29.9.08

Recorrendo... AS FARPAS

Vossa Alteza vae ponderar talvez que é bem destituída de grandeza, vulgar e corriqueira de mais, a existência a que o introduzimos...
Ai de nós! a vida é em realidade assim, magnanimo senhor!
Ninguém é grande nem pequeno n´este mundo pela vida que leva, pomposa ou obscura, solta ou aperreada. A categoria em que temos de classificar a importancia dos homens deduz-se do valor dos actos que elles praticam, das ideias que diffundem e dos sentimentos que comunicam aos seus semelhantes.
É binaria a natureza de todo o homem superior. Metade d´elle pertence ao ramerrão passageiro de cada dia; a outra metade pertence ao ideal eterno de um mundo mais perfeito, em cuja obra cada um collabora procurando tornal-o na orbita da sua aptidão pessoal, ou mais justo, ou mais rico ou mais bello.
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É preciso amar, meu senhor. Eis ahi tudo.
É preciso amar fóra da esphera de todos os interesses pessoaes creados pela sociedade de que fazemos parte e estabelecidos pelo estado, pela profissão ou pela gerarchia. É preciso amar pela abnegação e pelo sacrifício de tudo para se chegar a ser alguma coisa. É preciso amar uma ideia, uma propensão da sociedade, um intuito da naturesa, uma expressão da arte, ou simplesmente e unicamente uma mulher, como as amou Musset, Lord Byron, Shakspeare ou Petrarca, afim de sahir fóra da massa obscura do vulgo, e ser um homem.
Ame pois vossa alteza, e deixe correr o mundo!
Não ha hoje em dia educação especial para o officio de rei nem para outro qualquer officio. Ha uma instrucção geral e ha uma instrucção technica para cada modo de vida. A educação essa é una e indivisivel.
Em todo o estado e em toda a condição social o homem bem educado é um homem superior. O homem sem educação por mail alto que o colloquem, fica sempre um subalterno.
No regimen de liberdade e de iniciativa, em que começam agora a viver as sociedades contemporaneas, a lei da concorrencia absorve tudo, e os reis mais solidamente equilibrados nos seus thronos não são senão os homens mais perfeitamente equilibrados na vida geral.
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Portanto, e em conclusão:
Para dar ao throno portuguez um bom rei, pense vossa alteza em dar na sua pessoa á pátria um cidadão instruído; á humanidade um homem justo; á natureza um sadio e valente animal.
A seus paes, aos seus mestres e á sua côrte, é doloroso mas é indispensável que vossa alteza dê egualmente aquilo que lhes deve:
-desgostos!

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