estranho que os principais partidos políticos nacionais, ao nível dos seus dirigentes e não ao nível das bases e dos simpatizantes, defendam a mesma política federalista.
Porquê?
Porque se coloca a Portugal o desafio de funcionar como "ponte" entre a UE e a CPLP, detendo competencia e capacidade incontestada para o fazer (atentem-se nos recentes festejos pró-Benfica em todo o Mundo português, não por ser o Benfica ou futebol, mas pelo que o gesto demonstra de proximidade, mesmo identidade emocional, sendo certo que é esta o cimento primeiro da solidariedade e compreensão nos povos) e a possibilidade histórica de um ganho de importância, ao nível da lusofonia e da UE, misto de oportunidade e responsabilidade que não pode ser nem perdida nem alijada.
Não se percebe, então, a tentativa de malbaratar este importante activo defendendo uma dependencia política, validada no normativo constitucional, para um directório de países centrados actualmente no eixo Paris-Bona.

É do Congresso de Haia de 1948 (já por mim referido no artigo " O INVERNO DA IDENTIDADE EUROPEIA"), da luta pelo poder e das diferentes perspectivas para a Europa que falamos.
E desde 1948 o projecto europeu tem avançado, gozando do apoio de todos os países envolvidos, independentemente do espaço Schengen e da zona euro não serem partilhados por todos os membros. Mas esse facto não nos dá o direito de dizer que uns são mais a favor da UE do que os restantes, que uns são mais europeus do que outros. Se alguém o pretender fazer no mínimo será extremamente redutor.
Depois, parece esquecido pelos acérrimos defensores do Sim, que a discussão sobre o TCE pode e deve ser feita por todos os povos, em todos os países da União. A questão, como já afirmei, é transversal, não só ao nível nacional mas também a nível europeu. E é de transversalidade que falamos versus verticalização de processos. Cabe a cada um decidir em consciência e, para que tanto seja viável, só com esclarecimentos, com diálogo aberto e franco, esgrimindo argumentos válidos, razões pertinentes sejam elas políticas, ideológicas, sociais, históricas ou económicas.
A matéria é tão abrangente e pertinente, que querer reduzir a discussão a algumas "elites", desconsiderando todas as restantes opiniões, só pode resultar de um exercício de "mau gosto", ou de discursos encomendados.
Na realidade, a questão em Portugal até se colocou sempre ao contrário, com a culpa desta situação a recair sobre os principais partidos, que abraçaram uma mesma posição ab initio.
Porque a discussão deveria ser outra: nós, os que estamos com o NÃO conhecemos o caminho até agora trilhado, os seus escolhos e perigos. Quem quiser modificar as regras do jogo, substituindo o consenso pela imposição normativa e política, depois de terem sido retirados os instrumentos económicos, que se trate de explicar muito bem, porque, à priori, estamos todos contra!
É ao Sim que faltam os argumentos.
O NÃO tem-nos de sobejo!
JHF

1 comentário:

Nancy Brown disse...

Em relação a toda esta questão o q me parece, do já lido, é o seguinte: os partidários do NÃO, são adeptos ferrenhos da teoria da conspiração, e os do SIM ainda acreditam no "Pai Natal", ambos mais preocupados em convencer do q em esclarecer. Percebo... estamos já no pós-idealismo de Jean Monet e acólitos, agora cada vez mais a era do "individualismo". Esta UE nada tem a ver com a matriz ocidental pós guerra. A Europa encontra-se mergulhada nas contas de merceeiro, agora toma lá 3%, depois 7%, depois... quem sabe... e as questões pilares de uma sociedade: qualidade na saúde, na educação, na justiça, BAH um bocejo para os líderes políticos q esfregam as mãos de contentes, com a mostragem de trabalho feito para a comunicação social, principalmente, deglutindo o seu egotismo nos faustosos Mercedes Benz, topo de marca. Esta UE não é dos cidadãos... é a europa dos grandes lobbies económicos, por detrás da política. Não ver isto é para mim não ver o essencial... Depois caso ganhe o SIM... esteja descansado q a máquina do funcionalismo público europeu é tão ridiculamente não funcional q... a constituição pode existir... pode ser aprovada... mas... foram mais uns milhões de euros gastos e pagos a Giscard e companheiros de "sacrifício" ao desbarato... (e q agora assistem aos debates em França gargalhando cinicamente e dando palmadinhas... na sua conta bancária). Nada disto vai funcionar... nada disto faz sentido... há milhões de seres humanos por este mundo fora sem necessidades básicas... esta UE é um elefante branco!