6.5.05

Necessidades parvas de afirmação política e pessoal

A questão da meningite, da escola e das crianças (3) internadas ameaça tornar-se numa cena autista, ao nível da discussão e da inteligencia.
Graça Freitas, chefe de divisão das doenças transmissíveis da Direcção-Geral de Saúde (DGS), explica que não há razões médicas nem científicas para encerrar nem o infantário de Amarante, nem a escola Dona Leonor de Lencastre, no Cacém, onde há três alunos internados com meningite. «Do ponto de vista da DGS, dos centros de saúde, não há qualquer necessidade de encerrar as escolas. Seria infinitamente mais simples, ao nível da opinião pública, ter fechado as escolas, ter desinfectado e voltar a abrir. Mas não podemos fazer isso porque não é ético», explica.
Ontem, a Direccção-Geral de Saúde, relatava para os meios de comunicação social os contornos da propagação da doença e da segurança das instalações escolares, utilizando termos como: presumo...penso que....espero que....estamos convencidos que..., e outros dentro da mesma linha que inspiram tudo, menos confiança a quem escuta. Aliás, este tipo discursivo está há largos anos na moda, como forma de alijar responsabilidades mesmo antes que estas existam.
Percebe-se e já todos entendemos, que a referida bactéria não é transmissível através das paredes, do chão, das cadeiras e secretárias ou mesmo do tecto. Somos nós que a transportamos, entendendo-se o "nós" como 10 % da população, e depois, a bactéria encontra campo para se desenvolver ou não.
E assim surgem os casos de meningite.
Percebe-se que as escolas não devam fechar para serem desinfectadas, porque nada há para desinfectar.
O Ministro da Saúde dava conta disso mesmo, esta manhã.
No meio de tanta explicação e certeza uma dúvida assalta-me o espírito: e as crianças? Será que já nenhuma delas é portadora e, simultaneamente, agente transmissor? Não será necessária uma despistagem e, possívelmente, uma quarentena? Só para ter a certeza de que não existe, de todo, risco de contágio ?
Presumo que o fecho das escolas se possa operar tendo como motivação as dúvidas que levanto.
Não é necessário desinfectar as escolas? Óptimo!
Encerram-se, durante os dias necessários para que se perceba que nenhuma das crianças que as frequentava possa padecer de meningite ainda não declarada.
Dir-me-ão: mas para tal bastam 48 horas! Que seja, mas sinceramente, o que é que custa fechar uma, duas, três escolas durante 48 ou 72 horas, como prova: de preocupação humana; de respeito para com as crianças e respectivos pais; de que o Estado é pessoa de bem, preocupado, mesmo que apareça alguém a afirmar que a atitude é, igualmente, demagógica ou mesmo pouco ética? Que seja! Mas se fica toda a gente mais descansada.
Que raio: as escolas podem encerrar porque os professores fazem greve, porque o pessoal auxiliar (no meu tempo as senhoras da limpeza) fazem greve!
As escolas podem manter-se fechadas no início dos anos lectivos, total ou parcialmente, porque não foram colocados professores suficientes ou por atraso no início do ano escolar.
Podem fechar por todas estas razões e mais mil outras, mas não podem fechar porque uma criança já morreu, outras três continuam internadas em estado grave e os pais de todos os outros se encontram, legítimamente, preocupados.
Sinceramente não percebo. Não percebo como uma escola está fechada há dois dias porque os alunos que se apresentam são insuficientes para a abrir (50 numa população de 900) por iniciativa dos pais, mas não pode ser encerrada, pelos mesmos dois dias, acrescidos do fim-de-semana, por vontade do poder político.
Neste país a necessidade de afirmação continua muito elevada e enquanto assim fôr....

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