4.6.05

COISAS QUE PERCEBO E OUTRAS NÃO...

Percebo que a lei permite, porque a conheço, que um reformado possa ter uma outra profissão remunerada, em acumulação com a reforma, desde que pague os seus impostos.
Coisas que não percebo:
  • que menos de 6 anos de funções no Banco de Portugal concedam o direito a uma reforma de 8.000 euros
  • que no conjunto das remunerações por via do ensino universitário, de algumas consultorias ou administrações não executivas, essa remuneração seja superior à de ministro
  • que um ministro ganhe tão pouco: como responsabilizar totalmente quem é tão mal pago?
  • que um pacote de austeridade que a todos afecta, mas que afecta mais quem tem menores recursos - a manta que já não estica só pode rasgar - seja defendida por um ministro que, nas suas contas caseiras verifica por simples soma e subtracção, que os 6.400 euros de vencimento de ministro são bem mais parcos que o somatório dos vencimentos auferidos na vida activa privada e, que se ainda se expurgar, mesmo que temporáriamente, da reforma do BP então não faz ideia de como suportar o nível de vida a que se habituou;
  • que se aceitem cargos públicos, quando se considera que a remuneração é insuficiente, incapaz de garantir padrões de vida definidos e ansiados pela expectativa da própria vida

Estas questões colocam-me outra: sendo conhecidas as condições remuneratórias e benefícios sociais concedidos aos cargos públicos; não bastando a honra pessoal e curricular do desempenho de altos cargos na função pública, mesmo que obrigando a alguns sacrifícios materiais momentâneos, sempre recompensados na pós-governação através das teias e redes de influência e das agendas telefónicas sobredotadas; perante estas questões fica a dúvida: qual a verdadeira razão de aceitação dos cargos públicos? Servir a "coisa" pública? Servirem-se da "coisa" pública? Exporem-se simplesmente?

Venho o primeiro que possa atirar a primeira pedra. Contudo há acções privadas que deixam de o ser quando se assumem posições públicas. Neste caso concreto o Sr. Ministro das Finanças deveria ter suspendido a pensão de reforma quando assumíu o pacote de austeridade como necessário. Não o fez então, devê-lo-ia fazer agora. Ainda não o fez nem consta que vá fazer! Porquê? Porque não consegue viver com apenas 6.400 euros mensais? E todos os outros, que vêem os seus salários reais diminuir cosntantemente e que quando ganham 1.000 euros mensais, já se consideram bem pagos?

E todos esses, como são considerados? Deserdados da sorte?

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