No mundo actual - no nosso mundo e nas nossas vidas - o poder moderno não é um exercício meramente abstracto: assenta básicamente em dinheiro, em fortunas feitas de uma forma rápida, muito rápida, parecendo a todos serem estas as únicas merecedoras dos maiores encómios e os seus titulares pequenos Midas; por contraponto com as fortunas antigas, algumas já ultrapassando o século de existência, normalmente baseadas em factores de produção, ao contrário daquelas, fortemente baseadas na especulação.
O dinheiro surge como estrada universalmente aceite, onde vão dar todos os caminhos e formas de poder, unificador irreal e simultaneamente trivial, da vontade económica mesclada de um poder religioso.
O poder moderno é hoje utilizado fazendo uso da difusão informativa e não da sua retenção. O poder não se centra na limitação do conhecimento de terceiros, "dos outros", mas sim na capacidade de mobilizar o conhecimento "de todos".
Como consequencia surge a banalização da informação. Esta conduz à transformação das relações sociais, como às relações do poder.
As decisões já não são tomadas por alguém, são a consequencia de uma série de etapas no decurso das quais se moldam as decisões.
É precisamente este o terreno onde tem crescido e se tem desenvolvido uma nova forma de corrupção.
Reagindo a uma multitude de informações, perante uma abundancia excessiva de dados, procurando ter em conta os multiplos interesses, quase sempre contraditórios, dos grupos de pressão, o funcionário moderno vê-se cada vez menos como alguém encarregado de fazer prevalecer um interesse público, mas antes como um instrumento social facilitador de um jogo que é, em si próprio, a regra.
Neste cenário, o excesso de informação mata a própria informação e, muito embora, tenha terminado há muito o tempo dos privilégios baseados em títulos nobiliárquicos, esta preferencia clássica, chamemos-lhe assim, reaparece sob outra forma e veste: a abundancia de títulos mata os próprios títulos e a concorrencia elimina os mais "medíocres" e só deixa lugar à sobrevivencia dos "melhores". A questão coloca-se então: como distingui-los?
Vivendo-se na era da informação, da comunicação, aproximando-nos cada vez mais do conhecimento, a esperança de levar a cabo uma tarefa baseada em conceitos meramente técnicos é uma ilusão. Há então que proceder por etapas: mostrar o que se conhece, reintroduzir novas ou antigas fidelidades, conjugar vontades no colmatar do vazio deixado pela ausencia da motivação política, da razão política. Assegurada a qualidade da informação, torna-se essencial a qualidade do contacto, sendo as decisões - como a eleição de pessoas - tomadas à sombra dessa qualidade.
No mundo em que vivemos o poder emana da capacidade relacional muito mais do que do saber; o interesse público "casa-se" com o interesse privado na procura de incrementos de eficácia. São imperceptíveis os deslizamentos através dos quais se passa do contacto à dependencia, da informação à capacidade de influencia. A corrupção é sómente a face visível, tosca e grosseira, de o fazer.
A multiplicação dos escândalos envolvendo bens materiais não é mais do que a consequencia lógica da verdade universalmente aceite, o dinheiro, como medida do triunfo individual ou da sociedade, unidade comúm de medida que permite uma ligação e comunicação imediata com os nossos "semelhantes", pela reverencia e fascinio que compartilham connosco em relação ao dinheiro e à divisão de poder que estão dispostos a estabelecer. Esta será mais ou menos durável no tempo conforme os laços de proximidade se estabeleçam numa maior ou menor base ideológia, seja ela moral, política ou religiosa, ou todas conjuntamente.
1 comentário:
E como as iludências aparudem... excelente reflexão em texto inspiradíssímo. Bravo. Gostei muito.
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