25.4.05

O 25 de Abril e a Descolonização

muito se escreveu e disse, mas sempre inserido num discurso aceite pelo sistema, conivente com o sistema e, acima de tudo, suportado pelo sistema.

  • A razão que conduz a atitudes de aproximação de Portugal, por parte de Cabo Verde, Cabinda (há pouco tempo assumida aquando da crise com o governo angolano e o pedido expresso de controle político e militar por parte de Portugal), de São Tomé e Principe e a atitude de extrema simpatia para com os portugueses, que se vive em Angola, quando visitamos aquele país e contactamos com a sua população, mostra claramente como a presença portuguesa deixou laços e sentimentos profundos, de amizade e respeito. Não esqueçamos que a realidade vivida em Moçambique nada tinha a ver com a atitude assumida nas outras províncias para com os otóctones, pelo que o seu distanciamento tem, forçosamente, outras leituras.

  • A possibilidade de Portugal se constituir na primeira ex-potencia colonial a assumir, no seu seio, de novo, países saídos de processos de descolonização parece tolher a vontade política do país, como se essa excepção colocasse em causa as outras ex-potencias coloniais (ingleses, franceses, belgas, alemães) agora parceiros nesta canseira em que se tornou a Europa. O comportamento efectivamente colonizante, de prepotência e distanciamento em relação aos povos colonizados, nunca foi assumido por Portugal. O nosso país e a sua população conviveram, em harmonia, com os naturais dos territórios colonizados, misturaram-se, aceitaram-nos na sua sociedade (ressalva-se Moçambique, provávelmente pela influência próxima da África do Sul).
  • Cabo-Verde já, por duas vezes, requereu a Portugal a sua inserção no espaço político e económico portugues, com um estatuto identico ao das regiões autónomas. Essa vontade foi-lhe negada outras tantas. As alterações políticas sofridas pelos povos, que se constituiam numa força da imensa heterogeneidade portuguesa e uma sua imagem de marca, tiveram um imenso reflexo nas condições socias, de saúde e dignidade humana, situando as provincias ultramarinas entre os paises mais pobres do mundo, analise-se porque prisma se quiser a performance desse paises. A pressa com que o processo de descolonização foi conduzido nada teve a ver com perca de influencia política e militar de Portugal em África, mas tão só com a vontade polítca de uma dúzia de "maus portugueses", que forçando os acontecimentos, a coberto da "revolução dos cravos" e da nuvem de fumo derivada, agiram na maior das impunidades e com o caminho totalmente livre. Situam-se entre estes "maus portugueses" homens como Mário Soares, Otelo, o "talhado num cepo", o "rolha", todo o "grupo dos nove", entre uns tantos outros.
  • Aliás, o "25 de Abril" terá sido, estou certo, a maior reinvidicação salarial a que a História Universal já assistíu. Nada mais do que isso. Nada a favor da liberdade, da democracia, do povo e de todos esses chavões. Tudo a favor do oportunismo e da fraqueza de um Primeiro-Ministro que nunca o deveria ter sido, porque ansiava pela liberalização do regime, sentia essa necessidade, mas não mostrou nunca a força suficiente para controlar os "ultras" e optou, erradamente, por dar ouvidos a um outro homem, Spínola, conhecedor da instituição castrense e dos problemas específicos da Guiné, mas totalmente desconhecedor das outras realidades africanas, bem como de qualquer conceito político, da forma, conteúdo e discurso político. O livro que publicou foi um imenso erro de "casting". A sua autorização um imenso erro estratégico. Spínola apercebeu-se de tudo isso, já em 1974, mas voltou a tentar emendar a mão, através de processos que só realçaram a sua impreparação política e social para o cargo e responsabilidade que pretendeu desempenhar após o "25 de Abril".
  • Depois, a uma ditadura inteligente, mesmo mesclada com laivos de provincianismo, seguíu-se não uma democracia, mas uma partidocracia, nalguns aspectos muito mais feroz e inibidora das liberdades individuais que a própria ditadura. Os problemas sociais agravaram-se, com um distanciamento crescente entre aqueles a quem a vida sorri e todos os outros, que de acordo com os últimos dados económicos são já 2 milhões, que vivem no limiar de pobreza ou mesmo abaixo. A saúde é só para aqueles que têm a sorte de contar com um médico na família, ou pelo menos com algum profissional no sector da saúde. A educação atinge níveis baixíssimos ao nível da formação cultural e profissional, sendo particularmente grave o ensino da matemática, da física/química e da própria língua pátria. O desemprego é crescente.
  • A liberdade de discussão de temas políticos, de dizer o que se quer, quando se quer, é mais aparente que real. Não só porque as perseguições existem, de facto, mas também porque o discurso político perdeu importancia, acutilancia. A classe política perdeu credibilidade, deixou de ser representativa.A descolonização encetada em 25 de Abril de 74, finalizada em Agosto de 75, servíu um motivo único: a passagem de um cheque em branco à URSS, consagrado na entrega de Angola aos interesses soviéticos. A URSS já não tinha capacidade, na altura, para descontar esse cheque, mas fomos nós, portugueses e angolanos, acrescidos dos naturais de todas as outras províncias ultramarinas, que tinham de ser autonomizadas para justificar a entrega de Angola aos interesses soviéticos, que pagaram fundo as faltas de patriotismo e de desinteresse nacional, ultrapassados por obscuros interesses privados, de alguns dos políticos e militares que estiveram na génese do 25 de Abril e da "descolonização exemplar", que conduziram um país outrora independente, para a miséria de dependencia em que nos encontramos.
Contra todos esses deixo aqui, hoje, o meu maior repúdio!

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