A necessária solidariedade dos portugueses para com Portugal....
A catástrofe no Haiti tem sido objecto de acções de solidariedade, esperadas por parte da população portuguesa, dignas do maior registo.
Nós somos assim e ainda bem que o somos.
A transfiguração nacional, perante os desastres, é tal que leva sem qualquer tipo de dúvida a esquemas fraudulentos simples mas eficazes que, a única emoção que exploram, é a solidariedade. Nós somos e sempre seremos solidários. Nós misturamo-nos, convivemos e partilhamos sem vénia nem convénios. Somos assim, ponto: cidadãos do mundo por natureza.
Falamos ingles, frances e chinamarques com a maior das facilidades, mesmo que seja para dizer:
- Atira corda.
- What?
- Do you speak english?
- Yes!
- Então atira a corda porra!
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Somos assim.
A catástrofe no Haiti é visível. Terrível. Impressionante.
A sismologia ainda não consegue distinguir os sintomas. Contra a natureza nada podemos a não ser salvar vidas humanas. A sismologia ainda não o consegue; não é possivel, ainda, distinguir entre um conjunto de estímulos sismológicos e a eminencia de uma verdadeira catástrofe. Infelizmente.
Se tal já fosse possível, como aparentemente a vulcanologia está prestes a conseguir, seria possivel evacuar as populações e salvar milhares de vidas.
A ajuda, contudo, a ajuda humanitária, seria ainda assim necessária, sempre.
Mas a sismologia ainda não o consegue; ainda há pouco tempo a terra tremeu em Lisboa mas, por esse facto, não se justificaria a evacuação de Lisboa. Não se conseguem ligar os factos.
Mas a solidariedade está cá, nós somos solidários.
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Vale este texto pela comparação possível com a situação que se vive no nosso país, Portugal.
Ao contrário da sismologia existem mecanismos que nos permitem antever o futuro próximo.
O futuro que nos espera é catastrófico e a economia e finanças não se compadecem: mostram-no à evidencia.
Contudo, por estranho que pareça (por razões que sucintamente se explicam à frente) a solidariedade nacional, reconhecida, não surge espontaneamente.
Ninguem acredita na evidencia do desastre, porque não se assume de forma horrenda, desfigurada; porque demora tempo; porque vai carcomendo mas não se mostra de uma só vez; porque é manhosa esta catástrofe, atrofiada no discurso de políticos manhosos, de palavras sedosamente embrulhadas em hipocrisia, interesses pessoais e muita atitude filisteia.
Mas Portugal é hoje uma zona de catástrofe.
Vivemos tempos horrendos, de descriminação sem igual, com um crescimento medonho da pobreza, com uma exclusão social terrível e total ausencia de coesão.
Estamos cada vez mais longe da nobreza obrigatória da nossa história e cada vez mais perto da mendicidade, pródiga nos países sem perspectivas, sem passado e sem futuro.
Portugal só tem presente e mau.
Presente mas mau.
Muito mau este presente.
Temos então que aconchegar fortemente esta ideia, este ideal, no nosso espírito, na nossa mente, na nossa alma: estamos mal e precisamos da solidariedade de todos.
A nossa solidariedade está à prova, nas circunstancias mais difíceis.
Estaremos à altura do desafio de compreendermos e, acima de tudo, percebermos que das nossas decisões de hoje, da nossa solidariedade, dependem as bocas de milhões de portugueses num futuro demasiado próximo ?
A solução reside na união de todos nós em torno de um projecto verdadeiramente nacional, aceite por todos e imposto por poucos como todos os grandes projectos. Projecto o qual nenhum dos actuais actores políticos tem capacidade de concretizar, desde o Presidente da República, passando pelo Primeiro-Ministro até qualquer dos políticos profissionais tranversais a todas as forças políticas conhecidas.
O projecto é de todos, a obrigação da sua implementação corresponde a uns poucos.
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