23.3.10

O PSD caíu no conto do vigário....
Ninguém parece dar-se conta do logro que constitui trazer para a praça pública o debate entre candidatos à liderança do PSD.
Toda a gente assiste ao mediatismo da contenda como se fosse algo de natural; e não é.
A discussão entre as propostas dos candidatos é um problema interno do PSD. A discussão deveria fazer-se ao nível das concelhias e distritais e não com exposição pública nacional.
Primeiro, porque só uns milhares (talvez entre 40 e 70 mil) votam nas directas, direito que assiste a quem é militante do partido e tem as quotas em dia. Depois, porque as intenções e oratória próprias destes momentos devem ser canalizados internamente e só internamente.
Quando as eleições se decidiam em Congressos ainda vá, que se assisti-se ao combate político entre moções, uma das formas possíveis de galvanizar quem estava fora da política. Agora que as eleições são directas, o discurso dos candidatos só interessa a quem tem o direito de votar (os tais milhares, poucos).
Aliás, o espectáculo mediático encenado é ímpar na política nacional.
Espremer os candidatos a líderes do PSD frente ás camaras de televisão equivale a um suicídio político destes, mesmo antes de se ir a votos nacionais. Porque a ideia que fica, para quem assiste ou lê/ouve comentários posteriores é a de que já conhece as ideias e linhas programáticas do vencedor, quando esta ilação é falsa. Uma coisa é o debate interno, outra bem diferente o discurso político virado para eleições nacionais.
Porque internamente há coisas que não se explicam por desnecessárias. Porque internamente há zangas, birras e pequenos ódios de estimação, cultivados durante anos de combate político por lugares ao sol, que nestes momentos não se conseguem evitar demonstrar. Porque também há muita coisa que já se sabe, porque se está dentro da máquina partidária e não faz sentido explicar aos militantes. Também porque estes votam por arregimentação das suas vontades, numa lógica partidária de apoios e ascensões internas.
Discutir moções partidárias para eleições partidárias só fustiga os partidos que o façam. É um logro, também porque parece mostrar um partido desunido, com as entrevistas a serem conduzidas numa lógica de uns contra os outros, quando numa luta partidária interna esse é o cenário natural, uns contra os outros. Porque depois sempre aparece a apelar á união, com se de desunião se tratasse. O PSD já teve lutas piores do que esta pelo poder interno e sobreveio sempre o sentimento de unidade em torno do líder.
E depois cai-se na tentação de confundir os militantes votantes nas directas com os eleitores do PSD.
Os primeiros há muito que decidiram em quem votar.
Os segundos, que englobam aqueles mas são incomensuravelmente muotos mais, não votam agora, podendo ou não faze-lo dentro de meses (logo se vê), mas estes debates não configuraram qualquer tipo de campanha eleitoral nem pretendiam contribuir para elucidar o eleitorado. Mas pareceu, aos olhos de muitos pareceu e isso foi mau.

Sem comentários: