6.4.05

FONÓGRAFO

Vai declamando um cómico defunto.
Uma plateia ri, perdidamente,
Do bom jarreta...E há um odor no ambiente
A cripta e o pó, - do anacrónico assunto.

Muda o registo, eis uma barcarola:
Lírios, lírios, águas do rio, a lua.
Ante o Seu corpo o sonho meu flutua
Sobre um paul, - extática corola.

Muda outra vez: gorgeios, estribilhos
Dum clarim de oiro - o cheiro de junquilhos,
Vívido e agro! - tocando a alvorada...

Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas
Quebra-se agora orvalhada e velada.
Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas!

(Camilo Pessanha)

Sem comentários: