26.1.11

Agora, depois das presidenciais......

As presidenciais acabaram, sem brilho.
Ganhou quem tinha de ganhar, para bem de um equilíbrio fundamental, pelo menos temporário, para encarar tempos difíceis que se avizinham.
Ilações também não há muitas a retirar: o presidente vale o que vale, ao nível de poderes e os votos conseguidos pelos candidatos esgotam-se no encerramento das urnas. O candidato ganhador é legitimado para a função de Presidente e os vencidos valem tanto em votos como valiam no dia anterior à votação, ou seja, zero.
Senão vejamos: se os votos fossem mesmo importantes no pós-eleições, tínhamos um Presidente eleito com 1/5 dos eleitores recenseados e um total de 3/5 de abstencionistas, brancos e nulos. Ou por outras palavras, O presidente não seria legitimado. Mas a legitimação acontece com a vitória nas urnas, independentemente do número de votos. Pela mesma razão que Manuel Alegre não representou durante 5 anos o mais de milhão de votos que obteve em 2006, nem foi sua voz, como Fernando Nobre não valia na 2ª feira os 500 mil votos conseguidos no Domingo, nem é seu porta-voz.
Importante é o que se segue: as legislativas obrigatórias. Estas não necessitam de ser provocadas pelo Presidente; ao contrário, o Presidente vai ser obrigado, por força das circunstancias económicas e financeiras, más, do País, a dissolver o parlamento e a convocar eleições. Basta esperar sentado.
Os resultados que as eleições legislativas acarretam são de análise mais difícil: o Bloco de Esquerda pode manter ou mesmo subir ligeiramente a sua votação (em face do descontentamento popular), razão maior para ter apoiado Alegre, ou por outras palavras, evitar ir contar espingardas nas presidenciais tão em cima de umas legislativas (as espingardas seriam poucas e o resultado nefasto). Óptica diversa tem o Partido Comunista, que, de há umas eleições a esta parte, prefere contar os indefectíveis para depois trabalhar o restante eleitorado.
O partido Socialista também se refugiou em Alegre, evitando o escrutínio a Sócrates, caso aparecesse com candidato próprio. Ainda por cima apareceu à boleia do Bloco, o que deu um enorme jeito.
Contudo, os resultados eleitorais esperados nas próximas legislativas não pressupõem uma maioria absoluta por parte de qualquer dos partidos; há que juntar a variação da abstenção na equação.
Considerando que o Bloco pode chegar aos 14%, os comunistas aos 12%, que os socialistas não farão menos de 30% e que os brancos e nulos serão de 2%, ficam para sociais-democratas e centristas 42% dos votos, insuficientes para qualquer maioria. A importância da abstenção fica relevada pelas contas fáceis que se apresentam. Mas para combater a abstenção e fazer variar sentidos de voto descontentes, é necessário um projecto nacional que galvanize e faça acreditar num futuro possível com esta classe política.
Passos Coelho tem evoluído favoravelmente, aumentando a certeza e assertividade discursiva, gerindo bem timings, assentes numa postura que transmite uma cada vez maior solidez ao candidato. A ausência da bancada parlamentar, por delito de opinião, tem-lhe sido favorável, poupando um desgaste que em nada lhe seria proveitoso: tem aproveitado bem as aparições públicas e consegue ser notícia e, acima de tudo, escutado com a maior atenção. Não conseguiria melhor como tribuno no parlamento.
Aí, no parlamento, o grande trabalho e despesa tem sido feito pelo CDS e Paulo Portas, claramente num plano superior ao PSD. A sua voz e de companheiros de bancada é a única lufada séria num arrazoado de comportamentos que diminuem o plenário e não elevam a democracia. O PSD, por ausência do líder, tem-se mostrado pouco firme e mesmo pouco esclarecido e preparado; compreende-se para que não haja sombra desnecessária a um líder ausente.
O problema reside agora na preparação das legislativas: o PSD precisa de um CDS forte; o CDS precisa de um PSD ganhador. Esta confluência de interesses só é possível num cenário de coligação pré-eleitoral. Sem coligação há divisão e confusão no eleitorado.
Ao contrário do que Miguel Relvas, de forma infeliz afirmou, o PSD não emprestou onze deputados ao CDS; foram os eleitores que entenderam ser o CDS, pelo seu trabalho e intervenção políticas, merecedor do número de deputados que apresenta e, ainda agora, em condições parlamentares difíceis, pelo difícil estado do País, o CDS faz todos os dias por merecer esses deputados. Afirmar o contrário é afirmar a falta de clarividência do eleitor, na hora de depositar o voto na urna. Mas o eleitorado, parte dele, chegadas as próximas legislativas, ficará dividido entre o voto de mérito ao CDS e o voto útil ao PSD. Votar PSD aumenta o número de deputados deste mas fará cair o CDS para quinta força política. Vantagens ? Nenhuma. Por outro lado, por aplicação do método de D´Hondt, o somatório dos votos conjuntos de PSD e CDS gerarão maior número de deputados do que a sua divisão.
Parece evidente a necessidade de um entendimento entre os dois partidos.
Por último, uma palavra a bem do esforço de recuperação nacional, quer económica e financeira, quer acima de tudo de credibilização dos actores políticos: a manutenção de Luis Amado como Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) será um acto de justiça. É o governante que mostra maior empenho na causa nacional e maior distanciamento das questões político-partidárias. Sendo o papel do MNE tão importante nos areópagos internacionais e sendo Luís Amado estimado e tido como pessoa séria e conhecedora, deveria manter-se na pasta, para garantir a continuidade da política externa portuguesa, atribuindo-lhe um cariz de perenidade.

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