1.6.05

O "CHUMBO" HOLANDÊS

A Holanda está a votar e de acordo com a sondagem efectuada no passado Domingo, o "Não" irá obter 65 % dos votos expressos.
Será, então, o segundo País a rejeitar a Constituição Europeia ou, como eufemisticamente é chamado, o Tratado Constitucional Europeu.
Uma reflexão necessária: existirão na Europa cerimoniais que exaltem imaginações e preencham o coração dos europeus, como encontramos nos EUA, com a imagem de Washington, o 4 de Julho e a Constituição americana?
A resposta é claramente não!
Acaso haverá alguma tradição semelhante na Europa, de que todos nos lembremos já, agora mesmo quando estamos a ler este artigo, mesmo que inventada por Bruxelas ou Estrasburgo?
As únicas memórias que perduram são de calvários provocados pelas guerras e do holocausto judeu.
Analise-se o campo militar: verifica-se, com facilidade, que mesmo em missões de paz ou guerra, conduzidas pela NATO ou ONU, em que a Europa decide participar (i.e. Bósnia), quando sucede a infelicidade de uma baixa militar, o luto que se lhe segue é estritamente nacional, assim apresentado pela imprensa e assim entendido pelas populações. O luto está reservado aos "compatriotas" e não à Europa. Porque o "país" Europa não existe. Não existe um espaço geográfico onde, confinado, um povo europeu se reveja em todas as memórias e mitos, sendo esse espaço geográfico o "país" Europa.
Depois, os problemas são intrinsecamente diferentes, de País para País. Os problemas que hoje nos afligem são diversos dos problemas que afligem a Holanda, a Alemanha, o Reino Unido, a Espanha, a Estónia, para citar só alguns. Porque, na realidade a citar, teria de os citar a todos, porque todos se encontram em fases de crescimento económico diferentes, requerendo diferentes medidas. A economia se considerada como uma gripe, exige tratamentos diferentes, consoante o paciente, ou por outras palavras, em economia não há duas gripes iguais.
Os diversos povos europeus começam a sentir fundo, a crise que assola a Europa, ao nível económico e social e a ausência de soluções políticas, que respondam às necessidades individuais. A crise chegou à rua! Desceu dos gabinetes, que não a conseguem resguardar mais, como desceu este Tratado Constitucional. A pirâmide está invertida, construída do topo para a base, por elites que se encontram longe dos reais problemas dos países e respectivas populações, de enredadas se encontram em lobies e tramas políticas, em formas e conteúdos de divisão do poder e, acima de tudo, escondendo as reais razões que se encontram por detrás das decisões tomadas, bem como uma explicação cabal e exaustiva dos riscos da tomada de determinadas atitudes.
Porque ninguém supõe, que quando se fala em política e economia, ciências inexactas, qualquer tomada de decisão não comportará, forçosamente, riscos elevados.
Os custos dos riscos até agora assumidos têm sido pesados para os povos que compõem a Europa.
E os povos querem fazer um ponto de situação, no momento exacto em que percebem que para o fazerem, terão de resguardar a pouca soberania que lhes resta.

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