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Dor que infligiste com aço afiado,
Várias vezes brandido no ar,
Que senti, fulminante, na carne a entrar
À procura da dor, da morte, do fado.
Vi-me fugir, naufragar no vazio,
Perdido o sentido, perdido o caminho.
Prestes fiquei a entregar-me ao destino
Alma a cair, corpo inerte com frio.
Uma voz noutro mundo proclama
Que entre os povos a guerra acabou,
Que para o homem a doença findou
E que a humanidade, finalmente,
Se não tolera mas ama!
Quero todas estas verdades imensas
Que ouço dentro de mim!
Quero-as como se quer ao jasmim,
Numa infusão de todas as crenças.
Quero, quero, quero!
Mas um sorriso medonho, o teu,
Traz-me de volta, ao inferno,
Faz-me sentir todo o veneno,
Agora só a vingança eu quero!
Agarro-te como se agarrasse o mal,
Surpreendo-te nesse momento
E num rápido movimento
Espeto profunda, a adaga fatal!
Cais sobre o meu torso, pesada.
A alma vejo, foge-te nos olhos,
já não lindos, mas surpresos e receosos,
Na certeza da vida que jaz prostrada.
Morta estás, teu corpo perecendo
Sobre o meu, que à morte resgatei
Na força que no amor busquei.
E, contudo, sinto-me morrendo.
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(João Fernandes)
1 comentário:
É tão belo que não se comenta.Bebe-se respira-se "come-se" tráz-se colado à pele. e morre-se outra vez. Parabéns.
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