13.11.09

As escutas que transformaram os ministros políticos num grupo de pressão...
Este processo "Face Oculta", albergando escutas entre o Primeiro-Ministro (PM) e o Vice-Presidente do BCP, José Sócrates e Armando Vara respectivamente, começa a derrapar perigosamente para expedientes verbais extravagantes, que mais não pretendem que adequar uma impossibilidade: a fundamentação do direito à privacidade, com a discussão de temas reais sobre os quais impendem dúvidas judiciais ( a fazer fé nas declarações do PM e outros governantes e o que vem impresso nos jornais, nomeadamente o semanário SOL).
É preocupante a tomada de consciência de que o poder instrumentaliza toda e qualquer fruição, manipulando-a e transformando-a num produto perverso. Já o seria se não houvesse perversidade, mas havendo a situação piora.
Todas as declarações que têm sido produzidas por membros do governo são-no com uma linguagem sob regime de liberdade vigiada: é o discurso e a sua dimensão que obedecem a regras de opressão e de repressão ao nível da retórica e, em simultâneo, subtis ao nível gramatical.
Existe uma mensagem corrompida nos medos, nas intimidações, nas desculpas e nas agressões verbais. Há um vangloriar de posições de poder e de ascendente político, que ao invés de aniquilar as situações de constrangimento legal, se aniquila a ele próprio.
O próprio governo, através de ministros de estado, torna-se num grupo de pressão. Há um vale-tudo inaceitável.
Não é possível ao Primeiro-Ministro "viver fora" da sua função de estado como se esta fosse sistemáticamente um alvo e dentro dessa mesma função, utilizando-a como se fosse uma arma. É um claro caso de estrabismo.
É a imposição de uma grelha, através da qual se pretende mostar transparência numa situação ininteligível.
São os valores que se perdem e a sociedade que se desgoverna, por quebra dos sistemas naturais de vigia: a ética e a moral.
É perversa a visão que se atém aos nossos olhos.
As sociedades têm de se rejuvenescer obrigatoriamente se querem viver, o que é bem diferente de sobreviver. Os medos sociais impedem esta renovação.
À luz do que se passou nas ultimas 24 horas diria que não resta outra solução senão levar o caso das escutas até "ao osso".

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