As eleições para o Parlamento Europeu mostraram uma vez mais o desinteresse que merecem, por parte dos eleitorados dos países que não são, claramente, os mandantes desta Europa de caciques, da Europa dos fortes e dos fracos, uns eternizados fortes e outros eternamente fracos.
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Os eleitores não podem sentir apetência perante um projecto cartelizador de algumas economias, correspondentes a um número reduzido de países, que se constituem num directório imponente e redutor em relação aos interesses dos demais. Assim mesmo percepciona a Europa Durão Barroso, sabedor que está da importância de gozar do apoio de alguns, poucos, para garantir o cargo de presidente da Comissão.
Se é verdade nesta matéria, é verdade em todas, como bem sabemos. Mas este directório até poderia não ser mau se os interesses, como sempre o são por definição, não fossem egoísticos. Para além, claro, da própria organização da União Europeia que até podia ter a mesma moeda, mas comportar-se como uma Zona de Comércio Livre.
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No geral, as políticas despesistas dos governos socialistas foram penalizadas; a primazia do conceito de que a estrutura gasta primeiro e procura as receitas depois, a par de uma atitude passiva para com a economia e os mercados, conduz a crises políticas, sempre aceleradas quando se conjugam com crises económicas e financeiras.
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Por cá ficou claro que o governo perdeu, por ora, a base de apoio que lhe permitiria sustentar algumas decisões polémicas, que começam nas grandes obras públicas e acabam nos chips das matrículas dos automóveis. Se, a meses das eleições, se pede acção governativa e não mera gestão, também se pede contenção na decisão de investimentos que podem esperar algum tempo mais até serem postos em marcha. Estes investimentos, por serem pesados e de difícil ou mesmo impossível recuperação económica, implicam um esforço enorme para as gerações vindouras e para qualquer acção governativa; hipotecar o futuro próximo, mais do que já se encontra, sem saber ainda o custo interno de toda a turbulência financeira e económica mundial é, claramente, um colossal erro de gestão. Pretender avançar com investimentos desta envergadura implica incluí-los no programa eleitoral e sujeitá-los ao voto popular. A meses das eleições não faz sentido que não se meça, pela vontade do voto, a vontade da população em avançar por caminhos megalómanos.
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Os resultados de ontem acresceram à ética que deveria presidir nestas decisões - o adiamento até ao período pós-eleitoral - um outro factor determinante: a falta de legitimidade para empreender investimentos públicos ou, mesmo, tomar medidas impopulares, como sejam os já mencionados chips nas matrículas, expressão menor de uma outra maior: coertar os direitos, as liberdades e garantias consagradas na Constituição.
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O voto de ontem expressa insatisfação com o caminho tomado pela governação em Portugal.
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Ontem não votei Europa: ontem votei para que o partido Socialista fosse travado nas suas intenções. Ontem depositei nas mãos da oposição a responsabilidade de travagem da política socialista suicida. Hoje espero que a oposição faça bom uso do poder que lhe foi conferido, legitimamente e que o Senhor Presidente da República faça a leitura correcta dos resultados eleitorais.
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Ontem não esteve em causa quem é que obtinha mais uns tachos em Bruxelas; ontem esteve em causa a condução política de Portugal e a resposta foi clara: ASSIM NÃO!
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