18.12.09

Eles vão comendo tudo......
Afirma-se que a OPA sobre a CIMPOR é bem vinda mas que o preço é baixo.
Claro, para especuladores sem consciencia que devem centenas de milhões (a acreditar nos jornais da especialidade só à CGD deverão 600 milhões de euros) que lhes foram emprestados para especular (quando projectos para criar empresas e empregos eram "chumbados", porque os seus mentores não dispunham de um mínimo de capitais próprios iguais ou superiores a 25% do total dos investimentos em apreciação na banca) só podem estar satisfeitos com a possibilidade de vender, embora o queiram fazer a valores mais altos. Típico de especuladores.
O problema reside, contudo, na forma como a participação no capital das empresas nacionais é encarada. Compram-se acções na expectativa da realização de mais-valias e não numa óptica de garantir a remuneração do capital investido através da distribuição de dividendos, o mesmo é dizer, através da geração de valor acrescentado por parte das empresas (traduzido nos lucros anuais, princípio primeiro para a distribuição de dividendos aos accionistas).
Assim, para o especulador manhoso, errático (porque "pica" em todo o lado, sem uma lógica de aplicação de capitais estruturada num projecto ) e financeiramente "pirata" (porque busca a pilhagem em bolsa de mais-valias, nascidas de euforias bastas vezes induzidas e não de crescimentos sustentados das empresas), pouco importa se as empresas ficam ou não em mãos nacionais, mesmo se estivermos a falar de um dos maiores grupos cimenteiros mundiais (é engraçado como surge uma Siderurgia Nacional brasileira nesta OPA e como nós acabámos com a nossa, como se de um mau negócio se tratasse, havendo contudo tão poucas na Europa. Uma mão cheia chega para as contar todas). Esta falta de consciencia tem norteado a gestão das empresas nacionais, orientada para o interesse imediato do accionista e não para a criação de riqueza na empresa. Há muito tempo escrevi que todas as empresas nacionais são "opáveis", todas sem excepção e que as OPAS´s estariam na ordem do dia, que as empresas nacionais estão fragilizadas e não têm massa crítica (recursos/capacidade de alavancagem financeira). Contudo, perante uma constatação que encaixa no óbvio, o apoio do estado assentou sempre nos especuladores e não nos empreendedores. O tempo de antena foi deixado à sua mercê, foram apresentados como "opinion makers" e até exemplos acabados de vidas carregadas de sucesso escalado a palmo (palmo vertendo suor, lágrimas e sangue de todos os que foram engolidos na voragem dos ganhos fáceis e dos movimentos especulaticos destes tubarões). Num país de faz-de-conta também os investidores não poderiam deixar de ser de outra maneira.
É que há uma enorme diferença no funcionamento dos mercados bolsistas nos países desenvolvidos, por comparação com países atrofiados como o nosso. A dispersão do capital em bolsa naqueles é muito, mesmo muito elevada; em contrapartida, a CIMPOR é detida por accionistas vários (que não são de referencia, ou seja, pequena/média poupança) em cerca de 30%, deixando os restantes 70% nas mãos de potenciais especuladores. Claro que há uma guerra surda entre o núcleo accionista da CIMPOR; claro que nem todos pensam como Berardo, mas basta aos brasileiros da CSN adquirirem 50% mais uma acção para terem o controle efectivo da gestão de uma das maiores empresas nacionais, situada num sector económico sensível.
E assim vai desaparecendo o controle dos portugueses sobre as suas empresas; assim vai diminuindo o peso das decisões nacionais sobre os parceiros económicos situados em território nacional; assim vamos hipotecando o nosso futuro e, pior, deixando o mesmo nas mãos de capitais estrangeiros.
Hoje por hoje, a CIMPOR não vale pela sua fábrica em Portugal, mas sim pela dimensão mundial que atingíu. Acabar com a fábrica da CIMPOR em Portugal é fácil; redirecionar os ganhos da empresa para outro país facílimo, com a consequente perca na Balança de Transacções Correntes, da receita fiscal, da redução do aparelho produtivo e de qualquer projecto sério nacional. Aumentar o custo do cimento em Portugal mais fácil ainda, estrangulando todo o sector da construção civil e obras públicas.
Tudo isto é fácil.
Também é facílimo afirmar que a OPA é bem vinda.
O que é verdadeiramente difícil é engolir estes sapos, é ver publicamente manifestada esta vontade iníqua de destruir a sociedade portuguesa, de reduzir os portugueses a um grupo de pedintes, de constatar a cobertura que estes agentes do mal merecem da sociedade política e civil nacional, porque dão a comer a uma série de gente, porque se alimentam de todos que a troco de migalhas lhes facilitam o caminho e os cumulam de honrarias.
Eu não me contento com menos que a felicidade, o prazer, para mim e todos os outros, com a alegria de poder viver e gozar todos os momentos da vida, bons ou maus.
Porque a honra pode ser imerecida mas a alegria nunca o é.

Sem comentários: