16.12.09

Não à Regionalização de Portugal
[Ao iniciar negociações com a ETA há uns anos atrás (sem efeitos), o governo espanhol acelerou um processo que se colocava há muito: as autonomias regionais].
As autonomias espanholas foram e são boas para nós: constituem-se numa excelente oportunidade para Portugal vir a criar alianças com algumas destas regiões, diminuídas no espaço geográfico, mais ricas na sua maioria mas sem a dimensão (e força) de uma Espanha una e indivisa.
Não tenho qualquer dúvida em afirmar que esta é uma janela de oportunidade para a Nação portuguesa, que terá de ser aproveitada de uma forma inteligente, através de uma política externa forte e capaz, encetando desde já esse caminho, cautelosamente, com objectivos traçados e conhecimento exacto das pretensões e necessidades reconhecidas.
O tempo não oferece oportunidades aos povos de uma forma continuada e nós temos, ao longo da História, provado saber agarrar algumas delas. Que agarremos então esta, como povo uno e indiviso, com quase novecentos anos de fronteiras polítcas e geográficas comuns e com toda a força que essa condição nos permite, naturalmente, usufruir.
Não é a altura de sermos parvos, ou como outros preferem, modernos!
Tudo isto vem a propósito da renovada discussão e vontade de regionalizar Portugal.
Para encarar o problema de frente temos de aceitar um princípio fundamental: uma Naçao não se define por aquilo que não é.
Acima de tudo, os laços que unem os cidadãos de uma nação são o produto do somatório do passado histórico, sempre complexo, e nunca de factores isolados como o social , o religioso ou o racial.
A comunidade nacional é um conjunto de homens reunidos em torno da memória do seu passado e nunca daquilo que são no presente, porque a união é precisamente o resultado da memória colectiva.
É então o destino comum, partilhado, que aglutina os cidadãos com todas as alegrias e tristezas, venturas e desventuras associadas. Porém uma nação não é uma tribo, antes um território perfeitamente definido por fronteiras geográficas e políticas, na concepção aceite de estado europeu. Portugal é o Estado europeu mais antigo, no sentido da sua definição política e geográfica.
Estamos porém a viver tempos em que o nacionalismo (entendido como a construção nacional do séc. XIX) é um fenómeno em queda, subjugado pela óptica da globalização.
A evidencia territorial, actualmente, sobrevive à custa de factores isolados, mesmo que entendidos como um somatório resultante da religião, da raça e da ideologia. Não é de estranhar, então, que hoje as crispações nacionais sejam mais xenófobas que "imperialistas".
Acontece porém que não há qualquer razão para duvidar da História comum de todos os portugueses, acrescendo que não existem razões para divisões sociais, religiosas ou raciais entre nós. Assim sendo, pretender que uma divisão regional de Portugal é uma possibilidade política não passa de um tremendo disparate, com contornos de traição nacional; de traição à História (memória), aos valores e à moral comuns.
A nossa realidade nada tem a ver com a espanhola. Revemo-nos num algarvio como num transmontano. Mas cuidado: quando pensamos dividir o país em regiões iremos provocar diferenças que não existem, divisões que não estão presentes.
As razões são várias mas uma ressalta de todas as outras: a constituição de microeconomias dentro do território nacional; a economia algarvia nada tem a ver com a Alentejana, como a minhota em nada se parece com a transmontana, para citar dois exemplos. A distribuição de verbas nunca será a mesma entre regiões: irão aparecer os primos pobres e os ricos, dentro da enorme pobreza que é o próprio país (quer económica quer intelectual).
Depois há toda uma panóplia de custos associados que não são aceitáveis e todo um número de cargos que não se percebem na utilidade.
Tudo isto são factos, mas o que mais importa (razão pela qual não me alongo por demais nos pormenores) é não ler a necessidade de dividir o país em cinco regiões.
Porquê? Para quê? Favorecendo quem?
Portugal perde, perca drástica, com a regionalização. E depois nenhum português quer a regionalização, a menos que tenha interesses políticos e pessoais a defender; mas estes não são os interesses nacionais.
Não à regionalização.
§
Adicionaria apenas um facto que sempre me incomodou: regionalização implicaria ainda dar mais poder aos autarcas, onde germina a maior corrupção neste país.
posted by papoila : 12:40 AM

1 comentário:

Anónimo disse...

Brilhantemente exposto. Adicionaria apenas um facto que sempre me incomodou: regionalização implicaria ainda dar mais poder aos autarcas, onde germina a maior corrupção neste país.