O modelo económico neoliberal não está, forçosamente, votado ao sucesso.
A ideia de um equilíbrio baseado no desemprego destrói a confiança na economia. Embora o fim último das empresas seja a maximização dos lucros, de todas mas principalmente das grandes empresas saídas de fusões e aquisições, não podemos esquecer que aliada à procura do lucro tem estado, desde a década de oitenta, a procura do prestígio, da fama e do poder, faces diferentes mas visíveis de uma mesma vaidade de todo um corpo de gestores e executivos ( não gosto da palavra mas tem de ser) alcandorados a posições de chefia. No entanto, a procura incessante do aumento dimensional das organizações levou a uma substituição clara, profunda e violenta dos capitais próprios pelos capitais alheios (dívidas). Aumentado o serviço da dívida, aumenta o efeito depressivo na economia, pela reducção das despesas de investimento, encerramento de unidades industriais, redução de salários e desemprego crescente. A economia habitua-se, então, a procurar equilíbrios não em pleno emprego, mas através da gestão de taxas de desemprego. A distribuição do rendimento começa então a ser desigual, criando desigualdades (a redundancia é necessária) entre as pessoas num espaço geográfico delimitado, entre populações em espaços mais amplos e, finalmente, entre os povos numa escala universal.
A incerteza económica traz uma necessidade: a capacidade de guardar liquidez (dinheiro que não é gasto nem investido). Os pobres, cada vez mais pobres, gastam sempre tudo e ainda devem; os rendimentos médios têm comportamento semelhante, fruto da redução salarial do agregado familiar, da carga fiscal e do endividamento assumido. Só os que são detentores de riqueza (os ricos) têm capacidade de escolha: ou poupam, ou gastam ou investem. Se pouparem reduz-se a procura e o ciclo recessivo mantêm-se com tendencia de aumento crescente, não restando outra hipótese aos Estados nacionais que não seja o aumento da despesa governamental e, por consequencia do défice.
Quando o dinheiro vai parar em grandes quantidades à mão de uns poucos, serão estes e não outros, a decidir qual o seu destino: investimento, consumo ou poupança! Quanto maior a sua capacidade de acumulação maior o risco das economias, pela crescente dependencia da decisão de uns poucos, que determinam a vida de muitos.
Assim, como deveremos defender-nos de uma economia que aprendeu a viver com a recessão?
Várias soluções são possíveis:
ou se ocupam confortáveis posições de gestão, escudadas as mais das vezes em ligações políticas, evitando a todo o custo posíções intermédias nas estruturas empresariais;
através da presença de espírito empreendedor, correm-se os riscos do investimento, esperando a recompensa do lucro;
ou aceita-se pertencer a essa grossa camada de burocratas do funcionalismo público em instituições públicas nacionais ou, melhor ainda, em organizações internacionais onde se não fala de despesa e de défice;
ou ainda, procuram-se profissões liberais.
Então e todos os outros, que não estão defendidos? Essa é a massa anódina e anónima, tornando-se numa excelente ferramenta de manipulação dos salários, por baixo entenda-se.
É então hoje, mais do que nunca, de diferenças profundas e de oportunidades desiguais que falamos, sendo a dependencia dos mais ricos crescente, por parte dos mais pobres. E quando falamos em pessoas falamos em países. O fosso entre países ricos e pobres é cada vez maior. A depressão económica chegou e não se vislumbra quando partirá, embora muitos tentem comprar-lhe bilhete todos os anos, anunciando a partida em discursos de esperança que abrangem sempre os anos seguintes. Mas a depressão vai ficando e o capitalismo instituído, suposto elemento atenuador e amaciador (dois em um) de tensões entre os povos vai-se esbatendo, perdendo a sua feição pacífica.
O conflito existe e não é ideológico: é um conflito feito do bem-estar de uns e as carências inexplicáveis dos outros. É através do discurso político e da intervenção política que se poderão atenuar os efeitos conflituais. É através de instrumentos de soberania que se evitam os focos de violência. Retirar aos países esses instrumentos, entregando-os à espiral do confronto social, equivale a perder a capacidade interventiva, única resposta válida à inversão verificada no início do séc. XXI: não são os mais abastados que colocam em causa os modelos fundados em economias alargadas, mas sim os esquecidos da vida que se tornaram acérrimos defensores da autonomia económica e social dos respectivos países.
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