6.12.04

A Gestão da Crise - Cap. II
A política tem a capacidade de nos galvanizar, quando bem interpretada, permitindo uma série de julgamentos e opiniões sobre as atitudes polítcas tomadas ou assumidas e, não poucas vezes, atingir objectivos que não estavam inicialmente previstos, ou, ao invés, redundar em enormes fracassos. Na realidade, é empolgante no seu jogo de inteligências, da"carta" que se joga, na dúvida que reside até ao fim se é "joker" ou não. Jorge Sampaio aguardou até ao momento em que se convenceu que o executivo estava esgotado, no discurso e pose políticas e no conteúdo programático. Em suma, supostamente um Governo sem soluções, com a agravante de ter toda a imprensa a pressionar de uma forma tremenda a opinião pública. Não me recordo de tamanha pressão nos últimos anos, nem mesmo quando A. Guterres "fugiu" à responsabilidade governativa. E mesmo sem a aludida pressão, A. Guterres não aguentou - note-se que não foi empurrado.
Jorge sampaio empurrou a maioria para fora do Parlamento, fez cair o Governo e, no entanto, ainda não explicou as suas razões, escudando-se em argumentos que, de tão frouxos, não conseguem esconder a realidade: J. Sampaio está à espera dos movimentos da maioria. E o que faz esta maioria entretanto ?
Apressa-se a aprovar o OE 2005, antecipando a sua votação e colocando, assim, um ponto final nas expectativas geradas em torno dos valores de aumentos na função pública e quando a sua aplicação - sabemos agora que podem ser aumentados todos os funcionários a partir de Janeiro do próximo ano, sem necessidade de recorrer a retroactivos, que as bolsas depauperadas não podem esperar - quais as mexidas no IRS e suas implicações, quais as diversas dotações orçamentais. Está aprovado o orçamento e agora venha de lá a oposição explicar com o que é que não concorda e porque razões e, acima de tudo, avance com soluções, ou seja, como é que faria se fosse governo. O diálogo está muito cingido, a maioria quase domina o espectro possível de discussão política no período que medeia entre esta aprovação e as eleições. Há um documento de base que vai servir de mote e há também o tema "scuts" e outros que marcaram estes quatro meses. Mas são todos "dossiers" que a maioria parlamentar, o governo e o Primeiro Ministro dominam.
Continua a pairar o risco do envio do documento pelo PR para o TC, para apreciação, que entretanto aquele dissolva o Parlamento e que o orçamento precise uma segunda votação para ser aprovado. Mas fica ultrapassada a responsabilidade pela não existência de um documento chave que permite aumentar o rendimento das famílias - directa, indirectamente e como indicador - para avaliar o desempenho do estado no próximo ano e, assim, impedidindo as entidades internacionais de perceberem qual o rumo que vai ser tomado pelo País, no que diz respeito às finanças públicas e plíticas de investimento, pelo menos até Junho de 2005, ou seja, meio ano. E acredite-se ou não, o primeiro semestre será sempre bastante condicionador do segundo, sobretudo em termos económicos.
A verificar-se este cenário, o discurso já iniciado de hostilidade "moderada" para com o PR e a sua postura política, subirá de tom. Jorge Sampaio está em segundo mandato, sabe-se que não depende de opiniões favoráveis ou desfavoráveis para se eleger, porque simplesmente não pode, mas não quererá e, principalmente, o PS não estará interessado que um Presidente afecto às suas cores políticas saia sobre forte ataque de uma fatia muito larga do eleitorado nacional. É curioso reparar como os segundos mandatos seguem um princípio comum: Ramalho Eanes atacou fortemente PS e PPD para criar espaço político para o PRD, um balão que tal como encheu se esvaziou, à imagem do seu progenitor. Mário Soares atacou fortemente A. Cavaco Silva, criando espaço para o seu PS e para a esquerda. Jorge Sampaio segue, igualmente, uma lógica partidária. A diferença está nos métodos e, enquanto que Mário Soares, raposa política, soube terminar sob chuva miudinha, Jorge Sampaio arrisca sair sob forte aguaceiro, ou enorme tempestade, se esta maioria se repetir no Parlamento. Acreditem, uma vez mais, que nada está decidido, que todos os resultados são possíveis e, que muito provávelmente, a maioria será a mesma no final de Fevereiro. Continuando.....
Sem respostas por parte do PR quanto às razões, também não sabemos ainda se esta maioria vai coligada. Eu creio que vai, mas na realidade ainda não sabemos, porque ainda não nos disseram. O PSD está disposto a encetar conversações e o CDS/PP está a ouvir "quem é quem" no partido. Entretanto aguardam-se as razões do PR e desgasta-se a comunicação social.
Alberto João Jardim, mordaz nas suas críticas, goste-se ou não, faz as primeiras despesas sérias da campanha. Pedro Santana Lopes aquece os motores e as bases começam a ficar motivadas. Paulo Portas mantém-se sereno, confiante e acima de tudo confiável, com grande sentido de estado. O eleitorado de direita começa a acreditar. As vozes que sopram ventos contrários ou estão descridibilizadas, ou interesseiras ( Cavaco Silva crê que os portugueses nunca elegerão uma maioria e um Presidente e, assim...) ou são dinossauricas. Cheira a 1978, a 1980, cheira a política. E assim cheira, porque são políticos os dois presidentes dos partidos da maioria. Pode o País não melhorar, a crise acentuar-se, cenário que nos espera em 2005 e 2006, mas este "gozo" político, para quem gosta de polítca ninguém o tira. Até porque a solução para Portugal provávelmente não passa por nenhuma das actuais políticas..........
Até lá, deixem-nos saborear a verdadeira política, viva, inteligente, de rua e não a que vínhamos tendo, de gabinete, cinzenta, interpretada por cinzentões.

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