A tradição cristã ensina-nos que em cada homem existe uma força interior, que cada um é portador de uma consciência e que esta é irredutível.
O homem de Descartes afirmava: " Penso logo existo!".
O equivalente dos nossos dias dirá: " Comunico logo existo!", como parte de uma ordenação de partículas sociais, encaixadas umas nas outras, mas onde falta finalidade e significado na mensagem social. Imperando nessa sociedade o conceito restrito e restritrivo de vínculo, será este tanto mais eficaz quanto mais esvaziado estiver de sentido e conteúdo.
Resta, numa sociedade assim organizada, perjurá-la com termos como conformismo e corrupção, que de serem usados ganham contornos arcaicos.
O conformismo não é um acidente mas uma condição necessária para o seu correcto funcionamento. Não é uma vassalagem da periferia em relação ao centro mas uma capacidade desenvolvida para evitar dissonancias.
A corrupção, na sociedade moderna, não é o facto isolado; é uma parcela importante da remuneração, praticada por quase todos, sustentada na oportunidade e na burocracia.
Atente-se na dificuldade de utilizar o termo conservador, de nos adjectivarmos como conservadores; ninguém se sente verdadeiramente seguro de que existam valores e princípios que devam e mereçam ser conservados. A mudança constante, de tudo, é a regra, muito embora a regra escape ao controle do homem, preferindo este adaptar-se a tentar planificar e prever.
A adaptação cria angústias, inquietudes; nas mentes vazias, plásticas, temerosas de serem insuficientemente dinâmicas, de não serem suficientemente optimistas, mesmo que sejam sómente realistas.
No mundo actual, mais do que ter convicções há que pertencer a grupos, onde eficácia se confunde com semelhança, onde a diferença, continuando a ser uma mais-valia, está agrupada em módulos, é catalogada em série.
O direito à diferença pessoal, fulanizada, desapareceu.
Levantar a voz, sem eco, produz mais ruído do que mil vozes ecoando em uníssono.
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